Wednesday, January 20, 2010

























Cairo, dia 20 de Janeiro, 2010


"Anúncio público e WORKSHOPS de 28 de FEVEREIRO"


Anuncio aos meus queridos seguidores, alunos e admiradores (todos eles, à sua maneira, grandes motores da minha inspiração e garra) que me encontrarei ausente deste Blog por uns tempos devido à tão afamada falta de tempo.

Estarei em " retiro" (?!) actuando ao vivo, coreografando, trabalhando com dois grandes compositores egípcios, gravando a minha primeira música em estúdio e ainda lidando - como um malabarista - com mais uma série de compromissos profissionais que me deixam muito pouco tempo para respirar.

Assim sendo, aqui fica o programa do meu próximo workshop em Portugal (atenção a quem ainda se queira inscrever porque as vagas são LIMITADAS e já estamos quase, quase lotados!) e um até já!



Joana Saahirah do Cairo em Portugal - Dia 28 de Fevereiro (Domingo), 2010
Joana S. é a portuguesa que está a dar que falar no Egipto!



Actriz e bailarina profissional, actua diariamente com a sua orquestra egípcia nalguns dos mais conceituados pontos de encontros culturais do Cairo.


O seu estilo genuinamente egípcio (Alma, alma, alma!) conquistou os nativos do país árabe e os estrangeiros que vêm um pouco de todo o mundo para a ver actuar.


Além da sua actividade como bailarina, coreógrafa e formadora (Joana ministra Dança Oriental e Folclore Egípcio um pouco por todo o mundo), Joana criou os seus BLOGUES “Diários do Egipto” ( versões inglesa e portuguesa no seu website: www.joanabellydance.com ) originando mais um ponto de ligação e entendimento entre o mundo oriental e o ocidental.

Joana ensina regularmente no Cairo e assiste o Mestre da Dança Egípcia Mahmoud Reda em todos os Workshops realizados no Egipto.
Encontra-se, neste momento, a concluir o seu primeiro livro sobre a sua experiência pessoal e profissional no Médio Oriente e a actuar regularmente com a sua orquestra no grande “NILE MAXIM”, Cairo.


PROGRAMA - Oriental das Estrelas /Folclore pop moderno
Dia 28 de Fevereiro (Domingo), 2010
LOCAL: Clube House, Avenida da Peregrinação, lote 4, 41.1
Moscavide (Parque das Nações, antiga EXPO)



HORÁRIOS:
Das 11.00h às 14.00h - “Oriental das Estrelas” Técnica e Coreografia de estilo Oriental e criação de estilo próprio para cada bailarina
Das 15.30h às 16.30h - Sessão de “SAGATS” estilo “Gawazy” ( pode trazer os seus próprios sagats ou adquirir um par no nosso Bazar Oriental)
Das 17.00h às 20.00h - Técnica e Coreografia de Saiidi Pop Moderno.




CONTEÚDOS DOS WORKSHOPS:

* “Oriental das Estrelas“ - Técnica e coreografia com os passos e movimentos das grandes estrelas da Dança Oriental ensinados a partir da experiência que Joana tem acumulado actuando no Médio Oriente - como recriar o que se aprende transformando-o no nosso estilo Único e Irrepetível.
* Sagats - técnica conjugada com dança tradicional das “Ghawazy”
* Saiidi Pop Moderno - Técnica e coreografia (festivo, louco e moderno mas com o sabor do autêntico Saiidi).



PREÇOS:

1 Workshop+ 1 sessão de SAGATS, estilo Ghawazy (3 horas de formação, de manhã OU à tarde + 1 hora de SAGATS ): 50 euros


2 Workshops + 1 sessão de SAGATS, estilo Ghawazy (6 horas de formação, de manhã E à tarde + 1 hora de SAGATS): 70 euros


*Sessão de Sagats, estilo “Ghawazy“: 1 hora (incluido no preço dos outros Workshops )


DATA LIMITE PARA INSCRIÇÕES com os preços acima indicados: 13 de Fevereiro de 2010.
Depois desta data, existe uma penalização de 30 euros aplicada ao preço de cada Workshop.







***
BAZAR ORIENTAL:


Exposição e venda de artigos relativos à Dança Oriental em local adjacente à sala onde decorrem os workshops.
Os últimos cds do Egipto, novos trajes e lenços de alta qualidade para bailarinas, sagats, véus , dvds de Dança Oriental e muito mais... aberto das 11.00h às 19.30h a participantes dos workshops e não participantes.
NOVA COLECÇÃO DE TRAJES DE DANÇA ORIENTAL DESENHADOS POR JOANA S. E CONFECCIONADOS NO CAIRO :
Dança com Alma. Trajes com Alma!




***
Formas de pagamento:
Para inscrever-se e garantir a sua participação no evento, terá de efectuar o pagamento do mesmo através de transferência multibanco para a conta com o
NIB: 0007 0075 000 1125 000536
ou envio de cheque ( no caso de preferir enviar-nos o cheque por correio, peça-nos a morada da Dança Mágica )



Após ter efectuado a transferência ou enviado o pagamento, terá de informar-nos a data em que fez a transferência e o nome ( com respectivo email e tm) em que fica efectuada a inscrição através dos seguintes contactos:


joanabellydance@sapo.pt / dancemagica@gmail.com
TM: 00351 - 96 642 7997 (Portugal) /
TM: 002 - 012 258 8817 (Egipto)


****************




"ENCONTRE

JOANA SAAHIRAH

OF CAIRO

NO

FACEBOOK

E NO

YOUTUBE"
Cairo, dia 20 de Janeiro, 2010

“Entre a solidão e as avalanches”


Será normal – e sem consequência – que a esmagadora maioria dos artistas vivam, constantemente, entre a mais pura solidão e as avalanches de gente e energias divergentes?

Tenho reparado que, no meu caso particular como no de tantos outros que conheço (músicos, bailarinos/coreógrafos, cantores, pintores, escritores, etc), existe um estilo de vida – “estranha forma de vida” segundo as palavras da nossa querida Amália Rodrigues – irregular que também deverá contribuir para a ideia generalizada de que os ARTISTAS são gente marginal, fora dos padrões “normais” de vida e longe das rotinas que montam as peças das vidas de milhões de seres humanos à volta do mundo.

Circulo entre a mais pura solidão (absolutamente necessária para escrever, coreografar, orquestrar e montar espectáculos numa base diária) e as avalanches de gente – público – que vem aos meus espectáculos, seminários, etc.
Oito ou oitenta.
Sinto-me totalmente acompanhada “apenas” com a minha ARTE ou com os públicos que me rodeiam e ambas as situações parecem ser, afinal, tão opostas e desequilibradas.

O processo de criação musical e de dança é, para mim, solitário. Tal como é a escrita e todas as actividades em que preciso de estar em silêncio e sintonizada com aquela força criativa superior que me envia o material que, depois, partilho com o público.

Depois existe esse momento mágico de partilha com tanta gente desconhecida que acaba por a mim se unir através da música, da dança e dos sentimentos que através dela eu comunico. Então aí a solidão é partilhada. Não nos tocamos fisicamente – com excepções variadas quando se trabalha no Cairo! – mas sim na Alma e desse mar de solidão de onde tudo aquilo nasceu surge uma comunhão breve, lembrando-me que o valioso tempo me foge das mãos e que os MOMENTOS são para se viver de forma desgarrada.

Entre a solidão – necessária, urgente para a criação artística individual – e as avalanches. De facto, uma estranha forma de vida...



Cairo, dia 19 de Janeiro, 2010

“Guitarrada no coração do Cairo”

Eis o tão esperado concerto da Mariza (a nossa cantora de Fado mais mediática do momento) na Ópera do Cairo!
Eu já sabia que isto ía dar molho...e deu, sim senhores (porque eu, como o nosso querido Cavalo Silva, raramente me engano quando se trata dos meus instintos).

Assitir e participar num concerto de FADO no coração da cidade do Cairo quando a “vítima” em questão – eu - vive nesta cidade, sente tanta saudade da Alma do seu país e é uma sentimental inveterada/assumida é uma receita para o desastre.

Assim que se abriram as cortinas do palco e eu vi uma guitarra portuguesa deitada, preguiçosa, numa cadeira vulgar de cetim já gasto caíu o “Carmo e a Trindade” (para usar uma expressão bem lisboeta, já que o assunto é FADO).

A partir daí, foi sempre a descer...não houve canção em que eu não ameaçasse afogar o meu vizinho do lado com o caudal das minhas lágrimas.
Que vergonha, meu Deus! Se a minha irmã aqui estivesse a ouvir-me, diria:
“Oh, miúda...fogo!Que cena, man...Tu só dás estrilho, pá...fónix...” (sim, já anunciei que a minha irmã é uma poeta do povo, isto corre-nos nas veias).

A Mariza não é, nem passou a ser, a minha cantora de Fado preferida mas reconheço imensas qualidades na sua música, personalidade e forma de se apresentar ao mundo.
Inteligentemente, ela deu uma roupagem universal-actual ao Fado.
Não é que este não a tivesse, na sua natureza, mas a orquestração e arranjos que algum génio lhe fez do repertório acrescentam uma qualidade de “world music” ao FADO que chega mais facilmente aos ouvidos e corações dos cidadãos deste mundo actual onde todas as culturas se contactam (positiva e negativamente).



Do espectáculo, friso os seguintes pontos positivos:

1. A presença simples e humilde da Mariza que permite um contacto e calor maiores entre ela, os seus músicos e o público. Grande qualidade que eu, frequentemente, aprecio na gente do meu país. Só os GRANDES são humildes.

2. Arranjos musicais FANTÁSTICOS emprestando sonoridades africanas e latino-americanas à linguagem lusitana do FADO sem que este perca a sua identidade e carisma próprios. No fundo, a música portuguesa tem tanto de África e da América Latina...temos história partilhada e a Mariza (mais a sua excelente equipa) conseguem trazer à tona essas ligações que só enriquecem a música e os pontos de contacto entre a artista e o público.

3. Comentários sobre cada música e referências – em português e inglês – tornando o material apresentado mais acessível e compreensível para a audiência que era, maioritariamente, egípcia.
Carisma pessoal. A Mariza é simpática. E ponto final. Ela parece ser, genuinamente, acessível e próxima do seu público – sem pretensões nem arrogâncias. Importantíssimo para o público egípcio que decide, num minuto, se vai “com a cara” do artista ou não segundo a atitude que este emite.

4. A VERDADE.
Transpira da Mariza uma sinceridade tocante. Ela canta o que sente, como sente e sem pudores ou “macaquinhos” no cérebro (as terríveis pretensões).
Canta, simplesmente, o que sente e está a “borrifar-se” para o resto. Esta autenticidade e segurança sente-se e dá ao seu espectáculo uma convicção da qual não se duvida.
Muitos egípcios encantados com o FADO na audiência.
Claro que deveria haver portugueses mas, se os havia, eu não os senti nem escutei.
Prova, uma vez mais, de que a música pode mesmo ser uma linguagem universal e da Alma que atravessa e une todos os Povos de todos os tempos e hemisférios.


Curiosidade:
Ouvir cantar em português nesta minha segunda cidade – Cairo – foi uma experiência (mais uma!) do terceiro grau.
Estou demasiado habituada a ouvir árabe, parece-me. Isto pareceu-me totalmente fora do contexto do meu mundo egípcio e conseguiu transportar-me para o meu país.


Muitos egípcios encantados com o FADO na audiência.Claro que deveria haver portugueses mas, se os havia, eu não os senti nem escutei. Prova, uma vez mais, de que a música pode mesmo ser uma linguagem universal e da Alma que atravessa e une todos os Povos de todos os tempos e hemisférios.

O último tema do espectáculo foi o meu preferido:
A Mariza improvizou uma “desgarrada” com os seus guitarristas.
Retiraram-se os microfones e introduziu-se a promessa de recriar o ambiente musical de uma verdadeira Casa de Fados Lisboeta. Este foi o tema menos “universal” do espectáculo – no sentido musical – mas o que mais uniu as pessoas e as encantou. Para mim, foi o ponto alto do espectáculo (não será à toa que o incluem no final da noite). Muita verdade. Total ausência de enfeites, “show-off” e apetrechos tecnológicos. O mais simples e humano possível.

A-D-O-R-E-I.

O poder vocal da Mariza ficou por ali perdido na ausência de um potente microfone mas, talvez por isso e em compensação, vimos uma cantora com mais garra, personalidade e graça do que durante todo o espectáculo.
Os dois guitarristas também cantaram – cada um na sua vez, como dita a desgarrada – e ali se recriou, verdadeiramente, o ambiente de uma taverna da minha cidade natal.

Para não variar, eu chorei, chorei e ainda consegui chorar mais um pedacinho só porque ela referiu que aquele momento pertencia a Lisboa.
E chorei, e chorei...há quem diga que é esse lirismo saudosista que todos os portugueses parecem carregar no sangue.

































Cairo, dia 19 de Janeiro, 2010

O caminho faz-se CAMINHANDO

Telegrama do Egipto:


Chuva no Cairo (?!). Estranho.

Sonhos premonitorios que me empurram para a frente. Essencial e ja usual.
Medo de arriscar em territorios que nao domino. Normal. No entanto, nao me impedira de seguir caminho.








Adiante.















Sempre.








Humildade. Apanagio dos GRANDES.









Sonhos e o passo que se da. Sentido da minha vida.












Sunday, January 17, 2010

Cairo, dia 17 de Janeiro, 2010


Trocas e paixao assolapada!

Qualquer artista vos dira que aquilo que faz so tem sentido se o publico existir.
Vou mais longe que isso quando afirmo e asseguro com toda a conviccao que a arte sera sempre feita a dois: entre o artista e o publico que a recebe.
Os espectaculos de ontem foram bem exemplo disso.
Tres espectaculos totalmente diferentes e moldados pelos publicos que me rodearam. Os dois primeiros espectaculos foram, simplesmente, MARAVILHOSOS e sera impossivel descrever o amor e reconhecimento com que fui banhada.
Muita gente de embaixadas e do Governo egipcio - que os gerentes consideram VIP mas que, para mim, sao exactamente o mesmo que qualquer outra pessoa que venha assistir ao meu trabalho. Egipcios que ja me conheciam e que queriam repetir a dose e simples desconhecidos que me apreciaram com um carinhoe um respeito que me deixam sem palavras.

Depois chegou o ultimo espectaculo da noite e ja estava eu preparada para mais uma sessao de fogo de artificio na Alma quando me deparei com um publico frio, desinteressado e arrogante (um grupo de italianos). Pensei que ainda conseguiria apanhar o touro pelos cornos (desculpem-me a expressao!) mas foi uma empresa falhada.
Sim, toda a gente estava atenta e bateu palmas quando era suposto bater.
Sim, havia sorrisos e camaras apontadas para mim.
Sim, ate havia um ocasional elogio atirado nao sei de que esquina mas nada disso pode compensar a frieza que senti durante todo o espectaculo.

RESULTADO:
O espectaculo, na minha perspectiva, foi um arrastar de momentos nao partilhados que morreram no percurso ate ao final da noite. A paixao e tudo aquilo que eu queria transmitir ao publico foi sendo deixado para tras como gomos de uva que vao caindo de uma cesta furada...
Triste.
E mais uma prova de que cada espectaculo sera sempre e somente construido pelo/s artista/s e pelo seu publico. Existe uma TROCA, eu dou e recebo. Sem isso, o espectaculo esta morto.

PEDIDO:

Pedindo a Deus que me envie sempre quem estiver preparado para receber o que tenho para oferecer. Ser feliz no palco e unir-me a quem esta ao meu redor...nao ambiciono nada mais.

PAIXAO ASSOLAPADA:
Detalhe curioso da noite:
Mais uma visitinha simpatica da policia passando vistoria a toda a minha equipa. Ja comeca a ser tortura...ou paixao?! Ainda ha poucos dias la estiveram e, novamente, ali estiveram eles vendo o meu espectaculo, procurando razoes para me causar problemas e querendo, por tudo neste mundo, falar comigo.
Cortesia dos gerentes: Nao deixar que os policias falassem pessoalmente comigo apenas por capricho (ou assedio). Os meus papeis de trabalho foram apresentados por terceiros e eu mantive-me sempre inacessivel, recolhida no meu camarim enquanto os abutres tentavam, por todos os meios, chegar a fala comigo.

Regressei a casa exausta. Para la de exausta...
A perseguicao que estes homens fazem a bailarinas como eu - que trabalham honestamente e honram a dignidade da cultura/danca egipcia com sacrificio e amor -ja passou a ser perseguicao e tortura psicologica.
Nao descortinei qual sera a verdadeira razao de toda esta pressao mas tem de haver um objectivo submerso neste absurdo.

Onde estao estes policias quando sitios/night-clubs como os da rua das Piramides estao cheios de drogas e prostitutas?
Onde estao eles quando os pachas deste Egipto passam as noites com garrafas de whisky numa mao e haxixe/cocaina na outra ( e com umas quantas prostitutas penduradas no casaco)?

Saturday, January 16, 2010


Cairo, dia 16 de Janeiro, 2010

"Mariza na Ópera do Cairo"

Hoje vou a correr à Ópera do Cairo comprar bilhetes para ver a "nossa" Mariza actuar daqui a poucos dias.
Não sou grande fã da Mariza - depois da Amália, existe Camané! - mas o facto de se tratar de uma portuguesa de sucesso no mundo deixa-me à beira das lágrimas rebentando de orgulho.
Não partilho do tão comum sentimento pequeno da inveja. Encho-me de força e fé quando vejo alguém do meu país vencendo no mundo e mostrando a nossa raça e Mariza é bom exemplo disso.

Hoje vou passar pelo poster que anuncia o seu concerto e mais uma lágrima me correrá pela alma a baixo.
Vivam os portugueses que levam o nome e o orgulho do nosso país aos quatro cantos do mundo!
Sigam este link e escutem um pouco de Portugal atraves da voz da Mariza:

Cairo, dia 13 de Janeiro, 2010

“Brainstorming com compositores egípcios”


Mais um teste, de entre tantos, à minha sanidade mental, intuíção e perspicácia.
Encontros e mais encontros com diversos compositores egípcios que, supostamente, me farão uma –ou mais! – músicas a partir do nada.
Quem eu sou, como me expresso e como danço são apenas algumas das primeiras “simples” questões que estes homens me colocam a fim de descortinarem um pouco do meu mundo e nele entrarem para compôr.

Discussão de ideias, audição de trabalhos já feitos, indicações da minha parte e uma leitura rápida da eventual criatividade e talento dos ditos cujos.
Compor para dança oriental não é tarefa fácil e compor para mim, em particular, poderá vir a ser, isso sim, um teste à sanidade mental do compositor e não à minha.

Não só sei muito bem o que quero (e o que não quero) como me conheço musicalmente e procuro algo NOVO dentro de um estilo que é, em si mesmo, antigo e tradicional. Como criar algo fresco, ainda não visto/escutado sem abandonar a sentimento e a riqueza musical do estilo oriental (“sharki”)?!

A procura de uma boa música não é difícil mas a procura de uma música revolucionária é, sem dúvida, uma procura de agulhas finíssimas num palheiro imenso e sobrecarregado de lixo.

Tenho uma imensa sede de fazer coisas novas, crescer em várias direcções e frustra-me que a dança dependa tanto, mas tanto, da música. Quando se carrega uma ideia e ambição na cabeça e não se encontram os parceiros criativos que a possam compreender e acompanhar cria-se uma sensação de isolamento sem fim...
Não existe dança revolucionária sem uma música com essa qualidade pot trás dela. Onde está essa música?!

A minha cabeça está prestes a explodir....
Já escutei tantas músicas – com a atenção de quem as quer assimilar profundamente - que a minha cabeça pulsa com notas musicais e ritmos. Imparável...desconcertante.


PERSPICÁCIA:

Truque comum nos compositores/músicos egípcios: fazem colagens/montagens de músicas já existentes e tentam impingi-las como se fossem novas.
Aqui entra a minha perspicácia. Reconheço cada cópia como se a tivesse ouvido mil vezes e a mim, nesse campo, não me “fazem a cama”!

Vendem a sua música como se fosse a melhor do mundo com uma convicção que nos poderia fazer confundir Beethoven com o afamado artista “Zé Cabra”.
Eu escuto porcaria, pura e simples e eles exclamam e suspiram pelos altos ares o quão bela e formidável – e outros adjectivos – a música é. Chego a duvidar dos meus próprios ouvidos mas, quando volto a recuperar da lavagem cerebral que me tentam fazer, reconheço a mais pura verdade:
“Sim, isto é mesmo porcaria pura!”


SANIDADE MENTAL:


Já passei por quatro compositores diferentes neste “shopping tour” que encetei no mundo das músicas e cantigas egípcias.
Tal como se faz no mercado das couves, a escolha e negociação das músicas é feita através do regateio. Escuto uma música que me agrada e finjo que me é indiferente para o preço da mesma não subir em catadupa num segundo.
O compositor fala-me em não sei quantos milhares de libras egípcios. Eu regateio – o que detesto fazer! – e ofereço tal. Ele, por seu lado, oferece um desconto na gravação em estúdio e mais uma entradazinha em cena feita à minha medida (como “presente”)...
Como se pode discutir arte de forma tão comesinha, não sei...isto choca-me.

Continuo a confirmar que não pertenço a este mundo. Ando com os pés lá em cima e regatear músicas como se regateia um saco de batatas ainda é coisa que me faz confusão.

Escutei, escutei, escutei. Montei, na minha cabeça, mil danças e coreografias possíveis. Procurei a luz dentro dos túneis escuros da convenção pesada que aqui reina e ainda não encontrei “o que quero”.



Detalhe "freak":


Um dos compositores com quem tenho privado - musicalmente falando - está morto.

UUUUUUUUUUHHHHHHHHHHHH.......... (sim, este "uuuuuuuhhhhhhh" é substancialmente parvo mas faz todo o sentido neste contexto).


Sim, leram bem. O senhor - que Deus o guarde e lhe dê paz - é/era um grande compositor egípcio que trabalhou para todas as grandes estrelas (Nagwa Fouad, Fifi Abdou, entre muitas outras) e que já encetou a viagem de regresso à casa dos Anjos.


O filho do senhor soube que eu andava à procura de compositores e fez chegar até mim composições inéditas que o pai deixou prontas aquando ainda em vida. Cassetes do tempo da Maria Caxuxa com composições inteiras que muito poucos ouviram e que eu poderei comprar para mim.

Conferenciar com um compositor já falecido tem os seus benefícios e inconvenientes:

Por um lado, o compositor não impõe nada. Eu posso alterar o que desejar nas músicas que compre e o pobre compositor pode, desde lá de cima ou lá de baixo, revolver os olhos e enervar-se mas nada pode fazer quando ao resultado final do episódio.
Posso perguntar, como quem não quer a coisa:
- Eh, pá...a música está fantástica mas aquela parte do ritmo "khalleegy" irrita-me e não vai nada comigo ou a entrada que já ouvi nas músicas desta e daquela bailarina ou até mesmo o fecho da música que é demasiado convencional...e, já que estamos a discutir abertamente o assunto...e que tal se eu incluir por aqui um "taksim" de nay para levantar a moral à orquestra e me elevar o espírito? Ou ainda o ritmo da entrada que está mais batido do que os tapetes persas do mundo árabe? Vai uma mudançazinha ou não? Eu sei que o senhor é bastante flexível...os grandes artistas são sempre gente simples e de alma grande e aberta...então, que me diz?
(Silêncio). Leme tremor da minha perna que eu interpreto como um claro sinal de consentimento lá "de cima".
- Então, estamos muito pacíficos, hãaa?!...parece-me que entramos em consenso...que lhe parece? - Insisto eu porque gosto de respeitar a liberdade criativa dos músicos que comigo trabalham.
(Silêncio). Uma mosca pousa-me no joelho e olha-me fixamente (juro!) e é agora que sei, de facto, que se trata de um claro sinal divino. Além disso, quem cala, consente (sábio povo!).

Existe sempre o risco de ser perseguida pelo seu espírito até que leve a sua avante mas eu não me deixo intimidar por fantasmas.


Por outro lado, a ausência do compositor limita a minha criatividade e poder de intervenção porque as músicas estão concluídas e não foram compostas a pensar em mim. Eu tenho de adaptar-me às músicas, em vez de ser o compositor a adaptar-se a mim.

Não se pode ter tudo.


Será que, com a meditação certa e muita força de vontade, consigo sintonizar o espírito de Beethoven para compor para mim?! (Sim, este é outro detalhe extremamente parvo mas que, convenhamos novamente, também se encontra dentro do contexto).

Saudações a todos os espíritos de Luz (em especial, aos músicos geniais de todo o mundo que seguem inspirando-me).


PEDIDO de SOCORRO:
Alguém me envia um compositor revolucionário que possa entrar na minha cabeça e no meu coração e dali retirar a génese da música que busco?!
Cairo, dia 11 de Janeiro, 2010

“Ressaca”

Terceiro dia seguido em que não actuei-dancei.
Estou de ressaca e com todos os sintomas da mesma (irritação extrema, stress exagerado, um mau humor terrível e um pintar do dia de cinzento, leve sensação de asfixia, dores no corpo e uma falta urgente de algo que não sei definir).

É a primeira vez, em muito tempo, que estou tanto tempo (?!) sem actuar e, embora saiba que depois de amanhã já estou de regresso “às tábuas”, a ligeira depressão que me consome quando não me exponho no palco chega a ser assustadora.

Falta-me o que, exactamente?
A evasão. A adrenalina. A alegria de fazer algo que toca outras pessoas. O sentido de realização por produzir beleza, arte, VIDA...

Esta ressaca...de onde vem?
Será a dança um vício e fuga a algo que não logro definir?
Esta urgência de dançar para os OUTROS, de onde vem?
Cairo, dia 10 de Janeiro, 2010

“Preconceitos (?!)”


A pressuposta hegemonia cultural, política e até mental do Ocidente em relação ao Oriente já é matéria antiga.
Este país foi tão ocupado, explorado e torturado por ordes de estrangeiros que os próprios egípcios ainda carregam um certo ódio antigo – silencioso mas presente – ao “estrangeiro” ao mesmo tempo que lhe invejam a inteligência e os benefícios que pensam usufruir com a sua tecnologia e liberdade pessoal.

Do lado do estrangeiro que vive diariamente num país como este terá de existir um equilíbrio, humildade e uma ímpar perspicácia para não resvalar para a comum assumpção de que nós, Ocidentais, somos superiores aos locais.

Vivo rodeada de egípcios e árabes, ao contrário de muitos estrangeiros que conheço e que conseguem habitar na cidade do Cairo sem viver, de facto, nela e com ela. As comunidades fecham-se sobre si mesmas por uma questão de conforto e até de sobrevivência mas eu incluo-me numa área totalmente exposta aos locais. Não há como não misturar-me e imbuir-me do lado humano deste país. Grande parte da minha evolução como bailarina passa, precisamente, pela assimilação de aspectos culturais e mentais que só se “apanham” quando convivemos diariamente com as pessoas de cá.

Com essa exposição e propositada “mistura” vem muita aprendizagem mas também dores de cabeça várias, problemas sem fim e episódios frequentes que me fazem pensar como eu própria consigo ser arrogante e preconceituosa.

Preconceito mais comum (meu!):
Sou mais inteligente, honesta e eficaz do que todos os egípcios/árabes com quem lido pessoal e profissionalmente.
É difícil não cair nesta tentação porque a maioria dos locais parecem estar dopados com haxixe ou algo do género que os deixa lentos de raciocínio e lhes elimina os pudores éticos ou de qualquer outra espécie.
Sei que este preconceito meu atira um bocado a "xica esperta" mas é inevitável cair nesta tentação quando, de facto, observo que o cérebro dos que me rodeiam é mais lento e ineficaz do que o meu em doses assustadoramente reveladoras.
Quero MUITO mas MUITO estar errada...


Preconceito inesperado:
Descobri que um dos músicos centrais da minha orquestra é casado com tres mulheres ( a lei muçulmana permite que o homem possa casar-se com o máximo de 4 mulheres, na condição de as manter financeiramente satisfeitas de igual forma).
Resultado: fiquei-lhe com um “pó” daqueles! Em vez de olhar para ele com a consideração e respeito que dou a um artista respeitável, passei a ver apenas um porquinho chauvinista que circula de cama legalizada para outra cama legalizada e, por isso, se assume como um grande homem. O desrespeito à MULHER e à sua dignidade consomem-me as entranhas, confesso...

Desde que soube que ele é polígamo assumido (porque os há, se há!, que são polígamos não assumidos) ganhei-lhe uma aversão injusta na medida em que a sua vida privada e códigos morais – ou até o seu discutível valor como homem – nada têm a ver com a qualidade do trabalho que me apresenta e com a relação profissional que tem comigo.
Ou terá?!
Se eu agora decidisse entregar-me às enigmáticas delícias do sado-masoquismo no resguardo do meu singelo lar tornar-me-ía numa pior profissional? A inspiração e a qualidade do meu trabalho ficariam afectadas com as correntes e amarranços violentos aos mastros da minha cama de dossel?
A lingerie gótica e o chicote tornar-me-íam numa pior artista?

Estas são questões às quais eu não sei responder. Isso ficará para quando – e se! - me render ao sub-mundo do sado-masoquismo.

A questão é :
Até onde vão os nossos preconceitos e até que ponto temos o direito de opinar sobre o CERTO e o ERRADO na vida alheia. Os eternos confrontos entre o Oriente e o Ocidente parecem não desvanecer-se.
Quem são os bárbaros? Nós ou eles? Ou ambos? Como definir CERTO e ERRADO com olhos abertos e justos? Haverá uma ética-moral universais que se possam aplicar a todos os seres humanos e por estes serem compreendidos?

Eu vejo o meu percussionista como um homem das cavernas desde que soube da sua triste “ménage a trois” matrimonial mas ele, provavelmente, também me vê como uma extra-terrestre por ser aversa à ideia de casamento (acontecimento central na vida de um árabe ou muçulmano) ou por me recusar a passar pela cama dos “pachás” do dinheiro daí colhendo dividendos para mim e para toda a minha equipa.


Estou confusa. Alguém poderá iluminar-me nesta questão?!

É que chego ao cúmulo de nem o querer cumprimentar e isso é grave quando trabalho com o dito cujo quase diariamente e quando se trata do músico com quem mais interajo em palco.

Será este um preconceito meu?! Até que ponto é que eu tenho o direito de julgar a poligamia de alguém e como não deixar-me afectar pela escolha pessoal da vida de cada um???
Porque será que tenho de misturar a conduta do senhor com o seu lado profissional?!
E porque me sinto tão chocada e desiludida com um homem que é apenas meu músico?!

Questões, questões, questões...alguém me envia uma luzinha?

Tuesday, January 5, 2010






Cairo, dia 4 de Janeiro, 2010





Joana Saahirah do Cairo em Portugal -
Dia 28 de Fevereiro (Domingo), 2010




Joana S. é a portuguesa que está a dar que falar no Egipto!
Actriz e bailarina profissional, actua diariamente com a sua orquestra egípcia nalguns dos mais conceituados pontos de encontros culturais do Cairo.

O seu estilo genuinamente egípcio (Alma, alma, alma!) conquistou os nativos do país árabe e os estrangeiros que vêm um pouco de todo o mundo para a ver actuar. Além da sua actividade como bailarina, coreógrafa e formadora (Joana ministra Dança Oriental e Folclore Egípcio um pouco por todo o mundo), Joana criou os seus BLOGUES “Diários do Egipto” ( versões inglesa e portuguesa no seu website: www.joanabellydance.com ) originando mais um ponto de ligação e entendimento entre o mundo oriental e o ocidental.Joana ensina regularmente no Cairo e assiste o Mestre da Dança Egípcia Mahmoud Reda em todos os Workshops realizados no Egipto.

Encontra-se, neste momento, a concluir o seu primeiro livro sobre a sua experiência pessoal e profissional no Médio Oriente e a actuar regularmente com a sua orquestra no grande



“NILE MAXIM”, Cairo.


PROGRAMA :

Oriental das Estrelas /Folclore pop moderno

Dia 28 de Fevereiro (Domingo), 2010


LOCAL:

Clube House, Avenida da Peregrinação, lote 4, 41.1 Moscavide (Parque das Nações, antiga EXPO)

HORÁRIOS:

Das 11.00h às 14.00h - “Oriental das Estrelas”
Técnica e Coreografia de estilo Oriental e criação de estilo próprio para cada bailarina

Das 15.30h às 16.30h - Sessão de “SAGATS” estilo “Gawazy” ( pode trazer os seus próprios sagats ou adquirir um par no nosso Bazar Oriental)

Das 17.00h às 20.00h - Técnica e Coreografia de Saiidi Pop Moderno.


CONTEÚDO DOS WORKSHOPS:

* “Oriental das Estrelas“ - Técnica e coreografia com os passos e movimentos das grandes estrelas da Dança Oriental ensinados a partir da experiência que Joana tem acumulado actuando no Médio Oriente - como recriar o que se aprende transformando-o no nosso estilo Único e Irrepetível.

* Sagats - técnica conjugada com dança tradicional das “Ghawazy”* Saiidi Pop Moderno - Técnica e coreografia (festivo, louco e moderno mas com o sabor do autêntico Saiidi)


PREÇOS:

1 Workshop+ 1 sessão de SAGATS, estilo Ghawazy (3 horas de formação, de manhã OU à tarde + 1 hora de SAGATS ): 50 euros

2 Workshops + 1 sessão de SAGATS, estilo Ghawazy (6 horas de formação, de manhã E à tarde + 1 hora de SAGATS): 70 euros

*Sessão de Sagats, estilo “Ghawazy“: 1 hora (incluido no preço dos outros Workshops )


PREÇO PROMOCIONAL (ATÉ DIA 15 de JANEIRO de 2010):

1 Workshop (com sessão de sagats incluida): 40 euros

2 Workshops (com sessão de sagats incluida): 55 euros

DATA LIMITE PARA INSCRIÇÕES:

13 de Fevereiro de 2010.
Depois desta data, existe uma penalização de 30 euros aplicada ao preço de cada Workshop.


***BAZAR ORIENTAL:
Exposição e venda de artigos relativos à Dança Oriental em local adjacente à sala onde decorrem os workshops.Os últimos cds do Egipto, novos trajes e lenços de alta qualidade para bailarinas, sagats, véus , dvds de Dança Oriental e muito mais... aberto das 11.00h às 19.30h a participantes dos workshops e não participantes.NOVA COLECÇÃO DE TRAJES DE DANÇA ORIENTAL DESENHADOS POR JOANA S. E CONFECCIONADOS NO CAIRO :Dança com Alma. Trajes com Alma!


***Formas de pagamento:

Para inscrever-se e garantir a sua participação no evento, terá de efectuar o pagamento do mesmo através de transferência multibanco para a conta com o
NIB: 0007 0075 000 1125 000536 ou envio de cheque ( no caso de preferir enviar-nos o cheque por correio, peça-nos a morada da Dança Mágica ).

Após ter efectuado a transferência ou enviado o pagamento, terá de informar-nos a data em que fez a transferência e o nome ( com respectivo email e tm) em que fica efectuada a inscrição através dos seguintes contactos:joanabellydance@sapo.pt / dancemagica@gmail.com
TM: 00351 - 96 642 7997 (Portugal) /TM: 002 - 012 258 8817 (Egipto)


Cairo, dia 4 de Janeiro, 2010

“Mais encontros imediatos de 3º grau”

Quando o tempo que nos reside nas mãos é limitado para tudo e todos os que são importantes na nossa vida, a selecção das pessoas com quem queremos partilhar esse mesmo precioso bem – o tempo!!! – torna-se rigorosa e, no meu caso, inflexível.

Regra Nº 1:


Não faço “fretes” a pessoal de quem não gosto. Ainda não desenvolvi essa qualidade empática com o Universo que permite a algumas almas iluminadas aceitarem totalmente TODA A GENTE exactamente como eles são, mesmo quando se trata de diabos à solta. Eu ainda não possuo essa qualidade e, pelo andar da minha carruagem interna, parece-me que nunca o possuirei.
Sim, eu aceito toda a gente com os seus demónios e imperfeições (também eu os tenho) mas prefiro manter determinadas pessoas à distância, desejando-lhes o melhor que a vida tem mas fazendo questão de não as ver à frente.

Regra Nº 2:

Em compensação pelo tempo que já não dispenso a quem não me interessa, tento dar atenção a quem a merece. É certo e sabido que sou uma pessoa orientada para a minha ARTE. Vivo e respiro dança, música, cinema, pintura, BELEZA. É para isso que vivo e já sacrifiquei relações pessoais valiosas em prole do meu trabalho mas a consciência de olhar com “olhos de ver” para quem tem valor (segundo o meu – subjectivo – critério, devo salvaguardar) aumenta diariamente.
Pode ser um amigo, um familiar, uma aluna, um desconhecido ou um mendigo da rua. Pode ser toda a gente e, no entanto, tão rara gente!

ENCONTROS IMEDIATOS DE 3º GRAU

Vejo este novo ano amanhecer com um tom diferente. Urgência de saltar mais alto, reformular, destruir para construir algo melhor de raíz, desejo de tempestades e revoluções que me levem onde ainda não fui. Este é O ANO.

Ninguém leva avante uma revolução sozinho e, por isso, tenho gozado alguns encontros de “3º grau” que apareceram mesmo, mesmo na aurora de 2010.
Pessoas que me ensinam, abrem portas e possibilidades.
Pessoas com uma inesperada bagagem de sabedoria que me dão novas asas para voar.

Queria que estes encontros de 3º grau – os bons! – se multiplicassem durante este ano porque, confesso, estou muito cansada de gente com mente e coração pequenos.
Brindo ao novo ano como a Deusa Kali brinda à trágica destruíção do Universo. Não há vida sem morte.

Cairo, dia 3 de Janeiro, 2010

“Noite de Fim de Ano”



Esta foi, sem dúvida, a noite de fim-de-ano mais divertida da minha vida.
A minha boca doeu-me durante horas e horas devido ao rir incessante da minha exausta, mas feliz, pessoa!

Grandes espectáculos de fim-de-ano no “Nile Maxim” e depois ainda uma festa privada que durou até às 4h da manhã...
Cheguei a casa, adormeci com dificuldade e acordei a tempo de me maquilhar e seguir para o trabalho, uma vez mais.

A melhor parte da noite não foi, curiosamente, o que fizémos em termos de espectáculos mas sim a camaradagem e diversão entre mim, músicos e bailarinos.Não fosse pelo medinho agudo que tenho do mau olhado, colocaria por cá fotos fantásticas que os meus bailarinos tiraram durante a nossa “longa noite”.

Fica apenas o registo da menina Joana ao leme do barco (bem representativo da forma como conduzo o meu trabalho e vida, sempre dona de mim propria...).

Quando a meia noite se anunciou nos relógios cairotas, o “Nile Maxim” transformou-se num rio de escuridão e todas as luzes do rio Nilo e da cidade passageira tomaram vida. Olhei à minha volta e não quiz acreditar em tudo o que conquistei neste ano difícil de 2009!
Só espero que as ajudas “lá de cima” sejam mais abundantes durante 2010 porque, até agora, tenho sido uma guerreira solitária. Sei que Deus está sempre comigo e agradeço todas as bençãos que em mim foram depositadas mas, ainda assim, o Senhor lá de cima e a Matemática Maior poderiam ser um pouco mais simpáticos comigo. Ando batalhando – quase, quase - sozinha há demasiado tempo...

De todas as vitórias deste ano, ressalto – acima de tudo – a chapada de luva branca que dei aos grandes patrões do local onde eu estava fixa antes de assinar contrato com o “NILE MAXIM”.
Sem perspectivas nenhumas de contrato à vista, eu recusei-me a trabalhar até que o “big boss” dos “Pharaohs of the Nile” me pedisse desculpa, pessoalmente, por uma atitude rude que teve comigo. Nessa noite, agarrei os meus músicos pelos braços e voei do palco prometendo a pés juntos que ninguém me iria desrespeitar. Prometido é devido.
O caos instalou-se, os vários patrõezinhos e “tachos” telefonaram-me em desespero tentando que eu não cancelasse o trabalho mas a verdade é que o pedido de desculpas do “big boss” não havia chegado e eu, simplesmente, DESPEDI-ME.

A expressão de incredulidade e terror na cara do arrogante “big boss” foi impagável e dá-me mais orgulho do que tantas outras coisas maravilhosas que, entretanto, fiz pelo ano fora.
Ninguém acreditou que eu levasse adiante a minha decisão de não trabalhar mais naquele local mas isso só aconteceu por não me conhecerem.
Existem os cães que ladram, ladram mas não mordem.
Eu ladro muito, muito pouco mas, quando a mostarda me chega ao nariz, mordo – e de que maneira! – sem aviso prévio e não há nada nem ninguém que me faça voltar a atrás na decisão tomada.

Ter mostrado a estes “big bosses” (que não nada mais do que “compadres” e familiares de outros “big bosses” sem abilitações ou competência) que não podem desrespeitar uma artista e saír da situação como se nada fosse terá sido, definitivamente, o ponto alto do meu ano.

Mais uma vez, todos os que me rodeavam me chamaram de louca varrida. Aparentemente, esta seria uma decisão precipitada e arriscadíssima mas Deus sabe melhor do que nós e, assim que se fez notícia que eu me tinha demitido dos “Faraós”, o dono do “Nile Maxim” pescou-me num segundo e fê-lo tão bem que o sucesso e ajuda divina nos visitaram a partir do primeiro espectáculo que ali apresentei.
Os meus músicos olharam-se em pleno terror perguntando-me: “E agora?!”
Os amigos questionaram-se porque seria que, por uma questão de respeito/orgulho , eu deitava a perder um lugar mais que confortável num local onde eu já tinha o meu público fixo e onde trabalhava diariamente sem a mais mínima preocupação.
Como sempre, ouvi a palavra “arrogante” suspirada nas minhas costas.
Não me importei. Teimosia e convicção não me faltam e também uma fé imensa na missão que aqui me trouxe.
Ninguém, mas NINGUÉM poderá desrespeitar uma BAILARINA na minha presença.

Como outrora acontecera – ao deixar o meu país e o meu nome já construído para me lançar a um sonho “impossível” numa terra estranha onde eu não conhecia ninguém – quem poderia supor que eu sairia mais forte e mais alto de toda esta história?!
Trocar a comodidade e aquilo que já alcançámos pela incógnita total ( e pela possibilidade de falhanço) é coisa de “loucos”. Não tenho feito outra coisa senão isso e, por isso, considero a minha “loucura” como a minha mais corajosa e bela qualidade.
Que Deus me ajude e nos ajude a todos fazendo-nos reconhecer que o caminho só pode ser feito pelos nossos pés e dando-nos força para superar os obstáculos que sempre, mas sempre, nos esperam nas esquinas desta vida.
Cairo, dia 3 de Janeiro, 2009

“Fazer o que ainda não foi feito”

Etapas. Mudanças. Rupturas, tempestades destrutivas e criativas e mudanças abruptas são apanágio meu. Necessito da mudança e da evolução como de ar para viver.

Durmo mal de noite e dói-me a cabeça.
Desmaio de vez em quando e parece – dizem! – que danço cada vez melhor (será verdade?).

Roubo este lema ao querido Pedro Abrunhosa, que tanto me inspira:
“FAZER O QUE AINDA NÃO FOI FEITO”.
Este é o meu LEMA para 2010.

Cairo, dia 30 de Dezembro, 2009

“Os abutres”

Esta noite recebi a visitinha “encomendada” da polícia responsável pelo “check-up” das bailarinas no mercado egípcio. Quanto mais se trabalha e mais visibilidade se tem, mais nos perseguem. Já o sabia em teoria, agora sinto-o na pele.

Estes afamados abutres fazem a vistoria das bailarinas de quem recebem denuncias - muito pouco anonimas devido a reduzida dimensao do mercado - ou com quem decidem embirrar por alguma razao pessoal.


As que dormem com os "pachas" e com o pessoal do dinheiro estao salvas de qualquer controle e ate podem ir de cuecas na cabecinha para o palco mas, como ainda nao me rendi as delicias do "take-away"...la vou apanhando com eles porque nao tenho as costas quentes.

Desconfio que sao meus admiradores...(apenas uma suspeita minha).

Hmmmm............(?!)


Segundo os gerentes presentes no “NILE MAXIM” esta noite, alguém fez a denúncia que eu não teria a minha licença de trabalho em dia ou que estaria a usar trajes “indecentes”.
Sei quem fez a denúncia e porquê. Quando a vejo, sorri-me, chama-me "minha querida" e dá-me palmadinhas nas costas. Bem-vindo ao “dirty world” da Dança Oriental no Cairo.

Só não me comem porque sou indigesta.

ABUTRES:
Depois de verificarem que, afinal, tinha todas as minhas licenças em dia, os abutres (que se vestem de cinzento, nunca sorriem e cheiram mal da boca) tentaram apanhar-me nos trajes.
Por lei, eu tenho de usar uma rede a cobrir-me o abdómen e as pernas não me podem ver para lá de um limite qualquer absurdo estipulado por um tarado “Diácono dos Remédios” egípcio que deve passar o tempo com a barriga colada a uma secretária sebosa vendo “Playboys” desactualizadas enquanto decreta leis anormais para dar dores de cabeça a quem , como eu, trabalha duramente.


SOLUÇÕES:

O meu instinto de sobrevivência nunca me deixa ficar mal!
Assim que soube que os abutres decidiram ficar a ver o espectáculo, pedi à minha assistente que me fechasse TOTALMENTE as tres “gallabeyas” que tinha na mala.
Hoje eu seria o chouriço – ou paio, segundo o meu pai – oficial do “NILE MAXIM”.
Dançar dentro de “gallabeyas” totalmente fechadas da cabeça aos pés não é só estúpido mas também um desafio para quem tenta mover-se e, vamos lá, respirar dentro daqueles tubos de tecido pregados até à ponta dos meus cabelos.
Se os abutres queriam “conversa”, as “gallabeyas” fechadinhas haviam de los desapontar.
Péssimo foi para o público que veio e pagou bilhete para me ver e acabou por assistir a uma versão traumática da revolta do chouriço luso-árabe ondulante (moi!).

PROVOCAÇÃO:

Aparento ser muita coisa que não sou – arrogante e vaidosa estão no topo da lista de coisinhas boas de que sou acusada pelos meus queridos detractores anónimos – mas, embora não saiba se o pareço ou não, se há coisa que eu SOU, sim senhores é : PROVOCADORA. Provocadora subtil e até sofisticada – o meu lado escorpiónico, dizem os entendidos no assunto – mas, ainda assim, PROVOCADORA.

Provando o que acabo de confessar, conto o gesto singelo que deixou os abutres de boca aberta, literalmente:
Se queriam que me cobrisse para impedir que me cobrassem uma valente maquia ou me levassem presa, então eu decidi cobrir-me totalmente para não haver margem de divergência de opiniões.
Além das “gallabeyas” tipo chouriço empacotado do LIDL, decidi cobrir a cabeça à maneira islâmica como fazem milhões de mulheres muçulmanas em todo o mundo. A Dança é o símbolo máximo da libertação do ser humano e de tudo o que o compõe (que inclui, logicamente, o seu corpo!). Pedir que se elimine o corpo de uma bailarina quando ela se apresenta em palco é um gesto de ignorância que não posso entender e tolerar.
Queriam ver a moralidade da Joana?!
E viram-na.
Passei pelos senhores de bafo de bode e pisquei-lhes o olho, sorrindo-lhes por detrás do meu véu que, poeticamente, me caía pelos ombros a baixo.
Na minha expressão, uma mistura de malévola inocência (porque a inocência pode não ser totalmente pura) que eu explorei a meu belo prazer.
O meu gesto deixou a audiência egípcia encantada e os polícias aterrorizados e boquiabertos (bafo de bode, de facto!).

Os músicos olharam-me, estupefactos mas já habituados às minhas loucuras.
Para quem assistiu ao episódio, o significado pode ter sido múltiplo. Para mim, foi um prazer jogar com as regras estúpidas que me são impostas. Um prazer mostrar, visualmente, a contradição daquilo que tem sido exigido às bailarinas neste país desde tempos imemoriais.
DANÇA e FALTA de LIBERDADE não podem estar unidas, nunca. Aqui, pedem-me a noite durante o dia e o que eu fiz foi mostrar o absurdo de todo um sistema que cobre, aniquila e condena o corpo da mulher como algo pecaminoso que deve ser escondido a todo o custo.
Peço desculpa se a Dança não vai ao encontro desta onda de ódio pelo corpo feminino mas, da parte que me toca, continuarei a pegar nas armas que me são arremessadas e devolvo-as ao atacante como um “boomerang” mágico de justiça.

DERROTA:
Os abutres terminaram a sua noite frustrados. Nada de dinheirinhos debaixo da mesa ou sarilhos cá para o meu lado. Papéis em dia e eu, coberta dos pés à cabeça!

O meu pessoal continua a perguntar-me por que carga de água eu continuo a viver no meio desta loucura...
Deixo a questão em aberto, até para mim mesma.
Cairo, dia 30 de Dezembro, 2009

“Incongruências”

Viver no Egipto sem ensandecer é conseguir conjugar os nossos valores e forma de ver o mundo com outros que nos parecem ilógicos e baseados em ignorância e pequenez mental e espiritual.
Admito, frequentemente, que não compreendo a realidade que me rodeia. Não me adaptei totalmente ao meio que me rodeia e ainda bem que assim é. Se me tivesse adaptado àquilo e às pessoas que estão à minha volta, já me tinha transformado numa verdadeira “cabra” (para sermos exactos e não me refiro às carinhas mimosas que pastam nas montanhas transmontanas do nosso Portugal), já teria perdido a consciência entre o certo e o errado e já teria eliminado a minha capacidade de amar verdadeiramente e confiar nas pessoas.

Quem vive por cá, tem de habituar-se às várias incongruências do dia-a-dia...

1. Censuro a minha assistente porque se veste para ir para o trabalho como se fosse vender a pernoca para um cabaret de quinta categoria. Pela “minha” lógica, eu – a estrangeira, a bailarina, a depravada prostituta – deveria ser orientada pela egípcia – muçulmana – mãe de família respeitável – costureira e afins domésticos na minha conduta e forma de vestir.
O que acontece é o contrário. Eu, a bailarina toda cobertinha e incomodada com o assédio dos homens e ela, a senhora mãe de família e avental, seduzindo e deixando-se seduzir pelos homens que por ela passem, vestindo coisitas fantásticas que eu, do alto ou do baixo do meu bom gosto, defino como “roupa de engate no Cais do Sodré”.
Acrescento que esta senhora é uma “boa senhora” e a artista é uma “boa artista” (obrigada, Herman José, pela infinita inspiração). Apenas comento a aparente contradição da situação. Não me cabe a mim julgar os ímpetos de cada um.

2. Ensaio um novo tema com orquestra e bailarinos.
Na história/conceito deste tema, entra um homem meio bêbedo interpretado por um dos meus bailarinos. Um dos músicos tem uma ideia brilhante:
Porque é que o bêbedo não entra a cambalear envergando duas garrafas de whisky nas mãos?!
Ah...iluminada ideia.
Todos acenam e dizem que sim, sim, sim...as garrafas são uma ideia fantástica. A minha assistente oferece-se para cenografar as garrafas (uma com vinho e outra com whisky). Informa-me, displicente, que o vinho pode ser “carcadé” (uma espécie de infusão vermelha que se parece ao vinho) e que o whisky pode ser infusão de aniz.
Eu olho à minha volta e penso para mim mesma:
“Que absurdo! Um grupo de muçulmanos que condena e aponta o dedo a quem quer que consuma bebidas alcoólicas mostra-se, num segundo, entusiasmadíssimo com a ideia de incluír garrafas de vinho/whisky em palco.”
- Mas este é um país muçulmano, caso vocês se tenham esquecido.
Parece-me ofensivo para as minhas audiências egípcias e árabes incluir adereços completamente dispensáveis que representam algo condenado pelo Islão. – Digo eu, indignada pela insensibilidade dos meus compatriotas da loucura.
- Mas isto é diferente. Isto é um espectáculo de Dança. – Respondem eles em uníssona concordância.
- Ah, querem dizer...como a dança já é “haram”, acrescentar umas garrafitas aqui e ali não sairá do contexto...
-Exacto.

Bem, é aqui que entra a percentagem mínima de tolerância que eu tenho pela estupidez alheia. Comparar a Dança – ou o seu grau de ilegetimidade segundo o Islão – às bebidas alcoólicas é como colocar tudo no mesmo saco. Segundo os egípcios e o Islão mais estrito, a DANÇA, a MÚSICA, O CINEMA, A LITERATURA E TODAS AS ARTES SÃO EQUIVALENTE ÀS BEBIDAS ALCOÓLICAS E ÀS DROGAS no que diz respeito ao seu poder demoníaco sobre os seres humanos.

Evadir-se com uma bela música ou dançando não é, certamente, o mesmo que evadir-se apanhando uma valente bebedeira (ou estarei enganda?!).
Ora bem, para encurtar o drama da tasca...eu que até nem sou muçulmana e sou bailarina (terrível, terrível!) impedi que um acto de desrespeito ao Islão fosse cometido no meu palco e a minha equipa composta por muçulmanos estava prontinha para dar as Boas Vindas às garrafas e tascas de todo o Universo.

Ahhhh....AdoRO o Egipto!
Cairo, dia 30 de Dezembro, 2009

“Brigada Anti-Tarado”

Dia 27 de Dezembro: dia do meu regresso ao Cairo, depois de uns singelos seis dias em Portugal para um Natal quente em casa, com a família, como manda a tradição (nunca me soube tão bem fazer parte desta “tradição”).
Assim que aterro no Cairo, a experiência do Absurdo – também conhecida como “3ª dimensão” – desenrola-se em frente aos meus pés como um longo tapete persa diante de um entusiasmado vendedor.
Este mundo não me dá descanso (graças a Deus que a minha mãe me deu um suplemento para o cérebro...).

DESAPEGO:
Deixar para trás a minha família e amigos, uma vez mais, não foi fácil (principalmente após o Natal e ainda num ambiente festivo que convida ao recolhimento do lar).
A aprendizagem do DESAPEGO tem sido um dos meus mais difíceis desafios desde que tive a coragem – e a loucura! – de deixar tudo para trás e ir atrás dos meus sonhos numa terra que nos esmaga tão facilmente.
Desapego para poder dizer ADEUS mil vezes àqueles que mais amo e me amam. Desapego para poder dizer que não tenho “casa” mas que o mundo é a minha casa.
Desapego para poder viver quase exclusivamente para o meu trabalho, sacrificando amigos, relações amorosas e tudo o que se me deparar no caminho.
Desapego para saber que chego e parto rapidamente e que as lágrimas já não caem devido à habituação do ADEUS.
Desapego para entender que o amor está dentro de mim e que carrego aqueles que amo dentro do peito, mesmo sem a sua presença física.


BRIGADA ANTI-TARADO:

Levanto-me cedo e apanho o metro para tratar da minha viagem à India (visto, vacinas, etc). Tenho espectáculos à noite, ainda estou de ressaca do Natal mal rematado em Portugal e sei que actuarei exausta mas não há nada a fazer.
Mãos à obra!
Entro na carruagem das mulheres, aliviada por não ser assediada por uns momentos. Vejo um “gentleman” que, ousadamente, decidiu inserir-se na mesma carruagem, ignorando o sinal que a define como pertencente ao género feminino.
Olho em volta e ninguém parece incomodar-se com a presença do bigode farfalhudo excepto eu e...uma “ninja”.
Bem...explico a “ninja” (com todo o devido respeito em relação às “ninjas” do mundo islâmico).
Chamo “ninjas” às mulheres que se cobrem completamente ( e de negro!), da cabeça aos pés. Apenas se lhe vêm os olhitos debaixo da “burqa”.
Consigo identificar uma expressão de cúmplice desagrado na ninja que tenho à minha frente. Ora aqui está um momento raro de conexão entre dois mundos tão opostos:
A bailarina (devassa, símbolo máximo da transgressão do que é considerado “decente” numa mulher islâmica) e...
A “monakaba” (ou ninja, segundo o meu dicionário pessoal), símbolo máximo do pudor e decência da mulher humilde e recatada do Islão.
Estes dois mundos encontram-se em cúmplice desagrado e expulsam o senhor que se atreveu a invadir o espaço reservado às mulheres.
Eu dei o primeiro passo – pedindo-lhe para sair da carruagem na próxima estação – e a ninja reforçou o pedido suspirando palavras de exultada irritação por debaixo dos pesados tecidos que lhe cobrem o corpo e a alma. Depois olhou-me com uma expressão cúmplice que só as mulheres árabes podem carregar no meio da sua complexa irmandade.
Que associação improvável, meu Deus! Se ela sonhasse que eu sou bailarina, atirar-se-ía ao rio Nilo por ter caído na tentação demoníaca de se associar a uma depravada.
Absurdos à parte, posso dizer que fizemos uma equipa fabulosa.
Por momentos, pensei: Será que podíamos aqui mesmo criar a “Brigada Anti-Tarado”?
Eu e a ninja à cabeça da organização competindo em popularidade e poder de acção com a perigosa “Irmandade Islâmica”...UAU!

Isto seria uma revolução. Ela de machado na mão e eu com armas de arremesso variadas limpando a cidade de toda a sua poluíção moral...ahhhh....ideia genial.
O Diabo – eu!- e uma representante de Alá – a ninja. Juntinhos, combatendo os tarados sexuais espalhados pelo nosso querido Cairo.
Quais “Anjos de Charlie” quais quê... A Bailarina e a Ninja é o futuro da luta contra o assédio sexual nesta cidade de loucos.
Aqui fica a ideia.
Cairo, dia 30 de Dezembro, 2009

“Sabedoria (obrigada, Susanita!)”

Não poderei deixar de partilhar estas maravilhosas mensagens convosco. Pensem sobre elas, sintam o que significam e ajam de acordo com a vossa consciência.
“As pessoas são mais solitárias porque constroem mais paredes do que pontes.”
Joseph F. Newton

“Um cobarde é incapaz de demonstrar amor – isso é privilégio dos corajosos.”
Ghandi
“A paz vem de dentro de você mesmo. Não a procura à sua volta.”
Buda
“Não acrescente dias à sua vida, mas vida aos seus dias.”
Harry Benjamin

“Sonhos são gratuitos. Transformá-los em realidade tem um preço.”
Ennis J. Gibbs
“Não tome decisões quando estiver zangado.”
“Cuide do seu corpo físico.”
“Tenha cuidado com aqueles que não têm nada a perder.”
“Aprenda a dizer “não”, mas fazê-lo com gentileza e carinho.”
“Não espere que a vida seja justa.”
“Não fique preocupado por perder uma batalha se isso ajuda a ganhar a guerra.”
“Faça o que é preciso ser feito no momento.”
“Não tenha medo de dizer “não sei” ou “desculpe”. “
“Comtemple a madrugada, pelo menos uma vez por ano.”
“Olhe nos olhos das pessoas.”
“A solidão é um estado de espírito. Você não precisa de outras pessoas para se amar.”
“Trate todos como gostaria de ser tratado.”
“Viva o momento. Não se apresse ir em frente. Há muito que aproveitar da vida “agora”. “
“Não acredite em tudo o que ouve e não diga tudo o que pensa.”
“Grande parte do seu crescimento como pessoa virá através das dificuldades e desafios.”
“Cerque-se todos os dias com Luz.”
“Aprenda a ouvir, é uma Arte.”
“Aprecie a beleza desta terra ao seu redor.”
“Ame o seu corpo. Ele sabe o que você pensa, de suas emoções, saúde ou doença. Envie para si mesmo pensamentos positivos o tempo todo.”
“Seja atencioso e cuidadoso com o que sai da sua boca pois são essas palavras que vão criar a sua realidade.”
“Não há coincidências e não há acidentes na vida. Tudo de grande e pequeno porte acontece por uma razão. Preste muita atenção.”
“Livre-se do ódio e amargura, eles provocam-lhe muitos danos.”
“Você tem o direito de ser feliz.”

Se os conselhos fossem mesmo importantes, vender-se-íam e não se dariam, lá diz o sábio povo mas permitam-me discordar.
Nunca é demais escutar palavras sábias vindas da experiência de uma vida bem VIVIDA. Colocar em prática a sabedoria que vem até nós já é outra arte à parte mas só pode nascer quando alguém ou algo nos desperta da nossa escuridão.

Sunday, January 3, 2010



Cairo, dia 30 de Dezembro, 2009





"Retomando o folego"





Ja de regresso ao Egipto, nao posso evitar pensar no que ja foi feito e no que ainda "nao foi feito" (mais importante que tudo o resto).


Assim que sinto os meus pes pisando solo egipcio, invade-me esse sentido de batalha e conquista que me visitou desde a minha primeira viagem a esta terra fascinante...





Chegar a casa do aeroporto, uma vez mais, e limpar o po da cidade de dentro do meu ninho...



Colocar a casa em dia (porque tambem sou uma atipica mas, ainda assim, "dona de casa"), burocracias, ensaios e criacoes constantes que apenas dependem de mim. Coreografias, musicas, cantos e dancas misturados com responsabilidades mundanas que ninguem pode cumprir por mim.
Entre a escrita, a arte, o ensino, o palco diario, mim mesma (e o tempo que nao tenho para mim)e as tarefas do "mundo comum"...sinto-me exausta.

Este fim de ano define-se por um sentido de orgulho por tudo o que conquistei mas tambem por uma necessidade urgente de respirar fundo e olhar para mim mesma.
Aqui tenho a primeira prioridade para 2010!