Tuesday, February 9, 2010

Cairo, dia 11 de Fevereiro, 2010

"Joana Saahirah do Cairo- WORKSHOPS de dia 28 de Fevereiro (Domingo) em PORTUGAL"
Últimas vagas disponíveis para os workshops de dia 28 de Fevereiro!

Depois segue-se o meu novo espectáculo no Cairo...
Espectáculo e workshops na Colômbia e na Argentina...wow...estou a mil! PROGRAMA DOS


WORKSHOPS DE DIA 28 DE FEVEREIRO, 2010


Joana S. é a portuguesa que está a dar que falar no Egipto! Actriz e bailarina profissional, actua diariamente com a sua orquestra egípcia nalguns dos mais conceituados pontos de encontros culturais do Cairo. O seu estilo genuinamente egípcio (Alma, alma, alma!) conquistou os nativos do país árabe e os estrangeiros que vêm um pouco de todo o mundo para a ver actuar.

Além da sua actividade como bailarina, coreógrafa e formadora (Joana ministra Dança Oriental e Folclore Egípcio um pouco por todo o mundo), Joana criou os seus BLOGUES “Diários do Egipto” ( versões inglesa e portuguesa no seu website: www.joanabellydance.com ) originando mais um ponto de ligação e entendimento entre o mundo oriental e o ocidental. Joana ensina regularmente no Cairo e assiste o Mestre da Dança Egípcia Mahmoud Reda em todos os Workshops realizados no Egipto. Encontra-se, neste momento, a concluir o seu primeiro livro sobre a sua experiência pessoal e profissional no Médio Oriente e a actuar regularmente com a sua orquestra no grande “NILE MAXIM”, Cairo.

PROGRAMA - Oriental das Estrelas /Folclore pop moderno
Dia 28 de Fevereiro (Domingo), 2010 LOCAL: Clube House, Avenida da Peregrinação, lote 4, 41.1 Moscavide (Parque das Nações, antiga EXPO) HORÁRIOS: Das 11.00h às 14.00h - “Oriental das Estrelas” Técnica e Coreografia de estilo Oriental e criação de estilo próprio para cada bailarina Das 15.30h às 16.30h - Sessão de “SAGATS” estilo “Gawazy” ( pode trazer os seus próprios sagats ou adquirir um par no nosso Bazar Oriental) Das 17.00h às 20.00h - Técnica e Coreografia de Saiidi Pop Moderno.

CONTEÚDOS DOS WORKSHOPS:
* “Oriental das Estrelas“ - Técnica e coreografia com os passos e movimentos das grandes estrelas da Dança Oriental ensinados a partir da experiência que Joana tem acumulado actuando no Médio Oriente - como recriar o que se aprende transformando-o no nosso estilo Único e Irrepetível. yt

* Sagats - técnica conjugada com dança tradicional das “Ghawazy”.

* Saiidi Pop Moderno - Técnica e coreografia (festivo, louco e moderno mas com o sabor do autêntico Saiidi) PREÇOS: 1 Workshop+ 1 sessão de SAGATS, estilo Ghawazy (3 horas de formação, de manhã OU à tarde + 1 hora de SAGATS ): 50 euros 2 Workshops + 1 sessão de SAGATS, estilo Ghawazy (6 horas de formação, de manhã E à tarde + 1 hora de SAGATS): 70 euros *Sessão de Sagats, estilo “Ghawazy“: 1 hora (incluido no preço dos outros Workshops ) DATA LIMITE PARA INSCRIÇÕES: 13 de Fevereiro de 2010 Depois desta data, existe uma penalização de 30 euros aplicada ao preço de cada Workshop.
***

BAZAR ORIENTAL:
Exposição e venda de artigos relativos à Dança Oriental em local adjacente à sala onde decorrem os workshops. Os últimos cds do Egipto, novos trajes e lenços de alta qualidade para bailarinas, sagats, véus , dvds de Dança Oriental e muito mais... aberto das 11.00h às 19.30h a participantes dos workshops e não participantes. NOVA COLECÇÃO DE TRAJES DE DANÇA ORIENTAL DESENHADOS POR JOANA S. E CONFECCIONADOS NO CAIRO : Dança com Alma. Trajes com Alma!


*** Formas de pagamento: Para inscrever-se e garantir a sua participação no evento, terá de efectuar o pagamento do mesmo através de transferência multibanco para a conta com o NIB: 0007 0075 000 1125 000536 ou envio de cheque ( no caso de preferir enviar-nos o cheque por correio, peça-nos a morada da Dança Mágica ) Após ter efectuado a transferência ou enviado o pagamento, terá de informar-nos a data em que fez a transferência e o nome ( com respectivo email e tm) em que fica efectuada a inscrição através dos seguintes contactos:


joanabellydance@sapo.pt / dancemagica@gmail.com OU danca-magica@sapo.pt TM: 00351 - 96 642 7997 (Portugal) / TM: 002 - 012 258 8817 (Egipto)

****************
AQUI VÃO UNS VÍDEOS MEUS PARA VOS ADOÇAR A BOCA PARA O GRANDE DIA 28 DE FEVEREIRO (PARTILHAREMOS CONHECIMENTOS, DANÇA, SENTIMENTOS E MUITA ALEGRIA!).

PART I, II, III DE "AWAT´AENY" , TEMA DE OM KOLTHOUM






Cairo, dia 10 de Fevereiro, 2010

"Quase de partida para a India...em busca de..."

Estou quase de partida para a India.
Em busca de...
Tudo em aberto, como gosto que aconteça na vida.
Viagem por fora e por dentro de mim ( as verdadeiras viagens passam-se sempre dentro de nós mesmos).

Estarei ausente durante uns tempos...vejo-vos a todos no dia 28 de Fevereiro, dia dos meus ansiados workshops em Lisboa.

NAMASTÉ a todos!



Cairo, dia 9 de Fevereiro, 2010

“Espectáculos fantásticos e o CERNE DA QUESTÃO”

Tenho levado a supersticiosa questão do mau-olhado muito a peito e, por isso, evito comentar sobre a alegria do que tem sido o meu impressionante crescimento artístico e pessoal (nunca os consigo dissociar, embora saiba que eles não se encontram juntos em todos os artistas).
Prefiro que o público veja por si, ao vivo, do que falo quando refiro a Magia ou a ARTE.
Prefiro que os alunos que comigo vêm ter um pouco de todo o mundo comprovem, por si mesmos, a qualidade do que faço e a verdade do que ensino.

Os factos falam sempre mais alto do que as palavras, essa é a verdade.

Descobri, ao longo de quatro anos de espectáculos quase diários no Cairo, que o mais importante na Dança Oriental não nos é ensinado por mestres, vídeos ou livros bem escritos. Tudo é potencial alimento quando se trata de ir mais fundo no campo da Dança Oriental.

Viver e trabalhar no Egipto e ter sucesso por mérito próprio (sem esquemas, prostituíção nem favores que se pagam caro!) é quase missão impossível. Quase impossível...porque eu provei e provo, todos os dias, que a excepção existe quando alguém acredita no seu sonho e em si mesmo.
Quando alguém sonha e está disposto a trabalhar arduamente, a cair e levantar-se sozinho, a fazer sacrifícios, a crescer depressa e a aprender a cada passo dado e a cada erro cometido.

Esta tem sido a minha grande escola e, a par do sucesso que Deus me tem dado, o mais importante foi descobrir o CERNE DA QUESTÃO no que respeita a Dança Oriental e a ARTE, em geral.
Claro que existem vários CERNES DA QUESTÃO... nunca paramos a de crescer e surpreender-nos, graças a Deus.

Mas existem segredos, coisas da Alma suspiradas nos meus ouvidos, elementos centrais que transformam uma bailarina em pura LUZ...informações que nenhum professor me ensinou...coisas que o percurso e os obstáculos me ensinaram...tantas vozes de Fadas e elfos que vieram até mim, quando em palco ou dançando para egípcios num casamento tradicional, e me rezaram ao ouvido:

É isso. O caminho é este. Esta é a ARTE da Dança Oriental.

Por essas revelações...sinto-me grata.
Por essas revelações, sinto-me orgulhosa comigo mesma e feliz de ser quem sou e como sou (com todas as minhas loucuras e fragilidades).
Por essas revelações, tenho ainda mais vontade de partilhar a minha ARTE com o
mundo.
Cairo, dia 6 de Fevereiro, 2010

“A galinha do vizinho...”


A galinha do vizinho é sempre mais gorda e apetitosa do que a minha!
Loções branqueadoras da pele são grande produto de consumo entre as mulheres árabes.

Quando apanhei uma senhora egípcia a retocar a base branca com que se maquilha (para ir treinar ao ginásio?!) pensei cá para comigo:
Que loucura!
As mulheres ocidentais consomem produtos e serviços para ficarem bronzeadas e mais escuras que nem um tição e as mulheres árabes e egípcias pagam fortunas para ficarem brancas (produtos de cosmética e operações plásticas de branqueamento da pele).

Já não falo da perturbação que é, para mim (rústica, no fundo), ver uma mulher maquilhada no ginásio. Parte-se do princípio de que se vai suar profusamente. A maquilhagem serve para quê, neste contexto? Para ver como funciona o eye-liner desfeito em suor?

A senhora não estava, somente, maquilhada com a tal base branca. Ela estava com o “hijab”, o lenço que cobre a cabeça e parte dos ombros. Outra questão:
Para quê o “hijab” numa secção do ginásio onde só são permitidas mulheres?!
Não será sufocante correr e afins com um lenço pesado enrolado na cabeça?
Prefiro nem pensar no assunto...
Onde está a lógica em tudo isto e como posso, eu própria, questionar-me quando venho de uma cultura onde a Mulher também tenta ser quem não é de forma a incluír-se no cânone de beleza que a sociedade lhe impõe?

A mulher árabe/egípcia olha para a pele branca de uma ocidental com inveja.
Fazem-se programas inteiros de vendas ao domicílio sobre produtos branqueadores da pele.
As mulheres ocidentais correm para os salões de beleza para se bronzearem, fritam debaixo do sol durante horas e compram loções bronzeadoras.

Quando chegará o ponto em que nos aceitamos como somos sem olhar para o lado?
Quando será que nos conseguiremos dissociar da máquina de marketing avassaladora que nos convence que apenas seremos belas, desejáveis e amadas quando correspondermos a uma certa imagem?
Poderá, alguma vez, a Beleza ser algo pessoal e intransmissível longe dos interesses económicos de quem nos promete vender a FELICIDADE num boião de creme?
Cairo, dia 5 de Fevereiro, 2010

“Os deuses devem estar loucos”

Eu, Joana Saahirah Tânia VÁnessa de Vasconcelos e Pita d´Batata admito a mais vergonhosa e estonteante verdade:

Tenho escutado – sim, senhores do Júri“khallegi” em casa.
Prova, mais que clara, de que nunca devemos dizer “desta água não beberei”!
Prova, mais que clara, de que eu me transformei num ser híbrido, actualmente incompreensível para a espécie humana.

“Khallegi”
é a denominação que se dá ao estilo de música/dança dos países Árabes, nomeadamente, da Arábia Saudita onde este é praticado como uma forma de afirmação de identidade cultural (num mundo árabe muito pouco unido), convívio, evasão e sedução (as mulheres e os homossexuais sauditas são especialistas neste estilo de dança que executam, na generalidade, de forma provocativa e com um claro teor sexual).

Os egípcios nutrem um sentido de superioridade em relação aos outros países que os rodeiam neste mundo árabe que se tentou unificar mas que continua, indiscutivelmente, fragmentado por interesses que se opõem.
Nessa superioridade só o Líbano está próximo do Egipto. Também os libaneses olham os “outros”, os “árabes” (egípcios, libaneses e sírios não se assumem como árabes) com desdém, julgando-se intelectual e culturalmente superiores àqueles.

No que diz respeito à música, o Egipto é – sem dúvida alguma – o país mais rico de todos. Rico em complexidade e beleza musical e na sua diversidade.

A música e a dança “Khalleegi” entram no panorama quando “aqueles” árabes
(antigos beduínos sem rumo nem riqueza pessoal transformados em bilionários instantâneos após a descoberta do petróleo no seu território) invadiram o Egipto com o seu dinheiro abundante e a atitude de quem tudo e todos compra.

Do deserto, passaram para grandiosas mansões.
Da mais intrépida pobreza e de um estilo de vida duro e árido (deserto), passaram para a opulência extrema e para uma rotina de ócio ostensivo, consumo compulsivo – a roçar o ridículo - de bens de luxo e uma atitude de deboche que lançam à cara dos egípcios (justificando-se com os milhões que carregam nos bolsos e que lhes dão esse poder).

Tendo invadido o Cairo e as estâncias turísticas do Egipto com o seu farto capital, os “árabes” exigiram que aqui fosse recriado o seu mundo e, em especial, todos os deleites proíbidos que lhes são vetados por lei nas suas terras de origem.

Sempre que oiço um egípcio falar de árabes, existem vários elementos invariáveis (preconceitos com ou sem fundamento?!):

Os árabes são uns selvagens sem educação, moral ou quaisquer valores humanos que compram objectos e pessoas com o seu dinheiro. O capital é o seu único poder e eles fazem extremo uso dele.
Infelizmente, do contacto que eu própria tive com árabes, tenho de concordar com esta ideia feita.

Os árabes são os grandes
consumidores de drogas, bebidas alcoólicas e prostituíção. Com o seu dinheiro, corrompem tudo e todos.
Bem...aqui já tenho de discordar um pouco. É bem verdade que os árabes – homens e mulheres – vêm para o Egipto fazer tudo aquilo que não lhes é permitido por lei nos seus países e é também verdade que “desbundam” à grande.
Ambos os sexos procuram, avidamente, prostitutas/prostitutos e ambos povoam os “night-clubs” em busca de sexo, whisky e drogas mas...

Os egípcios não são comrrompidos pelos árabes neste aspecto. Os próprios egípcios estão corrompidos e também eles buscam prostitutas na rua e onde calhar, também eles consomem haxixe e outras drogas como se fossem tremoços e também eles bebem o que a sua religião não lhes permite quando a ocasião e o dinheiro o permitem.

Os árabes são vazios e sem
cérebro e, por isso, não sabem apreciar arte e boa música.
“Om Kolthoum?! Quem é Om Kolthoum?!”
Quando os afamados árabes invadem o Cairo – especialmente no Verão que eles consideram ser fresquinho por cá, quando comparado com os sítios de onde eles vêm – a música egípcia parece desaparecer para dar lugar ao “khalleegi”.
Os próprios músicos egípcios investem no reportório destes “invasores” porque sabem que isso lhes trará dividendos.

Vários pedidos me foram feitos no sentido de dançar “Khallegi” para um árabe ricalhaço que é meu admirador, para uma audiência com elementos da família real da Arábia Saudita, etc.
Sempre recusei estes pedidos.
Jamais dançaria algo com o qual não me sinto ligada, uma linguagem que não compreendo e não me diz absolutamente nada...como interpretar e dar sentido/amor a uma música que eu detesto – detestava?! – e não assimilo?!

A Arte Maior da música egípcia desaparece, durante os meses do Verão, para dar lugar à música “Khallegi” generosamente paga pelos abastados visitantes desse outro mundo, outrora beduíno (e agora, cosmopolita?!).

Também concordo com esta ideia feita. Trata-se de um facto, não uma ideia.
Falo apenas do meu ponto de vista, não querendo dizer que esteja absolutamente certa nas minhas opiniões.


De volta ao “khallegi” e ao meu mais recente vergonhoso costume:
Ouvir este estilo de música em casa e ainda considerar a hipótese de actuar sobre uma música de um famoso cantor da Arábia Saudita!
Quem me viu e quem me vê!

Eu, que sempre me recusei ouvir e dançar este estilo de música, começo a apreciá-los, ainda que em doses mínimas (devo dizer em meu favor).

Parte do crescimento avassalador de viver e trabalhar como bailarina no Cairo passa, também, pelas mudanças que em mim se dão sem o meu próprio consentimento ou sem que eu me aperceba.
Desconcertante.
Cairo, dia 3 de Fevereiro, 2010

“Killing me softly...”


Trânsito.
Poluíção sonora e do meio ambiente.
Cigarros.
Ambientadores nos carros.
É como envenenar o envenenado.


Combinação bombástica para o meu exausto sistema.


Acho que existem várias campanhas no Cairo:

1. Uma contra a Inteligência (daí ver-se tão pouca eficácia e lógica na esmagadora maioria dos seus habitantes). Resultados: FANTÁSTICOS.

2. Outra contra o assédio sexual nas ruas. Resultados: Medíocres e frustrantes para quem, como eu, caminha e é torturada diariamente por essas ruas a fora.

3. Outra campanha – lançada por algum inimigo ainda não assumido – para me eliminar suavemente. Não se trata de um atentado claro e brusco, não...
Esta é uma tortura lenta que actua sobre o meu exausto sistema de forma gradual.

Quem foi o otário que se lembrou de comercializar em massa os ambientadores (os pinheirinhos são os piores) que todos os taxistas do Cairo exibem, actualmente, no espelho da frente dos seus veículos?

Antes via-se um ou outro e eu recusava-me a entrar no táxi em causa porque sabia que me sentiria a ponto de vomitar mas, agora, não existe saída. TODOS levam o raio do pinheiro pendurado para “ambientar”, dar um cheirinho bom ao carro...grrrrrr.....

Existe algo no meu corpo que rejeita estes ambientadores. Isto teria de ser estudado, sei lá!
Eu entro num lugar com um destes ambientadores e começo a sentir dores de cabeça e náuseas fortíssimas.
Se combinarmos estes malditos ambientadores com o stress do trânsito constante, a poluíção extrema, os tubos de escape avariados que nos são cuspidos para a cara nas filas de trânsito e os cigarros baratos que os condutores insistem em fumar dentro dos automóveis temos a combinação perfeita para me eliminar.

Inimigo não identificado.
Resultados: FANTÁSTICOS (a par e passo com a campanha contra a Inteligência).
Cairo, dia 3 de Fevereiro, 2010

“Assediada pela Polícia egípcia, uma vez mais...”



É, realmente, uma lástima que um país tão rico e belo esteja povoado como uma autêntica República das Bananas virada para lá do avesso de tudo aquilo que é lógico e saudável.

Ontem à noite fui sexualmente assediada, uma vez mais, pela Polícia egípcia ao regressar a casa depois de uma árdua noite de trabalho.
Já o disse muita vez e volto a repeti-lo sempre que seja necessário e até à exaustão: Aquilo que conquistei na minha carreira e o lugar onde me encontro neste momento poderá ser cobiçado por muita gente mas, na verdade, muito poucas pessoas poderiam enfrentar tudo o que enfrentei até hoje em prole da realização dos meus sonhos e do respeito que quero ver agregado à Dança Oriental e a toda a rica cultura que a sustenta.

As dificuldades da profissão são apenas um dos aspectos deste desafio de construir uma carreira no Egipto e internacionalmente.
As dificuldades com que lido no meu dia-a-dia conseguem ser tão corrosivas como aquelas que estão directamente associadas ao meu trabalho.

Ser assediada, às 3h da manhã, por um grupo de polícias que manda parar o táxi onde viajo e nos retém – sem razão – por meia hora de conversa fiada e muita gritaria da minha parte encontra-se na minha lista de experiências a evitar (e, no entanto, inevitáveis se vivemos no Egipto!).

Verificaram os meus documentos e os da minha assistente, ignorando o “check-up” mais importante que seria o do taxista e seu veículo (que, normalmente, carregam drogas e afins...bens dos quais a própria Polícia colhe dividendos).

Ouvi comentários de teor sexual e risadinhas macabras do lado de fora do táxi e o polícia decidiu estender a conversa depois de ter verificado que toda a documentação era válida.

Eu comecei a deitar fumo pelas orelhas, como é usual.
Muito zen, muito zen mas não deixem que me chegue a mostarda ao nariz porque vos sai uma bomba DAQUELAS!

Fitou as malas do trabalho e perguntou o que lá estava dentro.
Eu respondi-lhe que se tratava das minhas roupas. Ele perguntou-me que trabalho eu fazia. Eu disse:
-Sou artista.

Resposta insuficiente para o jogo macabro que o anormal queria prolongar.
Que tipo de artista (o termo BAILARINA vem expressamente escrito no meu cartão de identidade de trabalhadora no Egipto, o mesmo cartão que ele tinha nas suas mãos)?

- Artista. O senhor não sabe ler?! Olhe para o cartão que tem nas mãos e deixe-se de conversa fiada se não quiser problemas.

O polícia e o seu grupinho decidiram insistir no conteúdo das malas, enquanto se ouvia, entre eles, vários suspiros e palavras de teor sexual e ofensivo.

- Se quiser abrir as malas com a minha roupa, está à vontade mas saiba que vai directamente para uma estação de polícia comigo. A-G-O-R-A.

Ele parou, estupefacto e até encantado com a minha reacção assertiva.
Os homens de cá acham “piada” a uma “mulher de armas”! Tomam-na como algo exótico e divertido de observar e, no entanto, algo que lhes pode causar sarilhos.
Eu continuei, já sem paciência nenhuma para aquela palhaçada tão habitual entre os homens egípcios que consideram qualquer mulher livre uma prostituta:

- Diga-me o seu nome, por favor.
- Mohamed.
- Mohamed quê? Diga-me o seu último nome.


Foi neste momento que ele devolveu os cartões de identidade que tinha nas mãos e se recusou a identificar-se com receio que eu lhe causasse problemas.
Não só sou estrangeira como sou bailarina e isso siginifica várias coisas na cabeça de um polícia egípcio.
Sendo estrangeira, supõe-se que tenho mais direitos do os egípcios (uma falácia) e, sendo bailarina, supõe-se que sou prostituta e durmo com homens ricos e influentes (sendo que estas “ligações” com os pachás me trarão vantagens e protecção em casos como este).

Acrescentando mais uma fagulha ao fogo já aceso, ainda lhe disse em voz bem alta:
- Em vez de assediar mulheres que vêm do seu trabalho, porque não se ocupa de todos os traficantes de drogas que lhe passam pelas barbas e que você ignora?!
Faça o trabalho que lhe compete e não terá tempo nem disposição para assediar mulheres.

O taxista rogou, por amor de Deus, que eu parasse de falar e a minha assistente, como boa mulher egípcia que é, pediu desculpas de cabeça baixa e também me pediu que abandonasse o assunto.

A questão continua a ser a mesma:
Corrupção pura.
Desrespeito pela Mulher e pelo Ser Humano em si mesmo.
Preconceito e ignorância (qualquer mulher respeitável que se preze não anda na rua às 3h da manhã!).
Escuridão e injustiça.


De todas as coisas belas que tem este país, é pena que sejam criaturas como estas que o definem na sua dimensão mais comesinha e diária.
O turista que apenas passa por cá não tem a noção do que é, realmente, viver num país destes sendo MULHER LIVRE, ARTISTA,BAILARINA e HONESTA. Esta combinação é explosiva e vai contra todo o sistema.
Ter força para remar contra a maré não é para todos, por mais cobiça que os sucessos alcançados possa suscitar.

Cairo, dia 2 de Fevereiro, 2010

“Joana, a Louca”

Era uma vez uma rainha portuguesa de seu nome Joana e cognome “A Louca”...a história já se passou há muito, muito tempo atrás mas, de forma estranha, repete-se nas suas mais diversas formas.

Sempre defendi com unhas e dentes uma teoria cá das minhas:

Todas as semanas, as magestosas portas do Hospital de Abbasseya (no Cairo) se abrem para que os pacientes de demência mental saiam, livremente, daquela instituíção e se espalhem por essa cidade fora, misturando-se com outros cidadãos aparentemente “normais” com quem me cruzo todos os dias.

Soube pela minha assistente egípcia que, de facto, a minha teoria aparentemente absurda é real.
Foi notícia de alarme, há um par de anos atrás, o facto do dito famoso hospital para pessoas com problemas mentais abrir as suas portas de quando em vez para libertar todos os doentes por quem nenhum familiar perguntasse.
Parece que estes tornavam-se de tal forma um fardo para a instituíção que a única solução era deixá-los sair porta fora...sem rumo...sem destino...sem qualquer plano de vida ou condição mental para sobreviver nesta selva.

Faz todo o sentido.
Nunca na minha vida me cruzei com tanta gente louca e nunca na minha vida hesitei tanto no que se refere à minha própria condição mental.Parece que o convívio chegado e permanente com a demência nos elimina esse sentido lógico e crítico que nos faz suspirar em surpresa quando vemos um porco a andar de bicicleta.

Joana, a “Louca”...

Enquanto cantava na minha sala de estar, reparei que uma das minhas gatinhas estava atenta, colada à porta da casa.
Esta tinha sido uma extensiva sessão de fados...eu, ocupada com mil coisas e cantando, alegremente, sem sonhar que tinha um homem louco colado à minha porta, apreciando o concerto!

Um dos meus vizinhos é doente –não sei precisar do que padece, exactamente – e revela sérios sinais de demência mental. Já passámos da fase das esperas (ele dar-se-ía conta da hora em que eu regressava do trabalho e estaria colado ao elevador à minha espera) e da fase das frases de aproximação estranhas.

Depois de ter cantado por mais de uma hora, dirijo-me até à porta de casa onde a “Sweetie” está petrificada a cheirar e a olhar para o vazio e vejo que o meu vizinho “louco” está colado à minha porta, escutando-me cantar.

Qual a reacção natural de qualquer ser humano se fitar o dito “olho mágico” da sua porta e vir um louco de olhos esbugalhados aí colado?
Susto? Medo? Surpresa?


Qual a minha reacção?
Um leve suspiro de impaciência e o simples pensamento:
“Nada de mais...”

Quando alguém como eu acha este episódio “normal” e segue caminho como se nada fosse depois de ter apanhado um louco colado à sua porta escutando tudo o que se cantou dentro dessa casa desde sabe Deus quando começam a existir razões para preocupação.
Estarei eu louco quando a loucura alheia me parece já “normal”?
Estarei eu imune ao absurdo depois de o ter vivido tão frequentemente?

Como definir a loucura?
Quando será que as portas do Hospital de Abbasseya se abrirão, novamente, libertando mais uma fornada de gente mentalmente perdida que, por sua vez, se misturará no meio de todos nós desafiando os limites frágeis entre a sanidade mental e a loucura?!



Cairo, dia 1 de Fevereiro, 2010

“Odisseia musical – Parte III”


Como construír uma música a partir do NADA? Dessa pedra em bruto que é o silêncio, nasce um mundo novo mas de onde vem esse mundo? De que é feito?
Como pode o próprio compositor entender a personalidade complexa de uma bailarina/pessoa e traduzi-lo em forma musical?!

Finalização da música, conceito de movimento, ideias de como materializar a música, dar-lhe vida e sentido humano mais presente e palpável.
A dança é a celebração da dimensão humana e divina do ser humano.
Enquanto o corpo se torna mais visível e proeminente – principal razão dos ataques milenares que várias religiões inferiram a esta Arte – o Coração e o Espírito tomam vida de forma invisível mas mais PRESENTE do que o lado material da gente.

Depois da composição e das gravações de vários instrumentos necessárias no “puzzle” complexo que é o tema musical (violinos, k´anun, violoncelos, acordeão, flauta nay, vários instrumentos de percussão, sagats, etc, cada um com a sua função, sítio, entradas e saídas exactas como actores que dialogam numa dinâmica peça teatral) ainda existe a montagem, edição, correcção de eventuais falhas.

Também aqui meti o dedo, claro está.
Identifiquei erros – o que não foi difícil, sendo eu que corrijo e orquestro a minha própria banda no Cairo – e sugeri edição para diversas partes da música. A esta altura do campeonato, o compositor já não devia querer ver-me à frente.
Penso que ele deve ter tido uma série ininterrupta de pesadelos nos quais eu era a protagonista.

A alegria de ter a música pronta e na palma da minha mão é serenada pelo facto de saber que este foi apenas o ponto de partida para o meu trabalho. Do ponto de vista do compositor e dos músicos que interpretaram a música, o trabalho está concluído. Do meu ponto de vista, o trabalho só começa agora porque sou eu quem terá de traduzir este material em termos de DANÇA. Sou eu, através do movimento, das minhas ideias e sentimentos, que darei VIDA e tornarei VISÍVEL esta bela amálgama de sons.

Sei que fiz parte integrante de todo o processo de composição e gravação (estive fechada no estúdio horas e horas sem conta...) mas o meu trabalho, propriamente dito, ainda agora teve início.
Enquanto o compositor se congratula pelo resultado do seu – nosso – trabalho, eu já estou a magicar sobre o que fazer com esta linda “batata quente” que ele me deixou nas mãos.

Cairo, dia 30 de Janeiro, 2010


“Odisseia musical – Parte II”

“Ensaios, Estúdio, Gravações”



Noite após noite, sentei-me com o compositor Hossam Shaker criando, a partir do silêncio, a música que deverá reflectir um pouco de mim através da dança que dela farei.

A música em questão é a chamada “majancé” (adaptação tosca que os egípcios fizeram do termo francês “marche en scène”, entrada em cena) que todas as bailarinas deste célebre – cobiçado e mal falado – mercado deverão ter para dar início ao seu espectáculo.
Esta música que dá o pontapé de saída para o programa de cada bailarina deverá ser composta para a artista em questão e só ela a dançará.
Finalmente, eu tive a possibilidade (monetariamente falando) de criar a minha própria “majancé” com o compositor da minha escolha: Hossam Shaker.

Etapas:


1. O compositor teve de conhecer-me um pouco e partilhar dos meus espectáculos, ensaios com orquestra, gostos e objectivos para a música em questão.
Durante duas semanas, terminei os meus espectáculos regulares no “NILE MAXIM” e corri, literalmente, para o escritório do compositor onde aí falámos, partilhámos música e experiências de vida e fomos, quase sem se sentir, compondo aquilo que acabou por ser chamado:
“Joana around the world” – “Joana à volta do mundo”.

2. Surgiu a primeira melodia básica, depois outras etapas com as quais se criou uma história, uma estrutura que servisse os meus objectivos e o conceito que eu tinha para o projecto.

Fui específica quanto aos elementos e influências que desejava para a peça musical, a sua dinâmica e exigências mas também tive o cuidade de deixar que a criatividade do compositor voasse e se expandisse.

Ritmo a ritmo, secção a secção, chá depois de chá e os cães a uivar lá fora ao romper da madrugada quando eu já não distinguia o dia da noite...a minha música foi nascendo e crescendo como uma criança que vemos gatinhar e caminhar, gradativamente...

Apercebi-me do campo turvo em que se movem os músicos e os compositores, em particular, para que o génio que possuem se revele.

Nessas noites que passámos juntos trabalhando na música, o compositor levou-me – sem querer – para esse “outro lado” mágico em que a escuridão e a luz se confundem e a criação artística acontece, sem se saber muito bem como.

3. Primeiros ensaios com músicos.A peça começa a ganhar forma mas ainda não se escuta na totalidade. Apenas pinceladas de cores estruturais que depois serão compostas, aninhadas, acopladas com os arranjos musicais e elementos extra que se acrescentam.


A diferenciação clara entre a parte percussiva/rítmica e a parte melódica da música tornou-se ainda mais clara para mim.

4. Convocar músicos para gravação em estúdio, ensaio com os mesmos, gravação do tema. Grande dor de cabeça!

Ao contrário do que eu supunha e do que o compositor me fez pensar (“Os músicos que trabalham com bailarinas são um horror!”), os músicos que apenas trabalham em estúdio são ainda mais preguiçosos e “funcionários públicos” do que os músicos que trabalham nos espectáculos ao vivo e com bailarinas.

No Egipto, existe a distinção clara entre a classe de músicos de estúdio (ditos mais profissionais, educados e talentosos) e os músicos que se “rebaixam” e compõem as orquestras das bailarinas.

Depois ainda existe a questão religiosa – também conhecida, por mim, como a questão do porco espinho ignorante – que diz o seguinte:
Se um músico de estúdio – classe alta, portanto – for contratado para gravar uma música para dança, este deverá recusar o trabalho imediatamente sob o perigo de ser mandado para a dimensão mais flamejante do Inferno.
Como a dança é considerada “haram” ou ilícita aos olhos de Alá, uma música que tenha essa mesma dança como fim também é considerada “haram” e os músicos recusam-se a gravá-la.

Ezzz...ezzz...ezzzz (querido Diácono dos Remédios, porque tiveste tu de vir para o Egipto?! Portugal não te chegava?? E como pudeste tu ser muçulmano se te conheci como católico apostólico romano?!).


Mentirinha piedosa: o compositor pediu-me o favor de mentir aos músicos que vinham gravar o meu tema. A versão inventada era:
Eu sou uma actriz que vem verificar a gravação de um tema para um filme no qual eu participarei.
Resumindo: Palhaçada à moda egípcia.
Estamos no Egipto, o absurdo nunca deixa de me surpreender, por mais anormalidades com que me depare!

Indo contra o improvável, eu própria questionei e corrigi o compositor em vários momentos da composição e da gravação do tema. O normal é a bailarina entregar o trabalho nas mãos do compositor e recebê-lo quando este está terminado sem pestanejar nem reclamar. Eu jamais o poderia aceitar por várias razões (entre elas, o facto de saber muito bem o que quero e não quero para mim e para o meu trabalho).

Tremendo bate-boca com o “tabal” (percussionista que toca a “tabla” egípcia) porque este comentou, com ares de “mete nojo”, que não tocava para bailarinas quando eu lhe pedi algo específico para mim. Mais uma vez, quase me atirei ao homem (embora este não tivesse cabelo para arrancar, como tinha o compositor dos caracóis brancos). Acalmei-me e dei-lhe umas quantas chapadas de luva branca nas quais sou especialista. Peguei na tabla e mostrei-lhe o que queria.

O mesmo percussionista não pôde ser encontrado para posterior gravação porque ( e passo a citar):

“ Saiu do estúdio e foi comprar haxixe com o dinheiro que fizera. A polícia apanhou-o e está, ainda hoje (mais de uma semana após a primeira gravação), entre grades.”

Isto é o Egipto, meus caros senhores! Rir ou chorar? Qual a melhor opção?!

Fiquei surpreendida com a falta de profissionalismo dos músicos que vieram gravar o meu tema. Pagos a preço de ouro e tratados como reis, estes músicos não queriam mais nada senão fazer o mínimo possível, ter dinheiro rápido e fácil na mão e irem-se embora rapidamente para ver o jogo de futebol que passaria na televisão naquela noite.

O resultado não era importante. Importante foi fazerem o mínimo.
Depois de se ter ensaiado o tema inúmeros vezes e gravado mais umas quantas, fui eu quem teve de exigir que se gravasse uma última vez com o nível mínimo exigido porque não estava feliz com o resultado do trabalho. Desta vez, foi o compositor quem desejou arrancar-me os cabelos mas eu não me importei (há coisas piores do que perder uns fios de cabelo). Exigi que essa última gravação se fizesse e foi essa que ficou no produto final, provando que algumas bailarinas até percebem de música (ao contrário do que a arrogância de muitos quer crer).


5. Posso afirmar que fui uma dor de cabeça monumental para o Hossam- compositor - mas penso que o resultado final valeu a pena!



Nota picante:
Quase, quase que arranquei o cabelo (caracóis brancos) do compositor quando ele me disse, arrogantemente, que não compunha para bailarinas (como se isso fosse algo vergonhoso e o seu estatuto estivesse acima desse tipo de trabalho)
Este foi o nosso primeiro encontro e juro que tive de me agarrar a uma mesa e ranger os dentes de forma pouco delicada de forma a evitar o desastre.

Como sou famosa por não engolir sapos de ninguém, claro que tive de colocar os pontos nos “is” e afirmar, docemente, que ninguém teria de fazer favor nenhum a ninguém.
O senhor não se dá ao trabalho vergonhoso de compor para as vadias das bailarinas (raça terrível!), então o senhpr não tem de compor para as vadias das bailarinas! Simples quanto isso.

A minha atitude ofendida deve ter adormecido o preconceito do compositor que acabou por se desculpar do comentário e seguir adiante com o nosso projecto.


QUESTÂO PICANTE:


Como é possível que existam tantos músicos sem amor à Música, à Arte, à BELEZA?
Puros funcionários públicos e mercenários.

Cairo, dia 29 de Janeiro, 2010

“Odisseia musical - Criação da minha própria música”

Sinto que mergulhei no mais profundo mar e só agora, depois de ouvir a minha música terminada (no que concerne a sua composição e gravação em estúdio), consigo – lentamente – vir à tona de água e respirar a mesma vida dos comuns mortais.

Por onde começar?
Já fui criticada mil vezes por ser, supostamente, egocêntrica, arrogante e vaidosa (características com as quais, curiosamente, não me identifico minimamente) e, por isso, é-me difícil explicar sem pudor o prazer narcisista (talvez!) de ter uma música de dança central no meu espectáculo que foi composta pelo melhor músico e compositor egípcio ainda vivo (que Deus o preserve assim durante muitos felizes e longos anos!) a partir do zero e especialmente para mim.

Terei o direito de me sentir orgulhosa e entusiasmada com algo tão maravilhoso que foi composto, a partir do mais total silêncio, para mim e de acordo com a minha personalidade e alma?!
Esta tem sido uma odisseia musical incrível desde o momento em que me sentei com (o meu agora querido amigo) Hossam Shaker e lhe expliquei a ideia que tinha para a minha música de dança “personalizada”.

Bailarinas de todo o mundo dançam ao som de músicas já existentes compostas por estranhos para estranhos e muito poucas têm o privilégio de ter compositores de alto gabarito compondo especialmente para elas.
Pois eu tive a sorte e o mérito (desculpem lá a “vaidade”) de chegar a um ponto na minha carreira em que grandes compositores e músicos querem MESMO trabalhar para mim e comigo. Esse é um privilégio que não se compra. Merece-se.
Conquista-se.

Nas duas últimas semanas naveguei entre os meus espectáculos ao vivo e o escritório do meu querido compositor criando um mundo que não existia, trocando ideias, gostos e urgências.
O Hossam frizou, desde logo, que comporia músicas para mim a título excepcional porque “não trabalho para bailarinas” (afirmou ele orgulhosamente).
A ideia que ele tem das bailarinas desta área é a mesma que a maioria dos egípcios/árabes possuem: PROSTITUTAS.

Por essa razão, muitos dos melhores músicos e compositores recusam-se a trabalhar para pessoas que eles não consideramm artistas e às quais está colada uma imagem de imoralidade e sujidade.

O que mais irrita e encanta no mercado egípcio é que as notícias – reais e fictícias – correm muito depressa. Tudo se imagina e sabe.
Por essa razão, vejo o meu nome circulando no mercado pelas melhores razões e isso não me surpreende mas deixa-me feliz e confere-me alguns privilégios como este de ter um grande artista trabalhando numa música que reflectirá a minha personalidade, os meus gostos, o meu – eventual! – talento para a dança e interpretação.

A odisseia ainda agora começou...

Monday, February 8, 2010
















Cairo, dia indeterminado no meio da minha vida, 2010







Madame Raqia Hassan no NILE MAXIM


Foi uma honra e um prazer imensos receber a senhora Raqia Hassan na fila da frente do meu espectaculo de esta noite.

Uma honra por varias razoes (entre as quais o facto de nutrir uma admiracao pelas vitorias imensas que esta senhora conseguiu em prole da divulgacao da Danca Oriental a nivel mundial).
Foi Raqia Hassan quem lancou aquelas que sao hoje conhecidas como as grandes estrelas da Danca Oriental a nivel mundial e foi ela que deu a conhecer ao mundo os maiores mestres desta Arte.
Quando ninguem ainda sonhava que um Festival Internacional de Danca Oriental pudesse ser bem sucedido, ela arriscou e trabalhou duramente - contra ventos fortes e varios oponentes e traicoes - ate ter chegado a uma consagracao global.
Depois do sucesso do seu primeiro Festival, varios lhe seguiram as pegadas por verem que a formula vendia mas o risco inicial e a ousadia de lutar contra as limitacoes que o proprio Governo egipcio lhe impos foram total e exclusivamente desta senhora chamada RAQIA HASSAN.
Por ser uma mulher de armas - ca das minhas! - e por tudo o que de positivo vejo nela, senti-me honrada e muito feliz de ter o privilegio da sua presenca jamais esquecendo o dia em que ela mesma me disse:
- Para se ser bem sucedido, tem de se amar a ARTE antes de tudo. Amar esta danca antes de si mesma (ego), antes do dinheiro que dela se quer extrair, antes de tudo.
Quando se ama a DANCA, ela retribui de todas as formas.
YOU MUST LOVE THE DANCE.
Nunca o esquecerei.


Um prazer porque se trata de alguem que percebe, de facto, de danca e sabe apreciar o talento de quem o tem. Nao esquecer que existe um elemento de partilha rara entre amantes desta Arte.

Por norma, o que se observa entre bailarinas, profissionais e amadores desta area nao passa de inveja, mal dizer nas costas uma da outra e atitudes destrutivas e egoistas.



Ter alguem que ama profundamente esta Arte - tanto quanto eu - na minha frente, feliz por partilhar aqueles momentos de sentimento comigo, representa um privilegio raro para mim.



Os meus musicos morreram de terror por saber da sua presenca.



Eu morri de alegria. Quem nao deve, nao teme e tudo o que me proponho fazer sera sempre feito com amor e totalidade. O resultado so poderia ser........




















































































































Cairo, dia ...indeterminado mas, com certeza, em 2010!
Dando noticias deste lado do Nilo...

Depois de tanto tempo de ausencia, aqui vao umas noticias deste lado do Nilo para tentar compensar uma proxima ausencia feliz (viagem a India, workshops em Portugal e regresso ao Egipto, tudo em tempo record!).













O passado mes de Janeiro foi bombastico, o encerrar de mais um ciclo pessoal e profissional.



















Maravilhoso.









Estar consciente de que a vida so pode ser composta de etapas, portas que se fecham para que outras, ainda desconhecidas, se possam abrir para nos fazer crescer.
Experiencias que se exploram ao maximo e se matam para dar campo ao que ainda esta por vir.

Gracas a Deus, a morte e o renascimento sao fenomenos muito familiares e naturais para mim.










Queima-se tudo.



















Venero estas chamas.











Deixa-se o terreno do coracao, da mente e da alma virgens, uma vez mais.











Do NADA que da destruicao queda, segue-a a possibilidade de TUDO.










Uma nova etapa se inicia...olhar para tras??? Ahhhh....so se for para aprender com os erros e dar-me ao luxo merecido de ter orgulho em mim mesma, na pessoa que em que me construo ao sabor dos dias e em tudo o que alcancei.



















Olhando adiante. Fitando um horizonte sem fim.
Assim sou eu.


Sempre.