Thursday, May 31, 2012

Sentido de humor irlandês

Eis mais um ponto em comum entre mim e os irlandeses: um sentido de humor a roçar o absurdo, frequentemente irónico e desarmante.
Esta fotografia foi publicada num jornal irlandês ilustrando o evento. Euzinha, vítima do destino, sendo brutalmente atacada por um guerreiro medieval diante do castelo encantado de Charleville, Tullamore, no centro da Irlanda.
Cá para mim que ninguém nos ouve, esta é a imagem oficial do "Shakefest 2012"!
Adoro.

Dublin, vikings e Guiness...




Dublin ainda possui a memória das invasões, ataques, colonizações, destruições e emigrações brutalmente forçadas à Irlanda. não é que seja uma cidade triste, bem pelo contrário. Creio que a Irlanda passou para o lado de Lá, onde a dor já se transmutou e se revelou na outra face da sua mesma moeda: Alegria!
De cada bar sai o clique atabalhoado de copos de cerveja e whiskey, a música irlandesa explosiva e sensual de uma forma tão particular, as gargalhadas de quem bebe demais sem aspirar esquecer aquilo que faz sangrar o coração de um país, povo, pessoa(s).
Eis uma cidade viva, com fabulosos museus, teatros, pessoas de várias nacionalidades tratando o local por tu, bares e cafés charmosos onde se podem ler os grandes e muitos escritores irlandeses, o rio Finney the orienta o viajante e ainda ecoa vozes de barcos que chegavam com boas - ou aterradoras - notícias, mercadorias e visitantes.
É fácil apaixonar-se por Dublin. Homem maduro, boémio, barba e cabelo meio grisalhos mas com espírito de criança, pronto a emigrar, uma vez mais, e começar sempre de novo. Só quem sabe o significado da PERDA pode apreciar o MOMENTO que nunca é garantido.
Perdi-me em museus, bares onde tentei experimentar o famoso "irish coffee" (resultados catastróficos neste departamento) e restaurantes de rua. Levei comigo os livros - tinha de ser! - e a paisagem dos que por mim passaram de bicicleta, sussurrando ao meu ouvido histórias de outros tempo com os olhos brilhantes de sonhos e uma fé irracional no Presente e, quem sabe, no futuro!


Clicé do momento: Apaixonei-me pela Irlanda.

Ecos da Irlanda...

Queridos/as leitores do meu blogue português, pedirei perdão - em avanço - porque não poderei actualizar a fundo dois blogues ao mesmo tempo enquanto ainda me encontro no longo, prazeiroso e penoso processo da escrita do meu livro. Recém-chegada da Irlanda mágica (para lá dos meus sonhos), confesso que sinto a tendência para relatar um tanto do que se passou em inglês, língua na qual me exprimi e experienciei a última semana da minha abençoada Vida.

Por isso, peço desculpa pela negligência consciente mas aqui vos deixo com algumas luzes do que foi uma viagem de trabalho/prazer inesquecível e mágica de formas até então nunca por mim experimentadas.
Os irlandeses expressam-se em inglês e gaélico.
Em que idioma se exprimirão as fadas e os gnomos das florestas verdejantes dos Druidas?


Wednesday, May 30, 2012

Regressando...da Irlanda!

Regressar é um verbo que, para mim, se conjuga apenas no gerúndio.
Vou regressando dos sítios onde a minha alma* se queda cativada, por razões que nem sempre sei destrinçar. Frequentemente, nunca chego a regressar desses sítios por completo e, assim sendo, tenho plena consciência que sou partilhada e, talvez, espartilhada (ou libertada!) pelos locais que cativaram o mais alto do Ser. Pecinhas de mim se encontram pelo Egipto, India, Argentina, Colômbia, Itália, México, Portugal e tantos outros etcs geográficos e, mais recentemente, Irlanda.

Vou regressando da Irlanda onde estive a ensinar, actuar e a dar uma conferência num castelo gótico encantado mas, acima de tudo, a SER FELIZ aprendendo com outras pessoas e mundos.
O puzzle desmancha-se um pouco mais e, curiosamente, reencontro-me com crescente claridade.

Não sei se alguma vez me despegarei do vento e dos fantasmas melancólicos irlandeses. Nem sei se o quereria.
Ainda por lá, na terra das fadas e da tristeza feita dança.

Mentalidades despertando.

Via: Rosa Leonor Pedro
 
MULHERES & DEUSAS


"AS MENINAS FETICHE..
O que a Moda, as marcas, e os lobbys gay fazem das meninas-mulheres...
...
Há por detrás desta exploração de crianças há, como é evidente, pais e mães que o permitem por fama e dinheiro. Pais e mães que vendem as filhas. Num mundo prostituído como o nosso, que vende as filhas como as vendeu durante séculos através de um casamento de interesse, em princípio, e sendo uma sociedade consumista e pervertida, totalmente alienada de valores humanos e profundos, é quem compra as ditas revistas e marcas e as promove...tal como os media, que são o factor promotor mais alienante da destruição da imAgem da mulher e que agora começa com as crianças, em Paris ou em Londres, pois isso não acontece só na índia e na China...
E há ainda mulheres e homens bem-intencionados que se negam estas evidências...

Negam-se a ver que o medo que os homens têm da Mulher autentica, da mulher madura, da mulher ctónica e livre, agora cada vez mais forte e competitiva, "igual" a ele, leva-os a já não apenas a infantilizar as mulheres como o fizeram durante séculos, mas a buscar uma mulher menina do ponto de vista físico e que podem formatar ou violar como no Irão e no mundo muçulmano em geral, casando com meninas de tenra idade, a fim de as domesticar e para que não lhes façam frente. Da mesma maneira que lhes cortam o clítoris para que não tenham prazer…
A Moda, além de ser um Empório Gay, faz parte alienante do sistema para anular a mulher normal, sendo também um meio de anulação da mulher em si, do seu corpo natural e genuíno, das suas formas abundantes, que assusta os gays e que intimida os heterossexuais, procurando assim anular o medo/inveja ancestral que têm da MULHER verdadeira.
ASSIM TODOS ELES PREFEREM CRIANÇAS MULHERES…OU MENINOS…
Por esta e por outras razões é urgente e preciso que as Mulheres e as Mães acordem..."
 

Das tais Magias*...

"(...)
En zonas remotas de Arabia Saudí, la mujer que está de parto está rodeada de mujeres que bailan la danza del vientre, hipnotizándola con sus movimientos rítmicos ondulantes para que también ella se mueva a f...avor del cuerpo en lugar de moverse contra él.

(...)
Cuando la mujer se excita sexualmente, el útero empieza a latir, como un corazón, pero un poco más lentamente; como una ameba que se contrae y se expande.
(...)
La similitud entre el útero y el corazón también la establece Leboyer, pues ambos órganos están formados por tejido muscular y ambos laten; uno continuamente, el otro, con la excitación sexual; ambos tienen su ritmo, su pulso, y de él depende la eficacia de su fisiología; y ambos tienen un enemigo; el agarrotamiento y la crispación muscular, o sea, el calambre. Cuando las mujeres recuperamos un poco la conciencia y la sensibilidad del útero, podemos percibir y sentir su latido. Con cada latido el útero se extiende y desciende, como un movimiento ameboide, hasta hacerse incluso visible desde el exterior en estado de excitación fuerte.

(...)
EXTRACTO DEL LIBRO "EL ASALTO AL HADES" DE CASILDA RODRIGAÑEZ


Via: Rosa Leonor Pedro

Tuesday, May 22, 2012

Bicicletas e ouriços.

Regressar à simplicidade parece ser o mote da maturidade dos que, em vez de envelhecerem, crescem.
Entre a chegada e mais uma partida para algum recanto do mundo, aproveito os prazeres simples destes parênteses familiares em Portugal.

Redescobrir a alegria de andar de bicicleta no meio do mato sabe tão bem...reparo num ouriço imóvel de olhos esbugalhados, um vizinho que corre como se não existisse crise mundial ou aquecimento global, um cão que se espraia languidamente à beira de uma sombra mansa, uma carrada de água que me cai em cima na sequência do tempo volúvel que agora faz por estes lados.

Pés na água salgada do país que me viu nascer e me lançou, de canhão, para horizontes mais amplos.
Sabores de Portugal, pequenos nadas que me sabem a TUDO.

Livros que sabem a amoras frescas.

Lendo "Leite derramado" do GENIAL Chico Buarque!


Quisera que os portugueses tomassem um pouco mais desse açucar ousado de que os brasileiros tomam ao pequeno-almoço.
Os BONS escritores brasileiros fazem amor com as palavras, enquanto as libertam e expandem.
Os portugueses parecem ter medo que elas se desfaçam se lhes desatam uma sílaba de forma original. Demasiada rigidez mental por cá, parece-me...estranho, para um povo aberto ao Mar Atlântico e com genes tão fortes de aventureiros.;)

Monday, May 21, 2012

Comida para a Alma...

Recados ao vento...




"Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre.
Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou.
Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre."

 Clarice Lispector

A caminho da Irlanda...

Para mais Dança, Partilha, Aprendizagem, Surpresas, Alegria...

Festival www.shakefest.net no castelo de Chasterville, sobre um território antes utilizado pelos Druidas para os seus rituais mágicos.***
Parece-me que vai ser, simplesmente, LINDO!
Depois mando notícias...FELIZES.

Pequenos, grandes prazeres.

 Pequenos, GRANDES prazeres que (re)descubro em Portugal, pelo Mundo inteiro...

*"Creme de leche", doce argentino de comer e morrer por mais. Viciante, perigoso, deixando memórias deliciosas na ponta de língua.

*Correr com o nosso cão Gil, debaixo de chuva enquanto observo pássaros, coelhos, insectos, ouriços enormes e tão perfeitos que parecem tirados de um livro ilustrado da "Liliputh" e fadas que se revelam entre árvores, cogumelos selvagens e flores do campo.

*Almoço de família/amigos chegados em Portugal, já uma tradição das minhas raras e curtas passagens por Portugal. Nestas ocasiões - convidados VIP - só cabe a simplicidade e o sentimento mais lunar do contacto quentinho com as raízes que me sustentam as asas. Nada de trabalho, carreira, arte, escaladas de montanhas. Só amor...



*Idas nocturnas ao cinema. Conduzir à noite, cantando aos berros no meu carro.

*Silêncio.

*Chegadas e partidas em aeroportos distintos. Ver caras novas, surpreender-me a cada minuto.

*Retirar um prazer sempre renovado da Dança que já faz parte de mim (talvez sempre tenha feito).

*Dar beijos repenicados na minha sobrinha que cheira a uma invasão de rosas celestiais.

* Ser, simplesmente. Sem correr, sem lutar, sem fazer nada. Escassos mas deliciosos momentos em que respiro fundo e tomo um fôlego reforçado para o TANTO que está por vir. Agora!

Momentos...Tango e coração em Buenos Aires...




Recados/lembretes essenciais*.

Isso vai dar merda.


É, é isso mesmo que digo quando penso na situação teatral-política do país onde vivo e trabalho, contra ventos e marés (Egipto).
A frustração acumula-se num período a que chamam pós-revolucionário mas no qual se comprova que a Revolução com que todos sonhamos não aconteceu.Ainda...

Os extremistas religiosos saíram da casca - depois de décadas em inteligente campanha eleitoral debaixo da mesa, esmagados pelo punho de Hosny Mubarak, presidente expulso do seu confortável e arrogante trono de reizinho) - e existem autênticos concursos/competições/conflitos aos quais se deveria chamar "Vamos ver quem desafia os limites conhecidos da estupidez."

Mistura-se religião com política - perguntem lá aos Chicos Espertalhecos dos Católicos no que dá essa mistura explosiva, perguntem! - e matam-se pessoas por dá cá aquela palha, mantendo-se o país com a economia e turismo em baixa, uma instabilidade que assusta investidores, residentes e todos os que desejam visitar o Egipto e tudo isto sem rumo aparente, sem sentido, sem INTELIGÊNCIA.

"Isso vai dar merda..." É, vai mesmo. Enquanto o pessoal do dinheiro exacerbado não entender que é mortal como todos nós e que o dinheiro não é Deus.


Saturday, May 19, 2012

"...porque tu sabes, que é de poesia minha vida secreta!"(Hilda Hilst): "Onde não houver amor, não se demore!"Gabriela Mar...

"...porque tu sabes, que é de poesia minha vida secreta!"(Hilda Hilst): "Onde não houver amor, não se demore!"Gabriela Mar...:

"Onde não houver amor, não se demore!"
Gabriela Marques

Grata, my ladies!

"A bailarina do futuro contém em si mesma a maior inteligência no corpo mais livre."
Tradução livre de uma citação da Mãe da Dança moderna, Isadora Duncan



Muito grata pela presença querida das mulheres bonitas que comigo hoje partilharam o único Workshop que darei em Lisboa, desta breve passagem por cá.
Dedicação, boa energia, vontade de aprender e sorrisos espontâneos num workshop que desafiou a todas, bem ao meu estilo. Fazer CRESCER, ampliar horizontes, agitar as águas paradas de tantas mesmices, surpreender e encaminhar cada pessoa a ser mais e melhor dela própria. Eis algumas das funções que tomo para mim enquanto Artista e Professora.

O meu trabalho só faz sentido com a VOSSA presença! Um abraço a todas e um até breve com beijos recheados de carinho.:))))))))

Pequena massagem ao meu ego.;)


Respeito sempre a privacidade das bailarinas e público que me enviam mensagens de apreço, carinho e reconhecimento. Alegro-me em silêncio com as suas palavras sentidas de amor e compreensão pela Paixão que move a minha vida: Dança Oriental....

Abro aqui uma excepção porque a mensagem foi exposta em público pela pessoa que ma enviou. Assim, no decurso de uma pequena e rara massagem ao ego que me permito saborear, eis a linda mensagem que me foi enviada da Argentina por Fadhila Al Masriya:

"Con Joana Saahirah, me emocionaste hasta las lágrimas bailando Inta Omri, tomar tus clases fue realmente una experiencia maravillosa! Tu carisma, la libertad con que te expresás, tu sensualidad, esa conexión mágica que tenés con la música....realmente fue un inmenso placer y un honor haber podido disfrutarte así!"


E eu derreto assim, feliz como uma criança que recebe o seu primeiro brinquedo, tão grata pelo carinho que sobre mim é depositado.

Friday, May 18, 2012


"Amanhã fico triste...amanhã!

Hoje não...Hoje fico alegre!

E todos os dias, por mais amargos que sejam, eu digo:

Amanhã fico triste, hoje não..."


-Poema encontrado na parede de um dos dormitórios de crianças do campo de extermínio nazi de Auschwitz

Thursday, May 17, 2012

Workshop de POP egípcio - "Bint il balad"


Será já este Sábado (19 de Maio), em Lisboa!

Um workshop inédito em Portugal porque trata de um tema particular e em clara evolução actual: a FEMINILIDADE da Mulher no Egipto. O estilo a ser abordado será "POP" moderno egípcio, usando expressões, movimentos, posturas próprias da "bint il balad" egípcia, com o ritmo que traz - naturalmente- nas suas ancas.

Técnica, coreografia, contextualização do que é uma mistura moderna entre Dança Oriental, "baladi" e "shaaby"...surpresas e uma maior profundidade de conhecimentos que permitirá a todas as bailarinas penentrar na Alma do Egipto de forma mais verdadeira e visceral.

Informações completas em "post" anterior deste blogue ou através do email: dancemagica@gmail.com
Contratempos quase* secretos que tornam TUDO mais especial...


1. Saber rir das mais pequenas e dos maiores contratempos é, não só um instrumento de sobrevivência essencial, mas também um sinal claro de maturidade. Assim sendo, tento crescer...

2. Estou na casa de banho do teatro de Buenos Aires onde dançarei "Enta Omri" de Om Kolthoum, para abrir a noite com chave de ouro. Ninguém me avisara que o espectáculo tinha começado e ali fiquei, fazendo o meu familiar "xixi" enquanto escutei os primeiros acordes do "k´anun" do mítico tema que Abdul Wahab compôs para a Diva eterna da música egípcia. Saí, esbaforida, da casa de banho e entrei em palco como se nada fosse, sem aquecimento, sem benzer-me ou contextualizar-me emocionalmente para o trabalho que se seguia. Ficará para sempre conhecida, para mim, como a Om Kolthoum de casa de banho (ai, que heresia, meus deuses!).


3. Não há tempo para ensaiar com a (maravilhosa) orquestra de Mario Kirlis com quem dançarei no mesmo espectáculo de Buenos Aires. Combinamos algo, por alto, e eu entro em palco vestida com uma "gallabeya" vermelha própria para "baladi" ou "shaaby"quando escuto a improvização de outro tema de Om Kolthoum "Il Atlal", criação espontânea da orquestra. Cai-me o carrapito falso que vinha pendurado ao meu cabelo, trocam-se-me as voltas mas lá tenho de dar conta do recado. Quando em palco, NADA me pode parar. Abençoado treino de actriz!


São estes contratempos que me desestabilizam a ordem quotidiana das coisas/hábitos, criando em mim novas soluções, maiores fortalezas e uma leveza de quem não se leva a si mesmo ou ao que quer que seja demasiado a sério. Isso é tão booommmmmmmmm.......................................


Tentações.

No meio de tantas bençãos, eis as minhas tentações (algumas delas) mais recorrentes.
Mar, férias (sim,sim, diz que será lá para 20222 e troca o passo!) e Paris numa tarde chuvosa de romance, chantilly e esperanças reconquistadas de amor puro*...

Artigo escrito por mim sobre a 4ª Pirâmide do Egipto, a legendária e carismática Fifi Abdou há anos atrás (quando ainda era verdinha mas já sabia o que dizia!:)))))



Aqui transcrito do website "Central do Brasil" (www.centraldancadoventre.blogspot.com.br)


1. Contextualização do fenômeno “Fifi Abdou”:

 Os mitos e os ídolos fazem parte da história e do cotidiano da generalidade dos países. Parece existir uma necessidade de alguém ou algum ideal que personifique o sobre humano e que faça sonhar, que se pareça com aquilo que a maioria das pessoas imagina ser Deus, que faça acreditar no impossível e que dê ou reforce a identidade de um país e a cultura de um povo.

A esses mitos atribuem-se qualidades extraordinárias colocando-os num plano que é semi-divino, inatingível. Quando esses mitos se esforçam por manter essa imagem quase divina e, ao mesmo tempo, se aproximam do seu povo com calor e simplicidade, a adoração triplica pois passa a haver a sensação de comunhão com essa centelha “divina” que paira sobre o comum dos mortais! É Em países chamados de “terceiro mundo” em que a pobreza e os problemas sociais, políticos e económicos se reflectem muito directamente na mentalidade e na cultura do seu povo, estes mitos ganham uma importância ainda maior. É o caso do Egipto, um país de História e Cultura indubitavelmente excepcional mas com um índice de pobreza assustador e uma estratificação social em que existe uma grande maioria de pessoas paupérrimas e uma minoria de indivíduos vivendo no fausto absoluto (e absoleto!!). No Egipto, à semelhança de outros países árabes, os heróis e os ídolos estão intrinsecamente relacionados com o sistema político vigente.

 A Dança e a Música – alvo dilecto do fundamentalismo religioso – ondulam e moldam-se conforme as regras que um governante coloca na ordem do dia. Se existe uma nova restrição legal, as bailarinas têm de usar uma rede que lhes cobre o abdómen ( apesar do abdómen continuar a ser totalmente visível!!), se se desvaloriza a cultura popular egípcia, as bailarinas correm em busca de trajes e sapatos agulha (!!!!) ao estilo ocidental, de forma a fugirem ao estereótipo considerado “tacanho” da típica bailarina egípcia “baladi” ( “baladi” remete à identificação com a nossa terra natal), se ressurgem movimentos religiosos fundamentalistas passa a existir uma crise na área do espectáculo e por aí adiante. O que é curioso é que tendemos a identificar o fundamentalismo religioso com a Religião Islâmica quando ele existe em todas as religiões, embora com menos projecção e talvez mais subrepticiamente. Tive um exemplo disso quando fui – quase!!!- contratada para dançar num casamento católico. A ideia da mãe do noivo – que me contactou – era lindíssima e eu fiquei entusiasmada e muito feliz pela abertura e luz da cabeça daquela senhora. Ela pretendia que eu fizesse uma coreografia de Dança Oriental que fosse a recepção aos noivos quando eles viessem em direcção ao altar da Igreja. Quem conhece a história da Dança do Oriente sabe que a sua origem se identifica com a Fertilidade e a Prosperidade, ela nasce simbolicamente da Criação do Universo daí fazer todo o sentido apresentá-la em ocasiões como o Casamento. No mundo árabe, é tradicional e imprescindível que haja Dança Oriental em todos os Casamentos que se prezem.

Apesar da ideia da senhora que tentava contratar-me - apresentar esta dança mágica que desejasse toda a felicidade e prosperidade aos noivos - houve imensos entraves da parte da família da noiva e, claro está, do padre que iria celebrar a missa. Recordo-me que já tinha planeado um traje branco e um véu de seda natural que parece asas de anjo. Lembro-me que já tinha pensado numa coreografia com música sufi em que a flauta faria poesia sonora e o sentimento de comunhão e Amor seria partilhado e, no fim, não foi permitido pela igreja em questão a apresentação da dança pois poderia ser “ofensivo” (foi este o termo que o Sr. Padre utilizou) para os convidados e para ele mesmo. Isto sucedeu numa Igreja católica e, para mim foi a primeira experiência de ter sido alvo do fundamentalismo religioso. Poderia tecer várias considerações acerca da perversão, da falta de harmonia e paz que muitos “sacerdotes” de Deus carregam consigo, a distorção e desequilíbrio a que a maioria dos cérebros humanos está sujeita, etc, mas não é esse o âmbito deste texto. Embora o tema deste artigo não fosse o fundamentalismo religioso, este é essencial para compreender-se a vivência da Dança e da Música pelo ser humano e para compreender a personagem que me levou a escrever-vos: Fifi Abdou. Fifi Abdou é a bailarina/actriz mais conhecida em todo o mundo árabe.

À semelhança do Om Kolthoum – filha de um íman que acumulava a tarefa de “muezzin” ( pessoa responsável pela chamada para a oração) - ela congrega e reúne os países árabes e é uma bandeira quando se fala da Cultura egípcia contemporânea. Om Kolthoum foi o expoente máximo daquilo a que se pode chamar um ídolo. Ela uniu os povos como ninguém em torno da sua música que apelava ao Nacionalismo ( com óbvias ligações ao Governo da sua época) e ao orgulho naquilo que era tipicamente árabe e, mais concretamente, egípcio. Como a música sempre gozou de mais fácil aceitação entre as camadas do Governo e da Igreja , Om Kolthoum teve um papel privilegiado e foi apoiada pelo sistema político da sua altura. Esta cantora ( e actriz) nasceu no início do século XX ( por volta de 1904) e a sua carreira floresceu numa altura em que a descolonização britânica ainda ecoava e confundia as cabeças egípcias.

Assim sendo, ela veio reafirmar o valor e a grandiosidade da sua cultura e o público respondeu-lhe com uma devoção que ainda hoje prevalece. Na sequência da tomada de consciência e da revalorização da Cultura Egípcia, surgiram outras gerações de artistas como a “geração de ouro” (anos 30/40/50) da Dança Oriental representada por bailarinas como Beba Aizzedin, Huriya Muhamad, Naima Akef, Tahya Carioca e Samya Gamal. Badia Masabny – responsável por muitas das transformações e adaptações da Dança Oriental clássica ao estilo que conhecemos hoje como estilo de “cabaret”, mais adaptado às exigências do âmbito do espectáculo – fez despoletar a primeira geração de bailarinas reconhecidas pelo seu valor artístico e a sua casa de espectáculos “Casino Opera” foi a casa de onde saíram as grandes estrelas das décadas de 40 e 50.

Nesta altura, músicos como Farid Al-Atrash (cujo “amor impossível” por Samia Gamal é sobejamente conhecido), Mohamed Abdul Wahab e Muhammad Fawzi (entre outros) elevaram a música egípcia ao lugar onde ela pertencia e contribuíram para que o povo egípcio iniciasse o processo de reconhecimento e valorização de si próprio. À excepção de alguns músicos – como é o caso de Farid Al- Atrash –os artistas provinham de classes sociais muito baixas, o que aumentava o sentimento de identificação do povo em relação a estes artistas ( que se identificava com eles e, ao mesmo tempo, os admirava pela ascenção conseguida ) e dava aos próprios artistas a noção de comunicação e linguagem que o povo entende.

Vindo de meios muito pobres, eles sabiam o que o povo valorizava, qual a sua linguagem, os seus códigos, a sua forma de fazer humor e relativizar a pobreza e a seriedade da vida, o seu modo de ver o mundo. Daí a forma como chegavam até às pessoas. Depois desta geração privilegiada em que a dança e a música egípcias foram introduzidas no mundo ocidental numa escala alargada ( nomeadamente através de filmes em Hollywood ) surgiram bailarinas cuja menção vou reduzir aos nomes de Souhair Zaki ( com quem tive a oportunidade de estudar e que muito me emocionou), Nagwa Fouad ( com quem também tive a oportunidade de estudar e que me surpreendeu pela sua simplicidade e humanidade ) e, finalmente, Fifi Abdou.



2. Fifi Abdou – o fenómeno!
Qualquer profissional da Dança Oriental conhece estas personalidades que abordei e, no entanto, apesar de todas as mudanças pelas quais o mundo está a passar e, especificamente o Egipto, não deixa de ser estranha a relação de amor-ódio que o Egipto tem com a sua dança clássica – que , no Ocidente, reduzimos a “Dança do Ventre” – sendo que o Folclore Egípcio goza de um outro estatuto e lugar no coração dos egípcios. A Dança Oriental – em tudo o que ela tem de aparentemente contraditório e irresistível – faz parte da vida quotidiana de todos os egípcios mas a ignorância, o fundamentalismo religioso e político e também a falta de qualidade generalizada nas bailarinas que se apresentam em público, tendem a denegrir a imagem da dança oriental e criam uma relação ambígua em relação à mesma. Fifi Abdou é uma das personagens que povoa o imaginário dos árabes e que desafia autoridades, mentalidades e barreiras culturais.


Quando comecei a estudar Dança Oriental – ainda muito longe de pensar que este seria o meu caminho de vida –o nome da Fifi Abdou foi o primeiro que ouvi e a ele vinham associadas muitas histórias, polémicas e um enorme encantamento. Pertenço à geração mais jovem de bailarinas profissionais e, por isso, muitas das imagens que tenho são de registos em vídeo ( como é o caso dos filmes da Samya Gamal ou da Naima Akef, entre outros).Ainda tive o privilégio de estudar com a Souhair Zaki e com Nagwa Fouad mas estas bailarinas , apesar de ainda serem muito presentes na vida cultural egípcia, já não actuam nem estão em contacto permanente com o público.

Com mais de 50 anos, Fifi Abdou é a última das grandes bandeiras asteadas em prol da Dança Oriental. Dizem as más línguas que já era tempo de ela se retirar mas, depois de a ver ao vivo, discordo totalmente. A Dança Oriental é atípica em muitas coisas e a questão da idade é uma delas. Esta é uma dança que se executa cada vez melhor com o passar dos anos, ao contrário de muitos géneros de dança cuja qualidade tende a declinar com o avançar da idade. Enquanto o corpo, o espírito e a emoção funcionarem, a dança acontece e a magia da mesma aumenta com a experiência de vida.

Fifi Abdou criou uma carreira na Dança, no Cinema, na Televisão e no Teatro pois em todos estes meios a dança oriental é valorizada e comercialmente muito apelativa. Multidões – nas quais me incluo – acorrem ao teatro ou ao cinema não para ver a peça tal ou o filme y mas para poder sentir a presença e ver ao vivo o furacão – como lhe chamam – Fifi Abdou. Esta bailarina é já uma lenda viva e as suas raízes populares tornaram-na adorada pelas camadas mais privilegiadas e pelos mais desfavorecidos. Tudo nela é nobre e orgulhoso e, ao mesmo tempo, simples e acessível. Desta mistura, nasce o mito.

Ela é também o expoente máximo da representação da Dança Oriental no mundo (não há bailarina que não a conheça, seja japonesa, marroquina ou alemã!!) e é alvo de inúmeras polémicas com as autoridades religiosas islâmicas pois desafia as normas e as restrições religiosas constantemente. Num país em que a população é levada a agir irreflectidamente consuante os ditames de uma religião já de si desvirtuada ( muitas das imposições são feitas em nome da religião sem que determinadas normas estejam, de facto, relacionadas com a verdade do Corão ) , Fifi Abdou é também a pessoa que simboliza a libertação dessas amarras sem sentido.

 Ela faz em cena aquilo que muitos árabes gostariam de fazer na sua vida. A sua atitude desafiadora e livre face aos tabus da sociedade árabe é, ao mesmo tempo, admirada, invejada e temida por muitos. Daí ter sido alvo de perseguição de fundamentalismos e autoridades que, face ao seu poder actual como artista e interveniente activa na sociedade egípcia , em pouco a podem atingir. À semelhança de outras bailarinas, Fifi Abdou sabe como circular nos corredores da política e do social egípcio e isso, juntamente com o seu indubitável valor comercial e artístico, tornam-na quase intocável. 3. A aventura de uma ida ao teatro!!! Das muitas vezes que viajei para o Egipto nunca houve a oportunidade de ver Fifi Abdou ao vivo. A impressão que tinha desta artista não era das melhores, devo confessar.

Tenho imagens de vídeos e relatos que dão apenas uma pálida e distorcida imagem daquilo que ela representa de facto. Destas fontes que possuo, a imagem que me passava era de alguém muito esperto (não forçosamente inteligente, mas esperto!!) mas sem qualidade técnica ou artística. Tinha a impressão que ela usava – à semelhança e muitas outras “bailarinas” muito menos bem sucedidas – do “flirt” com a audiência, das piadas rasteiras e de modos pouco femininos que impressionavam não só pelo inédito mas também pela pujança física ostentada. Por aqui se vê que a imagem que tinha não era a melhor!

No entanto, e apesar da minha ideia sobre ela não ser a melhor, vê-la é uma questão de cultura geral para alguém que trabalha nesta área. Da minha pesquisa pessoal sobre os locais onde ela actuaria recebia respostas evasivas e quase sempre um “não sei se ela actuará hoje ou amanhã, também não sei se esta semana estará no Cairo, etc, etc, etc...” Como achei que já não tinha muito tempo para ver com os meus próprios olhos a tal “lenda viva” de quem todos falavam e sobre a qual tanto se dizia e enaltecia, insisti na ideia de que tinha – MESMO – de vê-la actuar desse por onde desse. Na minha última viagem ao Egipto –há uma semana atrás - pedi a um amigo que tentasse averiguar onde ela estaria a actuar e assim foi. Informou-me que ela actuava no Hotel de cinco ***** “Semiramis” mas que, uma vez mais, a actuação dela era incerta e tanto podia acontecer como não acontecer. Reparei que havia cartazes espalhados pelo Cairo com uma boneca (mal) pintada que se assemelhava remotamente com a Fifi Abdou.

Perguntei do que se tratava e disseram-me que era o anúncio de uma peça de teatro na qual a Fifi Abdou era protagonista. Era exactamente o que eu queria ouvir e decidi que naquela mesma noite eu iria em busca dessa peça de teatro e mataria a minha curiosidade. Desaconselharam-me a ir a esta peça por várias razões. Uma delas e a mais óbvia de todas é o facto de eu não entender nada do que os actores iriam dizer – entendo o mínimo de árabe e não falo senão umas poucas palavras que não dão para construir sequer uma frase! – e a peça tinha a duração de quatro horas e meia !!!!! Outra razão era a localização do teatro que se encontrava na “Broadway cairota” que é uma espécie de Parque Mayer em decadência dupla! Outra razão ainda era o preço do bilhete que era proibitivo até para um estrangeiro.

Mesmo assim, ninguém me demoveu da minha vontade e lá vou eu numa bela noite de Verão a caminho a 4ª Pirâmide do Egipto.

Como é hábito, a chegada ao teatro não poderia ser pacífica e linear e, portanto, apanhei um táxi cujo taxista não falava uma só palavra de inglês e que me disse saber perfeitamente onde era o teatro em questão (o nome do teatro era “Romance Theatre”). Levou-me a um teatro e disse-me – em árabe – que os bilhetes estavam esgotados. Eu olhei incrédula para o cartaz gigantesco que estava na minha frente e vi que no anúncio da peça em questão estavam actores todos vestidos de bebés com chuchas na boca e caras de otários deliberadamente exageradas. Por um instante pensei em procurar a cara da Fifi Abdou no meio daquele “infantário” cénico mas não consegui imaginar a Fifi Abdou de fraldas e chucha na boca. Por mais que a minha imaginação voasse e percorresse o improvável, essa era uma imagem longínqua demais para ser realidade. Constatei que estava no teatro errado, claro! O taxista estava mais perdido do que eu e levou-me até três teatros diferentes até que me subiram os calores – para além da temperatura já de si calorosa do Cairo em pleno Agosto – e peguei em mim com toda a irritação e respectivos suspiros enervados e lá fui “Broadway” adentro, sozinha, em busca da minha peça de teatro.

De papelinho na mão e uma multidão de egípcios a entrecruzarem-se na minha frente e atrás de mim, vi vendedores de pipocas, comida por todo o lado, fumo que saía não sei de onde, o caos que já é familiar a esta cidade! Finalmente, vi um cartaz com a bendita senhora em pose sensual e lábios repenicados ao estilo Marilyn Monroe. Uma multidão chegava para ver esta peça de teatro e todos estranhavam a minha presença pois era a única estrangeira naquele local – à semelhança do que me acontece em praticamente todos os sítios onde vou quando estou no Egipto – e, ainda por cima, não falava árabe. Os senhores da bilheteira ainda me perguntaram se eu sabia que aquela peça era toda falada em árabe. Eu respondi afirmativamente e sorri.


Fiz questão de estar na primeira fila da sala e pude comprovar como existe um espectáculo antes do início do espectáculo propriamente dito. Assim que entrei na sala de teatro, esta foi literalmente invadida por vendedores de comida (refeições leves, aperitivos), vendedores de bebidas (batidos, sumos naturais, refrigerantes, água), vendedores de doces (com toda a espécie de doces ocidentais e chocolates duvidosos), vendedores de sandes variadas e fotógrafos que fazem negócio fotografando as famílias no teatro e com algumas das “estrelas” da peça de teatro como era o caso da Fifi Abdou. Estes fotógrafos acenavam com a máquina e pareciam besouros a sobrevoar as cabeças do público com nomes de actores e da atracção principal da noite. A solenidade, o silêncio e a seriedade característicos das salas de teatro ocidentais em nada tem a ver com aquilo que pude viver naquela sala de teatro. Senti que aquela noite de teatro era apenas um prolongamento da noite em si sem a criação de um espaço à parte em que a vida pára e a arte começa. A vida e a arte numa só dimensão, num só espaço e num só tempo. Isto é tipicamente árabe!

Depois de meia hora – ou mais!!- de comidas e bebidas intermináveis, soaram três apitos que significavam o início da peça. A grande expectativa de todos era ver Fifi Abdou mas a sua entrada foi precedida por muitas outras entradas de actores que eram queridos do público – exceptuando-me a mim – e por situações cómicas que só aumentavam a expectativa. De cada vez que um actor entrava em cena, havia manifestações ruidosas e calorosas da parte do público. Apesar de não entender 99% das falas dos actores, valeu-me a minha própria experiência e conhecimentos de actriz e consegui usufruir de muitos momentos hilariantes ao ponto de nem dar pelo tempo passar ( o que é difícil pois quatro horas e meia de peça não passam despercebidos!!!) .


Quando Fifi Abdou entrou – com a força e a segurança de um ciclone – arrebatou aplausos e atenções redobradas sobre o palco. Pude ver – além de uma bailarina - uma actriz e uma verdadeira artista com uma presença em palco, um carisma e um poder de comunicação com o público fora do normal. Ela não só contracenava com muita graça e desenvoltura como estabelecia um entendimento muito directo com o público, mesmo quando não se dirigia directamente a ele. Apesar da sua idade, continua a ser um mulher belíssima e sabe usar essa beleza de forma pouco subtil mas despretensiosa.


A sua silhueta é tipicamente egípcia com as curvas exageradas e os quilos que no Ocidente seriam motivo de vergonha mas ela não só assumia a sua fisionomia e formas como se orgulhava disso e até brincava com a questão fazendo-nos sentir o bem que ela também se sente na sua própria pele. Num dos números que apresentou com a orquestra que acompanhava a peça, Fifi chegou a prender a bagueta do violino numa das gordurinhas da barriga e da cintura. Fê-lo com graça, descontracção e arrancou gargalhadas bem dispostas de toda a gente.

A música esteve presente durante toda a peça mas foi criado um intervalo e depois um espaço só de dança, canto e música no qual pude perceber o porquê da idolatria em relação à Fifi Abdou. Ela não possui, de facto, uma técnica apurada e diversificada e não parece preocupar-se com isso. Está no palco como se estivesse em casa, tal como o público que está na plateia e poderia estar na sala de estar das suas casas. Há um ambiente familiar impressionante que nos acomoda e acolhe com calor, simplicidade e nos torna todos numa só família.


Ela consegue – através da sua pessoa mais do que através da sua dança - reunir as pessoas e comungar de um só sentimento e de uma só sensação com elas. Fez várias entradas com trajes diferentes em que a mini saia e os decotes estavam na ordem do dia (as exigências do “star system” egípcio não lhe passam despercebidas!) e bastava dar um passo na direcção da audiência para colher olhares esbugalhados e sorrisos francos e abertos. Fazia questão de se aproximar das pessoas com segurança em si mesma e de coração aberto e não raras vezes parava de dançar para responder a um comentário dos músicos ou do público.

Enquanto dançava, vociferou com um dos músicos quando este não acompanhou o ritmo que ela pretendia e continuava a dançar apesar de conversar ocasionalmente com uma das cantoras. Fez humor a partir de pequenas coisas e passou largos minutos a executar o seu famoso “shimmy” de ancas em que todo o seu corpo vibra de um modo descontraído e alargado, como uma planície montanhosa a ser levemente desestabilizada pelo sub solo.

A forma como esta artista se ama a si mesma e se valoriza transparece para todos os que a vêem. Ela assume cada gesto como se fosse o melhor e mais acertado do mundo porque é dela, porque foi sentido e transmitido por ela, é a sua forma de chegar até nós. É uma força da natureza assumida, sem medo e com uma aparente agressividade que não esconde uma mulher amorosa e generosa. Pude constatar como demonstrou a sua força física ( importante para se impor num mundo muito masculino e machista como é a sociedade egípcia ) num número de”Al Assaya” que apresentou como se fosse um homem.A sua expressão tornou-se dura e seca como a expressão dos homens do Alto Egipto quando, solenemente, lutam pela sua honra em sessões de “tahtib” acompanhadas por música. A sua expressão alternava-se consoante a reacção do público e chegou a “martirizar” um pobre cavalheiro que estava na primeira fila e que se atreveu a não bater palmas na primeira vez que ela entrou em cena para dançar!!! A partir deste episódio, ela formulou piadas e dirigiu-se a ele várias vezes ao longo do espectáculo deixando toda a gente com o riso pendurado e solto.

Como as suas netas estavam na primeira fila, ela dirigiu-se a elas muitas vezes e beijou-as, olhou para elas como se não estivesse a decorrer um espectáculo. Houve sempre nela uma mistura de sentido de espectáculo – alguém que sabe estar em cena e a domina como ninguém – e uma sensação de estar em casa, descontraidamente, sem ninguém a olhar para ela.

Vi na Fifi Abdou o protótipo da Grande Mãe babilónica que cuidava e destruía os seus filhos conforme os seus caprichos. Nessa figura maternal cabia tudo, a mulher sensual e poderosa que assume a sua identidade e a sua sensualidade com afinco e a mãe compreensiva mas também repreensiva que tudo abarca, tudo cria e tudo destrói, que tudo colhe e que tudo espalha à sua volta. Ela pulsava a vida e transmitia-o ao público. O arquétipo de todas as facetas que a Mulher pode ter estava ali, à minha frente, e eu entendi o porquê de ela se ter tornado a figura que é hoje.


Fez também a dança com a “shisha” que é sobejamente conhecida pelos amantes da dança oriental e pelos egípcios em geral. Esta dança consiste simplesmente em circular pela audiência com uma “shisha” ( também conhecida por “narguilé”, uma espécie de pipa de água pela qual se fuma tabaco com vários sabores exóticos) dançando. Existe um rapaz que a segue segurando a “shisha” e ela fuma-a de formas diferentes ( por uma narina apenas, pelas duas, etc) coordenando esta pequena encenação com movimentos simples de ombros ou com “shimmy” de ancas. A graça e o desafio está no facto do hábito de fumar “shisha” ser masculino e na aproximação física da bailarina e do seu olhar em relação ao público.

 É impossível não nos rendermos à humanidade e coração grande que se desprendem daquela mulher. Pude sentir como ela gosta verdadeiramente das pessoas e o mostra através do olhar, dos gestos, da aproximação, da descontração com que está rodeada de pessoas. Sem nunca perder a sua presença imponente, ela consegue encantar e derreter os corações de todos pois o coração dela também está aceso quando dança e partilha o espectáculo com o público.


Ela destrói as barreiras entre a cena e a audiência e fá-lo com uma dignidade e um sentido de humor notáveis. Ao vê-la, não tive oportunidade de colher técnicas e passos de dança especiais mas tive oportunidade de ver uma grande artista que me deixou com lágrimas nos olhos e me emocionou pela atmosfera de amor e alegria que conseguiu criar numa sala de teatro. Quando passou na minha frente- vendo que era única estrangeira na sala – pegou-me na mão e apertou-a com um sorriso de agradecimento que não esquecerei. Todo o espectáculo foi magnífico e as horas não se sentiram. Quando saí do teatro, o meu coração estava cheio de alegria e transbordava de gozo pela vida e não exagero quando o digo. Esta é a missão da dança oriental. Talvez esta seja a missão da Arte.


Joana Saahirah

Publicado originalmente em www.joanabellydance.com

Wednesday, May 16, 2012

WORKSHOP ÚNICO em LISBOA, já este dia 19 de Maio!
Pop egípcio ("bint il balad") no seu melhor!
Dança de rua com uma pitada de feminilidade tipicamente egípcia, sentido de humor, sensualidade e arte. Das 10h às 13h e das 15h às 18h. Detalhes sobre o programa, localização do evento e forma de inscrição em "post" anterior ou através do email: dancemagica@gmail.com
Próximas paragens: PORTUGAL e Irlanda!!! Sinto-me, uma vez mais, honrada pelo convite para ensinar, actuar e dar uma conferência num fabuloso evento a decorrer nos próximos dias 26 e 27 de Maio na Irlanda, castelo de Chasterville. O evento decorrerá dentro do próprio castelo (LINDO!) e conta com um programa vivíssimo, original e imperdível. Cá para mim, será simplesmente MÁGICO e INESQUECÍVEL. Peço desculpa àqueles que se irritarem com a repetição de palavras POSITIVAS como estas (mágico e inesquecível) mas, graças a Deus, não existem melhores termos para exprimir o que sinto. Irlanda, aqui venho eu...............................
Auto-retratos nos bastidores, antes do espectáculo em Buenos Aires, Argentina.
"Lembra-te que a Dança reflecte a Vida Real, a mais profunda e verdadeira que está além das palavras e da aparência. Por isso ela é Divina, a linguagem dos Deuses em nós, essa centelha divina que fala através do material para que nos recordemos de onde viemos e para onde, humilde e nobremente, iremos. Dança pela alma, com a alma, para a Alma. Para a tua e para a dos outros, apenas para descobrires que somos todos UM. Dessa Re-união se consagra o templo do palco onde o/a bailarino/a pisa. Dessa reunião nasce a esperança de salvação da Humanidade. Em AMOR, por AMOR, porque Dança e Amor são apenas um. Tal como eu e tu somos UM. O pássaro que voa com élices de plumas viçosas e a cadeira que range de velha e húmida. O amigo e o inimigo. O Tudo e o Nada." JoanaS.
Agradecimentos. Muitos e em diversas direcções.
Grata aos organizadores do "Bellydance Weekend", Martin y Pablo Salvatierra pela fé que depositam no meu trabalho e pelo dinamismo e força por eles empregues a este maravilhoso evento. Embora nunca tenha tido uma máquina de "marketing" às minhas costas ou alguém que me empurrasse para cima(só para baixo, desses empurrões tive muitos e quanto me fortaleceram!), o que é facto é que o que se faz com QUALIDADE e ALMA é, mais tarde ou mais cedo, RECONHECIDO. Grata à toda a equipa do Festival, eficiente e amorosa. Grata ao David que me mostrou um pouco mais de Buenos Aires enquanto gastava todo o seu latim respondendo às minhas mil e uma questões sobre o Tango, o folclore argentino, a gastronomia, os costumes, a História e por aí MUITO fora...(se a curiosidade matasse, eu já vivia entre os anjinhos!). Grata a todas as alunas, professoras e bailarinos que apoiaram o meu regresso à Argentina com tanto amor, com as suas presenças físicas e interesse profundo no meu trabalho. Grata a Mário Kirlis e à sua orquestra por tocarem para mim, uma vez mais, com tanto amor e entrega. Grata aos acasos, encontros e desencontros que transformaram esta viagem num passo mais na minha evolução como Artista e Pessoa. Grata a Deus por tudo isto. :)))))))))))))
Trazendo Buenos Aires no coração... E muitas memórias/vivências inesquecíveis.
Sinto-me abençoada, protegica, inspirada a todo o momento. Nada tenho conseguido sem mérito próprio ou uma perseverança à prova de todo o tipo de balas mas as compensações chegam, mesmo quando parecem tardar. Agradeço a Deus por TUDO isto que me é dado viver, reflexo directo dos meus mais altos sonhos e dos cumes de montanhas que defino para mim mesma. Mais uns sucessos MARAVILHOSOS somados na Argentina com o calor e amor com que lá fui recebida há dois anos atrás. Beijos, abraços, palavras de apreço e carinho que me derretem em mil lágrimas de felicidade, aplausos tão quentes quanto o temperamento argentino e mais uma PARTILHA da convicção que nasceu comigo e que cresce, contra ventos e marés. Todas as pequenas e mesquinhas pequenezas se transformam em pó inconsequente quando colocadas no prato da balança oposto às MARAVILHAS que tenho vivido.
O espectáculo em Buenos Aires foi Mágico, junto à orquestra do queridíssimo Mario Kirlis e a outros artistas talentosos que fizeram da noite um sucesso inegável. O Público, ah o PÚBLICO argentino...que dizer?! AMOR, CONEXÃO, REFLEXO do carácter apaixonado que sou. Uma benção atrás da outra. Os workshops foram outras fogueiras onde me aqueci por dentro. Alunos, professores, bailarinos profissionais humildemente estudando comigo, querendo aprender o máximo possível, sedentos de significado, Alma, MAIS e MELHOR...sabe tão bem ser APRECIADA! Depois os Tangos, esse vício tão meu, tão suave quanto visceral..."El Caminito", "La Boca", a milonga "La viruta", os abraços de quem sabe do que é feita a PAIXÃO latina. Tudo isto vai muito além de palavras. Folclore argentino dos "gaúchos", o "creme de leche" e as canções do campo. Inspirações e comida para a minha alma que de tudo se alimenta, se engrandece. Graças a Deus. A todos os Deuses/as. Com três palavras apenas poderei exprimir o que sinto neste regresso de Buenos Aires: "Te quiero, Argentina!".

Monday, May 7, 2012

Boas Notícias!

Boas notícias! Muitas. Em preparação para o maior evento de Dança Oriental da América Latina onde actuarei e ensinarei no próximo fim-de-semana. "Bellydance Weekend" tem lugar na belíssima capital argentina, Buenos Aires, e é com um coração transbordando de excitação que para lá vou pela segunda vez. ***Depois da Argentina, virei a Portugal (workshop em Lisboa no dia 19 de Maio e no Porto, dia 20 de Maio) para rever alunas queridas, pessoal carinhoso que não via há algum tempo e novas alunas. ***Sem tempo para respirar, seguirei para a Irlanda - "Shakefest" - onde ensinarei, actuarei e darei uma conferência sobre a Cultura, Dança e Música no Egipto actual. O evento terá lugar num belíssimo castelo gótico construído sobre território Druida. ***Volta a casa, no Cairo...para novos espectáculos, o 4º WORKSHOP de DANÇA ORIENTAL do CAIRO e a inauguração do primeiro curso extensivo inserido no projecto "Women of Egypt blooming". ***Em Julho, terão o grande FESTIVAL INTERNACIONAL do CAIRO "SALAMAT MASR" onde, muito honrada e feliz, estarei ensinando e actuando com a minha orquestra. Mona el Sayed, Zizi Mustafa e muitos outros nomes lendários da História desta Arte estarão ao meu lado. A não perder! Infos: www.salamat-masr.com ***Muito mais e ainda MELHOR a caminho. *Grata e feliz!