Friday, March 29, 2013

Pólen (oferecido por uma bela borboleta):


"Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse

Da praia onde foram felizes
Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os Homens...
Há mulheres que são maré em noites de tardes e calma."

Sophia de Mello Breyner Andresen
Via: Susana Tomás

Livros (on the road).


Há séculos que não cito ou recomendo livros - embora os leia frequentemente nestes últimos tempos de aeroportos, idas e vindas e esperas entre um país e o outro.
Eis algumas das pérolas que me têm ocupado nesses territórios de limbos ("nowwhere´s territory" que são os aeroportos e o céu:

* "Um Mulher rebelde" de Ayaan Hirsi Ali (grata à Lu Ain Zaila pela sugestão);

* "Fama y soledad de Picasso" de John Berger (comprado no Museu Picasso, em Málaga-Espanha);

*"O Problema Espinosa" de Irvin D. Yalom

*"Different drummer - The Life of Kenneth MacMillan de Jann Parry (preciosidade encontrada numa livraria recôndita de Dublin-Irlanda).

Com um destes meninos e um belo "cappuccino" na mão eu vou a todo o mundo! Olé.:)


Tudo é Dança.


Respirar, caminhar, sentar-se e levantar-se, comer, beber, fazer amor, chorar e rir... ter entrado no jardim das maravilhas desta consciência (de que TUDO é dança) foi uma das maiores bençãos dos últimos tempos (e elas têm sido múltiplas, graças a Deus e a muito Coração aberto aos ventos mais escarpados da minha parte). Sabendo disto* muitas portas se abrem e uma paz acrescida que chega do sentir que já está tudo feito: eu apenas tenho de esculpir a pedra bruta e a arte revela-se por si mesma, utilizando-me a mim apenas como escultora-agricultora dançante.

Assim - e por isso mesmo - noto como a minha forma de ensinar, actuar em palco e viver se transforma, amadurece, brilha mais e MAIS amplamente. Grata por tudo isto. Vale a pena ser vulnerável, "after all"...

Depois ainda me vem à cabeça do coração que DANÇAR é dádiva, é uma taça de amor transbordante. O verdadeiro bailarino/a é aquele que está ciente de que o seu papel é TRANSBORDAR, SERVIR, DAR ao seu público e não carecer e mover-se a fim de obter os aplausos, a atenção e os elogios que movem a maioria.
Ser-se simples e humilde é da NOBREZA e tantos (e tão belos!) são os frutos dessa nobreza*...

"El Duende" por García Lorca

O mais bonito do sucesso (e da infinita escadaria que o compõe) passa, para mim, por encontrar curvas de aprendizagem que jamais cessam: curiosidade que jamais se sacia: perguntas que se multiplicam: uma certa maturidade (incerta porque a maturidade é do campo da incerteza consciente) que entende os limites do Entendimento e, por isso, aceita o Mistério, o Não Conhecido, o ponto de interrogação insolúvel como parte natural, bela e até desejável da Vida. A Esfinge, Prometeu e tantos outros mitos falam deste Não-Falar, do valor de não conhecer, da inevitabilidade de se ficar de boca aberta (coração e mente abertos) face à imcompreensão do sentido da Vida.

Dentro do pouco que nos é dado a conhecer encontro na observação e poder de relacionamento de dados um dos meus maiores trunfos. Ter a curiosidade e a humildade para estar ATENTA aos outros e a tudo - sem classificar "importante" e "não importante" - e assim encontrar elos de ligação invisíveis à maioria, pontes de estrelas minúsculas que compõem o "puzzle" e nos dão acesso à entrada VIP da nossa Arte e até mesmo da Humanidade.

Assim foi que esbarrei, uma vez mais (este "affair" já é bastante antigo), com o DUENDE, esse toque mágico que preside a uns e não a outros, a estrelinha que faz com que tenhamos o palco e o público na mão - ainda sem que essa seja a nossa intenção.
Costumo dizer que tenho de ser capaz de conter a música, o palco e o meu público dentro do meu peito ou na palma das minhas mãos. Segurá-los, acariciá-los, vê-los dentro de mim, mastigá-los e digeri-los, fazendo-os renascer comigo. Sem esta osmose a Dança-Duende não acontece.
E que maravilha ter encontrado (na Andaluzia, Espanha - onde mais poderia ter sido?!) uma pérola de García Lorca sobre esta benção tão minha que é o DUENDE?!


Aqui fica o link do texto inteiro: http://www.lainsignia.org/2001/octubre/cul_068.htm
e um excerto do mesmo:

"Entonces la Niña de los Peines se levantó como una loca, tronchada igual que una llorona medieval, y se bebió de un trago un gran vaso de cazalla como fuego, y se sentó a cantar sin voz, sin aliento, sin matices, con la garganta abrasada, pero...,con duende.
Había logrado matar  todo el andamiaje de la canción para dejar paso a un duende furioso y abrasador, amigo de los vientos cargados de arena, que hacía que los oyentes se rasgaran los trajes casi con el mismo ritmo con que los rompen los negros antillanos del rito, apelotonados ante la imagen de Santa Bárbara.
La Niña de los Peines tuvo que desgarrar su voz porque sabía que la estaba oyendo gente exquisita que no pedía formas, sino tuétano de formas, música pura con el cuerpo sucinto para poder mantenerse en el aire. Se tuvo que empobrecer de facultades y de seguridades; es decir, tuvo que alejar a sus musas y quedarse desamparada y que su duende viniera y se dignara luchar a brazo partido. ! Y cómo cantó!"

García Lorca - citado em "Fama y soledad de Picasso", John Berger

Saturday, March 9, 2013

(Mais) recados para a Alma* (que Dança).



"Quem busca sempre encontra" - diz o povo. Talvez tenha razão.
Com o Saber multiplicam-se as questões e com elas chegam as respostas em permanente evolução - provenientes dos locais mais inesperados.
Pouso-me a um canto, suada e exausta. Alterno os momentos de felizes achados (de movimentos, ideias, sentimentos, um instante congelado em coreografia que ganha vida por ser humana)com o relativo desespero de não me surpreender a mim mesma.
Surpreender-me a mim mesma: a mais desafiante das tarefas.

Não há crítico mais feroz (para comigo) do que eu própria.
Fito a chávena de chá (já frio por ter sido esquecido) ao meu lado, o espelho diante de mim atirando-me à cara a minha fragilidade-humanidade.Humana.Respiro fundo e tento uma vez mais e outra: outra: outra. Outra. Vez. Vezes.
Perco-me a conta e a conta do tempo; tempo sem conta porque é no âmbito da Eternidade (imesurável pelo relógio dos ponteiros amestrados) que a ARTE acontece.
Exijo-me mais que ontem - sempre. E exaspero-me por isso enquanto me alegro pela evoluação que tal luta gera. Há um tanto (que tanto!) de masoquismo no Artista.

"A inspiração está no sentir humano que vive ardentemente o sabor da vida e se expõe ao ridículo para a viver, o que luta e sofre e sente o abandono da solidão e das relações erradas e o desamparo do ser."
 
Cláudia Galhós, in "Pina Bausch - ensaio biográfico"


Abandono-me ao momento - ainda que o tenha de preservar, marcar, memorizar, sedimentar. Sei que esta é uma batalha inglória porque já a perdi (ou ganhei, dependendo da perspectiva) antes dela ter começado. Apaixonei-me pelo trabalho de coreografia e sei,no entanto, que a Dança Oriental é da natureza da Improvisação, do momento irrepetível. Irrito-me um pouco com estas questiúnculas e sigo adiante com a paz mansa de saber que é este o meu Destino.

"Não sei responder se há uma dança mais feliz que outra. O que é maravilhoso na dança é  que é sempre "no momento" e não existe mais nenhum momento quando se está naquele. Na dança não há ontem nem amanhã, só há dança. É fabuloso, é sempre única, não se pode repetir. Nunca se sabe o que poderá ser reconstituído de uma apresentação de dança. Extraordinário é o teatro,o público, as pessoas sobre o palco, a música, mas é tudo único de cada vez."

Cristina Peres, "Um país imenso", entrevista a Pina Bausch ("Actual/Expresso", 9 de Janeiro de 2003)



P.S. E redescubro - depois de tanto teimar em buscar "lá fora" - que as coisas REALMENTE especiais que produzo são produto do mergulho em mim mesma (na minha finitude, limitações e ilimitações) e no que apenas eu posso trazer ao mundo.

Custa ser eu mesma pelo arriscado da tarefa mas, ainda assim, tal evento revela-se uma inevitabilidade cujo resultado me entusiasma e me faz orgulhosa. Assim sendo: continuemos: mergulhando no precipício (por vezes escuro, por vezes luminoso) do nosso Ser.O que desse salto resultar é o que tem Arte porque TINHA-TEM de SER: AGORA.

Friday, March 8, 2013

Recados para quem Dança* (Pina Bausch)

Segue-se o Retiro coreográfico habitual, as dúvidas mais que habituais, o FOGO que teima em queimar os pés ao medo para que ele não me alcance e paralise.
Espanha, Rússia, Egipto, Portugal e depois ainda mais MUNDO neste mês e meio que se abre em mim a partir de agora.

Suor: sorrisos: persistindo em ser SOL mesmo quando a LUA chama por mim e nessa dança interior me perder e REENCONTRAR sempre mais consciente, amorosa, plena dessa plenitude (desculpa pelo pleonasmo) que resulta em FELICIDADE.

Fecho-me no estúdio: enfrento o espelho e o silêncio (ou a música, vai dar ao mesmo) com assombro face ao Vazio. A liberdade assusta; o talento também assustA pois ambos trazem RESPONSABILIDADES acrescidas.
Digo que SIM: sim:SIM:sim:SIM.
Sigo adiante - às vezes correndo com sandálias de Hermes acariciando-me os pés; às vezes caminhando apenas; outras vezes rastejando até levantar vôo: mas seguindo adiante marrando pelas montanhas acima com os meus apetrechos capricornianos.

Deixo-vos uns recados de Pina Bausch e um Abraço ESPECIAL dedicado às Mulheres da Minha Vida (e elas são muitas).
A nossa auto-imagem, enquanto Mulher, começa na nossa mãe e naquilo que ela foi e é para nós. Aí tive sorte: o espelho foi generoso em mais sentidos do que as palavras ousam exprimir. Foi através da minha mãe que aprendi a VER a Mulher num Altar de Integridade, Força, Brilho só digno de Rainhas e Princesas (daquelas que nem precisam de trono ou coroas para sê-lo). Depois da minha mãe seguiram-se professoras, amigas, artistas, escritoras, alunas, público, estranhas que se tornam pulseiras de diamantes amarradas ao meu pulso-pulsar.
 Perco a conta às mulheres que admiro, respeito, acarinho; perco a conta às que me inspiram, me relembram de quem sou e posso ser AGORA. Trato as minhas mulheres por princesa, rainha, bebé, pássaro, borboleta, linda, bela, maravilhosa e tantos objectivos nos quais - consciente e inconscientemente - me revejo. Vemos e tratamos outras mulheres como nos vemos e tratamos a nós mesmas: a LEI dos espelhos. Assim sendo alegro-me: tenho em mim um auto-retrato extraordinário.

Espero que mais Liliths e mais Baubos saiam das suas tocas onde as tentaram domesticar e que nos possamos apoiar mutuamente, amar e inspirar umas às outras. Competição, inveja, deslealdades e mesquinhices são coisas de anões e nós, irmãs, somos gigantes.

*
 
"Algumas críticas perguntavam se ela não teria visto Lisboa em África. Mas, em Lisboa, a cartografia da natureza profunda do ser desenhou-se na relação sensível com a condição humana. Ela descobriu um povo no cruzamento de várias culturas, todas as diferenças que conduzem a um mesmo sentir e pulsar, que é o coração humano, que bate na mesma maneira em todos os corpos, ou que bate de maneira diferente em cada corpo, independentemente da sua nacionalidade."
 
Excerto do livro "Pina Bausch - Ensaio biográfico" de Cláudia Galhós
(Comentário tecido em relação às críticas feitas à peça "Masurca" - peça que Pina Bausch criou sobre Lisboa no decorrer de uma residência sua (e da sua Companhia) nessa mesma cidade)
 
P.S. E é dessa linguagem universal que "fala" a Dança Oriental - mascarada em purpurina, distraída em trajes brilhantes, meio perdida pelos equívocos que os séculos arrotaram.


Tuesday, March 5, 2013

"Workshop Baladi & Tarab" dia 13 de Abril

 

"Workshop Baladi & Tarab Extravaganza"
A ARTE do GENUÍNO BALADI
por Joana Saahirah do Cairo
(Parte II do Curso "Os Segredos da Dança Egípcia")
Dia 13 de Abril, Lisboa
 
A segunda parte do Workshop que me vinha aquecendo o coração CHEGA, finalmente, a LISBOA (estreia mundial).

Acredito – e tenho-o comprovado ao longo da minha carreira no Egipto e pelo mundo – que a Dança Oriental é uma Arte Antiga de carácter religioso/amoroso/artístico/alquímico. Tem sido incompreendida, perseguida e maldita (como várias outros Tesouros da Humanidade que nos têm sido escondidos e negados) mas a HORA do seu RENASCIMENTO chegou.

Os segredos que desvelei ao viver e dançar profissionalmente na terra das Pirâmides foram reunidos e sintetizados neste Workshop que é uma Iniciação acima da iniciação comum de Dança Oriental.

Segredos, bases não reveladas, dicas provenientes dos subterrâneos e dos céus egípcios, pérolas que reuni – à custa de conquistas, suor, risos e lágrimas – na Grande Escola Iniciática do Egipto. Agora disponíveis: para VOCÊS.


 


***Programa:
 
II parte do Curso "Segredos do Egipto".

Desta feita, vou centrar-me nas ANCESTRAL ARTE do BALADI e do TARAB que lhe está intimamente associado.

A origem do Raks Sharki; arte da improvisação ao estilo egípcio; os movimentos BALADI que resistiram a séculos de perseguições, ignorância e modernizações nem sempre bem sucedidas da Dança Oriental.

TARAB e BALADI - como se conjugam. O que é o TARAB, como o poderemos atingir e dele tirar proveito na nossa dança e vida*.

Sequência coreográfica completa de um BALADI e a forma como ela se constrói, sente, interpreta e nos faz brilhar com tudo o que possuímos de ÚNICO.


***Horário:

Dia 13 de Abril, Sábado, das 11h às 14h e das 15.30h às 17.30h

 

***Indicado para :

Bailarinos/as (amadores ou profissionais) de Nível Intermédio ou Avançado.



***Preço:


35 euros para inscrições até dia 31 de Março de 2013; 45 euros para inscrições de dia 1 de Abril até ao dia do workshop.



***Forma de Inscrição:



Para inscrever-se no evento basta efectuar a transferência inter-bancária do valor relativo ao mesmo para o nosso
NIB:

 0007 0075 0001 1250 0053 6 .

Depois de ter efectuado a transferência, pedimos o favor que nos avise da mesma através do email: dancemagica@gmail.com ou do telemóvel: 96 642 7997.
Só depois deste aviso poderá considerar-se inscrito/a. Além do aviso da data da transferência e nome em que foi feita, pedimos o favor que apresente o talão da mesma no dia do evento.




***Contactos para informações adicionais:


dancemagica@gmail.com & Tm: 96 642 7997


***Local:


Escola "Inimpetus" – Lisboa (Rua de Campolide, 27 A - Lisboa)
Telf: 213 157 815 /
www.inimpetus.org


***Organização:

Joana Saahirah do Cairo
Website:
www.joanasaahirah.com


 

Monday, March 4, 2013

Sintonias e Estrelas que se multiplicam*

As sementes que plantamos acabam por florir em locais e tempos impossíveis de prever. Render-se aos Mistérios da Vida - àquilo que os Antigos Egípcios Sabiam* que não poderia ser conhecido pela Mente - é sinal alerta para uma Inteligência palpitante, viva, em evolução permanente.
Como de uma pequena semente enterrada na terra de um jardim já longínquo vão nascer flores assim...planta-se no Quénia e a flor abre-se à vida no Canadá. Rega-se a planta em Portugal e ela vai acariciar as suas próprias pétalas numa aldeia perdida do Perú. A Vida é brutal, horrível e BELA ou horrível de tão bela.
*

Um texto que adivinhava um pouco do workshop
"Segredos do Egipto".
Por Catarina Duarte.
A Luz expande-se e multiplica-se cada vez mais rápida, eficaz e inesperadamente. Lindo!


http://desertroses-dancaoriental.blogspot.pt/2013/02/metamorfose.html

Dos Segredos da Dança Egípcia e outras aventuras


"Dolce far niente" (Doing sweet nothing) by John William Godward
 
Aqui fica a minha gratidão imensa em direcção às lindas mulheres que estiveram presentes - de corpo e alma - na primeiríssima sessão do meu novo (e pioneiro) curso
"Segredos do Egipto".
Foi um passo de criança: pequenino, ainda tímido e curto mas, ainda assim, foi um PASSO e já sabem que valor atribuo a tais simples de coragem.

Ao viajar pelo mundo para actuar e ensinar apercebi-me das lacunas e desconhecimentos comuns em todo o lado. Até mesmo nos sítios onde a Dança Oriental está mais desenvolvida (como é o caso da Rússia ou da Argentina - dois países que merecem um lugar cativo no meu coração) faltam a ESSÊNCIA da Dança, a MAGIA, o "embrujo", uma série de PONTOS que nenhum professor ensina.

Os princípios-pilares da Dança Egípcia que fui assimilando, instintivamente, nos últimos anos de Vida e Carreira no Egipto são exactamente o que falta (por enquanto) no mundo da Dança Oriental e trazer esses princípios cá a baixo, à terra, e ensiná-los, despertá-los em quem dança é uma Missão Linda que a Vida me deu, dá, creio que sempre dará.

O que faz da Dança Egípcia aquilo que ela É (e que se perdeu, especialmente no Egipto)?!
Que toque de mágica torna esta dança tão hipnotizante e transbordante de corações unidos?
Que é que caracteriza o GENUÍNO "raks sharki" que emocionava gerações passadas e fazia com que esta arte fosse reconhecida como Arte?
Esta e muitas outras questões fazem parte do curso.
No Sábado passado começámos a abrir portas. Muitas outras há por abrir e eu abençoada por saber que tenho as chaves para partilhar com quem quiser APRENDER.
 

Ainda sobre o MAGNÍFICO FESTIVAL de EILAT!



Os ecos deste festival tão único continuam a trazer-me sombras de momentos MUITO felizes e abençoados. Depois de tanto trabalho, luta, sacrifícios, lágrimas, suor e também muito riso vejo o meu trabalho reconhecido pelo mundo da forma como sempre desejei que fosse.
Não se trata do resultado de um marketing vazio de valor; nem tão pouco de amiguismos, cunhas e "lobbies" (os quais sempre rejeitei ) mas o Re-conhecimento da VERDADE que trago dentro de mim e que cada vez mais gente reconhece.
Uma linda bailarina que frequentou o primeiríssimo "Segredos da Dança Egípcia" em Lisboa fez um comentário que achei deveras curioso: " A Joana agora é famosa...está no auge da sua carreira..."
Não deixa de ser um comentário carinhoso mas, para mim, inconsistente. O sucesso já me bate à porta há muitos anos, graças a Deus. Nos dois anos em que trabalhei em Portugal - mesmo, mesmo no início da minha carreira - consegui lançar a dança oriental e criar um mercado de trabalho antes inexistente como nunca havia sido feito.
























Depois seguiu-se o Egipto e o GRANDE SUCESSO por lá - desconhecido pela maioria das pessoas que vivem fora desse país. Tão pouco me preocupei em bradar aos mil ventos que era a estrela do momento ou outras idiotices parecidas. Para mim tratava-se de uma Universidade, uma Jornada de aprendizagem profunda na qual me permitia experimentar, falhar, tentar coisas novas e ousar - sempre sob o amoroso olhar do público egípcio que me adoptou como uma deles ou "mais egípcia dos que os próprios egípcios", como escutei inúmeras vezes.

Mais recentemente, começou a ser o sucesso mundial através da melhor publicidade que existe: a da boca a boca. Pessoas que me viram actuar no Egipto que me recomendam a um organizador aqui e ali; depois eu participo nesse evento e há outras pessoas que se apaixonam pela Dança Egípcia através de mim e que me pedem para partilhar essa paixão nos seus próprios países e assim rola a minha tão merecida e feliz bola de neve.

Estar no auge da minha carreira?! Nem pensar. Sempre estive no auge, desde que comecei a dançar publicamente - graças a Deus. Mas esse auge foi mais pessoal do que GLOBAL.
O AUGE chegará quando o meu Livro estiver cá fora, publicado e acessível a quem queira surpreender-se e CRESCER; o AUGE chegará quando eu vir a DANÇA ORIENTAL num palco digno e apresentada de uma forma que permita ao público perceber-sentir, finalmente, do que se trata - REALMENTE - esta Dança.
O meu AUGE será o AUGE da Dança Oriental no mundo. Antes disso são apenas sucessos que se seguem uns aos outros, dignos, merecidos e celebrados; momentos pelos quais estou sempre grata mas ainda não O AUGE para o qual tenho trabalhado nos últimos dez anos da minha vida.


 



Que o Universo me dê a mão e comigo flua - carinhoso e com poucas pedras - na direcção da ASCENÇÃO da Dança Oriental. O mundo precisa de despertar desta tão antiga amnésia.






Friday, March 1, 2013

Recados para colar no frigorífico da casa da Alma*

"O maior medo no mundo é
das opiniões dos outros.

No momento em que não têm medo da multidão
você não é mais uma ovelha,
você se torna um leão.

Um grande rugido surge em seu coração,
o rugido de liberdade."

OSHO

Rústica.

 Encontro-me - mais ou menos - na Fundação Calouste Gulbenkian assistindo a um magnífico concerto de música clássica (peças de Haydn, Schubert e Mozart). Tento repelir o cheiro enjoativo a nafetalina, cigarros e perfumes doces que as senhores e os senhores da "high society" lisboeta insistem em carregar para onde vão (a par e passo com impecáveis modos mortos e uma expressão achinesada de quem não vê muito, sente nada e vive com salamaleques para não sujar as mãos de terra).
Sinto-me. Sinto-me descontextualizada: uma rústica será sempre uma rústica - especialmente quando disso se orgulha (que é o meu caso).
Enquanto escuto o clarinete aflito que Mozart sonhou no século XVIII escrevinho no programa do concerto - mesmo às escuras - as seguintes palavras:

" Rústica.
Com os pés bem descalços e com os pés bem assentes no chão.
Assentes no chão: no."
E é isto, basicamente, que quero ser quando for grande.

P.S.:  "A música é o silêncio entre as notas."

             Claude Debussy