Meus caros/as leitores/as, sei que tenho sido uma "blogger" bastante desmazelada e/ou ausente mas existem excelentes razões para tal. Passei o último mês em Londres por motivos de trabalho, descoberta, inspiração e busca de mim mesma e outros tantos que nem eu sei destrinçar.
Sempre que a minha alma* me indica um caminho* eu sigo-o sem fazer perguntas. Sempre assim foi e espero que nunca deixe de ser. Há quem chame a esta fidelidade (a mim mesma) egoísmo; outros chamam-lhe alma cigana ou (como diz a minha progenitora) "ter fogo no cú". Acabo por concordar com a tirada poética da minha progenitora: tenho MESMO fogo no cú e não me acanho de admiti-lo.
A dita cuja - essa que tão poucos escutam - chamou-me e eu fui. Para Londres. Para dentro de mim mesma. Para lá e para além.
Como foi possível que em pouco mais de um mês eu tenha vivido - e aprendido!- tanta coisa?!
Uau.
Londres é uma cidade dura, castigada, de todos e de ninguém (como a Vida, provavelmente) e a lei do mais forte impera de uma forma que eu não havia experimentado. O meu grandioso estágio do país das Pirâmides preparou-me para a guerra mas vejo - agora - que não existe uma guerra mas muitas e a cada uma corresponde uma defesa, um ataque, uma retirada, uma vitória e uma derrota. Talvez a questão passe por sabermos escolher as guerras que nos elevam e as que simplesmente nada nos acrescentam. Filosofias à parte, o tempo que passei na cidade mais cosmopolita do mundo (desculpa, Nova York, mas Londres bate-te aos pontos), foi um MARCO na minha vida pessoal e profissional.
Como estamos em dia de transição para um ano novinho em folha e os meus dedos estão cansados de escrever, reescrever e voltar a escrever (os meus dois livros estão na calha para serem publicados; "The Secrets of Egypt - Dance, Life & Beyond" já está a sair do forno, dia menos dia), vou resumir o que nem mil palavras poderiam descrever.
Eis, sucintamente, o que me passou por cima, por baixo, por dentro e por fora neste último mês de vida Londrina:
1. Uma série de "azares" que os meus amigos egípcios atribuem ao mau olhado. A sério: é que foi demais e é bem verdade que existe imensa gente que não me grama nem com molho de tomate e que deseja ver-me na sargeta. Desde a recepção "pouco calorosa" (usando aqui um pouco do sarcasmo e ironia dos Ingleses), problemas de saúde familiares que me deixaram desorientadíssima e preocupada, o meu computador estatelado no chão (como se tivesse ganho vida própria e decidisse estilhaçar-se só para me arreliar), uma série de encontros pouco felizes com o que os ingleses justamente chamam "bloody assholes" até ter encontrado um ladrão (cara a cara) assaltando a minha casa... Se continuar a descrever as agruras que o tal mau olhado me causou já não saímos daqui e entro no ano novo com os pés enregelados, aqui, em frente ao computador. Nah...não vale a pena.
Que foi duro, foi. Que confirmou a "Lei de Murphy", confirmou. Mas também* tornou tudo mais interessante e me fez mais forte. Não rejeito o que quer que seja - tudo tem o seu lugar e função. Peguei nas pedras que o mau olhado me atirou e construí mais um dos meus castelos. "Amen to that!"
Tive o prazer de apresentar as minhas "LONDON MASTER CLASSES" semanalmente. Há muitos anos que não ensinava o mesmo grupo de alunos regularmente. Embora apenas tenha dado 5 "Master Classes" (que souberam a muito pouco), o sentimento de ver aquele grupo tão especial crescer de semana para semana foi maravilhoso. Acrescente-se a isto, o facto de que o meu método de ensino, visão e conhecimento da Dança Oriental são - hoje em dia - muito mais evoluídos e abrangentes do que eram quando comecei a trabalhar profissionalmente nesta área. Os últimos anos de carreira no Egipto - e, nos três últimos anos, no mundo inteiro - fizeram a Artista e a Pessoa que sou hoje e isso reflecte-se nas minhas aulas. Sinto imenso orgulho no trabalho que desenvolvemos e SEI que se trata de algo pioneiro, belo, humano, ponte que abre todo o tipo de portas*.
*** Apaixonei-me por:
Jude Law (ver "post" anterior) - o Actor e o Homem. Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh...isto deve ter sido uma revolução hormonal, um ataque de histeria adolescente (um pouco) tardio, sei lá! Fui ver a peça "Henry V" de William Shakespeare (no teatro Noel Coward) e apaixonei-me pelo dito cujo. Mistura de talento, profissionalismo, carisma, presença mágica, paixão e - não tenho a menor dúvida - uma agitação hormonal que aquele homem provoca em mim. Um perigo!
Esquilos que vêm comer às nossas mãos e entendem o que lhes digo (os do Parque de Saint James são os mais lindos, gordinhos e inteligentes);
Paul Klee e a sua GENIAL pintura (no Tate Modern Museum) - mais material precioso para o meu método de ensino da Dança Oriental/Vida. Não o troco pelo meu Pablito (Pablo Picasso), claro, mas confesso que fiquei abananada com esta nova paixão. As visitas guiadas da National Gallery também me levaram até ao céu diversas vezes, reinventando a leitura que eu já fizera de algumas obras primas universais e mostrando-me que, de facto, há sempre MAIS do que julgamos saber e ver.
As ruas de Londres na sua imensa diversidade, escuridão e sombras, histórias e vapores. Adoro!
A língua Inglesa. Se já me encantava, agora então fiquei "apanhada". Ninguém usa a sua própria língua de forma tão inteligente, cómica, irónica e até cruel como os Ingleses. Adoro!
Arte. Pintura, escultura, teatro, musicais, dança - "you name it"...fui a todas as capelinhas e de tudo colhi informações, formação e inspiração. Até um "show gay" de péssimo gosto me passou pelo estreito. Comprei um bilhete para um conceituado teatro que promove dança contemporânea e acabei por comer com duas actuações (premiadas a nível europeu - !? - yes, sirs!) onde os únicos que dançavam eram os pénis dos intervenientes (para deleite do público maioritariamente composto de gente fina com plumas no rabiosque). É a vida!
Sigmund Freud e um ciclo sobre as Mulheres e a Loucura. Fiquei fã!
Como sabem, educar-me a mim mesma (a fim de ser o melhor possível na minha profissão e na minha vida) é não só um hábito (e obrigação, a meu ver) como um prazer imenso. Gosto de aprender, de ir mais fundo e mais além.
Assim foi: visitei a casa onde viveu o morreu o pai da Psicanálise (e uma das figuras mais determinantes do século XX), Sigmund Freud, e aprendi sobre ele e sobre a obra (controversa, imperfeita, ilógica, por vezes, mas genial) que deixou.
Assisti também a duas conferências do Ciclo que está a decorrer e que aborda a relação entre as Mulheres e a Loucura. Como estes são temas intrínsecos a todo o meu trabalho (as mulheres e a loucura), foi aqui que encontrei mais e melhor formação sobre Dança Oriental e o processo criativo (seja ele em que área for). Quem achar que a LOUCURA nada tem a ver com a Dança Oriental ainda anda - como dizem os Portugueses - a apanhar bonés.
Deleitei-me com as "London Walks" ou caminhadas de Londres. A minha preferida foi a do "Jack, o Estripador" (pois claro!). A história (real) de um criminoso desumano, célebre e até hoje não encontrada, suas personagens/vítimas e os locais onde tudo se passou. Ao percorrer a Cidade de Londres e as suas ruelas escuras não pude evitar a sensação de "dejá vu" e um estímulo inexplicável para CRIAR, CRIAR, CRIAR.
Os jardins que ladeiam o famoso "Buckingham Palace" (onde vive a realeza Inglesa) e os seus guardas-estátua de olhar fixo no vazio e de punhos violentamente cerrados (sem razão aparente).
O restaurante egípcio que descobri ("Il Shishawy" em Edgware Road) com a sua "molokheya", o seu "mahshy" e os seus empregrados egípcios que fizeram uma festa (como seria de esperar) quando me ouviram falar o seu dialecto sem uma ponta de engasgo ou de pronúncia estrangeira.
A variedade de pessoas, locais, atmosferas, experiências, visões, sentimentos que Londres oferece. Eis uma cidade VERDADEIRAMENTE inspiradora.
Haveria muito mais para contar (não podem imaginar o que coube em pouco mais de um mês de VIDA em Londres!) mas a ceia de fim de ano chama-me e as palavras mais abundantes estão guardadas para outras paragens (os meus LIVROS!). Por agora, eis o que interessa dizer:
I LOVE YOU, LONDON. See you soon*********************
* Bonus: o link de um vídeo (muito, MUITO à frente, ladies and gentlemen...) que fiz no Parque de Saint James em Londres. A ideia é - para além de explorar e expor um pouco mais da minha delirante imaginação - criar uma AULA de introdução à Dança Oriental. "Catch it if you can."
Eis o link: http://www.youtube.com/watch?v=TbHJ7vGqDpA
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