Sunday, March 28, 2010

Cairo, dia 28 de Marco, 2010

Licoes de humildade...mais uma!

Mudanca de casa.
Caixotes. Sacos. Pinturas. Limpezas.
Resumindo: diversao pura (seria tao bom se pudessemos mudar de casa todas as semanas, nao seria??!).

Para quem nao conhece o meu sentido de humor e ironia, aqui vai...
ESTOU A GOZAR.

Mudar de casa nao pode ser divertido para ninguem em plena saude mental.
No entanto, existem pequenas perolas e prazeres escondidos nessa transicao material na nossa vida que simboliza, de certa forma, mais um recomecar...uma nova moldura para a minha pintura, um cenario diferente para o filme do meu destino.
Recomecar. Sempre bom (para mim!).

Enquanto fiscalizava as pinturas das paredes dos meus novos quartos (azul ceu, como os meus olhos!!!), reparei que ambos os pintores escutavam e cantavam com precisao absoluta uma das musicas de Om Kolthoum (SERET IL HOB).
Ve-los assim, tao eruditos e bem preparados no que concerne a uma musica que nao pode ser classificada como facil para qualquer ouvido fez-me pensar, uma vez mais, na ignorancia que tambem a mim me visita algumas vezes.

Tendo a pensar nestes senhores como pobres ignorantes - nao sabem nem ler, nem escrever - que pintam casas para sobreviver e nessa imagem que deles construo nao existe espaco para a sensibilidade que pude ver quando cantavam, lado a lado com a grande diva da musica arabe, um dos seus mais celebrados temas.

Fiquei especada a olhar para eles e penso que um leve sorriso de pena (de mim mesma, da minha propria ocasional pequenez)se rasgou de dentro da minha boca.

Cairo, dia 28 de Marco, 2010

Pedradas no charco

Um dos maiores desafios que acarreta a minha carreira no Egipto sempre foi, para mim, atirar pedras ao charco da mentalidade egipcia/arabe/ocidental no que concerne a musica e a danca orientais.

Nao se educa ninguem nem se mudam mentalidades apregoando o valor e virtudes destas Artes mas sim FAZENDO BEM, provando - na pratica - que estas sao formas de comunicacao maravilhosas e apaixonantes e que, atraves delas, tanto pode mudar na mente e na sensibilidade das pessoas.

O meu maior prazer, diariamente, passa por atirar estas pedras ao charco e deixar o meu publico (que chega de todo o mundo!) de boca aberta e questionandoi-se se, afinal, a tal danca do ventre sera mesmo uma especie de streap-tease exotico ou nao...
Plantar essa questao e dar-lhe a resposta passara sempre por me exceder a mim mesma como ARTISTA e dar o EXEMPLO que sera, afinal de contas, DANCA ORIENTAL.
Mil livros e discursos poderao ser escritos sobre o assunto e nao igualarao o impacto que tem um espectaculo de qualidade perante o qual o publico se emociona e se sente afectado.

Noite apos noite, espectaculo a espectaculo ( e independentemente do cansaco que eu leve comigo ou do que me pesa na alma ), tenho como meta atirar pedras ao charco.
Pedras que tenham esse impacto magico de, suave ou bruscamente, ir apagando as aguas estagnadas da ignorancia em que nos movemos.

Pedras no Charco. Assim gostaria que descrevessem os meus espectaculos.

Wednesday, March 24, 2010


Cairo, dia 23 de Marco, 2010



Para iluminar os caminhos...




Abraao olhou-me nos olhos.
Tu estas onde estiverem os teus pensamentos, nisso consiste a Lei da Vida.
Os codigos nao sao eficientes se tu pedires aquilo que queres, apenas quando tu ja sentes que possuis tudo o que tens procurado.


Excerto retirado do livro Os Codigos da Vida, Patty Harpenau

Tuesday, March 23, 2010

Cairo, dia 22 de Marco, 2010



Recomendo - Espectáculo Sema A Dança dos Dervixes

Dia 26 de Março de 2010



Convites oferecidos no site e na Reitoria da UL Horário | 21h30 Onde | Reitoria | Aula Magna



Organização Associação de Amizade Luso Turca em colaboração com a Universidade de Lisboa. O espectáculo Sema - Dança dos Dervixes - integra música, movimento, meditação e contemplação espiritual.


Estes elementos estão presentes no evento como formas de expressão da Filosofia Sufi. A origem deste espectáculo está relacionada com Mevlana Yalal al-din Rumi, poeta, jurista e teólogo muçulmano persa que viveu grande parte da sua vida na Anatólia.


A importância de Mevlana transcende fronteiras étnicas e nacionais. Daí que, por ocasião do 800.º aniversário do seu nascimento, o ano de 2007 tenha sido declarado pela Unesco como o Ano de Mevlana. Entrada livre, sujeita à lotação da sala.

A entrega de convites ao público em geral dar-se-á na portaria da Reitoria da Universidade de Lisboa (entrada oposta à entrada para a Aula Magna), a partir do próximo dia 17 de Março, dias úteis, entre as 9h e as 20h. Quem já recebeu o convite em cartolina, via correio tradicional, só precisa de trazer o mesmo no dia do espectáculo e confirmar o número de pessoas para os contactos que se seguem.




Para mais informações: +351 210 113 406.

Convite Organização e informações Reitoria da Universidade de Lisboa Divisão de Actividades Culturais e Imagem da DSRE Telefone | +351 210 113 406 Fax | +351 217 963 151 Correio Electrónico | daci@reitoria.ul.pt -----------------


Mais algumas informações sobre o ritual em: http://historiamusicaecultura.blogspot.com/2009/08/dervixes.html -- Luísa Custódio :D Facebook: Luísa Custódio - luisa.custodio@gmail.com -- Luísa Custódio :D Facebook: Luísa Custódio - luisa.custodio@gmail.com








Cairo, dia 22 de Marco, 2010

Nova orquestra

Como ja aderi a mania da proteccao contra o mau-olhado, nao comento o quanto estou a AMAR trabalhar com a minha nova orquestra.
Suponho que sentirao a dimensao desse amor pela ausencia de comentarios.
Ficam apenas algumas imagens dos primeiros espectaculos.

Mudar radicalmente toda a estrutura do meu espectaculo nao sera das coisas mais faceis mas, como sabem as minhas amigas da astrologia (a quem eu mando um beijo enorme e quem eu menciono varias vezes por aqui), eu sou a Sr. Plutonica por excelencia.
Tudo o que seja para crescer e melhorar tem o meu aval.
Mudar de musicos significa muita coisa:

1. Novas personalidades com quem eu tenho de lidar, a quem eu tenho de conhecer e com quem tenho de me entender (sendo que os musicos egipcios sao conhecidos por serem excelentes dores de cabeca para qualquer bailarina que se preze).
Nao nos esquecamos que estas sao as pessoas com quem eu passo mais tempo.
Sao a familia, companheiros, camaradas combatentes *(agora pareci-me com o maravilhoso falecido lider comunista Alvaro Cunhal) de todos os dias.

2. Adaptar-me a novas aptidoes, estilos, ritmos, gostos e limitacoes. Cada musico, um mundo a parte. Aprender como cada um sente a musica, como a escuta e como me ajuda (ou nao!) a traduzir o que quero dizer quando danco.

3. Guiar estes novos musicos atraves do meu complexo mundo musical,emocional, pessoal, criativo. Ensinar-lhes quem sou, o que quero da musica e deles.

4. Aprender com este novo grupo. Cada musico traz experiencias artisticas e de vida riquissimas. Todos eles sao, pelo menos, 25 anos mais velhos que eu e trazem uma experiencia que eu nao possuo (ainda!).
O equilibrio entre saber guiar, seleccionar o que me interesse e, ao mesmo tempo, estar aberta aos ensinamentos e sugestoes que eles possuem para mim nao sera nada facil mas representa um dos maiores prazeres que alguma vez senti na vida.

5. Unir a orquestra.Criar sinergias, equilibrio de personalidades, ritmos, gostos, tendencias, stresses pessoais e necessidades de expansao de cada um.
Como um orquestrador divino, eu comando - docemente, de forma venusiana mas tambem com Marte as minhas costas - as tropas e crio, uma vez mais, um mundo que passa a ser so NOSSO, meu e dos meus musicos.

Que prazer infinito...
E que cansaco...:)

Monday, March 22, 2010









Cairo, dia 21 de Marco, 2010

As favoritas

O que define uma bailarina?
Um artista?
Uma pessoa?

Havera definicao possivel?

Existem momentos que me vao definindo.E falhando nessa inefavel definicao que se desactualiza num instante...

Enquanto isso, mudo e o que era actual em mim ja se transformou em cinzas e deu lugar a algo novo, uma versao de mim mesma mais fiel ao ORIGINAL que com o qual me tento re-ligar.

Segundo os teologos, a isto se chama RELIGIAO - do latim: religare.
segundo pessoal que vive entre varios mundos ( como eu), a isto se chama: ARTE.

Alguns momentos - meus favoritos - que me definem num determinado dia, minuto, segundo.
Porque a vida se constroi apenas instante a instante.
Agora.

Eis o que estas fotografias querem dizer (na minha perspectiva):

Eu, comigo mesma.

A forma como danco, amo, vivo. Este gesto de agarrar o meu proprio cabelo com vontade e fogo ja vem de longe. Contam as mas linguas maternas que eu ja arrancava o proprio cabelo e berrava sem parar nem esperanca aos singelos 2 meses de idade (sim, isto explicaria muita coisa se Freud fosse vivo e me analizasse e sim, isto explica tanta da minha loucura!).

Spanish me. O meu lado espanholado. Sempre la esteve adicionando fogo a todo o meu lado aquatico portugues.

Eu, comandando as minhas tropas (orquestra). A minha relacao com os meus musicos sera sempre privilegiada, gracas a Deus.
Eles sao os meus grandes companheiros de prazeres, vitorias e dores de cabeca.


Eu, deixando-me levar pela loucura de um cavalheiro chines com um sentido de humor inexplicavel e desarmante.

As minhas maos.

Uma pergunta eterna.

Um sorriso meu. Sereno.









Cairo, dia 22 de Marco, 2010

Metamorfoses

Imagens de espectaculos POS-INDIA.

Tuesday, March 16, 2010












Cairo, dia 14 de Marco, 2010

Mais imagens da India ... parte (???)

Eu.
Diversas situacoes na India.
Denominador comum: Eu (sempre em transformacao).
Agradeco a Deus por esta miraculosa viagem e pela capacidade que Ele me deu para dela aprender e atraves dela me transformar/crescer.



Cairo, dia 14 de Marco, 2010

Os pes


Peco desculpa, novamente, pelos acentos que faltam a muitas letras destes ultimos posts. Isso nao se deve a uma ignorancia minha mas ao meu teclado egipcio (com que tenho escrito ultimamente)que nao possui as nossas pontuacoes.
Postos os pontos nos IS (sem o seu caracteristico ponto), aqui vai a minha homenagem aos Pes, essa parte anatomica que descuro tanto e que relembrei, finalmente, durante a minha viagem a India.

Como bailarina profissional, dependo dos pes em tudo. Sao a minha base, o sustento fisico e espiritual, o que marca o ritmo e o que me liga a Terra.
Importantissimos para mim e tao negligenciados...

Andei descalca 90% do tempo que passei na India (para meu deleite). A entrada nos templos (hindus, muculmanos, sikhs, budistas, etc) exige os sapatinhos a entrada amontoados em armarios caoticos onde se perdem as cores e as identidades dos seus donos.

Segundo o sistema de castas indiano, os pes correspondem a casta mais baixa, a dos Intocaveis. Isto deve-se, entre varias outras razoes, ao facto de que os nossos pes andam em contacto permanente com o mundo material e impuro (solo/chao) e estao a baixo do chackra da sobrevivencia, o mais basico de todos e mais proximo a nossa dimensao animal.

Os sapatos carregam, por isso, a carga de sujidade do lado mundano do Universo (para alem dos germes e afins das ruas em que caminhamos). Dai ter andando quase toda a viagem descalcinha da Sousa e feliz por isso. O meu lado cigano vem ao de cima muito facilmente... :)

Os aneis que se podem observar nos pes das mulheres indianos nunca sao de ouro
(profusamente usado na parte superior do corpo)mas de prata, considerado um metal menos nobre do que o ouro. Usar ouro nos pes seria uma ofensa a Deusa Lakshmi (Deusa da Riqueza/Abundancia espiritual e material) e a todo o sistema de crencas hindu.

Ca por mim, usava diamantes nos pes. Este seria o meu desafio as crencas hindus.
A minha fantasia de consumo sera sempre uma pulseira para os tornozelos e um anel para os pes em diamantes.

Nunca renunciando a minha realidade material, venero os meus pes como jamais o havia feito antes.
Mais um efeito secundario provocado pela India.

Sunday, March 14, 2010




Cairo, dia 13 de Marco, 2010

India blues...

Sofro daquilo a que decidi chamar - na falta de nome mais adequado - India Blues.
Como o proprio nome indica, nao chega a ser depressao mas uma tristeza nostalgica, uma saudade cronica e suportavel mas a margem do demasiado...

Por outras palavras:
Sinto saudades da India.
Saudades do inexplicavel estado de alma que de mim se apoderou quando me banhei no Ganges ou quando senti aromas subitos vindos dos campos plantados de flores sem fim.

Como se define a saudade?!
Nos, portugueses, sabemos bem que tipo de saudade nao se define. Pois sera dessa que sofro.

Ja penso...quando sera que poderei ir, novamente, a India?!

Saturday, March 13, 2010


Cairo, dia 12 de Marco, 2010

A minha foto favorita - India



Cairo, dia 12 de Marco, 2010

KIKASSO, o sosia indiano de Picasso!

Mais uma personagem inesquecivel da minha viagem: Mr. Kikasso.
So o nome ja me delicia.
Pintor de Pushkar que se assume admirador incondicional e seguidor - com as respectivas adaptacoes temporais e culturais - do espanhol Picasso.

Conversei com o Kikasso, ri-me a bandeiras despregadas sem razao aparente e apaixonei-me por mais um homem original. Sempre me apaixonarei por ORIGINAIS!
Aqui esta um deles.




Cairo, dia 12 de Marco, 2010

Menino triste em Pushkar

Permaneci levemente aterrorizada com a tristeza e revolta envoltas no olhar deste menino.

Possuo uma paixao pelo detalhe, pelo que nao foi explicado, pelo misterioso.
Uma curiosidade insaciavel que me faz reparar naquilo em que mais ninguem repara.
Sou do clube dos que fitam as arvores e os olhos perturbados de meninos que, segundo a sua idade cronologica, ainda deviam ser leves e alegres como as inconscientes flores num campo primaveril.

Sou do clube dos que aprendem com tudo, ate com a tristeza.