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Wednesday, April 18, 2012


Prazeres secretos...

Aqueles momentos de silêncio profundo entre mim e o meu público, quando em palco. Momentos de LIGAÇÃO, de mútua compreensão, de RECONHECIMENTO de Almas***. A minha orquestra sustém a respiração, eu peço que me ofereçam essa nota não escrita nas pautas musicais, um susto de encantamento entre um movimento e o próximo que se demora por estar PASMADO, usufruindo da BELEZA do momento.
Silêncio que baila na corda da trapezista que sou, o público nos meus braços sendo embalado como um bebé recém-nascido. Os corações detêm-se paralelamente ao meu, até que se confundem uns com os outros. A Bailarina é o público e este é a Bailarina. Somos Um.
Depois chegam os aplausos mas o ESSENCIAL já aconteceu, compensando por todos os obstáculos e terrores que se pagam pelo privilégio do SUCESSO por mérito próprio.
E a lixeira fica reduzida a nada porque são estes espaços VAZIOS entre notas musicais e os movimentos que estão por vir que FAZEM TUDO VALER a PENA, quando multiplicados em EMOÇÃO pelo público. Pela minha vontade de nele desaparecer e, ainda assim, ser mais Eu. Ser mais Nós.

Milagres***.Prazeres e GRANDES SUCESSOS secretos.Tesouros muito meus.;)

Thursday, March 29, 2012

"As Dançarinas do Cairo" - "Les Danseuses du Caire" (legenda em português)




Muito grata ao Marcos Ghazalla por partilhar este vídeo.
Um comentário completo ao que aqui se expõe seria um pequeno tratado sobre o estado da Dança Oriental no Egipto mas eis alguns pontos que gostaria de sublinhar para que outros/as bailarinos/as conheçam melhor esta realidade como ela, VERDADEIRAMENTE, é.

Há que dizer, primeiro que tudo, que o percurso de cada bailarina que trabalha no Cairo é único e com contornos particulares, não forçosamente aplicáveis a toda a gente.
No meu caso, as coisas têm sido - desde o início - atípicas e, devo dizer, pelo caminho mais complicado de trilhar. Vim para o Cairo sem agente, empresário, contactos ou perspectivas de trabalho. Ninguém me deu a mão, muito pelo contrário, e o trabalho que consegui veio - EXCLUSIVAMENTE - da minha perseverança, ousadia e provas dadas de talento e competência.
Este não é o trajecto das bailarinas que conheço. Estrangeiras ou egípcias. Por norma, elas têm um agente que as promove, lhes procura contratos, lhes arranja uma orquestra e a ensaia e lhes assegura a continuidade da carreira. Na maioria das vezes, este agente é um proxeneta (dos pobrezinhos ou dos ricos) que não a auxiliará sem levar dinheiro e/ou sexo extra para casa.

Fui eu, sozinha, quem arranjou os meus contratos, quem reuniu a minha orquestra, quem os ensaia e quem faz com que a minha carreira evolua.

Depois existem as várias classes de Bailarinas:
Este vídeo mostra tres delas, bem distintas.

*A mais baixa, bailarina egípcia de "cabarets" de quinta categoria que é, na verdade, prostituta assumida. Ainda que não o fosse, a sua família ofereceria oposição à sua profissão mas a verdade é que, a este nível, todos sabemos que o palco é apenas uma montra barata para angariar clientes para a prostituição. Na maior parte das vezes, elas nem recebem "cachet" pelo "espectáculo", sabendo que conseguirão o seu pagamento de outras fontes.

*A bailarina de estatuto médio, estrangeira, actuando -maioritariamente - para turistas. A sua orquestra é mais reduzida e o que ganha também mas, por norma, trata-se de profissionais honestas que AMAM a Dança e que por ela se sacrificam, trabalhando no Cairo a fim de obter um mais profundo entendimento da Música e da Dança egípcias.

*A bailarina, estrangeira ou egípcia, do hotel de 5 estrelas é, por norma, a prostituta de luxo. Embora o aspecto do negócio e os nomes que se dão às coisas sejam mais delicados, a verdade é que não se dança em hotéis de cinco estrelas do Cairo sem andar enrolada com o dono ou gerente do local. A história e os factos comprovam o que digo. Estas bailarinas são, geralmente, as namoradas dos seus próprios patrões que nelas investem como se investe numa propriedade da qual se tira proveitos vários.

Feita a distinção, é bom focar que a Dança Oriental ainda é vista como sinónimo de prostituição e todo o sistema em que ela se desenvolve funciona nessa base. Para se conseguir singrar neste mercado sem dormir com o patrão ou com clientes poderosos do dinheiro, há que acontecer o seguinte:

1. Um milagre de Jesus e Nossa Senhora Aparecida.
2. MUITO talento, jogo de cintura para contornar a sujidade e os jogos que esta máfia tanto adora.
3. Ser perseverante, profissional, sempre no ponto máximo da forma, da inspiração, da força. Há que ser GUERREIRA, como menciona o Marcos, mas com o coração de uma ARTISTA que entregará ARTE com ALMA ao seu público.
4.Há que AMAR muito o que se faz e ter uma pele calejadíssima que não se deixe ferir por nada, nem ninguém.
5.Tem de se ser LUTADORA, sacrificando vida privada, família e outros confortos em troca de uma experiência profissional e pessoal que nos poderá marcar para toda a Vida.
6. A inteligência aguda é imprescindível para aprender depressa, não caír no mesmo erro duas vezes, saber defender-se das armadilhas e ataques constantes e EVOLUIR. O Egipto não dá TALENTO a quem não o tem. Nem, tão pouco, ensina a dançara quem não sabe como fazê-lo. O que o Egipto faz, se formos fortes o suficiente para vê-lo, é trazer ao de cima ALGO de EGÍPCIO que algumas* bailarinas carregam dentro de si.

O "glamour" e fantasias que se associam a esta vida não passam de patetadas de quem nunca passou pela experiência ou teorias de mentirosos que pretendem iludir bailarinas, trazendo-as até ao Egipto para as usarem, enganarem, lhe extorquirem dinheiro em troca de desilusão e desencanto.
Desde que comecei a actuar aqui, já lá vão seis anos, nunca conheci senão trabalho árduo, dificuldades e MUITA LUTA. Os privilégios são íntimos, muito mais que públicos. Aprender, a fundo, o que significa DANÇA ORIENTAL, ser reconhecida pelo público local como uma ARTISTA e não como uma "rakasah"/equivalente a prostituta, actuar com alguns dos melhores músicos do país, aprender com eles, respirar o ar do Egipto que levo no peito, receber bailarinos de todo o mundo que aqui vêm para assistir aos meus espectáculos e estudar comigo e outras benção íntimas, invisíveis a quem está de fora desta história.

O documentário mostra um lado duro e negativo da Dança Oriental que é, a meu ver, verdadeiro. O extremismo religioso, cada vez mais óbvio no Egipto, tem dizimado a pouca massa cinzenta que ainda existia nesta população exausta e desalmada de tanto espernear pela sobrevivência mais básica. Os dogmas, a ignorância, os preconceitos e repressão crescem na mesma proporção desse extremismo religioso e as Artes pagam por isso, especialmente uma Arte tão mal compreendida, praticada e usada como a Dança Oriental.

Terá de haver um renascimento desta Dança. Já uma oitava acima do que é comum ver-se. Já regressada à sua origem que é RELIGIOSA, DIVINA, SUPERIOR. Creio que esse RENASCIMENTO já está a acontecer, contra ventos e marés...

Wednesday, March 14, 2012







Com reticências...




Vou re-descobrindo o que é a Dança Oriental. Com semelhantes reticências, aceitei um trabalho atípico, desde que comecei a actuar com a minha orquestra no Cairo.




Festa de anos de um aniversariante muito especial, amigo de uma amiga minha e meu admirador de longa data. A surpresa foi programada pela sua esposa, tambem ela familiarizada com o meu trabalho.




-Mas sabes que só danço com a minha orquestra!


-Por favor, abre uma excepção. A surpresa dificilmente funcioná se levares os músicos contigo. A instalação de microfones e afinação de instrumentos denunciará a tua chegada.

Acedi ao pedido, muito mas MUITO reticentemente. Quando no Egipto, jamais danço sem os meus músicos. Porque o faria? Compreendo as limitações financeiras de levar uma orquestra para fora do país mas não compreendo que tenha ao meu alcance os melhores músicos do Cairo e não trabalhe com eles.


Acedi, com esforço e preocupação. Já não sei dançar ao som de um cd! Oh, o terror...


Uma hora de actuação com cd equivale a tortura chinesa, a meu ver/sentir.




Lancei-me ao precipício, como de costume. Curioso observar como são, frequentemente, estas experiências (aparentemente) desagradáveis que mais nos ensinam.


Relembrei o âmago desta Dança, a sua razão de ser o que faz com que o público - em qualquer parte do mundo - responda ao meu trabalho. Se pretendo que a Dança Oriental seja considerada como uma forma de ARTE não há outra coisa a fazer senão praticá-la como tal. Provar, por acções e não apenas por meras palavras, que esta Dança pode ser - de facto - uma expressão artística da Alma.




Deixei-me de rococós e brilhantismos. Ninguém se importa com a quantidade de acrobacias ou movimentos "espertos" de que o meu corpo é sabedor. Já dizia o maravilhoso cantor egípcio "Abdel Halim Hafez" que o mais difícil é a simplicidade.


Prendi o aniversariante surpreso e os seus convidados com o gancho do CORAÇÃO. Será sempre por aí que se apanha o peixe, salvo seja.


Na ausência da minha orquestra e de todo o material fantástico e energia que me dá, tive de recorrer ao interior de mim mesma e compensar a lacuna musical com a VONTADE CONSCIENTE de dançar a partir do meu coração. Assim toquei, não surpreendentemente, o coração da minha audiência. O que as pessoas querem é emocionar-se, serem tocadas e movidas no mais sincero de si mesmas, provocadas para lá do Bem e do Mal. O que querem é sentir-se VIVAS.

E nao é que essa é mesmo a função da Dança!?



Aprendendo a pescar das formas mais inusitadas.Quem procura, sempre encontra.

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Monday, March 5, 2012








Só o que me apetece...





Às vezes, é só o que me apetece. Esquecer o mundo, esquecer-me de mim e até dos sonhos que me empurram na direcção dianteira e cimeira. Esquecer as paixões, as aventuras e desventuras, a música e a até a dança que é a minha VIDA, a pintura e os excelentes actores, os livros que amo, os desejos, as viagens por fazer e os entretantos que unem eventos decisivos da minha Existência.




Às vezes, só me apetece sentar-me numa esplanada qualquer de uma cidade de ar fresco, mar ou montanhas grandiosas, fitando o NADA (que é o TUDO) e bebendo uma chávena de cappuccino que, eu sei, não me levará a lado nenhum, nada me ensinará ou nenhuma vitória me oferecerá. Será inútil e banal, como uma rajada de vento que abre as janelas enferrujadas de uma casa ao abandono. Será indiferente, inconsequente, acessória e perene no espaço de escassos minutos.




Uma chávena de cappuccino, talvez um chocolate ou uma fatia de "apfelstrudel" e um jarrinho pequeno com leite quente ao lado. Silêncios, pessoas que passam e o prazer imenso de um momento BANAL do qual eu não retire nada senão o PRAZER de ESTAR VIVA.




Apetece-me. Às vezes...

Thursday, March 1, 2012



"Proibido calar catarses".



Sim senhores. Devia ser. Todos temos esse direito divino de expressar o que nos dói e alegra lá no fundo da nossa alma.

As minhas catarses dão-se através da Arte e da Escrita. Dançando, coreografando, ensinando, escrevendo eu FALO de mim, do que aprendi e quero partilhar, do que me dói e quero transformar em BELEZA.

As CATARSES são essenciais. Urgentes, nos dias que correm. Quem as cala, rebenta.




Tenho dito.


E feito.

Como dança, escrevo, coreografo e ensino desde a minha mais profunda e corajosa intuição, é normal que de mim saiam informações inesperadas. Até para mim mesma.


Tenho dito e feito tanto no que respeita ao PRAZER no movimento/próprio corpo e à alegria de VIVER, tão obviamente expressa na Dança Oriental.

Enquanto ensino movimentos, cultura, coreografias e mais umas quantas proezas técnicas - que ajudam mas não são aquilo que DEFINE a Dança - escuto-me chamando a atenção para coisas tão simples quanto estas:


1. Antes de nos movermos, permitamos que os ouvidos tomem o seu tempo para beberem a música, jorrando-a dentro de nós. Só quando a SENTIRMOS em todos os nossos poros, veias, músculos, cabelos e corações (espalhados pelo corpo) é que podemos começar a movermo-nos.

A tendência mecânica do movimento desgarrado da música e da pessoa que dança é a mais comum e destrutiva de todas.


2. Largar o nosso EGO, deixá-lo ir para onde quiser, e permanecer balouçando/flutuando no espaço, no NADA onde não somos ninguém e somos já TUDO. Em vez de escutar a vaidade e a ânsia de querer agradar, deixemos tudo isso de lado, fechemos os olhos e permitamos que a música nos leve para longe de tudo o que PENSAMOS que somos. Aí, os limites do ego já não nos pertecem. Aí expandimo-nos porque encarnamos a imensidão infinita do espaço sem ESPAÇO. Aí acontece a DANÇA.


3. Perder a vergonha de usufruir dos prazeres que o nosso corpo nos dá. Na Dança, como na Vida! Nesse assumir claro e despreconceituoso do gozo de ESTAR em mim reside a maior e verdadeira SENSUALIDADE da DANÇA. Esta não se encontra na exposição do corpo, nas roupas ou em movimentos que julgamos ser sugestivos. Reside no ORGASMO interno, natural, positivo, engrandecedor que se dá quando começamos a sentir o nosso corpo como instrumento de prazer e expansão muito nossos.


4. Assumir o nosso CARISMA PESSOAL, não tentando ser o clone/cópia de outra pessoa, por mais talentosa e preparada que ela seja. Na ARTE, como na VIDA, temos o direito/dever de sermos nós mesmos. Essa peculiaridade, inimitável, de sermos nós mesmos oferecerá um EXTRA de magia*** à Dança.


5. Perder o medo de ser VULNERÁVEL, expondo o corpo, coração e alma enquanto dançamos. Na mais absoluta fragilidade existe a maior FORÇA.


6. SER FELIZ enquanto dançamos. Sempre.

Friday, February 24, 2012


Eis o que peço de mim mesma e de outros Artistas:
"MOVE ME".
Que movam *ALGO dentro de mim, que desarrumem a casa já de si desarrumada e lhe permitam re-encontrar O Caminho.
Que me EMOCIONEM, façam rir ou chorar - ou ambos, simultaneamente que Viver contém estes paradoxos - e me levem para o sítio dos Sonhos onde TUDO é possível e a realidade dos dias não é mais do que uma ilusão revelada pela Beleza Maior da Arte.
Eis o que exijo de mim mesma, enquanto Artista, e o que procuro em qualquer outra pessoa cujo trabalho artístico sigo. Peço-o dos meus alunos de Dança Oriental, mesmo contra a onda corrente que privilegia o comercialismo e o superficialismo baratos. Contra o supérfluo. Contra a precaridade dos dias.
Eis o que te digo, BAILARINA/O: MOVE ME...

Wednesday, February 8, 2012



O etéreo precário/sagrado da Dança...


Percebo com súbito encanto e uma certa tristeza que a Dança - e o Teatro - são artes do ETÉREO.

Muito do que se COMUNICA em palco quando se dança só será VIVIDO uma única vez, sendo irrepetível e intransmissível por palavras ou versões filmadas/filtradas do que se fez.


Os vídeos não fazem justiça às dimensões HUMANAS perceptíveis, energética, emocional, física e espiritualmente, pelo público que comigo partilha um espectáculo. Nenhuma máquina pôde, até agora, captar o ESPÍRITO HUMANO, os sons quase imperceptíveis que cada músico, instrumento, bailarino-a produzem em palco, bem como os fios invisíveis de comunicação SUPERIOR que se estabelecem entre ARTISTAS e PÚBLICO.


Frustra-me um pouco, esta realidade. E encanta-me, simultaneamente. O trabalho de um/a bailarino/a tem de ser usufruído ao VIVO pelo tempo limitado que dura o corpo eficiente de um ser humano. Depois disso, ficam apenas réstias, fotocópias de pobre qualidade, tentativas de registar aquilo que, por MILAGRE irónico da Beleza inefável, não pode ser captado por qualquer instrumento que não seja a PRESENÇA HUMANA.


Gosto deste lado efémero da DANÇA, como quem gosta do LADO EFÉMERO do AMOR, de uma FLOR, da VIDA...de tudo o que VALE a PENA.

Sunday, January 1, 2012



"Minha paz é dançarina.



Acho que ela pegou carona no coração dançarino do menino e ficou assim, sem modos ou talvez me tenha tornado tão infinitamente leve, que não consigo me alcançar."






Renata Fagundes

Thursday, December 22, 2011



Diz que disse à moda egípcia.


O Egipto continua nas boas do mundo de forma sensacionalista, ao bom estilo da imprensa mundial.

O período pós-revolucionário comprovou aquilo que sempre me pareceu a mim: que, dada a oportunidade de existirem eleições democráticas e honestas neste país, a maioria dos egípcios dariam a vitória à Irmandade Muçulmana.



Chamaram-me pessimista, Velho do Restelo de cabelos aloirados e outros mimos a que já estou habituada. Isto de uma Mulher ter uma VOZ activa ainda incomoda muita gente.


O que previa veio a confirmar-se, para desgosto meu e de muitos que olham a Irmandade Muçulmana com justificada desconfiança e até terror.

A verdade é que o povo teve o direito que merecia a votar mas a verdade é também que um povo sem educação académica e/cívica não está preparado para a Liberdade ou para a Democracia. Estas requerem cultura, cérebros que funcionam, pessoas educadas que sabem distinguir religião de política, campanhas eleitorais de compra de votos, sermões religiosos de lavagens cerebrais. Ora o Egipto, com o tanto que o amo porque é aqui que trabalho e vivo como qualquer outro egípcio, é um país com uma esmagadora percentagem de iletrados (pessoas que não sabem, sequer, ler e escrever). Para as massas deste país, a educação que recebem chega das mesquitas e dos sermões que os "cheiques" lá lhes dão, passando mensagens de extremismo religioso, ódio ao Ocidente e prometendo que o Paraíso na Terra só se consegue com um Governo Islâmico.


Irónico mas verdadeiro: se a maioria do povo egípcio escolhe a Irmandade Muçulmana para governar este país, então a IRMANDADE MUÇULMANA tem o direito de fazê-lo porque foi democraticamente eleita pela maioria.


Agora surgem vozes que se opoem a esta aparente consumada vitória e tantas outras vozes que se juntam ao caos, com ou sem razão para fazê-lo.

Cá por mim, não sou a favor nem contra ninguém mas sou, sem dúvida, em prol do uso do cérebro para mais do que abrir latas de atum. Se houve algo que a nossa história mundial nos ensinou é que a mistura entre Religião e Política nunca traz coisa boa. Quando este cocktail explosivo se dá, existem as Inquisições, as manipulações mentais, vários tipos de fascismos e outros demónios que tais. Aprender com a História é para quem teve essas coisas tão temidas por todos os poderosos financeiros do mundo: educação, cultura.


Entretanto, não se fala noutra coisa: mulheres com mamocas interessantes que passam na rua pedindo para ser assediadas (o Egipto não mudou assim tanto!) e política.


Deita-se fogo a importantes arquivos arqueológicos no centro do Cairo, anda-se à batatada com e sem razão aparente e fala-se mal dos militares que estão, por assim dizer, encostados à parede entre a protecção do seu povo e a tentativa, praticamente impossível, de reestabelecer a ordem para que a vida "normal" possa ser retomada num país já devastado pelos efeitos da queda brutal no turismo.


Como residentes, sabemos acerca das zonas onde estão concentrados os conflitos (perto de Tahrir e, em geral, pela baixa da cidade) e evitamos enterrarmo-nos nesta espiral de auto-destruíção que parece ter-se apoderado do meu querido Egipto.


Sim, o POVO egípcio queria e merecia a Revolução (tal como eu a queria e merecia) mas isso não significa que não hajam muitos outros PODERES (maioritariamente, escondidos) que são CONTRA-REVOLUÇÃO.

Vejo este povo meio perdido, como sempre esteve, porque nunca lhe foi dada a oportunidade de educar-se e pensar por si próprio.

Muito coração e pouca cabeça. Assim foi e assim continua a ser.


Fala-se também do aumento da criminalidade nas ruas do Cairo, algo inédito para mim, e nas Mulheres egípcias que começam FAZER-SE OUVIR num âmbito que não se restringe à Revolução.


Cá para mim, resta o orgulho nesta gente corajosa que chegou a um ponto de miséria e desesperança que disse para si mesma: não temos nada a perder e TUDO a ganhar.

Resta saber que será este TUDO e resta esperar-desejar-lutar para que este TUDO seja o que os revolucionários imaginaram para o seu país e não uma viagem à época medieval que separará, ainda mais, o Egipto da sua própria identidade e grandeza.


O meu coração e a minha mente estão sempre com o Egipto, assim como o meu corpo presente, a minha esperança ou até mesmo a minha ingenuidade, algo que tenho em comum com os meus conterrâneos outrora faraónicos.

Thursday, December 15, 2011




A Beleza está em todo o lado.
É preciso é saber Vê-la.
No jardim do Museu da Cidade de Lisboa (onde está patente uma MARAVILHOSO exposição de um importante expólio fotográfico da pintora mexicana "Frida Kahlo"), encontrei algumas imagens bonitas e inesperadas. Tive de PARAR, VER, SENTIR e FOTOGRAFAR.
Há quem lhes passe ao lado, sem perceber o tesouro que elas carregam, mas eu não sou assim tão cega.
"Se puderes olhar, vê.
Se puderes ver, repara."
José Saramago

Thursday, October 27, 2011



Mahmoud (Reda).


Nao sou fiel a nacoes, partidos políticos, religioes ou quaisquer outros tipos de lavagens cerebrais que me tentem impingir.

Sou totalmente fiel a mim mesma e aos meus afectos/amores. Nao suporto traidores, facadinhas nas costas, mentiras e jogos que nao levam a lado nenhum senao ao acalentar do ego fraco de alguém.


Por isso prezo todos os momentos que passo com o meu querido Mahmoud Reda (famoso director/coreógrafo da "Reda Troupe" e, sem dúvida, o criador do Folclore Egípcio como nós o conhecemos hoje).

Depois de me ter pedido ajuda para ensinar uma nova coreografia de Mohamed Abdul Wahab, teve início o prazeiroso/doloroso processo de ASSIMILAR uma coreografia, especialmente uma que nao fui eu que criei.


Substituí a palavra "memorizar" por ASSIMILAR porque é mesmo por esse processo que eu viajo quando aprendo uma nova coreografia.

Em vez de memorizar passos, eu "como e bebo" a música e tento seduzir o meu corpo para que ele se sinta confortável em opcoes criativas que nao sao as minhas, passos e movimentos que nao me sairiam naturalmente se tivesse sido eu a coreografar aquela música em questao.


O Mahmoud senta-se, encantado e paciente, observando-me "comer" a música e repetindo as sequencias até para lá da exaustao.

"Desculpa, Mahmoud...eu preciso de espaco para digerir a música. Sabes que nao sou uma bailarina mental. Tudo tem de passar pelos músculos e pelo coracao. Tens de ser paciente..." - Digo-lhe eu, enquanto me observo ao espelho e me sintonizo com esse universo novo da música que me é dada para repasto.


A paciencia, carinho e generosidade do Mahmoud nunca cessam de encantar-me.

Ele, nao só me dá o espaco e o tempo para que eu coma a música e me embriague com os movimentos que ele me ensina mas ainda me diz que adora assistir a esse processo tao meu, normalmente solitário.


O prazer de estudar mais uma coreografia do meu professor e amigo, genial GENIAL genial, nao passa pelo facto de ele ser quem é, mundialmente reconhecido. Passa pela conexao humana que cria o tapete sobre o qual nós os dois dancamos juntos. Ele ensinando-me coisas bonitas, novas, sempre surpreendentes para mim. E eu, ávida de saber mais e mais, emocionando-me com passos de danca que outras bailarinas se limitariam a copiar e a reproduzir.


Do diálogo amoroso de dois mundos tao diferentes, do meu e do Mahmoud, nascem SEMPRE coisas belas. Muito belas...

Sou privilegiada por ter o Mahmoud na minha vida.:)


Wednesday, October 19, 2011






















































Quem tem boca vai a Roma...e a Merano também!








Os workshops que dei em Itália foram MARAVILHOSOS em todos os aspectos da palavra. Além disso, eu comecei a amar a cidade de Merano.



Considerada, há séculos, cidade da "cura e do bem estar" devido a qualidade do seu ar, água que vem das montanhas e uvas cujo suco tudo parece apaziguar e restaurar.


A famosa emperatriz Sissi tinha uma casa de veraneio no coracao de Merano, para onde acorria em busca de cura para os seus problemas respiratórios. Posso compreender porque!




O sabor a Áustria (Merano passou para a maos de Itália durante a II Guerra Mundial gracas a ganancia de Mussolini mas continua a conservar a sua identidade austríaca ou, melhor dizendo, a sua origem do sul tiroles) parece estar marcada em cada pedra de calcada, casa, paisagem, sabor e aroma.




Por mais "italianizada" que a cidade tenha sido - com Mussolini trazendo italianos do Sul para povoarem a cidade, proibindo o ensino e fala do alemao e outras delícias tiranicas - a sua VERDADEIRA origem nao foi apagada, nem tao pouco atenuada.



Estamos no Sul do Tirol, nao em Itália (contrariando as fronteiras geográficas e os mapas definidos por um fascista de segunda categoria) e isso agrada-me MUITO.



Nao que nao goste de Itália, bem pelo contrário. Mas o Tirol e seus universos sao mais distantes da minha própria cultura latina e, surpreendentemente, muito próximos da minha árvore genealógica fortemente marcada pela ruralidade e seus protagonistas, os camponeses.



Sem pedidos de desculpas, justificacoes ou um sorriso, Alitalia recambinou os viajantes que haviam perdido os seus voos de ligacao a outros destinos para um hotel em Roma.



O.k, existem coisas piores, nao posso dizer que nao! Embora nao estivesse nos meus planos passar a noite em Roma, existem surpresas agradáveis e a conviccao de que a FLEXIBILIDADE pode ser de ouro se ousamos viver a VIDA assim, livre e CRIATIVAMENTE...






Jantei ao lado de uma freira cujo sorriso manso e insensível se encontrava pendurado - como se esquecido - na sua boca cansada de silencios (talvez incompreendidos por ela própria) e com um cozinheiro egípcio que trabalha na bela cidade de Florenca.



A freira parecia apenas responder a questoes que tivessem a palavra Deus incorporada. Nao a levei a mal. Nao devemos esquecer o poder criativo das palavras e a forma como o seu uso influencia a realidade material a nossa volta. Primeiro, terá MESMO sido o VERBO, como diz a Bíblia?! Bem, a freira parecia achar que sim, contanto que o VERBO tivesse pegado ao seu casaco elegante a palavra DEUS.




O cozinheiro queixava-se da má qualidade da comida do hotel, o que me informa sobre a péssima qualidade da comida que ele mesmo confecciona no seu dito restaurante florentino. É que, por norma, os egípcios gostam de mal dizer algo no qual eles sao péssimos. Parece que, mal dizendo outra pessoa que faca o mesmo que eles fazem de forma deplorável, a sua própria falta de qualidade é menorizada...Nao tentemos compreender, é demasiado complicado. Se Freud fosse vivo e TENTASSE trabalhar no Egipto, acabava louco num par de dias!




De manha, regressei ao aeroporto de Roma e tomei o meu pequeno-almoco a italiana.


Belíssimo cappuccino e "croissant" (ok, o pequeno almoco meio a italiana, meia a francesa que já me dao nostalgias de Paris...) e um aviaozinho de 30 lugares da companhia Air Alps.




Delicioso...


Enquanto sobrevoava as montanhas que nos avisam da chegada ao Tirol, pensei para mim mesma o quao DIVERSIFICADO e maravilhoso é este mundo.


Parte do privilégio de dancar e ensinar em todo o mundo passa por conhecer outras paisagens, pessoas, culturas e da aprendizagem única e insubstituível que a eles vem agarrada.




Re-conhecer a cidade e suas ruelas antigas foi um prazer imenso, passar um dia no cimo das montanhas tirolesas foi outro, acordar cedo e ir até ao centro da cidade simplesmente para escutar o correr da água fresca e miraculosa que vem das montanhas foi mais uma alegria, a comida, as pessoas, o trabalho em si no qual foi recebida com imenso amor e admiracao...


Por onde comecar e onde terminar?!




Para colocar a cereja em cima do bolo, também tive a sorte de apanhar a "FESTA DELL UVA", uma tradicao centenária que celebra as vindimas em toda a zona tirolesa.


Um cortejo das vilas do Tirol e suas tradicoes, barraquinhas de vinho (pois claro!) e comida típica e bandas tirolesas tocando em cada cantinho da cidade.


Lindo demais...o meu coracao transbordando...




Uma série de bencaos que agradeco de todo o meu coracao, dizendo um sorridente "até já" a cidade que me devolveu o sono e a paz (ouso eu dizer!).





Depois de um mes de insónias "quase, quase" inexplicáveis, voltei a dormir - em Merano - como um anjo...
Parece que Merano me reestabeleceu o sono e até, ouso dizer, a paz de espírito que o Cairo me havia tirado nos último meses de Revolucoes e contra-Revolucoes, lutas justas e extremismo religioso e toda a sujidade circundante ao meu trabalho.




Terá sido o ar de Merano que levou do meu peito tanto peso e confusao?!


Eu acredito que sim, o ar e as pessoas que receberam a minha pessoa e trabalho com um amor, respeito e interesse que me deixam a levitar. Literalmente.




Grata a Merano, a Simone que organizou - pela segunda vez! - o evento e a todas as alunas presentes nos meus WORKSHOPS, tornando-os possíveis e profundamente ESPECIAIS.




Sou abencoada e os meus esforcos, trabalho árduo, sacrifícios múltiplos e lutas nao sao em vao.


AGORA posso ve-lo com a clareza das águas meranesas.



P.S. Muitas imagens da viagem estao disponíveis no meu Facebook.

Adicionem-se ao meu segundo perfil (muito nobre e pretensioso!): "Joana Saahirah II"

que é como quem diz, Joana Saahirah The Second.:)



















Thursday, October 6, 2011






Os prazeres inesperados de um Egipto (ainda) existente.






Nunca escondi os aspectos difíceis de se viver num país como o Egipto.


As críticas negativas poderiam ser primorosamente escondidas por baixo do tapete sujo da diplomacia mas esse género de manobras nao faz o meu estilo. Sou desbocada demais para mentirolas agradáveis.



Depois de uma noite de insónia (durante a qual pude ocupar-me com a mais variada agenda de tarefas, tais como adiantar a escrita do meu livro quase num estado de sonambulismo...), decidi que nao valia a pena tentar dormir ao romper do dia.

Duche rápido para abrir a pestana, cappuccino comprado no local habitual onde conhecem de cor e salteado os sabores que eu gosto de ter na minha caneca fumegante destes derivados do café e rumo a baixa da cidade do Cairo, esperando escapar ao transito diabólico dessa zona da cidade.




Tendo chegado cedo demais (11h da manha é cedo demais para os comerciantes egípcios!), fui presenteada com um daqueles momentos que me recorda a primeira razao pela qual eu me apaixonei, irremediavelmente, pelo Egipto.



A loja que eu buscava ainda estava fechada e nao havia indícios de abrir brevemente...
Comecei tentar encontrar outras lojas da mesma especialidade (música egípcia antiga) nas redondezas mas só encontrei camisas e calcas de homem, gravatas, chapéus de outros tempos e várias caras curiosas, observando-me.


Claro que vários comerciantes cujas lojas estao adjacentes a loja que eu precisava aperceberam-se da minha presenca e vieram oferecer ajuda com a prontidao e a generosidade que ainda se encontra nesta selva onde todos parecem querer comer toda a gente.



Ofereceram-me cadeira para sentar-me, sorrisos sinceros sem o peso feio do assédio sexual, chá e pequeno-almoco que insistiram que eu partilhasse com eles.

Ao ouvirem-me falar árabe fluentemente e procurando material de Om Kolthoum, o elo de ligacao ficou feito. De pedra e cal. Nao diria para sempre mas, com certeza, para o momento PRESENTE.

Eles próprios se encarregaram de buscar os empregados da loja de que eu precisava, fazendo-me companhia e entretendo-me/se comigo e com as nossas conversas sobre Om Kolthoum.

A proteccao, carinho, generosidade pura e simpatia absolutamente ABERTA destes homens enterneceu-me e deixou-me o dia com mais sol.


E sei que sao destes momentos simples - mas essenciais a saúde da minha alma - que se constrói um amor destes. Meu. Pelo Egipto. De sempre. Talvez, pressinto eu, para sempre.






Monday, September 26, 2011







A minha LINGUAGEM...




Levou me bastante tempo (eu considero-o "bastante", há quem o considere um instante) até SABER o que estou a fazer, REALMENTE, enquanto dancou, coreografo ou ensino danca.


Para mim, a danca sempre foi instintiva, forma nata de me manifestar no mundo. Nunca pensei, mesmo já exercendo a Danca Oriental como profissional, que tipo de LINGUAGEM eu perseguia dentro de mim. Simplesmente, era feliz fazendo o que mais amo.


O contacto com outros profissionais da Danca - na minha e noutras áreas - levou-me a seguinte conclusao que me parece deliciosa: A minha linguagem de DANCA é a LINGUAGEM das emocoes e da Alma.

Enquanto outros bailarinos e coreógrafos buscam o aspecto visual da DANCA e a estrutura formal/estética que também a compoe, eu busco SENTIMENTOS e ALMA.



Nunca foi esta conclusao mais clara do que quando estou em processo de coreografar novas pecas para ensinar. Que procuro eu em cada movimento? Que EXIJO eu de cada passo ou combinacao?



Emocao. VIDA. Um certo desinteresse pelo lado visual que é tao óbvio na Danca.



O mais curioso é verificar que, quanto mais me desinteresso do lado visual da danca e me centro no emocional e no espiritual, a DANCA cresce em todo o seu esplendor e BELEZA. Mas esta BELEZA passa a vir do interior de quem danca e nao dos padroes mais ou menos harmoniosos que o corpo desenha no espaco.




Existem os coreógrafos arquitectos, designers, pintores, amantes das formas exteriores e das proezas acrobáticas de qu
e o corpo humano é capaz. Eu sinto-me atraída pelo MOVIMENTO que busca a verdade da experiencia humana, o riso e o choro viscerais, o coracao e a Alma que a todos nos une.



Friday, September 23, 2011

Semizorova and Ulanova rehearsing Swan Lake



Galina Ulanova, circa 1981, ensaiando "O Lago dos Cisnes" com Nina Semizorova, entao estrela em ascencao do Bolschoi.
A generosidade, o detalhe, a delicadeza com que a bailarina experiente passa o testemunho de uma grande tradicao de danca a uma nova geracao toca-me no mais fundo do meu coracao de bailarina nata.
Sem palavras. É com esta entrega e verdade que todos os PROFESSORES deveriam ensinar.

Thursday, September 22, 2011



Sapatos vermelhos.


A minha relacao com o Tango tem sido turbulenta.

Tudo teve início com a minha viagem, no ano passado, a Buenos Aires. Embora fosse a trabalho na área da Danca Oriental, claro está, fiz questao de ver e escutar bom tango na cidade que o viu nascer e o meu desejo de entrar em mais um "sub-mundo" acabou por reinar sobre mim e os meus medos de dispersao.

Em Buenos Aires, perdi-me numa loja especializada em artigos de Tango e comprei os meus primeiros pares de sapatos próprios para esta danca. Gozei da minha primeira aula pelas maos de um belo professor argentino nas traseiras da casa de uma bailarina minha amiga e caí de amores (pelo Tango, nao pelo professor).


Isto de se ser apaixonada por muita coisa, simultaneamente, tem os seus custos. Financeiros, mentais, físicos, "you name it"...


Regressada ao Cairo, procurei aulas de Tango e lá fui eu com a curiosidade das criancas, aberta a todas as novidades de um mundo ainda por explorar. Vinda de uma Arte onde sou solista, orquestradora e o maior poder criativo em decisoes de movimentos, chegar ao Tango e ter de DIALOGAR com um parceiro foi um desafio. Tem sido, até agora...

Apercebi-me, desde cedo,que o Tango espelha as relacoes entre homens e mulheres ou o que elas deveriam ser.

Exceptuando as faccoes machistas que defendem que, no Tango (e talvez na vida) a mulher deve seguir o homem e abster-se de vontade própria, tenho aprendido a ESCUTAR o outro e a dar-lhe espaco para poder expressar-se e ser quem ele é. Nao que já nao o fizesse antes mas o Tango tem aprofundado essa vontade de APRENDER com um parceiro que traz uma visao própria da música, dos sentimentos e interpretacoes que ela lhe sugere.


As turbulencias chegam quando eu me aborreco com o parceiro que danca comigo por falta de estímulos criativos, quando o seu talento para a danca é nulo e estamos para ali a marcar passo como dois velhinhos num baile de colectividade de Carnaxide (nada contra o dito baile).

Aí desinteresso-me, desligo a ficha e comeco eu a comandar as tropas, como de costume.


Quando um dos professores de Tango do Cairo me disse que eu tinha de esquecer os meus impulsos criativos e apenas seguir o homem que danca comigo, "passei-me dos carretos"...desfiz-me em desinteresse e bocejos.


Desde quando sigo quem quer que seja e me abstenho dos meus impulsos criativos?!

"Isto do Tango nao é para mim, porra! " - Foi o que pensei, por algum tempo, até ouvir o canto da sereia, uma vez mais, e retomar uma ou outra aula onde apanho surpresas fantásticas e momentos de danca miraculosos, cozinhados em prazer profundo de voos e aterragens mansas.

Escutar o homem que danca comigo - quando ele sabe o que está a fazer - e surpreende-lo com a minha presenca e intervencao activa sem que isso o anule passou a ser o DESAFIO.

Quanto de mim estará na danca que os dois fazemos? E quanto dele? E como gerir o espaco de cada um e transformar um diálogo num monólogo de profundo entendimento e amor?!

Este parece ser o desafio do Tango e que belo desafio...


Sei que esta relacao entre mim e o Tango nao será fácil. E quem sou eu para virar as costas a um desafio?

Wednesday, September 21, 2011



O chao já nao me chega...


Tantas perguntas e tao poucas respostas.

Porque será que a técnica de Danca Oriental e Folclore Egípcio que me foi ensinada pelos melhores mestres do mundo, pelos meus músicos e audiencias egípcias parecem-me já muito limitados?


Porque será que, ao dancar, quase rejeito o que aprendi e busco algo que ninguém me poderia ter ensinado senao eu mesma, recebendo a informacao sagrada de uma qualquer parte amorosa do Universo?


Porque será que este chao já nao me basta nem satisfaz?

Porque será que DANCAR deixou de ser a busca do movimento e passou a ser muito mais a busca de mim mesma (através do movimento a ser nascido, a cada momento)?


Contento-me com as perguntas...

Tuesday, September 20, 2011




Dos clichés e *mais outros demónios.




Nao aprecio clichés, excepto se me fizerem rir ou confirmarem verdades que eu acabo por descobrir por mim própria. Hmmmm...dito assim, parece que, afinal, gosto de certos clichés. Contradicoes, contradicoes multicolores e a meios tons impossíveis de definir.




Ao receber mais uma aluna em minha casa, aqui no Cairo, fico perplexa com a sensacao de que os outros me vejam como sabendo muito e eu me veja como sabendo muito pouco.


Cada vez mais, adoro "ensinar" profissionais (a maioria das bailarinas que vem ao Cairo estudar comigo em aulas particulares sao já profissionais trabalhando em todo o mundo) porque eles me colocam tudo em perspectiva.




Viver e trabalhar no Cairo como bailarina tem sido a escola de uma VIDA, isso é certo. Se juntarmos a esse facto a minha curiosidade insaciável e a minha mente hiper activa, entao acabamos com uma aprendizagem em velocidade anormal, com uma profundidade também ela anormal.


Nao posso estranhar se o meu mundo for visto, pelos que estao de fora dele, como algo rico e com imenso a ensinar. Isso deixa-me feliz e até um pouco lisongeada. Mas, porque será que tenho cada vez mais perguntas e menos respostas?! E porque será que tenho na minha frente um aluno ávido de aprender comigo e a única coisa que me apetece dizer é: "Que tens TU a ensinar-me?"




Talvez se deva ao facto de ser melhor aluna que professora. Em tudo. Por mais que outrém me veja como professora, eu insisto porque SIM em ser aluna. E assim cresco, como professora sem a certeza de mim nem das minhas próprias certezas. Penso que é isso que os alunos vem beber a minha casa, as minhas aulas, a minha ausencia de arrogancia.


E assim aprendo, a velocidade da luz...aterrando numa terra inominável onde o SABER se confunde com o SER. E aí, cheguei. Como professora e como aluna. E já nao quero ser nem uma nem outra, apenas Eu em toda a ignorancia abencoada de quem já aprendeu


"alguma coisa"...

Saturday, September 17, 2011



Cansada de...






Politiquices e religiao (vao as duas dar ao mesmo, curiosamente!).

E eu que nao vejo televisao, nem leio os jornais diários...se os lesse, já tinha enlouquecido completamente, passado para um extremo tal do "lado de lá" que ficaria sem saber como regressar aqui.

Demasiada poluícao sonora, visual, mental...e porque será que me parece que tanto falatório nao leva a lado nenhum?!


No Egipto, só se fala em política - compreensivelmente, nesta fase nebulosa de pós-revolucao - e em religiao, mais do que nunca.

Confesso que já sinto náuseas (literalmente, náuseas) sempre que escuto a recitacao do "Corao". É que nao há táxi que eu apanhe que nao ressoe as palavras sagradas do "Corao" até a exaustao. Se a viagem durar 15 minutos, apanho com "Corao" durante 15 minutos. Se a viagem for de 2 horas ou mais, será durante esse tempo que eu vou comer a colherada a mais que mastigada mensagem do profeta Mohamed. Apre!!!


Passo por um café e lá nao sei quem a ser julgado juntamente com os seus companheiros de máfia pessoal ou o próprio ex-presidente Hosny Mubarak deitado numa cama alva como os anjinhos, com cara de mártir e ainda uma arrogancia que já nao lhe pertence...

Se fossem julgar todos os mafiosos do Egipto, suspeito que nao sobrariam homens livres suficientes para dar continuidade a re-construcao do país.

Quem tem a ilusao de que se pode anular a corrupcao e a mentalidade da brutalidade que vem de milhares de anos durante uns meses de Revolucao, ou é um santo milagreiro que vai salvar o mundo ou é tontinho de todo.



Num dos vários julgamentos televisionados (que eu apanhei aquando de uma espera aborrecida num banco), ainda consegui ficar perplexa com a tirania do juiz que presidia aquela sessao. Tratava os presentes a baixo de lixo, gritava livremente a quem lhe desagradasse e dava ordens aos julgados como se estes fossem seus servos.


Ora bem...castigam-se e anulam-se tiranos contando com juízes que os julgam mas que também sao tiranos.

Ahn?!!!!

Que idiotice pegada, por amor dos deuses...parece que os cérebros desta gente ainda nao comecaram a funcionar...deve haver um sítio qualquer escondidinho onde se lhes dá a corda mas ainda nao descobri onde se encontra.

Que fantochada, esta! Serei uma extra terrestre por nao conseguir engolir todo este lixo mental?!

Se calhar, sou eu quem anda desalmada...