Friday, September 30, 2011





Renatinha...linda demais...









Tao raro encontrar quem assim tenha uma sintonia tao colada a minha, um foco tao dirigido as mesmas dimensoes deste mundo.



No que diz respeito a nossa mente e alma, bem que podíamos ser gémeas.






Adivinhando-me os pensamentos e as faíscas que me saem do coracao, só visíveis "aqueles" que fazem parte do "Clube dos Fanáticos da Beleza deste e de outros mundos."




Eis o que me vai por dentro, através do texto recolhido por Renata Lobo:










"Há ocasioes em que nao consegues nada,



nem um sorriso, outras em que consegues tudo,



até cartas de recomendacao.



Nao te queixes, nem te gabes.



Era que os anjos estavam brincando de rapa-bota-tira-deixa.



E a tua história quotidiana é tecida ao acaso dos lances.



Até que sobrevenha o R do rapa-tudo.






(Aí entao os anjos te recolherao)."






Mário Quintana em "Sapato florido".































Thursday, September 29, 2011









Alimentos.






De toda a espécie, muito além do que se compra nos supermercados.


Sao eles que nos enchem por dentro e, consequentemente, se reflectem na realidade exterior por nós criada, exaltada e projectada.




Há os alimentos que colocamos dentro do corpo através da comida e da bebida que seleccionamos ou ingerimos, inconscientemente.


Há os alimentos energéticos compostos por tudo aquilo que nos rodeia (pessoas, sítios, paisagens, relacoes pessoais e profissionais,etc), os alimentos mentais que passam pelo que pensamos ou deixamos que penetre o nosso cérebro e aí contrua residencia fixa ou passageira.


Há os alimentos do coracao que se conseguem colhendo das árvores do amor em todas as suas inúmeras formas e os alimentos da Alma que sao uma osmose de todos os alimentados já citados e ainda os momentos de LUZ que apanhamos e sabemos digerir conscientemente.






Eis o que decobri que sao as minhas preferencias alimentares:


Para o corpo: muita água, chás e um "cappuccino" por dia sao essenciais ao meu equilíbrio físico, bem como vegetais e frutas das quais tenho sempre sede.






Para a mente: a minha prática de Ashtanga yoga, os livros que leio, a revista da "Oprah" ( a única que leio com a atencao e respeito dada a um bom livro), a poesia que como constantemente de todos os lados, os estímulos bonitos que eu selecciono de um ar poluído.

A criteriosa escolha dos pensamentos e crencas que me ELEVAM e a luta constante com aqueles que me deitam ao chao e me minimizam.








Para o coracao: os afectos verdadeiros que tenho com gente boa de todo o mundo. Eles existem na forma de paixoes variadas, romances de fazer chorar as pedras da calcada, amigos de todas as cores, nacionalidades e credos mas com um coracao branco em comum, família chegada que me ama incondicionalmente, os homens da minha vida que tanta dor e tanta felicidade me deram, os seguidores da minha carreira sempre apoiando os meus voos e dando-me a certeza que nao danco sozinha mas acompanhada pelo mundo inteiro.










Para a Alma: O AMOR, síntese de todos os alimentos acima referidos e tantos outros que nao sao possíveis de traduzir em palavras.






Coreografias/Escritas.



Escrever o meu próprio livro tem sido um processo de prazeirosa agonia (se é que a agonia pode proporcionar prazer), intermitentes momentos de profunda excitacao e pavor.


Pavor de nao ser capaz de concluir esta monumental tarefa, pavor de nao saber escrever, pavor de falar demais ou de menos, pavor de sentar-se frente ao computador e nao gostar do que me sai da alma. Pavor.


Li ontem a noite, num período de insónia construtiva, que a persistencia se tornaria o maior trunfo de alguém que embarca nesta viagem de escrever um livro. Concordo.


Se o primeiro impulso de quem tem algo a contar, fermentado, bem grávido de vida, pronto a dar-se a luz é o passo inicial desta empresa, a persistencia comeca a vir ao de cima como a qualidade que mantém o barco na sua rota, sem perder o rumo e sem se afundar.


Já havia feito a comparacao entre a escrita de um livro, assustadoramente definitiva, e o processo da coreografia de danca. Mais que nunca, confirmo este paralelismo.


Também na criacao de uma coreografia se comeca por um impulso de entusiasmo pela música e pelo tanto que dela se pode extraír através do movimento ainda nao inventado. Mas depois vem a persistencia de continuar, insistir, machucar o nosso ego ao ponto de ele adormecer e deixar que o trabalho de Deus tenha lugar e espaco para acontecer.


A mesma persistencia da escrita, quando já embalada e depois do fogo inicial extinto, se come quando coreografamos uma peca de danca. Persistir quando nos falta a inspiracao e achamos que fazemos tudo mal e que temos talento para ir distribuir panfletos para o metropolitano, vá lá...



Persistencia para acreditarmos em nós e nas nossas capacidades quando nos faltam os movimentos/palavras mais interessantes para dizermos o que queremos.


Persistencia para acreditar no AMOR, em vez de desistir face aos medos e fantasmas que nos visitam no caminho, em pleno mar aberto...


Wednesday, September 28, 2011






















"Aprendi o silencio a partir dos faladores, tolerancia a partir dos intolerantes,


e bondade a partir dos que nao a possuem.


Nao deverei ser ingrato para com estes professores."



Khalil Gibran


Tuesday, September 27, 2011




"O pensamento transcende a matéria."


George Bernard Shaw















































Post dedicado aos meus fans, alunos, públicos e seguidores de toda a espécie.



É com imensa gratidao e amor que dedico este post a todos aqueles que, de forma positiva ou negativa, seguem o meu percurso profissional, celebrando os meus exitos e vitórias como se fossem seus e RECEBENDO o meu trabalho de bracos e coracao abertos.

Sem voces, nada do que conquistei seria possível.


Que SONHEM para lá de todos os limites - os limites de outros e aqueles que voces inventam para si próprios - e que tenham a CORAGEM e a ENERGIA para CAMINHAR e pagar o preco pela realizacao dos vossos mais apaixonados desejos.

Perseveranca, inteligencia, teimosia e fé em voces mesmos e as ACCOES arriscadas que estao nas vossas maos tomar. O resto é jogo invisível do Universo.

Há que caminhar. E confiar no resto...




"Eu caminho vivo no meu sonho estrelado."

Victor Marie Hugo













"...Que minha solidao me sirva de companhia.

Que eu tenha a coragem de me enfrentar.

Que eu saiba ficar com o nada e, mesmo assim, me sentir como se estivesse plena de tudo."


Clarice Lispector


"The scent of a woman".



Recebo mensagens de todo o mundo, tanto de homens como mulheres, cumprimentando-me pelo meu trabalho e pela pessoa que lhes pareco ser.

Nao quero ser ingrata, nem tao pouco injusta face ao reconhecimento e carinho destas pessoas que me deixam com sorrisos profundos nos lábios.

Mas nao posso deixar de pensar: porque será que tanta gente tende a querer seguir um modelo (de gente, de artista, de estilo de vida, etc) quando cada pessoa é um universo único que se realiza a sua maneira, sem possibilidade de cópias nem clones?!


"Gostaria de ser forte como tu, bem sucedida como tu, linda como tu, dancando como tu, tendo a tua coragem, a tua inteligencia, o teu talento, a tua beleza, a tua...a tua...a tua..." - Dizem-me estes amáveis admiradores de todo o mundo. E o ego ainda residente em mim fica inchado mas a inteligencia que eu possa ter reage de forma bem mais interessante:


"Nao queiras ser como eu em nada. Procura-te a ti mesmo e aos teus dons e sobre eles vive e regozija!"

"Nao queiras dancar como eu porque a única danca, realmente, especial é aquela que tu podes tirar de dentro de ti e JAMAIS a que tentas copiar de mim."

"Nao deixes que eu espelhe as tuas insegurancas. Tu és muito mais do que o espelho de mim ou daquilo que tu imaginas que eu sou."


Estas sao as minhas respostas clássicas a quem tao, amavelmente, me escreve com elogios "a la mode" do "gostava de ser como tu".


Porque até eu ando a deriva, crescendo tao conscientemente que chego a assustar-me comigo mesma. Nao sigo modelos, senao o modelo da felicidade. Da MINHA felicidade que é pessoal e intransmissível, tal como a felicidade alheia.

Se pudesse ensinar ou dancar alguma verdade essencial, ela seria composta de passos e combinacoes de movimentos tao extraordinários que ninguém os pudesse seguir/imitar. Nessa impossibilidade, uma ou outra pessoa se encontraria a ela própria e se afastaria de mim com um aceno carinhoso e a gratidao que nao precisa ser expressa por elogios ou palavras.

E aí eu considerar-me-ía feliz. E bem sucedida!

Monday, September 26, 2011







A minha LINGUAGEM...




Levou me bastante tempo (eu considero-o "bastante", há quem o considere um instante) até SABER o que estou a fazer, REALMENTE, enquanto dancou, coreografo ou ensino danca.


Para mim, a danca sempre foi instintiva, forma nata de me manifestar no mundo. Nunca pensei, mesmo já exercendo a Danca Oriental como profissional, que tipo de LINGUAGEM eu perseguia dentro de mim. Simplesmente, era feliz fazendo o que mais amo.


O contacto com outros profissionais da Danca - na minha e noutras áreas - levou-me a seguinte conclusao que me parece deliciosa: A minha linguagem de DANCA é a LINGUAGEM das emocoes e da Alma.

Enquanto outros bailarinos e coreógrafos buscam o aspecto visual da DANCA e a estrutura formal/estética que também a compoe, eu busco SENTIMENTOS e ALMA.



Nunca foi esta conclusao mais clara do que quando estou em processo de coreografar novas pecas para ensinar. Que procuro eu em cada movimento? Que EXIJO eu de cada passo ou combinacao?



Emocao. VIDA. Um certo desinteresse pelo lado visual que é tao óbvio na Danca.



O mais curioso é verificar que, quanto mais me desinteresso do lado visual da danca e me centro no emocional e no espiritual, a DANCA cresce em todo o seu esplendor e BELEZA. Mas esta BELEZA passa a vir do interior de quem danca e nao dos padroes mais ou menos harmoniosos que o corpo desenha no espaco.




Existem os coreógrafos arquitectos, designers, pintores, amantes das formas exteriores e das proezas acrobáticas de qu
e o corpo humano é capaz. Eu sinto-me atraída pelo MOVIMENTO que busca a verdade da experiencia humana, o riso e o choro viscerais, o coracao e a Alma que a todos nos une.



MULHERES & DEUSAS: A CORAGEM DE VIVER...







Clarice Lispector ( e sou eu quem se cala!):


MULHERES & DEUSAS: A CORAGEM DE VIVER...:





Ah, como tudo é incerto. E no entanto dentro da Ordem. Não sei sequer o que vou te escrever na frase seguinte. A última verdade a gente n...

MULHERES & DEUSAS: cuidado com o que se come...



As serpentes ou a ARTE de nos irmos tornando/desabrochando em MULHERES...
Sigam o interessante link do fascinante blogue da Rosa Leonor Pedro:


MULHERES & DEUSAS: cuidado com o que se come...

Saturday, September 24, 2011































Eu, enquanto crianca (para onde tento sempre caminhar a fim de nao perder o fio a meada que, realmente, interessa), prenunciando uma cigana de todo o tamanho, selvagem por natureza e guerreira.

A minha mae conta que fui um diabinho com cara de anjo e que nao a deixei dormir, nem a ela nem ao meu pai que ía para a sala de tampoes nos ouvidos para tentar descansar um pouco antes de ir trabalhar, durante o meu primeiro ano de vida.










Nao tivesse eu esta natureza meio animalesca e já me tinha mandado ao Nilo!

Oh, o Universo sabe bem o que faz e porque o faz.





As imagens falam por si.





Um abraco a todos, com ternura e LIBERDADE.

Friday, September 23, 2011

CARMEN BIZET - ALESSANDRA FERRI -LAURENT HILAIRE


Fantástica Alessandra Ferri numa peca da danca que subverte lógicas já mortas.
Adorar este vídeo é pouco...

Semizorova and Ulanova rehearsing Swan Lake



Galina Ulanova, circa 1981, ensaiando "O Lago dos Cisnes" com Nina Semizorova, entao estrela em ascencao do Bolschoi.
A generosidade, o detalhe, a delicadeza com que a bailarina experiente passa o testemunho de uma grande tradicao de danca a uma nova geracao toca-me no mais fundo do meu coracao de bailarina nata.
Sem palavras. É com esta entrega e verdade que todos os PROFESSORES deveriam ensinar.

Thursday, September 22, 2011









Eventos a seguir:



1. Próximos eventos em Itália & Espanha (Outubro e Novembro, respectivamente)!





2. Primeiros Workshops para Profissionais e alunos de nível avancado no CAIRO

- uma experiencia única no berco da Danca Oriental.


Mais detalhes serao divulgados no meu blogue: www.joanabellydance.blogspot.com e nas minhas páginas do Facebook

( Joana Saahirah Lotado, Joana Saahirah II e Joana Saahirah Fan Page)



3. Novidades sobre os meus espectáculos no Cairo também serao brevemente divulgadas nas minhas páginas do Facebook e nos meus blogues.



4. Como nao posso dispersar-me demasiado, guardarei as minhas palavras escritas para a redaccao do meu livro e, por isso, nao actualizarei os meus blogues com a frequencia habitual mas estarei sempre PRESENTE! (com imensos pontos de exclamacao e reticencias que anunciam o infinito).









"O homem nao teria alcancado o possível, se inúmeras vezes nao tivesse tentado o impossível."


Max Weber



Sapatos vermelhos.


A minha relacao com o Tango tem sido turbulenta.

Tudo teve início com a minha viagem, no ano passado, a Buenos Aires. Embora fosse a trabalho na área da Danca Oriental, claro está, fiz questao de ver e escutar bom tango na cidade que o viu nascer e o meu desejo de entrar em mais um "sub-mundo" acabou por reinar sobre mim e os meus medos de dispersao.

Em Buenos Aires, perdi-me numa loja especializada em artigos de Tango e comprei os meus primeiros pares de sapatos próprios para esta danca. Gozei da minha primeira aula pelas maos de um belo professor argentino nas traseiras da casa de uma bailarina minha amiga e caí de amores (pelo Tango, nao pelo professor).


Isto de se ser apaixonada por muita coisa, simultaneamente, tem os seus custos. Financeiros, mentais, físicos, "you name it"...


Regressada ao Cairo, procurei aulas de Tango e lá fui eu com a curiosidade das criancas, aberta a todas as novidades de um mundo ainda por explorar. Vinda de uma Arte onde sou solista, orquestradora e o maior poder criativo em decisoes de movimentos, chegar ao Tango e ter de DIALOGAR com um parceiro foi um desafio. Tem sido, até agora...

Apercebi-me, desde cedo,que o Tango espelha as relacoes entre homens e mulheres ou o que elas deveriam ser.

Exceptuando as faccoes machistas que defendem que, no Tango (e talvez na vida) a mulher deve seguir o homem e abster-se de vontade própria, tenho aprendido a ESCUTAR o outro e a dar-lhe espaco para poder expressar-se e ser quem ele é. Nao que já nao o fizesse antes mas o Tango tem aprofundado essa vontade de APRENDER com um parceiro que traz uma visao própria da música, dos sentimentos e interpretacoes que ela lhe sugere.


As turbulencias chegam quando eu me aborreco com o parceiro que danca comigo por falta de estímulos criativos, quando o seu talento para a danca é nulo e estamos para ali a marcar passo como dois velhinhos num baile de colectividade de Carnaxide (nada contra o dito baile).

Aí desinteresso-me, desligo a ficha e comeco eu a comandar as tropas, como de costume.


Quando um dos professores de Tango do Cairo me disse que eu tinha de esquecer os meus impulsos criativos e apenas seguir o homem que danca comigo, "passei-me dos carretos"...desfiz-me em desinteresse e bocejos.


Desde quando sigo quem quer que seja e me abstenho dos meus impulsos criativos?!

"Isto do Tango nao é para mim, porra! " - Foi o que pensei, por algum tempo, até ouvir o canto da sereia, uma vez mais, e retomar uma ou outra aula onde apanho surpresas fantásticas e momentos de danca miraculosos, cozinhados em prazer profundo de voos e aterragens mansas.

Escutar o homem que danca comigo - quando ele sabe o que está a fazer - e surpreende-lo com a minha presenca e intervencao activa sem que isso o anule passou a ser o DESAFIO.

Quanto de mim estará na danca que os dois fazemos? E quanto dele? E como gerir o espaco de cada um e transformar um diálogo num monólogo de profundo entendimento e amor?!

Este parece ser o desafio do Tango e que belo desafio...


Sei que esta relacao entre mim e o Tango nao será fácil. E quem sou eu para virar as costas a um desafio?

Wednesday, September 21, 2011





"Renda-se, como eu me rendi.


Mergulhe no que voce nao conhece, como eu mergulhei.


Nao se preocupe em entender.


Viver ultrapassa qualquer entendimento."




Clarice Lispector


O chao já nao me chega...


Tantas perguntas e tao poucas respostas.

Porque será que a técnica de Danca Oriental e Folclore Egípcio que me foi ensinada pelos melhores mestres do mundo, pelos meus músicos e audiencias egípcias parecem-me já muito limitados?


Porque será que, ao dancar, quase rejeito o que aprendi e busco algo que ninguém me poderia ter ensinado senao eu mesma, recebendo a informacao sagrada de uma qualquer parte amorosa do Universo?


Porque será que este chao já nao me basta nem satisfaz?

Porque será que DANCAR deixou de ser a busca do movimento e passou a ser muito mais a busca de mim mesma (através do movimento a ser nascido, a cada momento)?


Contento-me com as perguntas...



Quando a religiao e o futebol sao o ópio do povo!



Diz-se na minha terra natal, Portugal, que o futebol e a religiao sao o ópio do povo ou, por outras palavras, as evasoes por excelencia que este utiliza para esquecer os problemas face aos quais se sente impotente e vulnerável.



Curiosamente, nunca no Egipto vi tanto apego ao futebol e a religiao. Sim, sempre o houve.

Mas neste período pós-revolucionário ambas as evasoes populares atingem picos de popularidade e adiccao assustadores.


Eu que nao vejo televisao, fico sempre a saber das notícias locais em todos os detalhes que se relacionam com o futebol e com a religiao. Nao preciso procurar informacao porque ela está em todo o lado, na boca das pessoas, no eco dos rádios, na banda sonora constante desta cidade castigada demais, já com fome de amor e humanidade.




Pormenores de beleza



"made in" Cairo.









Nao se entende como o transito do Cairo parece aumentar de dia para dia, como podemos passar uma hora num percurso que levaria 5 minutos a percorrer (caso nao existissem estas enchentes de carros, motos, "tok toks", burros, camelos, pessoas e afins) e como todos estes taxistas colam os seus ouvidos ao som da recitacao do "Corao" ou de um cheique que lhes diz o que é certo e errado.



Tudo isto ultrapassa o meu entendimento, como tanta outra coisa estranha que me passa ao de leve pela pele, tendo deixado de me incomodar, evoluído da irritacao que me causava ao assombro do fascínio com que agora me beija.









Olho os traseuntes que passam por mim, protegida "do mundo" pelo táxi onde viajo de casa até a um hotel de 5 estrelas em Heliópolis. A viagem será mais longa do que previa e chegar atrasada (coisa que detesto) parece-me mais certo do que dois mais dois serem quatro.



Enconsto a cabeca e preparo-me para dormir porque, apesar de toda a sacanice que por aqui anda, o Cairo ainda é a única cidade em que posso adormecer sem medo num táxi desconhecido. Nao só serei entregue, sa e salva, ao meu destino como sei que o taxista terá o cuidado de me vigiar o sono e nao levantar o volume do rádio para nao me perturbar o sono.






Quando me sinto no limbo enevoado entre o desperto e o adormecido, escuto uma imensa gritaria do lado de fora do táxi e reparo que estamos parados, atrás de uma fila infinda de carros.



O taxista explica que está um carro, vindo em sentido contrário e proíbido ao transito, insistindo em passar por aquela estrada, apesar de saber que o que está a fazer é errado e está a bloquear a passagem de muitos outros carros.






- Sabe, menina...as pessoas estao muito cansadas e acabam por nao ter paciencia uns com os outros. Mas, as vezes, basta uma palavra simpática e calma para resolver o maior conflito.



Quer ver?! - Disse-me o taxista, fitando-me através do espelho retrovisor.









Saiu do carro e dirigiu-se ao condutor teimoso que insistia em gritar com toda a gente e nao sair do mesmo sítio, nao obstante o facto de ele ir em sentido proíbido.



O "meu" taxista falou com ele por breves instantes e sorriu.






Quando regressou ao "nosso" táxi, o condutor conflituoso já havia feito marcha atrás, permitindo que os carros comecassem a circular livremente.



Ao passar por ele, o "meu" taxista acenou-lhe e sorriu, uma vez mais ao que o outro senhor respondeu com outro aceno e sorriso.






- Ah, ele só precisava de ouvir uma palavra carinhosa. Disse-lhe que sabia como ele estava cansado e enervado mas que também podia ser simpático e atencioso com as outras pessoas. Tao simples, já viu, menina?!- Disse-me o taxista.









Sim, é simples. (e adormeci coberta pelas asas do meu anjo taxista).






Tuesday, September 20, 2011




Dos clichés e *mais outros demónios.




Nao aprecio clichés, excepto se me fizerem rir ou confirmarem verdades que eu acabo por descobrir por mim própria. Hmmmm...dito assim, parece que, afinal, gosto de certos clichés. Contradicoes, contradicoes multicolores e a meios tons impossíveis de definir.




Ao receber mais uma aluna em minha casa, aqui no Cairo, fico perplexa com a sensacao de que os outros me vejam como sabendo muito e eu me veja como sabendo muito pouco.


Cada vez mais, adoro "ensinar" profissionais (a maioria das bailarinas que vem ao Cairo estudar comigo em aulas particulares sao já profissionais trabalhando em todo o mundo) porque eles me colocam tudo em perspectiva.




Viver e trabalhar no Cairo como bailarina tem sido a escola de uma VIDA, isso é certo. Se juntarmos a esse facto a minha curiosidade insaciável e a minha mente hiper activa, entao acabamos com uma aprendizagem em velocidade anormal, com uma profundidade também ela anormal.


Nao posso estranhar se o meu mundo for visto, pelos que estao de fora dele, como algo rico e com imenso a ensinar. Isso deixa-me feliz e até um pouco lisongeada. Mas, porque será que tenho cada vez mais perguntas e menos respostas?! E porque será que tenho na minha frente um aluno ávido de aprender comigo e a única coisa que me apetece dizer é: "Que tens TU a ensinar-me?"




Talvez se deva ao facto de ser melhor aluna que professora. Em tudo. Por mais que outrém me veja como professora, eu insisto porque SIM em ser aluna. E assim cresco, como professora sem a certeza de mim nem das minhas próprias certezas. Penso que é isso que os alunos vem beber a minha casa, as minhas aulas, a minha ausencia de arrogancia.


E assim aprendo, a velocidade da luz...aterrando numa terra inominável onde o SABER se confunde com o SER. E aí, cheguei. Como professora e como aluna. E já nao quero ser nem uma nem outra, apenas Eu em toda a ignorancia abencoada de quem já aprendeu


"alguma coisa"...











Porque será que, ao comparar a fotografia da minha sobrinha Alice e a imagem das framboesas, nao consigo discernir quem é quem?!


Adrenalina (s).



Vivo por e para elas.

A adrenalina de uma boa gargalhada, tao comum aqui nesta tresloucada cidade do Cairo.

A adrenalina que a música e a danca me provocam, porque requerem mais de mim do que eu mesma.

A adrenalina de me apaixonar, constante e exaustivamente, por tanta gente e coisa fascinante.

A adrenalina da queda e da subida, de saber que nao existe topo de montanha sem vale profundo e escuro onde caímos para aprendermos as licoes grandiosas da

HUMILDADE e da COMPAIXAO.


A adrenalina de nao saber o que me espera ao virar da esquina, sabendo - no entanto...- que aquilo que me espera ao virar dessa esquina é o que tem de ser para meu caro desconforto, crescimento e deleite meio alucinado. Como quem sorri a meio da mais estridente crise de choro.



"O que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesmo."


Clarice Lispector

Saturday, September 17, 2011







Eu, traduzida nestas palavras que se seguem:





















"Meu destino é viver na arena,

dancando entre leoes famintos.

É um perigo, eu sei.


Porém, nos intervalos das lutas, sorrindo, tomo sempre vinho rouge no gargalo colorido das garrafas de cristal.

Talvez até um dia eu acabe morrendo na arena, quem sabe.

Acontece que, antes de "morrer" na arena, eu VIVO na arena e isso faz toda a diferenca. Prefiro ser um gladiador ensanguentado a ser um boi feliz!

Meu coracao precisa de sangue, nao de capim."

Edson Marques






Texto enviado por Renata Lobo que, assim sem querer, me arrancou lágrimas felizes dos olhos.

Há muito tempo que nao lia um texto que tivesse TANTO a ver comigo. Por alguma razao, a Renata le-me os pensamentos e le-me cá por dentro que é a soma de muitas mais belas coisas do que somente pensamentos. Desta telepatia estranha eu nada tenho a dizer.



Do amor, criatividade, delicadez e generosidade com que ela me anima o coracao, só posso dizer: Grata.



Linda, linda Renata...alma gémea minha de uma espécie tao bonita que eu nem preciso definir.





"...porque tu sabes, que é de poesia minha vida secreta!" Renata lobo: ANOTAR NA AGENDA MENTAL






Que eu saiba as minhas asas, ainda que com medo. Que, ainda que com medo, eu avance. Que eu não me encabule jamais por sentir ternura. Qu...

"...porque tu sabes, que é de poesia minha vida secreta!" Renata lobo: “A experiência amorosa exige sacrifício. Não se am...



Porque o Amor se basta a si mesmo...tarefa eterna de desconstruir o ego que tanto nos controla e aprisiona.
Lindo, LINDO texto! Mais uma vez, rendo-me a esta linda cabecinha da Renata que parece ler-me os pensamentos e aqui espraiar, sem reservas, tudo o que me vai por dentro.
Sigam este caminho:


"...porque tu sabes, que é de poesia minha vida secreta!" Renata lobo: “A experiência amorosa exige sacrifício. Não se am...: “A experiência amorosa exige sacrifício. Não se ama para ser recompensado. O amor é sua própria recompensa. Não resisto em citar Drummond ...


Decepcoes literárias e regresso as origens.







Quem diria que a obra prima de um dos meus escritores favoritos - Gabriel Garcia Marquez- poderia desapontar-me ao ponto de insistir ler a dita cuja mais por teimosia de burro do que por prazer?



Já li quase tudo do G.G.M. e adorei cada um dos livros em que peguei como se adora uma fruta doce numa tarde quente de Verao. Quando, entusiasticamente, pego no "Cem anos de solidao" do Prémio Nobel da Literatura, acabei por bocejar de aborrecimento e sentir que carrego - tal como o supra citado burro - uma carroca pesada as minhas costas.



Eis a questao: teimar em terminar a leitura do livro, apesar do torpor e desinteresse que me causa ou colocá-lo de lado, ignorando as críticas mundiais que o descrevem como a grande obra prima deste autor maravilhoso?!




Se bem que as minhas leituras sejam caóticas - com uma ordem interior que é a única que me interessa - errantes e vagabundas, viajando de estilo em estilo e de idioma em idioma, existe esta regra que eu sempre mantive: se um livro me aborrece para lá da sua metade, entao eu abandono-o. Nao sem um sentido de culpa estranho...




Ao mesmo tempo, delicio-me por enterrar os olhos e a mente num clássico da Filosofia : "Fédon (ou Acerca Da Alma)", de Platao.

Filosofia grega no seu melhor, indo ao encontro de um grande amor meu que, nao fosse a paixao pela Representacao, me havia de ter tornado uma Senhora Doutora Filósofa.



Aqui nao há como aborrecer-me porque a BOA filosofia provoca-nos como pimenta fresca, acorda o cérebro das suas estrututas usuais já a cheirar a mofo e estimula-me de forma global (mental, física, emocional...). Como puro exercício da inteligencia que é, a Filosofia encanta-me...

Encontrei este livrinho precioso nos saldos da "Bertrand", aquando da minha última visita relampago a Portugal. Assim como a boa poesia, a filosofia é para ser comida e bebida com a avidez dos apaixonados.

Delicioso.


"...porque tu sabes, que é de poesia minha vida secreta!" Renata lobo: Inclassificáveis!!




Querida Renata, lendo-me o pensamento...sigam o link:



"...porque tu sabes, que é de poesia minha vida secreta!" Renata lobo: Inclassificáveis!!: "Sorrir com os olhos, falar pelos cotovelos, meter os pés pelas mãos. Em mim, a anatomia não faz o menor sentido. Sou do tipo que lê um toq...
















































Convencao de Danca Oriental em Miami!











Um dos privilégios de ser artista e professora convidada em eventos espalhados pelo mundo inteiro passa por conhecer outras culturas, mentalidades, sabores, aromas, PESSOAS!


Claro que o trabalho em si e a aceitacao que este tem por parte dos alunos e das audiencias que me seguem continua a ser o meu alvo a atingir e o maior prazer de todos mas VIAJAR geográfica e emocionalmente por paragens distantes dá-me uma felicidade imensa.




Miami foi um caso a parte nesta lista de privilégios porque, por atrasos de voos e contratempos atrás de contratempos, acabei por fazer duas viagens longuíssimas e nao ter tempo para conhecer Miami. Foi chegar, trabalhar e vim embora sem tempo para respirar.




A esponja curiosa e apaixonada que há em mim nao me desapontou, no entanto...assim que cheguei a Miami - a meio da noite, com o fuso de horário todo trocado e depois de cerca de 30 horas de viagem de uma só assentada - pude deliciar-me com a humidade sensual e o calor que chegam de Cuba, ali tao perto...




Aproveitei todo o carinho dos alunos e do público que me aguardava com imensa expectativa e alegria e ainda disfrutei de uma bela tarde de chuva londrina, aquando em transito pelo aeroporto de Heathrow, Inglaterra.




Cada vez mais me convenco que parte de nós, da nossa imaginacao e vontade de sermos FELIZES, o degustar de cada momento de vida que nos é oferecido sem garantias de um amanha.




Quando fiquei "presa" no aeroporto de Londres, esperando por um aviao que só viria daí a 8 horas, nao podia imaginar que esse tempo seria ocupado com o sabor da minha primeira chuva inglesa, tao bela e única em carácter como a descrevem escritores e romanticos.