Friday, March 29, 2013

"El Duende" por García Lorca

O mais bonito do sucesso (e da infinita escadaria que o compõe) passa, para mim, por encontrar curvas de aprendizagem que jamais cessam: curiosidade que jamais se sacia: perguntas que se multiplicam: uma certa maturidade (incerta porque a maturidade é do campo da incerteza consciente) que entende os limites do Entendimento e, por isso, aceita o Mistério, o Não Conhecido, o ponto de interrogação insolúvel como parte natural, bela e até desejável da Vida. A Esfinge, Prometeu e tantos outros mitos falam deste Não-Falar, do valor de não conhecer, da inevitabilidade de se ficar de boca aberta (coração e mente abertos) face à imcompreensão do sentido da Vida.

Dentro do pouco que nos é dado a conhecer encontro na observação e poder de relacionamento de dados um dos meus maiores trunfos. Ter a curiosidade e a humildade para estar ATENTA aos outros e a tudo - sem classificar "importante" e "não importante" - e assim encontrar elos de ligação invisíveis à maioria, pontes de estrelas minúsculas que compõem o "puzzle" e nos dão acesso à entrada VIP da nossa Arte e até mesmo da Humanidade.

Assim foi que esbarrei, uma vez mais (este "affair" já é bastante antigo), com o DUENDE, esse toque mágico que preside a uns e não a outros, a estrelinha que faz com que tenhamos o palco e o público na mão - ainda sem que essa seja a nossa intenção.
Costumo dizer que tenho de ser capaz de conter a música, o palco e o meu público dentro do meu peito ou na palma das minhas mãos. Segurá-los, acariciá-los, vê-los dentro de mim, mastigá-los e digeri-los, fazendo-os renascer comigo. Sem esta osmose a Dança-Duende não acontece.
E que maravilha ter encontrado (na Andaluzia, Espanha - onde mais poderia ter sido?!) uma pérola de García Lorca sobre esta benção tão minha que é o DUENDE?!


Aqui fica o link do texto inteiro: http://www.lainsignia.org/2001/octubre/cul_068.htm
e um excerto do mesmo:

"Entonces la Niña de los Peines se levantó como una loca, tronchada igual que una llorona medieval, y se bebió de un trago un gran vaso de cazalla como fuego, y se sentó a cantar sin voz, sin aliento, sin matices, con la garganta abrasada, pero...,con duende.
Había logrado matar  todo el andamiaje de la canción para dejar paso a un duende furioso y abrasador, amigo de los vientos cargados de arena, que hacía que los oyentes se rasgaran los trajes casi con el mismo ritmo con que los rompen los negros antillanos del rito, apelotonados ante la imagen de Santa Bárbara.
La Niña de los Peines tuvo que desgarrar su voz porque sabía que la estaba oyendo gente exquisita que no pedía formas, sino tuétano de formas, música pura con el cuerpo sucinto para poder mantenerse en el aire. Se tuvo que empobrecer de facultades y de seguridades; es decir, tuvo que alejar a sus musas y quedarse desamparada y que su duende viniera y se dignara luchar a brazo partido. ! Y cómo cantó!"

García Lorca - citado em "Fama y soledad de Picasso", John Berger

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