Friday, March 1, 2013

Rústica.

 Encontro-me - mais ou menos - na Fundação Calouste Gulbenkian assistindo a um magnífico concerto de música clássica (peças de Haydn, Schubert e Mozart). Tento repelir o cheiro enjoativo a nafetalina, cigarros e perfumes doces que as senhores e os senhores da "high society" lisboeta insistem em carregar para onde vão (a par e passo com impecáveis modos mortos e uma expressão achinesada de quem não vê muito, sente nada e vive com salamaleques para não sujar as mãos de terra).
Sinto-me. Sinto-me descontextualizada: uma rústica será sempre uma rústica - especialmente quando disso se orgulha (que é o meu caso).
Enquanto escuto o clarinete aflito que Mozart sonhou no século XVIII escrevinho no programa do concerto - mesmo às escuras - as seguintes palavras:

" Rústica.
Com os pés bem descalços e com os pés bem assentes no chão.
Assentes no chão: no."
E é isto, basicamente, que quero ser quando for grande.

P.S.:  "A música é o silêncio entre as notas."

             Claude Debussy

No comments:

Post a Comment