"Quem busca sempre encontra" - diz o povo. Talvez tenha razão.
Com o Saber multiplicam-se as questões e com elas chegam as respostas em permanente evolução - provenientes dos locais mais inesperados.
Pouso-me a um canto, suada e exausta. Alterno os momentos de felizes achados (de movimentos, ideias, sentimentos, um instante congelado em coreografia que ganha vida por ser humana)com o relativo desespero de não me surpreender a mim mesma.
Surpreender-me a mim mesma: a mais desafiante das tarefas.
Não há crítico mais feroz (para comigo) do que eu própria.
Fito a chávena de chá (já frio por ter sido esquecido) ao meu lado, o espelho diante de mim atirando-me à cara a minha fragilidade-humanidade.Humana.Respiro fundo e tento uma vez mais e outra: outra: outra. Outra. Vez. Vezes.
Perco-me a conta e a conta do tempo; tempo sem conta porque é no âmbito da Eternidade (imesurável pelo relógio dos ponteiros amestrados) que a ARTE acontece.
Exijo-me mais que ontem - sempre. E exaspero-me por isso enquanto me alegro pela evoluação que tal luta gera. Há um tanto (que tanto!) de masoquismo no Artista.
"A inspiração está no sentir humano que vive ardentemente o sabor da vida e se expõe ao ridículo para a viver, o que luta e sofre e sente o abandono da solidão e das relações erradas e o desamparo do ser."
Abandono-me ao momento - ainda que o tenha de preservar, marcar, memorizar, sedimentar. Sei que esta é uma batalha inglória porque já a perdi (ou ganhei, dependendo da perspectiva) antes dela ter começado. Apaixonei-me pelo trabalho de coreografia e sei,no entanto, que a Dança Oriental é da natureza da Improvisação, do momento irrepetível. Irrito-me um pouco com estas questiúnculas e sigo adiante com a paz mansa de saber que é este o meu Destino.
"Não sei responder se há uma dança mais feliz que outra. O que é maravilhoso na dança é que é sempre "no momento" e não existe mais nenhum momento quando se está naquele. Na dança não há ontem nem amanhã, só há dança. É fabuloso, é sempre única, não se pode repetir. Nunca se sabe o que poderá ser reconstituído de uma apresentação de dança. Extraordinário é o teatro,o público, as pessoas sobre o palco, a música, mas é tudo único de cada vez."
Cristina Peres, "Um país imenso", entrevista a Pina Bausch ("Actual/Expresso", 9 de Janeiro de 2003)
P.S. E redescubro - depois de tanto teimar em buscar "lá fora" - que as coisas REALMENTE especiais que produzo são produto do mergulho em mim mesma (na minha finitude, limitações e ilimitações) e no que apenas eu posso trazer ao mundo.
Custa ser eu mesma pelo arriscado da tarefa mas, ainda assim, tal evento revela-se uma inevitabilidade cujo resultado me entusiasma e me faz orgulhosa. Assim sendo: continuemos: mergulhando no precipício (por vezes escuro, por vezes luminoso) do nosso Ser.O que desse salto resultar é o que tem Arte porque TINHA-TEM de SER: AGORA.
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