Os Mestres encontram-se onde menos se espera. Quantas vezes já me leram/ouviram dizer isto?!
A paisagem está lá para quem a quiser ver e a Verdade ressoa no peito de quem a procura (infantil-amorosamente).
Entre as incontáveis Lições de Vida que tenho acumulado na cesta das minhas experiências (pessoais são sempre, para mim, profissionais e vice-versa), destaco o contacto com bailarinas de todas as idades, desde os verdes 5 anos de idade até aos 80 anos e as conclusões que dessa observação têm saído.
Quando faço algo - seja o que for - estou lá a 100%. Se escuto: escuto a 100%. Se olho: olho a 100%. Se estou PRESENTE: estou presente a 100%. Dessa maneira, posso perscrutar no âmago do que está para além dos olhos e COMPREENDER os fios de ouro divino que nos unem, subtil e matematicamente.
Uma das observações que tenho escritas num dos meus blocos de notas (que sempre levo comigo, vá onde for) é a constatação de que algumas das melhores bailarinas que tenho julgado em competições são "mais velhas". Por "mais velhas" considero as idades que vão dos 50 aos 80 anos, idades que a maioria das sociedades já considera inacessíveis ao exercício profissional (até amador) da dança.
Recentemente, tive o prazer - e, confesso, a surpresa - de ver uma dessas "bailarinas senior" (designação com a qual não simpatizo minimamente mas que é usada na maioria das competições mundiais de Dança Oriental) a brilhar como uma verdadeira virtuosa num palco povoado de miúdas, mulheres jovens de maquilhagem e cabelos perfeitos e um sem número de lugares comuns fora dos quais rara bailarina se atreve a ir.
A esta Mulher (dos seus 70 anos) eu dei pontuação máxima; não por simpatia ou compaixão; nem tão pouco porque possuía uma enorme maturidade (associada à idade) ou "carisma" (palavra erroneamente usada, na maioria dos casos com um sentido condescendente ou pejorativo).
Dei-lhe a votação máxima porque vi uma bailarina no seu mais alto estado de criatividade, vitalidade, qualidade técnica e artística; fiz o que pude para que fosse ela a ganhar porque, OBJECTIVAMENTE, ela o merecia. Claro que as vozes patriarcais se levantam e me questionam: mas que futuro tem uma bailarina profissional de 70 anos? Porque não deste a oportunidade a uma jovem bailarina que tenha, à partida, mais tempo de carreira pela frente?
Dei-lhe a votação máxima porque vi uma bailarina no seu mais alto estado de criatividade, vitalidade, qualidade técnica e artística; fiz o que pude para que fosse ela a ganhar porque, OBJECTIVAMENTE, ela o merecia. Claro que as vozes patriarcais se levantam e me questionam: mas que futuro tem uma bailarina profissional de 70 anos? Porque não deste a oportunidade a uma jovem bailarina que tenha, à partida, mais tempo de carreira pela frente?
A resposta (não) é simples: dou primazia à QUALIDADE, primeiro que tudo. Interessa-me pouco a idade, a cor do cabelo, a raça, religião, lindeza de maquilhagem e outros acessórios. Valorizo o TALENTO, o SABER, a ORIGINALIDADE e a EFICIÊNCIA na interpretação de uma música e a forma como me tocam o coração (ou não). É pela ARTE e pelo BRILHO (interior*) que me prendem e não pelos anos que, "à partida", se tem pela frente.
Existe também outra razão pela qual apoio e me emociono com Mulheres "mais velhas" que teimam a cerrar os olhos e ouvidos ao preconceito e à sociedade que as coloca à beira do prato assim que passam "do prazo da juventude idolatrada". É preciso carácter, coragem e coluna vertebral para se expor a críticas, ao ridículo que outros projectam nelas e à comparação - nem sempre simpática - entre elas e as suas parceiras mais jovens.
Beleza pura. Creio que são essas as únicas palavras que me ocorrem quando penso na forma como a Dança Oriental cresce, amadurece e se engrandece conforme uma Mulher vai vivendo, acumulando anos e experiência de Vida. Um novo entendimento, enraizamento e virtuosismo de Dança acontece a cada ano que passa. Basta ver alguns dos ícones da Dança Oriental Egípcia (Fifi Abdou, Nagwa Fouad, Souhair Zaki, Azza Sheriff, só para citar alguns) para percebermos o quanto melhoraram - como bailarinas e mulheres - com a idade.
Ao contrário de outras danças (contranatura) que exigem um esforço não orgânico de músculos e articulações, esta dança mágica* (não é por acaso que assim a denomino) pode ser praticada (e apurada) até morrermos. Caso o nosso corpo esteja saudável e a sua mobilidade natural não tenha sido comprometida por alguma lesão ou doença, podemos CRESCER com esta dança e dentro dela evoluirmos como bailarinas/pessoas.
O Caminho é longo e ASCENDENTE (ao contrário do que insistem em dizer-nos).
Ao contrário de outras danças (contranatura) que exigem um esforço não orgânico de músculos e articulações, esta dança mágica* (não é por acaso que assim a denomino) pode ser praticada (e apurada) até morrermos. Caso o nosso corpo esteja saudável e a sua mobilidade natural não tenha sido comprometida por alguma lesão ou doença, podemos CRESCER com esta dança e dentro dela evoluirmos como bailarinas/pessoas.
O Caminho é longo e ASCENDENTE (ao contrário do que insistem em dizer-nos).
A forma como pressionam as bailarinas profissionais a pararem da dançar em público quando começam a atingir o pico da sua carreira - e, não coincidentemente, da sua condição de Mulher - é estratégico e castrador. Quando a bailarina-mulher se encontra a poucos passos do cimo da montanha, gritam-lhe lá de baixo:
"- Já chega.. Não tens idade para estares no topo dessa ou de qualquer outra montanha...desce...quem pensas que és? És uma velha inútil e é ridículo expores o teu corpo passado do prazo em público. Desiste. Dá o lugar às jovens (que pouco ou nada sabem e que ainda alimentam inseguranças - sendo, portanto, fáceis de manusear e controlar)."
Sendo eu uma jovem bailarina - aparentemente ainda longe das idades que defendo - sei que, um dia (se Deus quiser e se viver até lá), serei uma dessas Bravas Mulheres. Elas são EU no futuro; a coragem que têm em desbravar um mercado que insiste em fechar-se na sua cara dará FRUTOS: os frutos que eu e outras colegas da minha geração poderemos colher mais tarde. Por isso as admiro, apoio e lhes agradeço.
Elas são as mães, as filhas, as irmãs, as esposas e as amantes; são o meu espelho, as que cortam o capim desta selva para me abrir o caminho a mim e a tantas outras bailarinas. Elas são Guerreiras e Destemidas: as eternas adoradoras da DEUSA que sabem perfeitamente do carácter ETERNO da Dança Oriental.
O culto da Juventude e as campanhas subtis (ou escancaradas) para ridicularizar mulheres maduras que se atrevem a VIVER a sua criatividade, sabedoria, sexualidade e outros afins ainda incomodativos são os meus ídolos, aliadas no Caminho do Amor-Dança* Eterno, Rainhas da Alma da Dança Oriental - essa Alma que não reside nas aparências mas na forma como num só passo se pode despertar a Alma do Mundo.
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