Saturday, August 11, 2012

Janelas abertas:



Estes últimos tempos têm sido altura de muitas "notas internas". A relativa imobilidade física (exigência óbvia de quem está a escrever um livro) tem, como tudo, o seu lado positivo. Imobilidade=silêncio. Silêncio=espaço para reflexão e sentimento.

"Reparei que"...multiplica-se até à exaustão e é bom que assim seja. A viagem solitária da escrita - tão solitária que assustaria o Eremita* - é desconcertante, excitante e, frequentemente, exasperante. Muito "ante", portanto. 

Um dos benefícios colaterais desta louca jornada  é entrarmos tão dentro de nós que acabamos por nos conhecermos mais profundamente do que julgávamos ser possível. 
Como bailarina, professora e coreógrafa de Dança Oriental e Folclore Egípcio, tenho visto esse processo de auto-conhecimento como algo inerente a toda a CRIAÇÃO artística mas alegro-me de REPARAR que existem outras Iniciações próprias de quem é profissional ou louco o suficiente (eis o meu caso) para escrever um LIVRO. 

Reparo do que de Inconsciente e auto-biográfico a ESCRITA possui. Creio que se tentam resolver fantasmas do passado através das palavras e histórias que se opta por usar.
Auto-psicanálise...hmmm...perigoso e interessante.

Ainda em registo freudiano, REPAREI que só consigo escrever de frente para janelas abertas. Paredes, prateleiras, armários ou o mais que seja de lindo não serve. Tenho de escrever diante de janelas abertas. JANELAS. ABERTAS.


A minha progenitora, nobre representante das minhas raízes rurais, líder do Partido Secreto dos Anti-Diplomáticos,  polémica poetisa popular a atirar a Bocage e amante de neologismos que lhe caem da boca ao pequeno-almoço ("o teu pai andava a traquinar com os copos e empandeirou-me a cozinha toda...") diria que se trata de "mariquices". Pode ser que sim. Ou não.

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