A minha sobrecarregada e abençoada cabecinha viu os seus fusíveis quase queimados durante a viagem de regresso ao Cairo. Os aeroportos sempre foram um dos meus sítios favoritos e território fértil para ideias, organização de ideias, objectivos e agenda interna e externa. Há qualquer coisa nesse estado de mobilidade e transitoriedade que eles representam que me inspiram.
Assim sendo, sentei-me com o meu - caríssimo ao ponto da roubalheira - cappuccino e pensei:
"O que tenho aprendido de Dança Oriental com os egípcios?
Entre muitas coisas importantes e desconhecidas da maioria das bailarinas-estudantes- profissionais ou amadoras do mundo inteiro, encontra-se algo simples mas ESSENCIAL à compreensão desta Arte:
Existe na forma egípcia de SER/DANÇAR uma fluidez, "laissez faire", serenidade e languidez antigas que tende a faltar aos estrangeiros (demasiado habituados/programados para FAZER-FAZER-FAZER e ainda PRODUZIR mais um pouco, jamais sentindo o MOMENTO presente.
É como se os egípcios se permitissem ESTAR no AGORA sem ânsias de chegar ao amanhã, preocupações com o passado ou com expectativas do que outros pensam sobre eles.
Aceitam e praticam a PAUSA, o SILÊNCIO e o corajoso PROLONGAR de um dado MOMENTO que se queira eterno, simplesmente porque o SENTEM.
Nada mais valioso ou raro do que isto.
Esta tranquilidade - que, MUITO frequentemente, roça o desleixo, como a maioria das "bailarinas" egípcias actuais podem comprovar - oferece-lhes uma vantagem secreta em relação aos ocidentais:
eles DISFRUTAM/RETIRAM PRAZER GENUÍNO do que SÃO e SENTEM no momento presente e isso reflecte-se na sua DANÇA.
P.S. Impossível separar a dança egípcia do povo que a originou (o egípcio). Para compreender a FUNDO a dança, há que compreender a FUNDO o seu povo.
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