Tuesday, December 4, 2012

Nova coreografia de "Il Fan" (Mohamed Abdel Wahab)


É mesmo assim que me sinto sempre que tenho de coreografar uma nova peça musical (ver imagem da Maria Merdaleja):

O conhecimento, a experiência e o sucesso não facilitam as coisas - creio que as dificultam. Quanto mais se sabe, mais se sabe que pouco - ou nada - se sabe e isso traz insatisfações, inseguranças e medos sempre novos e mais frescos do que uma alface acabada de colher numa manhã de orvalhos.

Arranco os meus próprios cabelos enquanto coreografo duas novas peças para ensinar em Londres (núbia e  temática de Mohamed Abdel Wahab, o maior compositor egípcio do século XX); zango-me comigo mesma, exaspero-me (quem me manda a mim teimar em ter nascido artista), luto contra o meu ascendente capricorniano (autor de tantas mazelas e exigências) e percebo que a CORAGEM de DECIDIR a a OUSADIA de CORRER RISCOS é essencial no trabalho de coreografia. Não é uma questão de saber que movimentos executar mas sim saber quais ESCOLHER, em detrimento de outros. 
Quero ir mais céu: para não variar.
Vejo o tema musical "Il Fan" diante de mim - tal touro diante do toureiro - e tento agarrá-lo pelos cornos.
A coreografia começa com a descida do Corpo (cuja Alma tem mãos que tocam os Céus) à Terra e com o seu reverso. "Il Fan" = A ARTE. Reunir as pecinhas de lego de que nos compomos (terra, água, ar, fogo, raízes e folhas ao vento, sem destino - partida ou chegada).
De repente, torno-me fantoche e movo as ancas ao sabor de cordelinhos de puxo no tom da música - como se não tivesse vontade própria (serva eterna da música) e a música fosse eu mesma. 
Transformo-me na música - confundo-me com ela, entrelaço-me nas suas pernas e adormeço no seu colo. A divisão entre música e corpo desaparece - como a divisão entre o espírito e o corpo. 
Não se distingue a dança da bailarina - são (novamente) UM SÓ SER.
E bato com a cabeça na parede mais umas quantas vezes (quem me cura desta epidemia da severa auto-crítica e da insaciável insatisfação?!).
Tenho CORAGEM, num só fôlego recuperada. Há-de nascer: hei-de nascer-me através desta coreografia. Acabo sempre por CONSEGUI-LO*!
Sinto-me grata e irritada, em antecipação: HUMANA, afinal. Será desta condição - Humanidade - que se fazem todos os Artistas?
P.S. Preferia ser sensata, mental e um pouco mais arrogante. Não consigo: não. Consigo.

Li esta tábua de salvação algures:

"A mais alta das torres começa no chão" (good to remember!).

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