Saturday, December 22, 2012

Regresso a um Velho Amor: Irlanda.

Depois do Espectáculo no Mágico Castelo de Charleville (Tullamore, Irlanda)


Regressar à Irlanda foi muito mais do que mais uma fantástica viagem de trabalho. Sei que digo isto sobre todos os países que visito mas aqui vai a verdade comesinha: AMO a IRLANDA e os IRLANDESES. Sinto-me ligada a este país de formas que não posso - nem quereria - explicar. O Intelecto encontra-se arrogante, sobre-estimado. A maior Inteligência é assumir - talvez, presumo, intuo...- que existem realidades para se SENTIREM, VIVEREM mas jamais compreenderem. Porquê querermos ser todos uns "Prometeus" e assim roubarmos - estupidamente - o FOGO do Conhecimento aos Deuses quando a nós, HUMANOS, nos foi dada a MISSÃO tão mais desafiante que é, simples e complexamente, APRENDER a VIVER?!

Eu e o castelo de Charleville (com seus fantasmas amorosos e fonte Divina de Inspiração por baixo dos seus pés).

Tullamore (castelo encantado de Charleville) e Dublin no itinerário - com passagens por Athlone para uma entrevista de rádio divertida e in-usualmente interessane e uma entrevista num canal de televisão local (onde encontrei uma equipa hilariante, de ressaca de um jantar -pouco- natalício e ORIGINAL, como é comum nos irlandeses). 

Workshops e espectáculo e, claro está, as minhas costumeiras incursões sobre as rodas da minha eterna e insaciável CURIOSIDADE geminiana. 
Viajar em trabalho é - também - APRENDER, EDUCAR-ME, EVOLUIR, INSPIRAR-ME noutras pessoas, culturas, mentalidades, tradições, MUNDOS. 
Português que é PORTUGUÊS de gema pertence ao MUNDO (foi Fernando Pessoa que o disse?!): tento não fugir à minha alma lusa.

No meu quarto - torre encantada - onde tive o meu primeiro encontro de 3ª grau com a alguns dos "habitantes" mais antigos do castelo.

Poder regressar a um dos meus sítios predilectos - castelo de Charleville, Tullamore - e lá dançar para um público  MUITO especial (entre os vivos e os que já desencarnaram mas que continuam mais vivos do que nós - vide link:
 http://www.youtube.com/watch?v=RCQxl4Ae84w ), ensinar e ainda partilhar refeições quentinhas com voluntários, gatos, a cadela "Shadow" ("Sombra"), os espíritos amorosos que por ali nos protegem e observam - tudo iluminado pelas várias lareiras crepitantes que decoram as avessas do castelo: BENÇÃO.
Há prazeres estranhos: únicos: inesperados - até para mim mesma.

Gozando do ar matinal irlandês, antes ministrar o primeiro Workshop do fim-de-semana.

Biografia de Margot Fonteyn à cabeceira da minha cama na torre de vigília do castelo de Charleville.


Depois DUBLIN com os seus escritores (a tradição oral, a História sofrida, a nostalgia das constantes emigrações e um costume antigo que preserva os contos de fadas e outras criaturas eleitas contribuem para um país que é mais jardim de escritores do que território marcado num mapa qualquer). Museus ("The National Gallery" é absolutamente EMOCIONANTE e provou-me que se pode chorar por causa de uma pintura), livrarias onde encontrei pechinchas e preciosidades (biografias de coreógrafos basilares da Dança mundial incluídas), exposiões e teatro. Os irlandeses adoram CULTURA e ENTRETENIMENTO - e sabem que ambas são parte essencial de quem eles são.

A minha boca aberta - pendurada num cabide do meu próprio espanto infantil - ao assistir a um espectáculo de Música e Dança Irlandesa e as inspirações que dali colhi para o meu próprio trabalho. Quantos mundos expressos naqueles pés que bordam histórias no ar e no chão sagrado que pisam: esmagam: amam a lume nada brando. 
-Quero saber dançar AQUILO! - exclamei, para não variar.:)
Vi Flamenco, Oriental, "tap dancing", danças africanas, alegria e dor emaranhadas uma na outra (essa Sabedoria Antiga dos Celtas: dor = a outra face da moeda da alegria): embora a dança tradicional irlandesa se centre no trabalho de pernas e pés, a verdade é que não precisa mais do que isso para DIZER TUDO o que é IMPORTANTE.
O "Titanic" veio-me à cabeça - com Leonardo Dicapprio e Kate Winslet a dançarem - que nem loucos apaixonados - no porão do navio, juntos aos irlandeses que emigravam em direcção ao "sonho americano", fugindo da fome, da desesperança e do vazio.


Num pub de Dublin - preparada para deliciar-me com a FANTÁSTICA dança tradicional irlandesa.

Os Workshops em Dublin foram "interessantes: para dizer o mínimo. Como se pode aprender de tudo e todos, não deixei escapar esta oportunidade de ouro para exercitar os punhos da minha Vontade de quebrar paredes, limitações e a maior ignorância de todas: a de não querer aprender.
O trabalho foi duro, desafiante e totalmente fora da zona de conforto das bailarinas que participaram no evento. Creio que o vácuo entre o que se "julga" ser a Dança Oriental e o que ela REALMENTE É se revela maior nalguns países do que noutros. O que a mim me choca não é o desconhecimento da Dança mas a mentalidade/atitude que prefere permanecer na ignorância (celebrando-a através de um ego inseguro e sedento de atenção e coroas vazias) em vez de ESFORÇAR-SE por aprender, admitir que não se sabe e, portanto, EVOLUIR.
O ciclo é vicioso: os melhores bailarinos estão sempre dispostos a APRENDER, a ENCONTRAR pontos por desenvolver e a EXPANDIR-SE - mesmo quando isso significa colocarem os seus egos de lado e admitirem a sua ignorância neste, naquele, nos pontos que forem necessários. Como consequência dessa ABERTURA para a aprendizagem: CRESCEM continuamente.
Os piores bailarinos são "os reis que vão nus" - "em terra de cegos quem tem um olho é rei" - que se negam a admitir as suas falhas, ignorância, necessidade de crescimento. Por isso fecham-se, protegem-se nas suas carapaças fossilizadas, negam-se a APRENDER: e lá vão eles: em queda livre: imparável: auto-destrutiva: inútil.

No meio das pedras sedimentadas encontram-se, ainda assim, imensas pedrinhas preciosas e foram essas que tornaram estes workshops em Dublin tão especiais. Muito grata às alunas que persistiram em deitar a baixo as suas inseguranças e se entregaram à APRENDIZAGEM - sem preconceitos, reservas, inseguranças, arrogâncias inúteis. Vocês tornaram estes workshops inesquecíveis*.

Sem PAIXÃO, VONTADE, CARÁCTER, TENACIDADE e ESPINHA DORSAL não se aprende a DANÇAR - e muito menos se alcança a EXCELÊNCIA que eu sonho para a Dança Oriental e seus praticantes (amadores e profissionais) em todo o Mundo.
Traze e Steve - dois dos lindos corações que tive o privilégio de conhecer na Irlanda.
Da Irlanda ficam: SAUDADES; Oscar Wilde; AMOR; lágrimas e muitos risos; dança irlandesa; novas paixões e conclusões a serem postas à prova e, provalmente, refutadas; CURIOSIDADES MAIORES; desafios; ironias; AMOR, novamente - e SEMPRE.
Até breve, minha querida Irlanda.


Antes do espectáculo no castelo de Charleville - quentinha, no meu quarto assombrado.

Há amores que não se explicam: ou melhor: o AMOR não se explica.

Dança irlandesa em Dublin (e eu boquiaberta na rectaguarda, encantada com cada segundo  vivido).

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