Thursday, September 5, 2013

Ai, apetece, apetece...

 
Apetece-me, às vezes, e não é pouco: é quando a voz do meu avô materno me revisita (perguntando porque raio uma miúda tão inteligente tinha logo de ser ARTISTA e assim desperdiçar um valioso e raro cérebro?!). Estas vozes - lá na família - uniam-se em concordância: ninguém se conformava (não se conformam até hoje...) como uma rapariga tão jeitosa (atenção que a palavra "jeitosa" nunca me saiu da boca, estou apenas a citar) e tão INTELIGENTE se esvaía por aí em teatrices, danças e cantorias. Muitos ais, uis e "aquilo há-de passar-lhe" me povoaram a infância com a mesma frequência e intensidade das brigas com os rapazes lá do bairro.
Anos mais tarde, nem a minha carreira consagrada os convence: continuam desgostosos que eu me desperdice com talentos inatos.
Lá se perdeu a Política ou a Advogada de sucesso que o meu avô previa para mim. Perdeu-se também uma pessoa extremamente frustrada e triste mas isso ninguém parece reparar.
 
No entanto...
 
Quando a mediocridade, a competição, o superficialismo ou  somente o cansaço apertam são estes os  pensamentos "pecaminosos" que atacam um corpinho sobrecarregado de VIDA(s):
 
Noutro registo, mas dentro do mesmo suspiro de exaustão, vêm-me à cabeça as inúmeras propostas de estrelato instantâneo em troca do meu belo "coiro" ( uma vez mais, "coiro" é palavra que não me sai da boca, estou apenas a citar o linguajar da minha progenitora).
 
Já dizia Colette ( a brilhante autora de "Chéri", entre outros fabulosos livros) que os amantes da arte rendem mais do que a arte em si mesma. E eu apanho-me a pensar: "És capaz de ter razão, ó Colette. Eu é que tenho andado a comer gelados com a testa, pá!"
 
Ah: "Story of my life".
Isto de ser-se artista e, ainda por cima, honesta e aversa a dar o corpinho "ao manifesto" deve ser um dos "karmas" mais lixados de digerir.
Suspiro. Só me resta suspirar.



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