Lisboa, dia 30 de Setembro, 2009
"Balanço cultural...o que mais gostei"
Quase, quase a regressar a "casa", aqui faço um pequeno balanço do que mais gostei em termos de espectáculos e filmes (do pouco que tive oportunidade de ver nestes 10 dias de passagem por Portugal).
Sou uma espectadora ávida de tudo o que é produto cultural. Tento - sem grande sucesso, confesso... - manter-me informada do que se vai passando no mundo em termos de espectáculos mas costumo estar demasiadamente "metida" no meu próprio mundo e trabalho para poder
dar-me ao luxo de ir a todos os espectáculos ou ver todos os filmes.
A vida cultural do Cairo é variada e interessante mas, normalmente, encontro-me eu própria a trabalhar todas as noites ou a preparar novos espectáculos. Pouco tempo ou possibilidades de acompanhar tudo o que se faz.
Sempre que venho a Portugal, aproveito para "pôr em dia" o meu já destreinado sentido de espectadora e ver alguns dos trabalhos de conterrâneos que, tal como eu, tentam levar o nome de Portugal ao sítio que merece.
Ando há séculos a perseguir um concerto do Camané - ainda não foi desta! - porque é o cantor de fado que mais aprecio desta nova geração. A Sara Tavares é outra que me está entalada no goto e na alma (tenho de a ver, ela é FANTÁSTICA!) e outros inesperados pontos de interesse que me fazem ter orgulho em ser portuguesa.
Eis o curto balanço que faço:
FILME "CHÉRIE":
Em termos de filmes, posso destacar "Chérie" com a magnífica Michelle Pfeiffer naquele que é, na minha opinião, o seu melhor e mais maduro desempenho de sempre. Nunca a vi tão subtil, humana e cheia de "nuances" reais. Nada de truques ou disfarces. Pura vulnerabilidade e o talento cá fora sem pedir desculpas a ninguém.
A Fotografia do filme também é impecável, transformando cada cena em autênticas obras primas da pintura e da poesia em forma de imagem.
O retrato delicado e aberto da relação de uma mulher mais velha com um jovem rapaz também é um ponto a favor no filme. Os tabus que rodeiam o tema não se aplicam aos homens que, desde sempre, se relacionaram com mulheres muito mais jovens do que eles sem que a sociedade lhes apontasse o dedo.
O amor não escolhe idades e é assunto privado e "apenas" à consideração dos interessados.
Abaixo a hipocrisia e a ignorância. Viva o Amor em todas as suas formas e celebrações!
Filme baseado na história real de Colette, famosa prostituta (disfarçada de "bailarina", como acontecia e segue acontecendo até hoje..."don´t even want to go there...") que virou cabeças a barões e ricalhaços da sua altura.
CONCERTO DE PEDRO ABRUNHOSA:
Ah, que maravilhosa surpresa.
Além de um par de concertos - fado - que fui ver sem grande agrado (acabei por admirar os guitarristas mais do que os cantores, nada bom sinal!), aqui está a descoberta do momento.
Confesso que nunca fui uma seguidora ou admiradora do trabalho do Pedro Abrunhosa mas descobri-o numa música que me veio há dias, resgatada num sonho - "Deixas em mim tanto de ti..." - e comecei a desenterrar mais e mais tesouros.
O espectáculo é absolutamente fantástico, deixando transparecer todo o profissionalismo, música de alto nível e talento do intérprete/compositor/letrista.
Os silêncios criados e essas pausas mágicas durante as quais tudo o que é importante é dito estiveram por lá magistralmente orquestradas pelo Pedro que se revelou, aos meus olhos, um artista cheio de fibra, talento, maturidade (na voz visivelmente trabalhada e maturada como um bom vinho das caves do Douro) e carinho pelo seu trabalho e público.
Os temas ao piano trouxeram a intimidade e a sensibilidade que aquelas mãos conseguem produzir sem aparente esforço. Magnífico (palavra que raramente uso mas que aplico aqui com total propriedade)!
Acima de tudo, um espectáculo com Alma, Amor, Celebração e também Descontentamento e Inconformismo com o que está mal por cá e no mundo.
Emocionei-me, ri-me e fiquei sem ar - literalmente - várias vezes durante o espectáculo.
De uma humanidade cortante.
Lindo!
Tentações musicais em que caí:
1. Mais um cd de Amália Rodrigues (compilações), Nina Simone e Billie Holiday!
Tinha de ser. Damas da minha alma. Senhoras que representam aquilo que eu sempre defendi ser o essencial na ARTE: a ALMA.
O correcto e o bem comportado são insuficientes - e até indesejáveis - no que concerne a ARTE.
O que nos une - artistas e seus públicos - é a ALMA e a GARRA de colocar VIDA REAL no que se faz.
Amo estas senhoras e todas elas são as eleitas companheiras de "duche" e bailes desnudos improvisados à luz da lua. Lá vou eu cantando "I love you Porgy" em duches apaixonados, varandas à luz da lua e elevadores que encravam comigo lá dentro. Que faria eu sem estas senhoras?!
Canto Amália para os amigos e para os meus músicos do Cairo e as lágrimas correm até mim, desavergonhadamente, como filhos ávidos do colo distante da sua mãe.
Sou uma piegas disfarçada de fortaleza...só engano quem não me conhece bem.:)
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