Vida de uma bailarina portuguesa no Egipto e no Mundo...
Thursday, July 28, 2011
Agora compreendi(me).
É a Lilith que há em mim quem vive e resiste a tudo sem deixar, JAMAIS, esmagar-se por nada nem ninguém (nem tao pouco pelas ervas daninhas feias que se encontram no caminho).
É a Lilith que há em mim quem danca, ensina, coreografa, improviza, cria, escreve e vive sempre a partir da ALMA e sem pedir satisfacoes nem empatias a ninguém.
É ela quem sussurra e grita a partir do mais verdadeiro de si mesma sem deixar nada por dizer, fazer, experienciar.
É a Lilith em mim quem nao se deixa enganar pela opiniao alheia daquilo que desejariam que eu fosse de forma a espelhar a sua própria mediocridade e desespero.
É a Lilith em mim quem nao desiste das batalhas e se levanta mais forte e brilhante depois de cada queda, cada incendio, cada desilusao que assim traz a luz do dia tudo o que preciso de SABER para seguir CRESCENDO par a par com os que minguam e se eliminam do melhor de si próprios.
É ela quem me fortalece e protege quando os fantasmas de outrém tentam entrar no meu quarto de paz e amor próprio.
É a Lilith em mim quem escolhe os seus amantes, prazeres, lágrimas e caminhos por mais que isso ofenda sensibilidades e orgulhos feridos alheios.
É ELA, a maldita/bendita, e mais ninguém quem sempre me inspirou a nao ser menos do que MIM MESMA.
"Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substancia."
WORKSHOP DEDICADO A OM KOLTHOUM, A DIVA ETERNA DA MÚSICA EGÍPCIA! DIA 27 DE AGOSTO, EM LISBOA (INSTITUTO PORTUGUES DA JUVENTUDE) ministrado por JOANA SAAHIRAH DO CAIRO. Para aceder ao programa detalhado e forma de inscricao relativa ao WORKSHOP basta buscar o evento pelo nome de Joana Saahirah no FACEBOOK ou pedir-nos o programa através do email: dancemagica@gmail.com
"Provavelmente, o grande génio é o que foi crianca até ao fim."
Agostinho da Silva (Mágico)
Mulheres libanesas de quem eu gosto!
O Líbano, por variadas razoes que passam pela sua posicao geográfica e política, sempre foi um caso especial no mundo árabe. A Europa dos árabes!
Do que nos chega por cá, no Cairo, e da opiniao generalizada (sempre perigosa) que construímos dos libaneses, eis alguns lugares comuns que podemos delinear:
1. Os libaneses sao os melhores em tudo o que diz respeito as artes visuais : moda, pintura, maquilhagem e artes ligadas aos cabelos, estética, meios audio-visuais.
2. Os libaneses sao, por norma, arrogantes e amantes das aparencias. Podem aparentar e autodenominar-se reis e rainhas e nao terem dinheiro suficiente para comer. As aparencias valem tudo!
3. As mulheres libanesas sao bonecas vazias de conteúdo mas cheias de operacoes plásticas até a exaustao.
Completamente fora do ambito destas - e de outras - generalizacoes ligadas ao Líbano e confirmando que existem sempre excepcoes a todas as regras, venho aqui proclamar o meu carinho e admiracao por duas antigas "amigas" e uma muito recente descoberta (grata a Rosa Leonor Pedro por me dar a descobri-la!):
Nadine Labaki, mais conhecida como directora de video-clips para estrelas árabes e directora de cinema (vejam o delicioso "CARAMEL"). Adoro-a. Simplesmente. O talento discreto, a sensibilidade e a beleza que lhe vem de dentro, a ousadia e a inteligencia.
Jocelyn Saab, directora de cinema e responsável pelo meu filme árabe preferido: "DUNYA" com Mohamed Mounir e Hanan Turk nos principais papéis.
E a recente descoberta:
Joumana Haddad, escritora e poetisa (directora de uma polémica revista libanesa publicada em árabe sob o nome de "JASAD". Para terem a ideia do quao polémica é esta revista, basta acrescentar cujo seu tema central é o CORPO!).
" Foi o que eu descobri quando, um dia, enfim, (...) eu exigi de mim própria:Porque devo eu aceitar que me tratem como algo menor? Quem, para além de mim própria, pode fixar os limites da minha literatura? Que critérios externos, estrangeiros, poderao determinar se eu sou uma overdose de liberdade? E, mesmo correndo o risco de vir a ser chamada de provocadora, impudente e insolente ( isso veio mais tarde), agora comecei a escrever sobre o desejo:orgasmos, ancas, homens, línguas, mamilos, e/ou todas as partes do corpo ou ideia ilícita devem figurar no meu texto.
Depois deste dia, o corpo e o erotismo já nao deixaram de ser a minha primeira/primordial fonte de inspiracao." Em: "J ai tué Schéhérazade", por Joumana Haddad
Como tenho um fraquinho absoluto pela Inteligencia, aqui vai este vídeo obrigatório fazendo desabrochar uma conversa entre dois homens interessantíssimos.
Como a verdadeira Inteligencia nunca é arrogante, só posso fazer uma vénia e tirar todos os chapéus perante a beleza de Agostinho da Silva. Beleza de Homem!
A isto chamo "seleccao da especie" ao meu estilo. Tudo e todos os que nao trazem luz ao meu mundo sao mantidos na sua dimensao escura e confusa. Na minha estacao so entra o que traz qualidade...
WORKSHOP DEDICADO A GRANDE DIVA DA MÚSICA EGÍPCIA: OM KOLTHOUM! DIA 27 DE AGOSTO (SÁBADO), LISBOA.
Om Kolthoum, sua vida e música. Forma de interpretar e desenvolver o incrível universo da maior cantora egípcia de todos os tempos através de técnica e trechos coreográficos de alguns dos seus temas mais emblemáticos.
No Egipto, só as grandes bailarinas abordam Om Kolthoum e se atrevem a danca-la. Diz o conhecimento comum que apenas quem possui TALENTO e OUVIDO pode atraver-se a tal ousadia. Através do que aprendi no decorrer dos últimos anos de espectáculos no Egipto aprendi que a capacidade de interpretar OM KOLTHOUM é uma mais valia para todas as bailarinas e uma qualidade que pode ser descoberta e desenvolvida.
Este WORKSHOP servirá como guia para a INTERPRETACAO, através da Danca Oriental, da mais refinada e interessante música egípcia.
Informacoes completas no FACEBOOK e informacoes adicionais através do email: dancemagica@gmail.com
Inquisicao "a la oriental" (sim, ela nunca esteve ausente e jamais se limitou a católicos e loucos)! Ali estava eu confiante, apresentando a proposta relativa ao maior espectáculo de Danca Oriental que o Cairo já viu, rodeada de programas, certezas e talentos (meu, de músicos e bailarinos que me acompanham neste projecto) quando dou por mim numa sala repleta de arabescos antigos num maravilhoso instituto musical cujo nome vou omitir por razoes estratégicas.
A ideia seria apresentar aos directores (e, claro está, seus assistentes e assistentes dos assistentes) o projecto e ver em que medida eles poderiam colaborar comigo nesta empresa monumental.
Chás foram servidos, "shishas" foram acesas, bigodes foram repenicados pelos seus orgulhosos donos e o inquérito a moda da Inquisicao espanhola teve início sem prévio aviso. Fui bombardeada de perguntas tolas, desconfiancas, presumíveis impressoes de que eu propunha um espectáculo de "streap-tease" e a grande questao: "Mas voce vai MESMO apresentar DANCA ORIENTAL?". Isto dito com a mesma cara de quem me poderia perguntar se eu vou mesmo lancar fezes a cara do público!
Todo o meu currículo e referencias minuciosamente analizados por senhores de barrigas proeminentes que percebem tanto de arte como eu percebo de aeronáutica, olhares desconfiados e até assustados (sim, eu posso ser ASSUSTADORA quando em modo "DEFESA" a ataques sucessivos) e um chorrilho de perguntas que rodearam o mesmo tema mas nao pareceram ter fim.
Para estas almas - e todas as entidades "culturais" deste país - DANCA ORIENTAL EGIPCIA é sinónimo de sexo que se vende, mulheres semi-nuas e meio caminho andado para as chamas do inferno islamico.
Mordi o lábio várias vezes, agarrei-me a cadeira para nao me agarrar ao pescocinho gorducho e suado de um dos "gentlemen" que ali se armavam ao pingarelho e, por fim, as bruxas sentiram-se saciadas com as minhas respostas, grande parte das quais nao compreenderam devido as suas limitacoes mentais.
Claro está que o Inquérito/Tortura ocorreu no mais escorrido dialecto egípcio e, mais uma vez, com a sensacao ácida de que tenho de LUTAR e LUTAR e LUTAR mais uma e outra vez pelo DIREITO a EXERCER a minha ARTE. Nao, nao basta ser a melhor no meu trabalho. Nao basta ser apreciada pelo público, seja ele egípcio ou estrangeiro, nao basta nada do que já fiz até agora.
No final das contas, ainda tenho de me submeter a questionários idiotas por parte de gente ainda mais idiota para que me seja dada a oportunidade de exercer a minha ARTE.
Se me sinto revoltada? Claro que sim. Mais que revoltada, exausta. Da luta, da ignorancia, de ter de fazer frente a pessoal mais estúpido do que uma porta pelo simples facto de que sao estas as pessoas de quem depende a evolucao da minha carreira.
Frustrante. Muito! Irritante. Sem dúvida. Necessário? Nao tenho a mínima dúvida que SIM.
Nao é por acaso que afirmo ter na Danca Oriental uma MISSAO de vida. E por ela atravesso todo o tipo de desertos consecutivos. Até chegar ao meu oásis. Diz-me a experiencia a intuícao de quem já passou por muita areia...
Apologia da Inocencia, Idade da Inocencia, Amor ao que ainda existe de Inocencia no coracao humano.
Cá para nós que ninguém nos ouve, aqui está uma das qualidades humanas mais subestimadas -ou até pouco apreciadas, alvo de escárnio - e, certamente, uma das pérolas que mais me encantam nas raras pessoas que ainda conseguem viver neste mundo desalmado e, ainda assim, manter a sua inocencia intacta ou apenas sobrevivente.
Inocencia: Resistencia mais que inteligente a tudo o que nao dignifica a melhor parte de nós mesmos. Caixa de tesouros que ve a CRIANCA que fomos palpitando em belezas múltiplas dentro do nosso peito, teimosa na sua resolucao de nao se deixar desencantar pelas coisas feias deste mundo e dos seus habitantes com amnésia de coracao.
Capacidade de nao perder o brilho nos olhos e sempre conseguir ver a cores bonitas entre a mais profunda escuridao. Inteligencia do coracao mascarada de tolice mansa. A alma, chamando por si mesma, agarrando-se a sua própria cauda nao deixando que o HUMANO se perca do melhor de si mesmo, sendo esse mesmo aquilo que o define como SER HUMANO.
No Egipto,em particular, a inocencia é vista como sinal de estupidez em estado agudo, parolice, atraso mental, perversao da natureza. Quem tiver a coragem de admitir que ainda guarda inocencia no coracao, cá por terras egípcias, é alvo de riso fácil (sempre nas suas costas pois é falta de educacao rirmo-nos de alguém na sua cara!) e esmagado como um insecto minúsculo, insignificante e irritante.
Juntamente com a honestidade e a coragem, duas qualidades suficientes para me fazer apaixonar por uma rocha se ela as tiver como suas, só a presenca da Inocencia me encanta.
Digamos que é água pura no meio de muita sede de beleza, uma lufada de ar fresco no centro do sufocante e sujo ar que respiramos, uma Luz no meio da escuridao.
Que fazer? Sou apologista da Inocencia. Gosto dela. Em mim, nos outros. Certamente, nas criancas e nos animais onde ela ainda palpita a olhos vistos.
Nao será de estranhar que adore também o filme do genial Tim Burton, "Eduardo Maos de Tesoura" e todas as suas implicacoes.
Eduardo é uma espécie de Frankenstein, um ser inacabado mas com a pureza daqueles que nunca tiveram de deparar-se e defender-se com a maldade e pequenez humanas. Confrontado com o mundo exterior e suas perversoes, a sua INOCENCIA e PUREZA de coracao é tida como um já referido atras mental e por isso ele é enganado, usado, abusado e ferido ao ponto de ter de regressar ao castelo onde nasceu nas maos de um cientista visionário.
No decorrer dessa incursao ao mundo dos "humanos" tao pouco HUMANOS, Eduardo experiencia o AMOR, a AMIZADE e a LEALDADE sem que os seus mais experientes e adulterados companheiros se apercebam da riqueza que ele representa.
Para mim, este filme personifica a INOCENCIA e toda a alta Sabedoria nela presente, a beleza e o aroma a flores frescas que ela é. Sempre. Independentemente de quantas possamos ser desiludidos, magoados, traídos, despedacados.
Eduardo Maos de Tesoura é a água pura que corre, imparável, contornando os rios mais poluídos do mundo. Em direcao ao Oceano. Desaguando sempre na Eternidade.
Gueishas e samurais...
Pergunto-me porque será que me senti atraida pelas biografias de duas famosas gueishas japonesas no processo de escrita do meu próprio livro.
Sabendo que sofro do estado de leitura aguda compulsiva e fitando, com algum pavor, para as pilhas de livros por ler acumuladas nas prateleiras da minha casa cairota, ali mesmo decidi que nao leria nada enquanto nao terminasse a escrita do meu livro.
Esta decisao foi tomada com alguma tristeza mas com totais razoes de ser.
Primeiro que tudo, queria concentrar-me na escrita de algo MEU, nao na leitura de algo escrito por outros.
Em segundo lugar, preferia evitar sentir-me directamente influenciada por determinado livro durante o processo da minha escrita. Gostaria de ser assim, uma folha em branco com memórias de coisas belas no coracao.
Procurava o vazio para apenas aceder as minhas próprias vivencias e pontos de vista sem ser contaminada por talentos literários alheios.
Esta decisao, vejo-o agora, foi mais que acertada.
Porque será entao que senti a compulsao de ler duas biografias sobre gueishas famosas de um Japao já desaparecido?! Porque as gueishas e seus companheiros samurais? Que relacao possuem elas com a Danca Oriental e suas bailarinas?!
O meu instinto louco-freudiano diz-me que entre as gueishas japonesas e aquilo que se espera das bailarinas de Danca Oriental nao existe tanta diferenca quanto possa parecer, numa primeira instancia. E maravilho-me com o horror da comparacao e das semelhancas mas, como dizem os sábios, só a VERDADE nos liberta.
Em liberdade, sem medo das verdades...
Aqui vou eu, lancada ao Japao e suas amendoeiras em flor, mulheres fantasmas cuja funcao era entreter e seduzir os homens ricos/poderosos da regiao com seus talentos, pontes hollywoodescas e tamanhas contradicoes em mundos nos quais me movo sem jamais fazer parte deles.
Livros da minha compulsao:
1. Madame Sadayakko, The gueisha who seduced the West
Ai, se eu soubesse o que sei hoje! E só se passaram uns 5 mesitos...
Falava eu nas mudancas e na esperanca de um Egipto melhor e justo. Continuo a desejar o mesmo, embora a realidade pós-Revolucao me mostre que este mundo está mesmo entregue aos políticos, diplomáticos aprendizes da mentira e aos ladroes que acham que poder e dinheiro lhes garantirá vida eterna.
Ao passar pela famosa Praca da Libertacao ("Middan Tahrir"), a única liberdade que senti foi a dos gases e micróbios que ali se concentraram. Ele é acampamentos "a la Costa da Caparica", ele é concertos "baladi" e Djs em toda a parte, novos comerciantes de bandeiras e t-shirts com mensagens xicas espertas sobre o orgulho de ser egípcio e uma palhacada digna do tempo áureo do Circo Chen!
Mendigos, desempregados sem sítio para onde ir, fezes lado a lado com fogoes cozinhando "molokheya" e pessoal apanhando banhos de sol enquanto canta hinos patrióticos e mal diz Hosny Mubarak com o a vontade que, outrora, houvera sido substituída por terror e opressao.
Sim, continuo a sentir um imenso orgulho nos egípcios educados e lúcidos que arriscaram a vida por uma MUDANCA justa e tao merecida neste país mas sei ver quando o CAOS se instala num país onde o caos já estava na ordem do dia. Digamos que houve uma redefinicao de CAOS e aquilo que nós pensávamos ser confuso, desorganizado e corrupto, multiplicou-se como as baratas do meu "post" anterior e ampliou-se até dimensoes imprevistas.
De mao no nariz (o cheiro nauseabundo que cerca a praca da Libertacao é para Rangers e pessoal que lida com esgotos, nao para bailarinas com hipersensibilidade a odores) e boquiaberta, assisti ao resultado aparente de uma Revolucao que nenhum egípcio sonhou para si.
Como, par a par com o caos, sempre existe lugar para milagres, eu espero ver no Egipto a REVOLUCAO REAL que só acontecerá quando o país acordar do seu torpor pós-revolucionário e levar a sério o significado do que foi iniciado. Creio que Revolucao nao inclui palcos com cores garridas e Djs malucos liderando desempregados mal em bailes improvisados sem final previsto...
Nao acredito que aquilo que vi, com os meus próprios olhos, na Praca da Libertacao tenha o que quer que seja a ver com a REVOLUCAO que o Egipto merece ter.
E rio-me da minha própria ingenuidade por acreditar, tao cegamente, em milagres!
"La cucaracha ya no puede caminar..." (snif, snif, snif).
Homenagem - sempre singela, sei lá eu porque! - a todas as baratas, seus parentes e amigos que eu encontrei na minha nova casa aqui no Cairo. Parece que, para a maioria dos egípcios, a convivencia amigável e doméstica com "las cucarachas" é algo normal e, quem sabe, até desejável. Se esta "normal" convivencia tem algo de tradicao faraónica ou nao, eu já nao sei.
O que sei é que tive de desinfestar a casa enquanto dava aulas particulares e enquanto coreografava Om Kolthoum. Quem diria que uma invasao de baratas, sua subsequente chacina e Om Koltoum poderiam ser servidas todas no mesmo prato?!
Digo adeus - espero! - as baratinhas que me vieram dar as Boas Vindas egípcias lá em casa e rio-me, cá para comigo, ao ver tantos e tao pequenos absurdos a minha volta. Surpreendida por constatar também que o instinto de sobrevivencia que estas meninas carregam e a sua capacidade de resistencia face as mais adversas condicoes "atmosféricas" sao, curiosamente, muito semelhantes as que encontro no meu carácter. Estarei eu a comparar-me com "las cucarachas"?! Talvez isso soasse deprimente a maioria do pessoal que conheco. Para mim, esta comparacao tem em si o gérmen do riso, do sentido e do elogio.
E aqui fica a minha vénia e um doce e sentido "au revoir" dedicado as baratas egípcias que, outrora, viviam na minha actual casa.
E como se abusa da ignorancia por estas terras sagradas do Egipto...meus deuses e profetas de todas as religioes e ilusoes...
Aceitar a ignorancia alheia, como aceitamos e admitimos a nossa, é sinal de maturidade. E aceitar o abuso exaustivo dessa mesma ignorancia? A mistura explosiva entre a extrema, até cómica, estupidez e a mais ferrenha e orgulhosa ignorancia? Maninhas e maos dadas, caminhando pela estrada negra dos que pensam que tudo sabem.
Aceitar o abuso sistemático e profundo desta cereja em cima do bolo a que chamamos ignorancia significa o que? Será caminho directo para a Santidade?! Se for este o caso, passem a chamar-me Santa Joana, se fazem favor. E que Deus esteja convosco (bencaos dadas pessoalmente só sao dadas consoante prévia marcacao).
Usando da magia alheia, (acon)chegadinha do meu blogue favorito...
Obrigada a Renata Lobo por estas sintonias tao bonitas!
"Procuro despir-me do que aprendi Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, E raspar a tinta com que pintaram os sentidos, Desencaixotar as minhas emocoes verdadeiras, Desembrulhar-me e ser eu." Alberto Caeiro
Assim me apaixonei, tal Cazanova, por mais esta real beleza posta sob a forma de palavras do heterónimo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro. O homem do campo, o rústico que só percebe e indaga sobre as cerejas e o sol que as faz crescer. Porque só os simples acedem a pérolas destas!
Obrigada, Daniela, pela partilha desta maravilha...
WORKSHOP OM KOLTHOUM, DIA 27 DE AGOSTO EM PORTUGAL,
POR JOANA SAAHIRAH DO CAIRO!
Eis uma razao para sorrir no meio do caos egípcio: o meu primeiro workshop temático sobre a música, mundo e riqueza da música da DIVA ETERNA OM KOLTHOUM.
Este é o DESAFIO MAIOR para todos os estudantes de Danca Oriental e até para profissionais.
No Egipto, as raras bailarinas que SABEM dancar Om Kolthoum sao vistas como uma espécie de raridade e respeitadas como deusas. Porque será?
A primeira e única bailarina que terá compreendido a subtileza do universo de Om Kolthoum foi Souhair Zaki, com quem tive a honra de estudar.
NESTE WORKSHOP, partilharei com os alunos a técnica, música e compreensao do mundo de Om Kolthoum ensinando vários excertos coreográficos emblemáticos a mistura com informacoes adicionais que aprofundam e solidificam a forma como a BAILARINA dancara daí em diante.
SÁBADO, DIA 27 DE AGOSTO, NO INSTITUTO PORTUGUES DA JUVENTUDE, PARQUE DAS NACOES (LISBOA)!
Todas as informacoes sobre horário, precos e forma de inscricao no FACEBOOK e através do email: dancemagica@gmail.com
Porque algumas criacoes nao nascem da mente mas do sub-solo do mais fundo de nós.
Em processo de criacao e RE-CRIACAO...quem diria que cavar batatas seria tao árduo e cansativo? Eu devia sabe-lo, sendo proveniente de família de camponeses, pessoal da terra!
Cavando o terreno, esgravatando, indo lá a baixo, onde só as águas mais espessas e essenciais fluem.
Em direccao ao MAR.
Coreografia/improvizacao.
E eu que julgava que escrever o meu próprio livro, alimentado durante anos de experiencias e ensinamentos dos mais desafiantes que existem!, era suficiente para improvizar a uniao de palavras e daí fazer nascer o meu rebento literário...
Quando descubro, a custo, que isto de escrever um livro da minha autoria com a responsabilidade da publicacao e propagacao massiva da minha PALAVRA é, afinal, um trabalho COREOGRÁFICO do mais assustador que há.
Eh, lá...isto de mandar postas de pescada nuns blogs, artigos daqui e dali e revistas passageiras é divertido e muito "light".
Assumir a responsabilidade e o tremendo terror de escrever o meu próprio livro, com tudo o que de TOTAL honestidade isso contém, pode ser comparado a um trabalho coreográfico feroz, sem concessoes, sem muletas, sem desculpas de qualquer espécie.
E coloca-se a questoa: que movimentos usar/que eventos revelar? E quanto de mim dar? E quao vulnerável ser no esparramar da minha vida mais profunda ali em cima de um ecra branco, pronto a colher todos os segredos que tornaram possível ser quem eu SOU hoje.
E tudo isto me custa porque sou uma improvizadora nata. Gosto da palavra rápida, quase inconsequente, daquelas que nos tocam ao de leve e seguem caminho sem deixar cicatrizes na pele de ninguém.
Isto de escrever um livro é tocar na ferida, na minha e na dos outros. Dos muitos outros que compoem as páginas do livro e dos tantos outros que o vao ler, Inshah Allah!:)
Embora seja uma improvizadora nata, aqui estou eu - nesta travessia dura de mais um deserto - entrando no mundo eterno e cristalizado da COREOGRAFIA. Juntando palavras como se juntam passos de danca, escolhendo movimentos como se escolhe o termo mais essencial a uma descricao qualquer.
Redescobrindo a minha natureza. E sabendo, enfim, que ninguém está a salvo da mais total vulnerabilidade e que a COREOGRAFIA, por mais assustador e definitiva que seja, VALE a PENA ver a luz do dia.
Com todas as suas imperfeicoes e com o clássico:" Poderia fazer melhor que isto".
Mergulhando nas minhas próprias limitacoes ou naquilo que eu imagino que elas sao.
Será a isto que se chama INTELIGENCIA?
Sentidos.
De todos os sentidos que os egípcios possuem, eis aquele que mais me encanta:
sentido de humor!
Considero-a uma das qualidades mais subvalorizadas e, de forma contrastante, mais úteis ao instinto de sobrevivencia humano.
No extremo da tristeza, ruína ou choque, só os loucos ou sábios decidem RIR. É que nao passa pela cabecinha de ninguém - ou passa?! - inventar piadolas de quinta categoria e rir de si mesmo e da mais extrema desgraca...mas os egípcios sao peritos nessa arte pouco apreciada de escapar ao precipício escuro da dor de onde já nao se regressa e nisso se tornaram PERITOS.
Observo os meus conterraneos e suas quotidianas dificuldades e crueldades. Parece que, de tanto apanhar, já nao sentem dor. Talvez isso lhes permita a criacao contínua e compulsiva de piadas. Talvez o revés da dor repetida seja o riso repetido. Talvez a tragédia tenha mais de comédia do que a própria comédia. Talvez...
E, apesar das suas escuridoes e incompreensíveis atitudes, é com os egípcios que eu aprendo - dia a dia - a ARTE sublime do riso que nasce da dor. O sorriso que brota de uma lágrima. O sentido de humor encaixado - atabalhoada ou, simplesmente, HUMANAMENTE - no meio do mais caótico sofrimento.
Ah, e a esperanca renascida do meio das cinzas da maior frustracao e de tantas aparentes "impossibilidades". Grata aos egípcios, meus mestres.