Thursday, August 27, 2009
"Shows do Ramadao e portugueses na audiencia!"
A estacao de espectaculos do Ramadao teve inicio ha tres dias e hoje recebi uma surpresa maravilhosa: audiencia portuguesa no "Nile Maxim"!
O costureiro portugues "Augustus" e a sua familia, amigos e outros grupos da nossa gente que ali cairam de para-quedas. Como o mundo pode ser tao pequeno... :)
Apesar do programa de Ramadao ser limitado pela estacao religiosa, foi um prazer actuar para os meus queridos conterraneos e pude, por momentos, sentir-me em Portugal.
De facto, sera sempre a alma e o sentimento que define o local onde estamos e como nos sentimos em casa ou simplesmente deslocados.
Idiossincracias desta epoca religiosa:
Varios desafios a vista nesta estacao diaria de espectaculos em pleno Ramadao!
O meu "chauffeur" (que chique!) recusa-se a levar-me ao trabalho durante o Ramadao porque coincide com a hora em que ele quebra o jejum e o dinheiro consideravel que ganha comigo nao sera competicao para o ritual de "encher o bandulho a grande e a francesa" depois de um dia de jejum. Que se lixe o dinheiro e o ganha-pao...
Continuo sem entender os egipcios.
O canalizador que veio ca a casa ver o que precisa de ser arranjado na casa de banho (poupo-vos os detalhes escatologicos do episodio) recusou-se a vir fazer o trabalhito de manha porque, e passo a citar "Costumo dormir ate tarde...(expressao super relaxada a acompanhar o proferido)"
"Entao a que horas quer vir fazer o trabalho? - Pergunto eu como se estivesse a convidar um amigo para um lanche ca em casa.
"Ah, nao sei...quando acordar. Como comemos durante a noite e depois rezo antes de me ir deitar, nunca sei a que horas me consigo levantar! " - Diz-me ele com um desplante tao grande que eu tenho de agarrar a minha boca para ela nao cair.
Por momentos, fiquei em silencio. Perplexa. Tenho na minha frente um senhor nitidamente pobre e com uma larga familia para sustentar. Existem despesas extra proprias desta estacao(comida, doces, presentes e roupas para os mais novos, "iftar" /pequeno-almoco ou quebra jejum para o qual convidar familia e amigos, etc) e dificuldades economicas constantes mas, apesar de tudo isto, este senhor preferiu marcar o trabalho de acordo com a hora em que lhe apeteca acordar, correndo o grave risco de ser mandado la para o outro lado por uma Joana - "moi" - extremamente indignada.
Continuo sem entender os egipcios...
Para espairecer, aqui estao as primeiras imagens desta nova estacao de shows..."in motion"...
Apesar das limitacoes ou talvez por causa delas, estou entusiasmadissima com esta estacao. Se a minha progenitora aqui estivesse a ouvir - ou a ler - dir-me-ia, no seu tom de sabedoria popular "Porra...ha pessoal realmente masoquista..."
Ah, as delicias da sabedoria de uma maezinha...nada que se lhe compare (beijos a minha querida Dedinhas de quem morro de saudades...ja falta pouco para estar ai!)
Tuesday, August 25, 2009
- Joana Saahirah em Portugal – dias 19 e 20 de Setembro Com Workshops de Dança Oriental estilo do Cairo- “NEW CRAZY TABLA SOLO” e Saiidi moderno (Folclore do Alto Egipto) – Inscricoes promocionais AGORA!
(Ver programa no final deste email)
- Joana Saahirah em Italia – Workshops e Show nos dias 26 e 27 de Setembro
(348 63 97 958 o per email jacy.00@gmail.com)
- Joana Saahirah apresentara os seus shows de Ramadao no famoso “NILE MAXIM”, Cairo ate dia 15 de Setembro e novo show BOMBASTICO a partir de Outubro.
Para mais informações, contactar Joana S. pelos emails: joanabellydance@sapo.pt ou dancemagica@sapo.pt ou contactar "Nile Maxim":
-002 - 012 73 88888
-002 - 011 73 88888
-002 - 010 73 88888
002 - 02 273 88888
- Marcação de aulas particulares no Cairo com programa de aulas personalizado através do email: joanabellydance@sapo.pt ou dancemagica@gmail.com
- Novos BLOGS de Joana S. (Diary of Egypt – Diario do Egipto) disponiveis no nosso website e nos enderecos: http://www.joanabellydance.blogspot.com/ (english version)http://www.joanamagica.blogspot.com/ (versao portuguesa)
- Joana Saahirah no Youtube ( procurar em Joana Saahirah of Cairo ) e no Face Book. Informações gerais Dança Mágica :Email: joanabellydance@sapo.pt / dancemagica@gmail.com
- Mobile: 002 – 012 258 8817 (Egipto)Mobil: 00351 – 96 642 7997 (Portugal)Website: http://www.joanabellydance.com/Blogs: http://www.joanabellydance.blogspot.com/ (english version)http://www.joanamagica.blogspot.com/ (versao portuguesa)
- Joana Saahirah do Cairo em Portugal (Lisboa) - Dias 19 e 20 de Setembro de 2009Workshops de Dança Oriental estilo do Cairo- “NEW CRAZY TABLA SOLO” e Saiidi moderno (Folclore do Alto Egipto)*******************************************************************
- Programação:
- Sábado, dia 19 de Setembro:
Das 10.30h às 13.30h - Bloco I do Workshop de Dança Oriental estilo doCairo - “NEW CRAZY TABLA SOLO“- Técnica, interpretação e linguagemmoderna nascida na vida nocturna do Cairo, mescla do mais puro etradicional “baladi” com uma abordagem moderna da dança apta acomunicar com todos os tipos de público: estrangeiro, egípcio e árabe.Nova forma de escutar, dançar e interpretar a percussão egípcia.Preparação para o “NEW CRAZY TABLA SOLO”
Das 15.30h às 18.30h - Bloco I do Workshop de Saiidi moderno- Folclore do Alto EgiptoTécnica, ritmo e estilo/postura/atitude próprias de Saiidi.Coordenação com bastão, movimentos “saiidi” e “tahtib” e descoberta deuma feminilidade e sensibilidade árabes.
Domingo, dia 20 de Setembro:
Das 10.30h às 13.30h - Coreografia completa utilizando a técnica eensinamentos transmitidos no 1º bloco do Workshop.
Das 15.30h às 18.30h - Coreografia completa utilizando a técnica eensinamentos transmitidos no 1º bloco do Workshop.
BAZAR ORIENTAL:
Exposição e venda de artigos relativos à Dança Oriental em localadjacente à sala onde decorrem os workshops.Os últimos cds do Egipto, novos trajes e lenços de alta qualidade parabailarinas, sagats, véus , dvds de Dança Oriental e muito mais...aberto das 11.00h às 17.30h a participantes dos workshops e não participantes.
***Preços:
*** 1 Workshop(6 horas de formação divididas entre Sábado e Domingo)
Inscrição promocional até dia 20 de Julho (65 euros)
Inscrição promocional até dia 20 de Agosto (75 euros)
Inscrição “standard” desde dia 21 de Agosto até à data do Workshop (90 euros)
*** 2 Workshops (12 horas de formação)
Inscrição promocional até dia 20 de Julho (110 euros)
Inscrição promocional até dia 20 de Agosto (130 euros)
Inscrição “standard” desde dia 21 de Agosto até à data dos Workshops (150 euros)
***Formas de pagamento:
Para inscrever-se e garantir a sua participação no Curso ou nalgum dosblocos de formação, terá de efectuar o pagamento do mesmo através detransferência multibanco para a conta com o NIB: 0007 0075 000 1125000536ou envio de cheque ( no caso de preferir enviar-nos o cheque porcorreio, peça-nos a morada da Dança Mágica ).
Após ter efectuado a transferência ou enviado o pagamento, terá deinforma-nos a data em que fez a transferência e o nome em que fica efectuada a inscrição através dos seguintes contactos:joanabellydance@sapo.pt / dancemagica@gmail.com
TM: 00351 - 96 642 7997 (Portugal) / NOTA: Possibilidade de alojamento na Pousada da Juventude do local doevento (IPJ do Parque Das Nações ).
Organização:Joana Saahirah e Dança Mágicahttp://www.joanabellydance.com/FaceBook (Joana Saahirah)Blogs: http://www.joanabellydance.blogspot.com/http://www.joanamagica.blogspot.com/
Monday, August 24, 2009
Sunday, August 23, 2009
"Aniversario da minha mana
Catarina e a
beleza dos meus anjos..."
Hoje a minha mana Catarina faz aninhos.O pessoal ligou-me de Portugal para provocar-me.
Estavam no jardim, comendo sapateira e afins a beirinha da piscina...que saudades (da familia, dos amigos cujas cabecas e coracoes eu entendo plenamente, da "normalidade" da minha gente do lado de la..do ar puro, da casa da familia e do silencio, dos pasteis de nata e do nosso mar com e sem bacalhau...de tudo o que me falta e, apesar disso, esta sempre comigo)!
O dia passou-se agitado. As energias do Ramadao revolvem tudo. Nao fica pedra sobre pedra, tudo se sente em rodopio. Estara a consciencia das pessoas em semelhante revolucao?!
O Ramadao deveria ser uma oportunidade para tal...sera um mes para meu estudo e observacao pessoais. Veremos...
Pour toi, mon amour... Que todos os anos sejam mais e melhores, com saude, amor e paz no coracao.
Always growing up, never growing old. That's the art of living, my sister! :)
Thursday, August 20, 2009
"Depois de algum tempo aprendes a diferença, a subtil diferença,entre dar a mão e acorrentar uma alma.
Monday, August 17, 2009
Saturday, August 15, 2009
*** ROMA, ITÁLIA – Cursos intensivos dias 26 e 27 de Setembro (pedir programa atraves dos emails:
*** PORTUGAL:
Joana Saahirah do Cairo em Portugal (Lisboa) - Dias 19 e 20 de Setembro de 2009
Workshops de Dança Oriental estilo do Cairo- “NEW CRAZY TABLA SOLO” e Saiidi moderno (Folclore do Alto Egipto)
Com DVD das coreografias disponível no evento!
Programação:
Sábado, dia 19 de Setembro:
Das 10.30h às 13.30h - Bloco I do Workshop de Dança Oriental estilo do Cairo - “NEW CRAZY TABLA SOLO“- Técnica, interpretação e linguagem moderna nascida na vida nocturna do Cairo, mescla do mais puro e tradicional “baladi” com uma abordagem moderna da dança apta a comunicar com todos os tipos de público: estrangeiro, egípcio e árabe.
Nova forma de escutar, dançar e interpretar a percussão egípcia. Preparação para o “NEW CRAZY TABLA SOLO”
Das 15.30h às 18.30h - Bloco I do Workshop de Saiidi moderno- Folclore do Alto Egipto
Técnica, ritmo e estilo/postura/atitude próprias de Saiidi.
Coordenação com bastão, movimentos “saiidi” e “tahtib” e descoberta de uma feminilidade e sensibilidade árabes.
Domingo, dia 20 de Setembro:
Das 10.30h às 13.30h - Coreografia completa utilizando a técnica e ensinamentos transmitidos no 1º bloco do Workshop.
Das 15.30h às 18.30h - Coreografia completa utilizando a técnica e ensinamentos transmitidos no 1º bloco do Workshop.
BAZAR ORIENTAL:
Exposição e venda de artigos relativos à Dança Oriental em local adjacente à sala onde decorrem os workshops.
Os últimos cds do Egipto, novos trajes e lenços de alta qualidade para bailarinas, sagats, véus , dvds de Dança Oriental e muito mais... aberto das 11.00h às 17.30h a participantes dos workshops e não participantes.
***
Preços:
*** 1 Workshop(6 horas de formação divididas entre Sábado e Domingo)
Inscrição promocional até dia 20 de Julho (65 euros)
Inscrição promocional até dia 20 de Agosto (75 euros)
Inscrição “standard” desde dia 21 de Agosto até à data do Workshop (90 euros)
*** 2 Workshops (12 horas de formação)
Inscrição promocional até dia 20 de Julho (110 euros)
Inscrição promocional até dia 20 de Agosto (130 euros)
Inscrição “standard” desde dia 21 de Agosto até à data dos Workshops (150 euros)
***
Formas de pagamento:
Para inscrever-se e garantir a sua participação no Curso ou nalgum dos blocos de formação, terá de efectuar o pagamento do mesmo através de transferência multibanco para a conta com o NIB: 0007 0075 000 1125 000536
ou envio de cheque ( no caso de preferir enviar-nos o cheque por correio, peça-nos a morada da Dança Mágica )
Após ter efectuado a transferência ou enviado o pagamento, terá de informa-nos a data em que fez a transferência e o nome em que fica efectuada a inscrição através dos seguintes contactos:
joanabellydance@sapo.pt / dancemagica@gmail.com
TM: 00351 - 96 642 7997 (Portugal) /
NOTA: Possibilidade de alojamento na Pousada da Juventude do local do evento (IPJ do Parque Das Nações ).
Organização:
Joana Saahirah e Dança Mágica
http://www.joanabellydance.com/
FaceBook (Joana Saahirah)
“Ramadão em espectáculos, Portugal e Itália logo seguir...”
***Não sei para onde virar-me.
Os espectáculos do Cairo consomem a esmagadora maioria do meu tempo, energia, alma! Quanto mais me sinto apreciada, mais mergulho na procura de fazer sempre melhor e mais ao encontro de mim mesma e do meu público (somos todos unidos pelo mesmo, apesar das aparentes diferenças que nos separam na ilusão do material).
A minha cabeça não pára. Respiro a um ritmo alucinante e vivo entre a ansiedade do tempo que me escorre pelas mãos e a excitação de fazer tanto e tanto do que eu mais amo. Um privilégio que eu ganhei pelas minhas próprias mãos ( e com a protecção de Deus que nunca me facilitou o caminho mas sempre me aparou as quedas e me deu forças e talento para ir crescendo na minha carreira sem perder a minha humanidade).
*** Preciso de voltar a praticar yoga. Urgentemente.
*** Além dos novos programas para os shows do Ramadão – como será que vai ser dançar na época, por excelência, do “haram”/proíbido?! – sigo com as coreografias novas que apresentarei em Portugal e Itália (“I´m in love...”), com novos trajes que eu mesma desenho e cuja manufactura eu supervisiono e a compilação do meu primeiro livro cuja edição tem sido adiada pelos constantes revezes da vida e pela crónica falta de disponibilidade para concluír o projecto. Será desta?!
Será quando tiver de ser. Isso é certo.
*** Detalhe macabro/cómico/alucinante da semana:
A família da minha assistente insurgiu-se (em massa, devo acrescentar) contra o trabalho no Ramadão porque afirmam e passo a citar: “O dinheiro que vem do trabalho com uma bailarina é sujo e indigno de ser trazido para casa, especialmente durante o sagrado Ramadão. Haram!.”
Aguardo uma manifestação organizada à frente do meu prédio a qualquer momento. Prevêem-se tochas – como no tempo das cruzadas e ao estilo da Inquisição medieval – e encapuçados gritando “Alahu...akbar” e atirando ovos podres à minha janela (será que têm pontaria e músculo para atingir o meu 6º andar?!). A devassa – eu, portanto – terá de se render.
Meu Deus, que loucura!
Benvindos ao magnífico e desarmante mundo da cultura árabe da actualidade num dos países que era, até há bem pouco tempo, um dos pontos mais modernos e mentalmente abertos do Médio Oriente e norte de África.
Claro que o dinheiro que tem alimentado todo o núcleo familiar tem vindo dos serviços que a minha assistente me presta e, por isso, alguém se esqueceu de mencionar que sem esse dinheiro, o pessoal passará o Ramadão a chupar no dedo (suspeito que esta singela actividade tão própria de bambinos inocentes também seja considerada “haram”).
Nota adicional (loucura extra): A “halawa” egípcia (método de depilação tradicional muito comum entre as mulheres egípcias) também é considerada “haram” porque uma mulher (a que aplica a “halawa”) tem a oportunidade de ver o corpo de outra mulher (trágico!).
Pelo que pude apurar, o olhar de uma mulher sobre o corpo de outra mulher atiça os desejos reprimidos pelo mesmo sexo (Come to mama!) e dá oportunidade a que essa mesma mulher (a que aplica a “halawa”) promova o corpo/material da mulher depilada junto de homens procurando noiva ou divertimento instantâneo (vizinhos, amigos, familiares). Em que mundo estou eu metida?!
Pressuponho que o mulherio egípcio vai passar o Ramadão adaptando o “look” lobo das estepes (o que ajuda a evitar o sexo durante o período do jejum).
Ora aí está...o esquema está todo montado. Prefiro não tentar entender.
O primeiro passo para o estado de demência absoluto é tentar encontrar lógica naquilo que não tem lógica nem senso nenhuns.
“Ramadão aqui à porta...”
*** O Ramadão já nos está a bater à porta.
Recebo esta época do ano com alegria e com receio. Pela primeira vez, não farei parte do fluxo de estrangeiros que “fogem” do Egipto nesta altura do ano. Quem não é muçulmano – e, portanto, não partilha os ritos e rotina do Ramadão – está, em bom português de rua, “feito ao bife”!
O Governo – altamente influenciado e dominado pelos lobbies religiosos – lança leis que permitem a total negligência de comerciantes, médicos e todo o tipo de profissionais durante a época que é o maior símbolo do Islão.
As lojas fecham e abrem mais ou menos ao sabor dos caprichos – e horários de refeições – dos seus donos, o jejum diurno é desculpa para todo o género de atrasos, incompetência e incongruências humanas e ninguém espera nenhum tipo de responsabilidade de ninguém (porque estamos no Ramadão!).
À hora da quebra do jejum – aproximadamente, às 17.00h – ninguém que esteja na posse total da sua mente se atreve a procurar um táxi ou a requerer um serviço porque todos os muçulmanos – os que cumprem e os que roubam, os que professam a devassidão por baixo da mesa e os que a professam em cima dela – correm para casa ou para as mesas comunais de rua para comer, comer, comer...
Aquilo que não se come durante o dia é compensado à noite. Curiosamente, não existe altura do ano em que se coma tanto como no Ramadão (contradição com o suposto espírito da época que refere o jejum e a dádiva aos mais pobres como pilares de comportamento e conduta) e em nenhuma época do ano o espírito mercantilista está tão aceso. Todo o egípcio – desde o mais pobre ao mais rico – sabe que esta é a altura para comprar toneladas de comida, roupas e sapatos e doces, muitos, muitos doces feitos com o mel árabe.
Contagem decrescente para o primeiro dia de jejum – 20-21 de Setembro – e para o festim de comida que se seguirá.
*** Pela primeira vez, estarei a actuar durante todo o Ramadão. Jejuns, comesainas desalmadas que se seguem, reuniões familiares diárias...hmmmm...
Já fui aconselhada a não referir à orquestra que dançarei com trajes “normais”.
Nesta altura do ano, tudo é “haram”. Proíbido. Censurado. Ofensa a Alá. Que fazer??? Dançar metida num saco de batatas parece ser a única opção que me vem à cabeça.
Convencer os músicos a ensaiar e a dar o “litro” no palco vai ser um desafio para o qual não sei se terei paciência. Lá vai ter de ser.
Quem não tem paciência – e uma boa dose de loucura e até masoquismo – não pode viver num país como este.
*** Já referi que adoro o Egipto?!
*** Ramadan Kareem (Feliz Ramadão) para todos; muçulmanos e cristãos, judeus e budistas. Hindus, amantes do “kandomble” e do “voodo” havaiano. Amantes de Deus dentro e fora de nós. Prosperidades para todos nós, além de qualquer religião ou classificação absurda.
“Do nada se faz tudo e um filme a não perder”
***Em processo de investigação e ensaios. Criando, sempre.
Isto de ser artista é uma forma de vida estranha...invade toda a nossa vida, varre tudo e todos à nossa volta.
Faltam meios (o vil metal, o vil metal!) para comprar novas músicas compostas para mim. Quanto mais se sobe e melhor se faz, mais se quer fazer. Lógica das coisas. Lógica dos que querem sempre dar de si, mais e mais, melhor e melhor.
A minha lógica.
Às vezes, meio na brincadeira e meio a sério, vou amaldiçoando a minha falta total de aptidões para a “real putaria” (desculpem o termo crú) tão comum no mundo das bailarinas do Egipto e de todos os artistas, em geral. Em troca de uma grande oportunidade de carreira, artistas que nós conhecemos e admiramos (quando já se consagraram e lá longe vão os dias em que tiveram de vender o corpo e a alma em troca do sucesso entregue de bandeja) prostituem-se, cedem nos valores que até achavam serem tão seus, esquecem quem são – ainda que por momentos – e lá se lançam eles nas suas carreiras e estrelato. Ninguém parece importar-se com o que fizeram debaixo dos lençóis (ou em cima, tanto faz!) antes de chegarem ao “topo”! O brilho do sucesso cega o público. Não interessa o que existe por trás desse brilho.
Eu não tenho esse gene da devassidão e dou cabeçadas na parede por isso. J
*** Existe uma série de compositores/letristas com quem quero trabalhar aqui no Cairo. Pessoal da velha guarda, artistas na rectaguarda de bailarinas como a Nagwa Fouad (a que sempre teve as melhores músicas e “tableaus” do mercado egípcio), Fifi Abdou, etc. Todos eles cobram balúrdios pelo seu trabalho porque fazem parte de um sistema mais que conhecido no qual as bailarinas se prostituem ou casam com homens de negócios e multi-milionários que nelas investem e que lhes pagam trajes luxuosos, jóias, apartamentos e afins, orquestras de primeira classe e músicas. O dinheiro que, em regra geral, estes compositores e letristas recebem não é gerado pela dança em si mas pela “cama” (legalizada pelo casamento ou não).
*** Como lutar contra o sistema?! E como seguir fazendo omeletes sem ovos?! Dou graças a Deus por onde estou mas, agora que aqui cheguei, existem outros degraus a subir e o dinheiro – ou a falta dele – para investir em material de dança/canto parece ser um obstáculo deveras frustrante.
Pessoal que nasceu de gente humilde – como eu – está habituado a fazer muito do pouco que se tem. A comida alentejana é exemplo disso. De ervitas e pão duro se faz uma açorda fenomenal.
Aqui ando eu fazendo açorda atrás de açorda, explorando ao máximo a minha imaginação e talento de forma a que a falta de dinheiro para investir em grande não seja tão significativa.
*** Não sou músico, sou bailarina e actriz. São esses os trabalhos para os quais estudei e para os quais estou preparada. No entanto, vejo-me a editar músicas, colando daqui e dali e criando novas composições com memórias de melodias que escutei, provavelmente, num táxi qualquer ou num café de rua. Orquestro a minha banda e rebusco canções do início do século que eu dançarei e cantarei. Há que lhes dar uma volta, actualizá-las. Sento-me com o orgão, o acordeão, a flauta nay, kanun. Todos me olham em reverência e esperando respostas. Eu, de entre eles, sou a que menos percebe de música (supostamente) mas é de mim que se esperam respostas e soluções musicais. O.k, vamos a isso! Se eu não o fizer, mais ninguém o fará e nada me irrita mais do que a imobilidade.
Que loucura!
*** Filme a não perder:
“2 Filhos de Francisco”, a história de Zezé di Camargo e Luciano (dupla sertaneja muito conhecida no Brazil).
Este filme foi uma surpresa maravilhosa que me foi dada a conhecer pela minha amiga Souheir, digna representante do nosso clube secreto (não tão secreto a partir deste momento!) a que eu chamei “Clube das Guerreiras Ováricas” (todas as mulheres – e homens – que vivem a vida a 100% com coragem e sempre a partir do coração e da alma).
O filme conta a história real destes cantores e todo o seu percurso de vida ilustra aquilo que eu sempre acreditei: talento, fé, persistência, muita luta e coragem e... amor no coração são ingredientes mais que suficientes para a realização dos nossos sonhos.
A personagem mais marcante do filme é o pai da dupla, principal motor de toda a sua carreira e aquele que nunca deixou de acreditar no poder avassalador dos sonhos que se vivem com toda a alma. Se todos os pais do mundo acreditassem nos seus filhos como este personagem acreditou neles, tantos mas tantos guerreiros mais poderiam sair vitoriosos.
Um hino à coragem, à capacidade de luta pela vida, à fé no ser humano e em Deus. Estou apaixonada!
O filme está disponível em DVD.
“Grandes espectáculos e o público que vem em massa assistir às minhas loucuras...”
Sinto-me grata e orgulhosa de mim mesma. Permaneço dentro do silêncio impotente quando penso no que tem acontecido nestes últimos tempos. Vitórias e reconhecimento depois de tantas batalhas e dificuldades constantes. Eu sabia que isto aconteceria. Mais ninguém o sabia.
Mas... eu sabia! Tenho fé em mim para dar e vender (mas não sem dúvidas e lágrimas) e sempre soube que tanta montanha escalada na mais absoluta solidão dariam frutos. Ei-los aqui...
A luta continua mas flui mais facilmente. Uma monstruosa montanha foi escalada com sucesso e os visitantes desta aldeia global têm vindo visitar o eremita ( “moi”), comprovando aquilo que corre nas bocas do Cairo:
Eu até sei dançar! A miúda percebe daquilo, porra!:)JJJJ
Não descansando sobre elogios e louros ganhos, sei que o que ainda não foi feito é aquilo em que tenho de concentrar-me. O meu espírito de luta e criatividade estão no ponto mais alto que alguma vez pude sentir.
Mal durmo, mal como, mal respiro. Quero criar, surpreender mais e mais...crescer...crescer...abrir as asas e voar porque foi para isso que deixei tudo no meu país e me lancei ao desconhecido como só os loucos e os aventureiros de alma se propõem fazer.
“Telefonema do Além (melhor dizendo, do “Além Cérebro”)
*** Oh, as delícias de se ser mulher – e estrangeira e bailarina! – num país fascinante como o Egipto nunca páram de me surpreender.
Afirmo com uma alarmante placidez que já vi tudo, já ouvi tudo e já presenciei cenas do espectro humano e animal de tal índole que não me admiraria se visse um porquinho a andar de bicicleta. Os meus amigos riem-se quando menciono o tal porco! Vá-se lá saber porquê mas a imagem de um porco rosado a andar de bicicleta despoleta as mais valentes risadas e suspiros aliviados de quem julga que isso não é possível (Um porco?! Montando uma bicicleta?! Nahhh....” ).
*** Pois sim, meus amigos. Neste país de contrastes e deliciosas surpresas constantes, os porcos andam de bicicleta e até de asa delta e, mais surpreendente que estes feitos em si mesmos, ninguém se admira com tal aberração da natureza porque, tal como “moi”, o pessoal de cá está calejado de tal forma que apagou a palavra “impossível” do dicionário. Absurdo é outra das palavras a esvaírem-se a olhos vistos dos dicionários...ah, e lógica e...(a lista é longa, fica para outra vez!)...
*** Hoje recebi um telefonema do Além (Além-cérebro, para ser mais concreta).
Não foram extra-terrestres que me ligaram de Marte tentando convencer-me a comprar uma viagem espacial em promoção mas sim outro tipo de criatura que vive – presumo eu – em cavernas ou em grutas nas profundidades do Mar Morto e que se vislumbra à luz do dia quando nos visita a nós – seres humanos ditos “normais” – colocando em questão noções básicas de inteligência, paciência e utilização produtiva do nosso tempo.
*** Não tendo um gerente que me explore – monetária e/ou sexualmente – e que, por outro lado, me angarie trabalhos extra e faça de ponte entre mim e os potenciais clientes (privados, hotéis, empresários, outros agentes), sou eu quem atende o meu telemóvel egípcio e, assim sendo, exponho-me a todo o tipo de interlocutor.
*** O telefonema de hoje foi emblemático da taxa de desemprego que assola o país e, em particular, os homens de quem se espera que produzam e façam muito dinheiro para sustentar esposas e famílias inteiras.
Não havendo trabalho nem relações pessoais saudáveis e realizadas, um grupo de semi-extra-terrestres lança-se ao passatempo de telefonar a mulheres que eles julgam ser prostitutas (todas as mulheres que não são suas familiares ou que não andem todas cobertas segundo os preceitos religiosos mais extremistas) e, directa ou indirectamente, tentar estabelecer uma relação express que, no meu caso, tentam criar a partir do pretexto do meu trabalho.
*** - Salam ualekum. – Lança o porco que anda de bicicleta.
- Aleekum salam... – Responde a vítima do porco.
- Estou a falar com a Madame Joana? – Continua ele num tom muito sério.
-Sou eu mesma. Quem fala?
- Sou o......(escolham um nome árabe do mais imperceptível que há e coloquem-no neste espaço em branco...soltem as rédeas da vossa imaginação...). Sou actor e produtor e tenho uma fotografia sua nas minhas mãos. Sei que a Joana é bailarina e ando há muito tempo tentando alcançá-la mas só agora consegui.
- Certo. Posso perguntar-lhe como conseguiu então alcançar-me e quem lhe deu a minha fotografia?!
- A sua fotografia está no nosso escritório (outro nome imperceptível nesta altura do campeonato).
- O.k. Diga-me que assunto o leva a telefonar-me?
-A Joana é de Portugal, não é?! (começa a conversa da treta...)
-Sou, sim senhor.
- Ah, Portugal!!! A melhor gente! Gente muito respeitável e bonita...que maravilha! É de onde, exactamente?! De Lisboa?!
- Sim, de Lisboa. Mas, por favor, diga-me qual o assunto do seu telefonema ( e é aqui que eu começo a ficar nervosa e a tentar destrinçar se este é apenas um empresário egípcio abelhudo e amante da conversa de chacha ou se é um atrasado mental – o porquinho, o porquinho! - a passar o tempo tentando engatar uma vítima por telefone).
- Onde vive a Joana? – Pergunta o condutor da bicicleta (ai o porquito!) ignorando os meus pedidos de esclarecimento quanto ao assunto do telefonema.
- Vivo no Cairo. – Respondo eu, não querendo ser mal-educada mas, simultaneamente, começando a sentir uns calores familiares subindo-me pela garganta acima.
- Onde, no Cairo? Pode ser que vivamos perto um do outro?!”
(E aqui dá-se a explosão, ainda que controlada pelo cansaço e pela quantidade monstruosa de vezes que já recebi telefonemas destes).
-Desculpe mas não vejo por que razão deva dizer-lhe onde moro ou o que isso poderá interessar para o meu trabalho. Diga-me qual o motivo do seu telefonema e, se esse motivo não for profissional, por favor desligue.
E gostaria de saber quem lhe deu as minhas fotografias já que não o conheço nem a si nem ao seu escritório.
- Alguém deixou as suas fotografias no meu escritório, não sei quem.
Numa delas tem um decote muito generoso e noutra aparece apenas a sua cara mas a do decote é, realmente, muito expressiva. A do decote...decote...decote...deco...deco...de...de...de...d..d...d...d....d... (o extra-terrestre encalhou no raio do decote!)
-Sim, estou a ver...(a estupidez dele, não o decote!)
- Queria apenas saber se moramos perto um do outro...só isso. – Continua o caçador com uma calma e uma perseverança que são típicamente egípcias e tipicamente irritantes.
- Vou desculpar-me uma vez mas não tenho de lhe responder a essa questão. Qual é o assunto de trabalho que tem para me propôr?! – Insisti eu, sentindo um valente berro querendo dizer olá a este mundo de loucos.
-De momento, nada. Mas... vi a fotografia do decote e achei podia ligar-lhe.
Ahhhh... (lembra-te que estás no Egipto, Joaninha...olha o porquito e a bicicleta...lembra-te das delícias do país que te acolheu...).
Como é que eu, que até me julgo uma moçoila inteligente, não pude entender que quem se deixa fotografar com um decote está “mesmo a pedi-las”?! Como foi possível que eu, moçoila respeitável e de boas famílias me deixasse fotografar com um traje de dança que inclui a exposição deslambida do meu decote (que nem é assim tão generoso quanto isso!) sem esperar um feed-back igualmente vergonhoso?!
O que o porquinho a andar de bicicleta me estava a tentar explicar – indirectamente, como bom egípcio que é – é que o facto de eu ter fotografias com decote a circularem no mercado da dança só pode querer dizer que ando à procura e à espera de telefonemas de anormais que não conheço de lado nenhum tentando “fazer-se ao bife português”!
Como posso ser tão lenta de raciocício?!
- Este contacto é apenas para trabalho. Se o senhor não tem trabalho nenhum para propôr-me, faça o favor de desligar o telefone.
Não lhe dei tempo para responder ou tentar, uma vez mais, inventar uma nova questão pessoal que, talvez (quiçá, quiçá, quiçá...), quebrasse o gelo antártico que nos separava. Persistência e imaginação são qualidades que não se devem menosprezar e os homens egípcios possuem-nas para dar e vender.
*** Assim que desliguei o telefone, pensei no par de minutos e na atenção que desperdicei com mais um porco a andar de bicicleta. Depois de ter visto tantos porcos andando nos mais diferenciados meios de transporte, já devia ter estaleca suficiente para identificar um “esquema de engate” num segundo mas a minha ingenuidade persistente trai-me quando menos espero.
*** O mesmo personagem voltou a ligar persistentemente durante a hora seguinte e, espero eu, deve ter chegado à conclusão que este decote não combina com a sua bicicleta mas, ainda assim, não pude deixar de me surpreender – ainda?! – com a tristeza da vida de tantas pessoas como esta que empregam o seu tempo e dinheiro em tarefas doentias como a caça aos decotes e afins.
Este é um dos passatempos mais comuns no Egipto e um dos sinais óbvios do estado mental e emocional doentios em que os seus residentes se encontram.
*** Os meus sentimentos e profunda pena vão para este, agora desolado, porquinho ciclista.
*** (“Vai mas é trabalhar, malandro!”).
Singela homenagem à minha progenitora e aos “Contemporâneos”, ambos grandes proclamadores deste expressão tão portuguesa.
“Casamento baladi”
*** Actuei no casamento do filho de um dos meus músicos hoje à noite!
Ofereci o espectáculo como prenda de casamento e recebi, como um presente inesperado: a melhor audiência do mundo!
O casamento estava povoado de músicos e cantores e todos eles me esperavam com uma antecipação que eu reconheço quando eu própria vibro ao assistir a um espectáculo da Lucy (bailarina egípcia ainda no activo).
O calor, carinho e reconhecimento da parte deste público tão especial são bençãos que não sei descrever por palavras. Toda a gente quis deixar bem claro que era eu a estrela da noite e conseguiram-no!
Vi lágrimas nos olhos do meu músico, do seu irmão, do noivo, de mulheres da família que se colaram à cadeira olhando-me em extâse total.
Nenhum dinheiro do mundo paga este carinho e respeito!
De regresso a casa, parei em Sakkarah para comprar mangas (às 3.00h da manhã!) e pude apreciar os campos ainda estrelados que os camponeses egípcios cuidam com sacrifício há séculos e séculos.
Só no Egipto isto seria possível...(as mangas eram FENOMENAIS!)
Cairo, dia 4 de Agosto, 2009
“Tentando recuperar forças e compras “baladi”...o submundo onde vivem as cores reais do Egipto”
*** “Ukala”, “Hussein”, “Mercados antigos de Maadi”...
Existem actividades e locais no Cairo que fazem as delícias dos turistas e visitantes ocasionais e que, devido à minha vivência diária por cá, são o similar de pequenos infernos nos quais eu evito enfiar-me.
A familiaridade apaga tanta da magia a locais e pessoas com quem estamos em contacto constante.
O mercado de “Khan el Khalili” (inferno nº 1 no meu “ranking” pessoal), as famosas pirâmides de Gizé ( só estando louca ou a cavalo é que me aventuro nessa área povoada por mil melgas egípcias tentando impingir de tudo um pouco aos turistas), a baixa da cidade (assédio sexual brutal, barulho, trânsito constante e sujidade) e todo o tipo de mercados locais (baladi) aos quais, feliz ou infelizmente, tenho de recorrer de quando em vez.
*** Dia de compras “baladi” com a minha assistente. O roteiro completo :
*** “Ukala”, ou o mercado dos tecidos onde se pode encontrar roupa em segunda mão, materiais de costura e outras coisitas que fazem as delícias da vaidade feminina mas que, a mim, me aborrecem de morte.
O que adquiri: tecidos e materiais para os meus novos trajes e para a minha primeira pequena colecção de trajes de dança (preparem-se para as fotos aqui no BLOG!)
*** “Hussein”, ou “Khan el Khalili” onde se encontram quantidades assustadoras de turistas (eu já fui um deles mas tendo a esquecer-me disso!) e de outro tipo de melga egípcia que mistura assédio sexual com um falatório frenético lançado sem pudor aos nossos ouvidos tentando vender o que precisamos e o que não precisamos. Assédio sexual e comercial juntinhos num cocktail explosivo que, a um estrangeiro pode soar exótico e até engraçado mas que, para mim que já ouvi as ladainhas mil vezes, me soa como uma música de mau “heavy metal”.
O facto de eu entender árabe – em oposição aos estrangeiros que não o entendem – só piora a situação.
A minha assistente perde-se fascinada no meio das lantejoulas e dos trajes, dos lenços e dos bastões. O meu cérebro está focado naquilo que interessa: materiais para as minhas criações/trajes, músicas novas que eu possa incluir no meu espectáculo, o que quer que seja que enriqueça o meu trabalho.
Serei demasiado capricorniana?! Talvez, apesar da familiaridade e de entender os insultos velados lançados aos estrangeiros, eu pudesse usufruir um pouco mais deste pequeno “inferno” à face da terra mas ainda não o consigo fazer.
Prometo à minha assistente trazê-la, uma noite, ao “Hussein” que a mim me agrada. O café de Naguib Mahfouz, o meu café “baladi” que me foi dado a conhecer pelo meu querido professor Shokry Mohamed (infelizmente, falecido), o espectáculo dos derviches no palácio de “El Khoury” e outras delícias que se revelam como flores nocturnas.
O que adquiri:
Uma pequena crise de nervos protegendo-me a mim e à minha assistente que, apesar de ser egípcia, se encostou aqui à guerreira estrangeira para protecção e orientação.
Strass, lantejoulas, materiais diversos para trajes que estou a desenhar.
*** Mercados baladi de Maadi
E o caos aqui tão perto de casa. Eu nem fazia ideia!
Nada de turismo, pirâmides ou lantejoulas. Este é o mercado do povo e aquilo que ele procura está lá:
*** Vegetais e frutas (a frescura parece ser dispensável no que concerne estes bens). Nunca o “Kunami” (fruta pobre vendida como se fosse fresquíssima e exótica segundo um dos “sketches” dos Gato Fedorento!) ganhou tamanho significado e dimensão. O Cairo é o Rei absoluto do Kunami. Está declarado (e penso que se encontra na Constituíção Egípcia).
*** Carne e peixe de origens duvidosas e segundo os mesmos preceitos da fruta/vegetais kunami. A carne chega aos talhos vinda em táxis, bicicletas e todo o tipo de veículos não refrigerados que compensam a sua ineficácia com aquilo que os egípcios têm de melhor: o sentido de humor!
A carne e o peixe são mantidos às moscas e expostos nas ruas, bem como o pão que se espalha no chão como areia ou os mariscos que podem ser escolhidos a partir de um viveiro improvisado num alguidar lá de casa.
*** Lingerie egípcia ao seu melhor estilo “sex shop”. A gama completa para agradar ao marido/amante obscuro/ vizinho/ noivo com quem se tem encontros proíbidos antes do casamento e para festejar os célebres rituais das 5ª feiras à noite (altura em que as esposas dançam/seduzem os maridos partindo para aquilo que é, supostamente, uma noite de sexo com ou sem amor).
Plumas nos mamilos, girassóis guerridos nos sítios onde o sol não brilha, fetiches atrás de fetiches na forma de lingerie reflectindo – em grande escala e muito claramente – o estado da sexualidade neste país.
O conceito de sedução inexistente (proíbido por uma visão extremista do Islão) e a pornografia, em seu lugar, tomando um lugar cimeiro em todo o seu esplendor.
*** Roupas ousadas ao lado de “hijabs” usados para cobrir as cabeças das mulheres que se submetem a esse gesto considerado religioso e de respeito a Deus. O contraste e a contradição definem o Egipto desde tempos imemoriais e essa característica não se perdeu, como é óbvio pelo convívio absurdo entre repressão e libertinagem, entre uma cabeça totalmente coberta e uns jeans apertados que revelam cada curva e detalhe do corpo de uma mulher.
*** Artigos ligados ao Ramadão que está mesmo aqui à porta:
Nozes, figos, ingredientes para confeccionar as iguarias próprias desta altura sagrada do ano, lâmpadas do Ramadão (símbolo desta estação festiva), vestidinhos e fatos masculinos para crianças (as crianças recebem roupas novas nesta altura, um pouco como no Natal dos Cristãos), etc.
*** E eu correndo...
Correndo para finalizar todas as compras importantes antes de começar o Ramadão – dia 20 de Setembro – porque, assim que este comece, a preguiça que já é tanta no comum dos dias, atinge dimensões assustadoras e, pior que isso, encontra desculpa e apoio geral.
As lojas abrem tarde – se abrirem! – e ficam abertas em horários variáveis consonte a disposição do comerciante, os vendedores são mais lentos do que o normal devido ao jejum que cumprem até às 17.00h (hora aproximada de quebra de jejum) e nada do que se planeia se cumpre devido ao caos e lassidão gerais.
Pelo que já me apercebi, até o ginásio que frequento (“Gold´s Gym”) e que se pauta por coordenadas internacionais, fechará durante todo o dia funcionando apenas das 18.00h às 1.00h da manhã. Eu que até nem sou muçulmana tenho de cumprir o horário do jejum e mudar toda a minha rotina em função do mesmo. Isto (também) é o Egipto que eu amo.
*** Vá-se lá compreender o amor!
Cairo, dia 3 de Agosto, 2009
*** Nagle, a minha salva-vidas!
A minha assistente egípcia tem sido a minha salvação nestas últimas semanas. Não só me assistiu em tudo o que precisava antes, durante e depois dos espectáculos diários como me presenteou com algumas das iguarias da cultura popular egípcia:
Todos os dias me trouxe comida egípcia caseira (o orgulho na cara dela quando eu gemi de prazer ao provar cada um dos pratos não tem preço!);
Introduziu esta humilde latina a uma arte ancestral praticada no Egipto até hoje: “halawa” ! A “halawa” é uma pasta que se assemelha à cera depilatória usada no Ocidente feita manualmente a partir de limão, mel e açucar.
As mulheres egípcias e árabes depilam-se totalmente. Quero dizer: TOTALMENTE (fui clara ou preciso de dar detalhes anatómicos?) e entram em estado de histeria profunda se vêem um pêlo a despontar de um braço ou de uma virilha. A aversão às pelosidades femininas é algo que ainda não entendi totalmente. Cá para mim, é mais uma forma de manter a mulher em eterno sofrimento e escravidão seguindo cânones de beleza que as escravizam e fazem sofrer. Imaginam o que é depilar constantemente todo o corpo?! Uiiiiiiiii.....
Até a cara de depila...as costas, os pés, as sobrancelhas, tudo e mais alguma coisa. Suspeito que esta atenção exagerada aos pêlos também tem a ver com a falta do que fazer. Hmmmm...
A minha ode pessoal e admiração profunda vai para as nossas amigas francesas e afins que se declaram, mais ou menos, livres das imposições estéticas da sua cultura exibindo orgulhosos tufos debaixo dos braços e nas virilhas. Rastas e trancinhas poderão ser uma opção para estas nossas amigas mas não aconselho que as venham exibir aqui para o Médio Oriente. Aqui, o ódio ao pêlo é a bandeira mais hasteada pelo mulherio e as tatuagens de “henna” nas partes pudibundas do pessoal são um “must” cujo fascínio também ainda não entendi.
Se eu fosse um homem e a minha mulher/namorada/o que Deus queira e imagine me aparecesse nua totalmente depilada (“look” extra-terrestre devido à ausência das sobrancelhas) e com a tatuagem de um dragão na...vamos lá ver...passarola (não me ocorreu nada melhor)...eu fugiria a sete pés. Pisga-te!
NOTA: Não pude deixar de reparar no deleite sádico que a Nagle pareceu extraír ao oferecer-me o ritual feminino da “halawa” e do choque na sua cara fortemente maquilhada quando lhe disse que nós, as latinas, temos pelitos nos braços (“Que nojo...”).
NOTINHA EXTRA: O óleo de menta que ela desencantou num mercado local para aliviar os meus músculos. Fantástico! Receita caseira e um autêntico salva-vidas. MUITO BOM. Nunca dormi sem antes passar este óleo nas pernas a fim de me ajudar a recuperar de um dia para o outro sem o devido descanso.
Chá egípcio com menta como só os egípcios sabem confeccionar. Tem a ver com os tempos de fervura, a quantidade de chá, menta e açúcar, a atenção que se dá ao ritual e a lentidão com que se depura o sabor de tudo...ninguém prepara um chá como os egípcios.
Antes de eu ter tempo de lhe pedir, a Nagle dava os passos mágicos e invisíveis para que eu tivesse sempre um copo de chá com menta bem quentinho na mesa do meu camarim. Atenções destas não têm preço!
Arranjos, trajes, cortinas lá para casa, limpezas...A verdadeira “Wonder Woman”: Nagle! Foi ela que me arranjou trajes novinhos em folha comprados a “designers” da treta que me cobram os olhos da cara por roupas de dança que se desmancham quando as visto pela primeira vez.
Foi ela que que fez uma bonitas – e tão esperadas – cortinas cor-de-rosa para o salão da minha casa.
Foi ela que, entre uma entrada de palco e outra me remendou um “soutien” que ameaçava abrir-se em pleno espectáculo.
Ela fez de tudo um pouco...
A Nagle e o seu “walkman” de segunda mão onde me mostrou uma série interminável de músicas que ela gostaria que eu dançasse. O mai surpreendente de tudo é o bom gosto e sentido de espectáculo que ela demonstrou possuir. Alguns dos temas que agora danço em palco foram sugestões dela.
Nagle, a fotógrafa. As fotografias de camarins que podem ver nos meus BLOGS e no meu FACE BOOK são da autoria desta senhora “baladi” com uma alma de artista e uma vontade de trabalhar muito pouco usual nas suas conterrâneas. Gosto de mulheres assim, prontas a arregaçar as mangas e a ir à luta! Não é por acaso que ela é minha assistente.:)
Saturday, August 1, 2009
E a minha mente nao para. Novo programa, trajes, coreografias com novos bailarinos, ensaio com a nova orquestra. Em busca da excelencia, sempre.