Saturday, August 15, 2009


Cairo, dia 3 de Agosto, 2009

*** Nagle, a minha salva-vidas!

A minha assistente egípcia tem sido a minha salvação nestas últimas semanas. Não só me assistiu em tudo o que precisava antes, durante e depois dos espectáculos diários como me presenteou com algumas das iguarias da cultura popular egípcia:

Todos os dias me trouxe comida egípcia caseira (o orgulho na cara dela quando eu gemi de prazer ao provar cada um dos pratos não tem preço!);
Introduziu esta humilde latina a uma arte ancestral praticada no Egipto até hoje: “halawa” ! A “halawa” é uma pasta que se assemelha à cera depilatória usada no Ocidente feita manualmente a partir de limão, mel e açucar.
As mulheres egípcias e árabes depilam-se totalmente. Quero dizer: TOTALMENTE (fui clara ou preciso de dar detalhes anatómicos?) e entram em estado de histeria profunda se vêem um pêlo a despontar de um braço ou de uma virilha. A aversão às pelosidades femininas é algo que ainda não entendi totalmente. Cá para mim, é mais uma forma de manter a mulher em eterno sofrimento e escravidão seguindo cânones de beleza que as escravizam e fazem sofrer. Imaginam o que é depilar constantemente todo o corpo?! Uiiiiiiiii.....
Até a cara de depila...as costas, os pés, as sobrancelhas, tudo e mais alguma coisa. Suspeito que esta atenção exagerada aos pêlos também tem a ver com a falta do que fazer. Hmmmm...

A minha ode pessoal e admiração profunda vai para as nossas amigas francesas e afins que se declaram, mais ou menos, livres das imposições estéticas da sua cultura exibindo orgulhosos tufos debaixo dos braços e nas virilhas. Rastas e trancinhas poderão ser uma opção para estas nossas amigas mas não aconselho que as venham exibir aqui para o Médio Oriente. Aqui, o ódio ao pêlo é a bandeira mais hasteada pelo mulherio e as tatuagens de “henna” nas partes pudibundas do pessoal são um “must” cujo fascínio também ainda não entendi.
Se eu fosse um homem e a minha mulher/namorada/o que Deus queira e imagine me aparecesse nua totalmente depilada (“look” extra-terrestre devido à ausência das sobrancelhas) e com a tatuagem de um dragão na...vamos lá ver...passarola (não me ocorreu nada melhor)...eu fugiria a sete pés. Pisga-te!

NOTA: Não pude deixar de reparar no deleite sádico que a Nagle pareceu extraír ao oferecer-me o ritual feminino da “halawa” e do choque na sua cara fortemente maquilhada quando lhe disse que nós, as latinas, temos pelitos nos braços (“Que nojo...”).

NOTINHA EXTRA: O óleo de menta que ela desencantou num mercado local para aliviar os meus músculos. Fantástico! Receita caseira e um autêntico salva-vidas. MUITO BOM. Nunca dormi sem antes passar este óleo nas pernas a fim de me ajudar a recuperar de um dia para o outro sem o devido descanso.

Chá egípcio com menta como só os egípcios sabem confeccionar. Tem a ver com os tempos de fervura, a quantidade de chá, menta e açúcar, a atenção que se dá ao ritual e a lentidão com que se depura o sabor de tudo...ninguém prepara um chá como os egípcios.
Antes de eu ter tempo de lhe pedir, a Nagle dava os passos mágicos e invisíveis para que eu tivesse sempre um copo de chá com menta bem quentinho na mesa do meu camarim. Atenções destas não têm preço!

Arranjos, trajes, cortinas lá para casa, limpezas...A verdadeira “Wonder Woman”: Nagle! Foi ela que me arranjou trajes novinhos em folha comprados a “designers” da treta que me cobram os olhos da cara por roupas de dança que se desmancham quando as visto pela primeira vez.
Foi ela que que fez uma bonitas – e tão esperadas – cortinas cor-de-rosa para o salão da minha casa.
Foi ela que, entre uma entrada de palco e outra me remendou um “soutien” que ameaçava abrir-se em pleno espectáculo.
Ela fez de tudo um pouco...

A Nagle e o seu “walkman” de segunda mão onde me mostrou uma série interminável de músicas que ela gostaria que eu dançasse. O mai surpreendente de tudo é o bom gosto e sentido de espectáculo que ela demonstrou possuir. Alguns dos temas que agora danço em palco foram sugestões dela.

Nagle, a fotógrafa. As fotografias de camarins que podem ver nos meus BLOGS e no meu FACE BOOK são da autoria desta senhora “baladi” com uma alma de artista e uma vontade de trabalhar muito pouco usual nas suas conterrâneas. Gosto de mulheres assim, prontas a arregaçar as mangas e a ir à luta! Não é por acaso que ela é minha assistente.:)

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