Saturday, August 15, 2009

Cairo, dia 15 de Agosto, 2009

“Ramadão aqui à porta...”

*** O Ramadão já nos está a bater à porta.
Recebo esta época do ano com alegria e com receio. Pela primeira vez, não farei parte do fluxo de estrangeiros que “fogem” do Egipto nesta altura do ano. Quem não é muçulmano – e, portanto, não partilha os ritos e rotina do Ramadão – está, em bom português de rua, “feito ao bife”!
O Governo – altamente influenciado e dominado pelos lobbies religiosos – lança leis que permitem a total negligência de comerciantes, médicos e todo o tipo de profissionais durante a época que é o maior símbolo do Islão.
As lojas fecham e abrem mais ou menos ao sabor dos caprichos – e horários de refeições – dos seus donos, o jejum diurno é desculpa para todo o género de atrasos, incompetência e incongruências humanas e ninguém espera nenhum tipo de responsabilidade de ninguém (porque estamos no Ramadão!).

À hora da quebra do jejum – aproximadamente, às 17.00h – ninguém que esteja na posse total da sua mente se atreve a procurar um táxi ou a requerer um serviço porque todos os muçulmanos – os que cumprem e os que roubam, os que professam a devassidão por baixo da mesa e os que a professam em cima dela – correm para casa ou para as mesas comunais de rua para comer, comer, comer...

Aquilo que não se come durante o dia é compensado à noite. Curiosamente, não existe altura do ano em que se coma tanto como no Ramadão (contradição com o suposto espírito da época que refere o jejum e a dádiva aos mais pobres como pilares de comportamento e conduta) e em nenhuma época do ano o espírito mercantilista está tão aceso. Todo o egípcio – desde o mais pobre ao mais rico – sabe que esta é a altura para comprar toneladas de comida, roupas e sapatos e doces, muitos, muitos doces feitos com o mel árabe.
Contagem decrescente para o primeiro dia de jejum – 20-21 de Setembro – e para o festim de comida que se seguirá.

*** Pela primeira vez, estarei a actuar durante todo o Ramadão. Jejuns, comesainas desalmadas que se seguem, reuniões familiares diárias...hmmmm...
Já fui aconselhada a não referir à orquestra que dançarei com trajes “normais”.
Nesta altura do ano, tudo é “haram”. Proíbido. Censurado. Ofensa a Alá. Que fazer??? Dançar metida num saco de batatas parece ser a única opção que me vem à cabeça.
Convencer os músicos a ensaiar e a dar o “litro” no palco vai ser um desafio para o qual não sei se terei paciência. Lá vai ter de ser.
Quem não tem paciência – e uma boa dose de loucura e até masoquismo – não pode viver num país como este.

*** Já referi que adoro o Egipto?!

*** Ramadan Kareem (Feliz Ramadão) para todos; muçulmanos e cristãos, judeus e budistas. Hindus, amantes do “kandomble” e do “voodo” havaiano. Amantes de Deus dentro e fora de nós. Prosperidades para todos nós, além de qualquer religião ou classificação absurda.

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