Uma das manobras de auto-promoção e publicidade enganosa mais usadas por imensas bailarinas hoje em dia é dizerem que actuam ou actuaram no Cairo, sem alguma vez o terem feito.
Senão vejamos:
1. Pagar para poder actuar, uma noite, sobre o palco de um Festival não significa absolutamente nada, para além da experiência maravilhosa que é poder dançar com uma orquestra egípcia ao vivo (especialmente, se a orquestra for de boa qualidade e inspirada);
2. Passar um par de meses no Cairo e deixar-se fotografar dançando no espectáculo de outra bailarina não constitui prova de que se faz ou fez carreira por lá;
3. Pagar, uma vez mais, aos donos desonestos e mercenários de um "night-club" de certos hotéis para que as deixem dançar uma ou duas noites e assim afirmarem que "dançaram profissionalmente no Cairo" tão pouco conta.
O que conta então?
Quando cheguei ao Egipto, de malas e sonhos na mão e muita ousadia/ignorância, pensei que conseguir um contracto de um ano seria mais do que suficiente para aprender, ganhar experiência e recolher material para a escrita do meu LIVRO (que está agora em fase final de elaboração). Achava que sabia muito, sabendo quase nada.
Quando me estreei, após muitas lutas, o sucesso que me foi oferecido - e merecido - deixou em mim um vício: o prazer, adrenalina e felicidade de dançar com músicos egípcios e para audiências egípcias. De um ano, passei para seis! Agora que, finalmente, começo a sair do meu casulo cairota e partilho o que sei com o MUNDO inteiro, tenho convicção do que FAÇO mas mais perguntas do que respostas.
Dançar profissionalmente no Cairo equivale a:
1. Trabalhar sob contrato e devido pagamento pelo nosso trabalho não devido a favores "escusos" mas ao talento demonstrado em palco;
2. Gerir a nossa própria orquestra durante anos, artística e pessoalmente;
3. Expôr-se durante uns anos - não apenas um dia ou um par de meses! - às audiências egípcias e árabes, as mais difíceis e compensadoras do planeta Terra e arredores;
4. Dominar o idioma egípcio e, com ele, entender profundamente a mentalidade e cultura locais, além das letras das canções que escolhemos interpretar;
5. Saber sobre música a partir da relação com a nossa própria orquestra, saber como ensaiá-la e indicar o que se quer do material que desejamos dançar;
6. Enfrentar os preconceitos e tempestades que sempre se apresentam a BAILARINAS que também sejam- má sorte! - pessoas íntegras e com RESPEITO/AMOR por si mesmas e pela ARTE que representam.
A lista poderia não ter fim.
Falsa publicidade que nos venda como algo que não somos não garantirá QUALIDADE no que fazemos. Ter a oportunidade de dançar no Cairo, rodeada de músicos e todo o contexto egípcio, é uma experiência única que todas as bailarinas deveriam ter mas vender uma suposta carreira que nunca construiram é, não só desonesto, como injusto para aquelas que, REALMENTE, o fizeram.
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