Tuesday, February 9, 2010




Cairo, dia 1 de Fevereiro, 2010

“Odisseia musical – Parte III”


Como construír uma música a partir do NADA? Dessa pedra em bruto que é o silêncio, nasce um mundo novo mas de onde vem esse mundo? De que é feito?
Como pode o próprio compositor entender a personalidade complexa de uma bailarina/pessoa e traduzi-lo em forma musical?!

Finalização da música, conceito de movimento, ideias de como materializar a música, dar-lhe vida e sentido humano mais presente e palpável.
A dança é a celebração da dimensão humana e divina do ser humano.
Enquanto o corpo se torna mais visível e proeminente – principal razão dos ataques milenares que várias religiões inferiram a esta Arte – o Coração e o Espírito tomam vida de forma invisível mas mais PRESENTE do que o lado material da gente.

Depois da composição e das gravações de vários instrumentos necessárias no “puzzle” complexo que é o tema musical (violinos, k´anun, violoncelos, acordeão, flauta nay, vários instrumentos de percussão, sagats, etc, cada um com a sua função, sítio, entradas e saídas exactas como actores que dialogam numa dinâmica peça teatral) ainda existe a montagem, edição, correcção de eventuais falhas.

Também aqui meti o dedo, claro está.
Identifiquei erros – o que não foi difícil, sendo eu que corrijo e orquestro a minha própria banda no Cairo – e sugeri edição para diversas partes da música. A esta altura do campeonato, o compositor já não devia querer ver-me à frente.
Penso que ele deve ter tido uma série ininterrupta de pesadelos nos quais eu era a protagonista.

A alegria de ter a música pronta e na palma da minha mão é serenada pelo facto de saber que este foi apenas o ponto de partida para o meu trabalho. Do ponto de vista do compositor e dos músicos que interpretaram a música, o trabalho está concluído. Do meu ponto de vista, o trabalho só começa agora porque sou eu quem terá de traduzir este material em termos de DANÇA. Sou eu, através do movimento, das minhas ideias e sentimentos, que darei VIDA e tornarei VISÍVEL esta bela amálgama de sons.

Sei que fiz parte integrante de todo o processo de composição e gravação (estive fechada no estúdio horas e horas sem conta...) mas o meu trabalho, propriamente dito, ainda agora teve início.
Enquanto o compositor se congratula pelo resultado do seu – nosso – trabalho, eu já estou a magicar sobre o que fazer com esta linda “batata quente” que ele me deixou nas mãos.

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