Cairo, dia 6 de Fevereiro, 2010
“A galinha do vizinho...”
A galinha do vizinho é sempre mais gorda e apetitosa do que a minha!
Loções branqueadoras da pele são grande produto de consumo entre as mulheres árabes.
Quando apanhei uma senhora egípcia a retocar a base branca com que se maquilha (para ir treinar ao ginásio?!) pensei cá para comigo:
Que loucura!
As mulheres ocidentais consomem produtos e serviços para ficarem bronzeadas e mais escuras que nem um tição e as mulheres árabes e egípcias pagam fortunas para ficarem brancas (produtos de cosmética e operações plásticas de branqueamento da pele).
Já não falo da perturbação que é, para mim (rústica, no fundo), ver uma mulher maquilhada no ginásio. Parte-se do princípio de que se vai suar profusamente. A maquilhagem serve para quê, neste contexto? Para ver como funciona o eye-liner desfeito em suor?
A senhora não estava, somente, maquilhada com a tal base branca. Ela estava com o “hijab”, o lenço que cobre a cabeça e parte dos ombros. Outra questão:
Para quê o “hijab” numa secção do ginásio onde só são permitidas mulheres?!
Não será sufocante correr e afins com um lenço pesado enrolado na cabeça?
Prefiro nem pensar no assunto...
Onde está a lógica em tudo isto e como posso, eu própria, questionar-me quando venho de uma cultura onde a Mulher também tenta ser quem não é de forma a incluír-se no cânone de beleza que a sociedade lhe impõe?
A mulher árabe/egípcia olha para a pele branca de uma ocidental com inveja.
Fazem-se programas inteiros de vendas ao domicílio sobre produtos branqueadores da pele.
As mulheres ocidentais correm para os salões de beleza para se bronzearem, fritam debaixo do sol durante horas e compram loções bronzeadoras.
Quando chegará o ponto em que nos aceitamos como somos sem olhar para o lado?
Quando será que nos conseguiremos dissociar da máquina de marketing avassaladora que nos convence que apenas seremos belas, desejáveis e amadas quando correspondermos a uma certa imagem?
Poderá, alguma vez, a Beleza ser algo pessoal e intransmissível longe dos interesses económicos de quem nos promete vender a FELICIDADE num boião de creme?
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