Nunca fui sensata, comedida, diplomática, cuidadosa em não ferir susceptibilidades; tão pouco, alguma vez, fui cobarde e, por isso, é impossível demitir-me da responsabilidade que tenho enquanto cidadã do mundo.
Nestes últimos anos de vida e carreira no Egipto, jamais fechei os olhos ou a boca quando alguma injustiça ou crueldade me passou pela frente. Recusei vender-me a um sistema profundamente doente e apodrecido; denunciei os maus tratos a mulheres e, em concreto, às bailarinas; fiz frente - pagando caro por isso - a uma mentalidade obtusa que não sabe definir o que é um SER HUMANO.
A família e os amigos preocupam-se pela minha ousada atitude em relação à política no Egipto e pelo facto de colocar em risco a minha integridade física através de críticas abertas e comportamentos que vão contra o estado calamitoso das coisas e os poderes vigentes.
Embora compreenda a sua preocupação e saiba, em plena consciência, que já me deixei prejudicar várias vezes e coloco a minha vida em risco, é IMPOSSÍVEL calar-me. Feitio ou defeito, dependendo da perspectiva.
Do que se passa no Egipto já nem me apetece falar: não por medo, mas por exaustão pura e dura.
As notícias do que se está a passar em Portugal reacenderam, no entanto, essa REVOLTA URGENTE e ESSENCIAL contra a INJUSTIÇA e a CORRUPÇÃO. Aqui no Egipto, em Portugal, em qualquer outra parte do mundo.
Há quem defenda que os Artistas não devem manifestar-se politicamente; creio que quem o afirma é cobardolas e não merece o meu respeito.
A Política equivale a LEIS e essas leis reflectem-se na nossa QUALIDADE de VIDA. Se esta é arruinada e serve os interesses de ladrões e assassinos, quem seria eu senão me insurgisse contra tamanha FEALDADE?
Se me digo sensível na minha Arte, como na minha Vida, como posso ficar indiferente ao que se está a passar no mundo e, em concreto, nos dois países a que chamo "meus"?!
Sim, é cómodo e seguro ficar na rectaguarda e ver o navio afundar-se - enquanto se espera por um milagre - mas não faz o meu estilo. Estivesse eu em Portugal neste próximo dia 15 de Setembro e tenho a certeza que ficaria sem voz de tanto gritar: "CHEGA!" Familiares, amigos, gente educada e brilhante...todos no desemprego, emigrando, sobrevivendo miseravelmente...desde quando isto já se viu?!
Apelo - como Artista e Ser Humano - a que vão a esta manifestação em Lisboa e que se UNAM pelo que é CORRECTO e JUSTO.
A aprender: Não nascemos LIVRES, como dizem os Direitos Humanos.
Neste mundo ainda dominado pela matéria mais baixa, a LIBERDADE ainda se CONQUISTA: não nos é dada, nunca o foi.
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