Cairo, dia 19 de Janeiro, 2010
“Guitarrada no coração do Cairo”
Eis o tão esperado concerto da Mariza (a nossa cantora de Fado mais mediática do momento) na Ópera do Cairo!
Eu já sabia que isto ía dar molho...e deu, sim senhores (porque eu, como o nosso querido Cavalo Silva, raramente me engano quando se trata dos meus instintos).
Assitir e participar num concerto de FADO no coração da cidade do Cairo quando a “vítima” em questão – eu - vive nesta cidade, sente tanta saudade da Alma do seu país e é uma sentimental inveterada/assumida é uma receita para o desastre.
Assim que se abriram as cortinas do palco e eu vi uma guitarra portuguesa deitada, preguiçosa, numa cadeira vulgar de cetim já gasto caíu o “Carmo e a Trindade” (para usar uma expressão bem lisboeta, já que o assunto é FADO).
A partir daí, foi sempre a descer...não houve canção em que eu não ameaçasse afogar o meu vizinho do lado com o caudal das minhas lágrimas.
Que vergonha, meu Deus! Se a minha irmã aqui estivesse a ouvir-me, diria:
“Oh, miúda...fogo!Que cena, man...Tu só dás estrilho, pá...fónix...” (sim, já anunciei que a minha irmã é uma poeta do povo, isto corre-nos nas veias).
A Mariza não é, nem passou a ser, a minha cantora de Fado preferida mas reconheço imensas qualidades na sua música, personalidade e forma de se apresentar ao mundo.
Inteligentemente, ela deu uma roupagem universal-actual ao Fado.
Não é que este não a tivesse, na sua natureza, mas a orquestração e arranjos que algum génio lhe fez do repertório acrescentam uma qualidade de “world music” ao FADO que chega mais facilmente aos ouvidos e corações dos cidadãos deste mundo actual onde todas as culturas se contactam (positiva e negativamente).
Do espectáculo, friso os seguintes pontos positivos:
1. A presença simples e humilde da Mariza que permite um contacto e calor maiores entre ela, os seus músicos e o público. Grande qualidade que eu, frequentemente, aprecio na gente do meu país. Só os GRANDES são humildes.
2. Arranjos musicais FANTÁSTICOS emprestando sonoridades africanas e latino-americanas à linguagem lusitana do FADO sem que este perca a sua identidade e carisma próprios. No fundo, a música portuguesa tem tanto de África e da América Latina...temos história partilhada e a Mariza (mais a sua excelente equipa) conseguem trazer à tona essas ligações que só enriquecem a música e os pontos de contacto entre a artista e o público.
3. Comentários sobre cada música e referências – em português e inglês – tornando o material apresentado mais acessível e compreensível para a audiência que era, maioritariamente, egípcia.
Carisma pessoal. A Mariza é simpática. E ponto final. Ela parece ser, genuinamente, acessível e próxima do seu público – sem pretensões nem arrogâncias. Importantíssimo para o público egípcio que decide, num minuto, se vai “com a cara” do artista ou não segundo a atitude que este emite.
4. A VERDADE.
Transpira da Mariza uma sinceridade tocante. Ela canta o que sente, como sente e sem pudores ou “macaquinhos” no cérebro (as terríveis pretensões).
Canta, simplesmente, o que sente e está a “borrifar-se” para o resto. Esta autenticidade e segurança sente-se e dá ao seu espectáculo uma convicção da qual não se duvida.
Muitos egípcios encantados com o FADO na audiência.
Claro que deveria haver portugueses mas, se os havia, eu não os senti nem escutei.
Prova, uma vez mais, de que a música pode mesmo ser uma linguagem universal e da Alma que atravessa e une todos os Povos de todos os tempos e hemisférios.
Muitos egípcios encantados com o FADO na audiência.
Claro que deveria haver portugueses mas, se os havia, eu não os senti nem escutei.
Prova, uma vez mais, de que a música pode mesmo ser uma linguagem universal e da Alma que atravessa e une todos os Povos de todos os tempos e hemisférios.
Curiosidade:
Ouvir cantar em português nesta minha segunda cidade – Cairo – foi uma experiência (mais uma!) do terceiro grau.
Estou demasiado habituada a ouvir árabe, parece-me. Isto pareceu-me totalmente fora do contexto do meu mundo egípcio e conseguiu transportar-me para o meu país.
Muitos egípcios encantados com o FADO na audiência.Claro que deveria haver portugueses mas, se os havia, eu não os senti nem escutei. Prova, uma vez mais, de que a música pode mesmo ser uma linguagem universal e da Alma que atravessa e une todos os Povos de todos os tempos e hemisférios.
O último tema do espectáculo foi o meu preferido:
A Mariza improvizou uma “desgarrada” com os seus guitarristas.
Retiraram-se os microfones e introduziu-se a promessa de recriar o ambiente musical de uma verdadeira Casa de Fados Lisboeta. Este foi o tema menos “universal” do espectáculo – no sentido musical – mas o que mais uniu as pessoas e as encantou. Para mim, foi o ponto alto do espectáculo (não será à toa que o incluem no final da noite). Muita verdade. Total ausência de enfeites, “show-off” e apetrechos tecnológicos. O mais simples e humano possível.
A-D-O-R-E-I.
O poder vocal da Mariza ficou por ali perdido na ausência de um potente microfone mas, talvez por isso e em compensação, vimos uma cantora com mais garra, personalidade e graça do que durante todo o espectáculo.
Os dois guitarristas também cantaram – cada um na sua vez, como dita a desgarrada – e ali se recriou, verdadeiramente, o ambiente de uma taverna da minha cidade natal.
Para não variar, eu chorei, chorei e ainda consegui chorar mais um pedacinho só porque ela referiu que aquele momento pertencia a Lisboa.
E chorei, e chorei...há quem diga que é esse lirismo saudosista que todos os portugueses parecem carregar no sangue.
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