Tuesday, January 5, 2010

Cairo, dia 3 de Janeiro, 2010

“Noite de Fim de Ano”



Esta foi, sem dúvida, a noite de fim-de-ano mais divertida da minha vida.
A minha boca doeu-me durante horas e horas devido ao rir incessante da minha exausta, mas feliz, pessoa!

Grandes espectáculos de fim-de-ano no “Nile Maxim” e depois ainda uma festa privada que durou até às 4h da manhã...
Cheguei a casa, adormeci com dificuldade e acordei a tempo de me maquilhar e seguir para o trabalho, uma vez mais.

A melhor parte da noite não foi, curiosamente, o que fizémos em termos de espectáculos mas sim a camaradagem e diversão entre mim, músicos e bailarinos.Não fosse pelo medinho agudo que tenho do mau olhado, colocaria por cá fotos fantásticas que os meus bailarinos tiraram durante a nossa “longa noite”.

Fica apenas o registo da menina Joana ao leme do barco (bem representativo da forma como conduzo o meu trabalho e vida, sempre dona de mim propria...).

Quando a meia noite se anunciou nos relógios cairotas, o “Nile Maxim” transformou-se num rio de escuridão e todas as luzes do rio Nilo e da cidade passageira tomaram vida. Olhei à minha volta e não quiz acreditar em tudo o que conquistei neste ano difícil de 2009!
Só espero que as ajudas “lá de cima” sejam mais abundantes durante 2010 porque, até agora, tenho sido uma guerreira solitária. Sei que Deus está sempre comigo e agradeço todas as bençãos que em mim foram depositadas mas, ainda assim, o Senhor lá de cima e a Matemática Maior poderiam ser um pouco mais simpáticos comigo. Ando batalhando – quase, quase - sozinha há demasiado tempo...

De todas as vitórias deste ano, ressalto – acima de tudo – a chapada de luva branca que dei aos grandes patrões do local onde eu estava fixa antes de assinar contrato com o “NILE MAXIM”.
Sem perspectivas nenhumas de contrato à vista, eu recusei-me a trabalhar até que o “big boss” dos “Pharaohs of the Nile” me pedisse desculpa, pessoalmente, por uma atitude rude que teve comigo. Nessa noite, agarrei os meus músicos pelos braços e voei do palco prometendo a pés juntos que ninguém me iria desrespeitar. Prometido é devido.
O caos instalou-se, os vários patrõezinhos e “tachos” telefonaram-me em desespero tentando que eu não cancelasse o trabalho mas a verdade é que o pedido de desculpas do “big boss” não havia chegado e eu, simplesmente, DESPEDI-ME.

A expressão de incredulidade e terror na cara do arrogante “big boss” foi impagável e dá-me mais orgulho do que tantas outras coisas maravilhosas que, entretanto, fiz pelo ano fora.
Ninguém acreditou que eu levasse adiante a minha decisão de não trabalhar mais naquele local mas isso só aconteceu por não me conhecerem.
Existem os cães que ladram, ladram mas não mordem.
Eu ladro muito, muito pouco mas, quando a mostarda me chega ao nariz, mordo – e de que maneira! – sem aviso prévio e não há nada nem ninguém que me faça voltar a atrás na decisão tomada.

Ter mostrado a estes “big bosses” (que não nada mais do que “compadres” e familiares de outros “big bosses” sem abilitações ou competência) que não podem desrespeitar uma artista e saír da situação como se nada fosse terá sido, definitivamente, o ponto alto do meu ano.

Mais uma vez, todos os que me rodeavam me chamaram de louca varrida. Aparentemente, esta seria uma decisão precipitada e arriscadíssima mas Deus sabe melhor do que nós e, assim que se fez notícia que eu me tinha demitido dos “Faraós”, o dono do “Nile Maxim” pescou-me num segundo e fê-lo tão bem que o sucesso e ajuda divina nos visitaram a partir do primeiro espectáculo que ali apresentei.
Os meus músicos olharam-se em pleno terror perguntando-me: “E agora?!”
Os amigos questionaram-se porque seria que, por uma questão de respeito/orgulho , eu deitava a perder um lugar mais que confortável num local onde eu já tinha o meu público fixo e onde trabalhava diariamente sem a mais mínima preocupação.
Como sempre, ouvi a palavra “arrogante” suspirada nas minhas costas.
Não me importei. Teimosia e convicção não me faltam e também uma fé imensa na missão que aqui me trouxe.
Ninguém, mas NINGUÉM poderá desrespeitar uma BAILARINA na minha presença.

Como outrora acontecera – ao deixar o meu país e o meu nome já construído para me lançar a um sonho “impossível” numa terra estranha onde eu não conhecia ninguém – quem poderia supor que eu sairia mais forte e mais alto de toda esta história?!
Trocar a comodidade e aquilo que já alcançámos pela incógnita total ( e pela possibilidade de falhanço) é coisa de “loucos”. Não tenho feito outra coisa senão isso e, por isso, considero a minha “loucura” como a minha mais corajosa e bela qualidade.
Que Deus me ajude e nos ajude a todos fazendo-nos reconhecer que o caminho só pode ser feito pelos nossos pés e dando-nos força para superar os obstáculos que sempre, mas sempre, nos esperam nas esquinas desta vida.

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