Monday, June 27, 2011

Joana Saahirah of Cairo dancing Om Kolthoum



Mais Om Kolthoum, antecipando o
WORKSHOP TEMÁTICO DE DIA 27 DE AGOSTO, EM LISBOA!
PARA TODOS OS AMANTES DA MAIS DESAFIANTE E POÉTICA CANTORA DE TODOS OS TEMPOS.



Um dos luxos de contar com o reconhecimento internacional do meu trabalho passa por fazer, cada vez mais, aquilo que me interessa e fascina sem me preocupar com o lado comercial que se ve aos montes nesta área.







Um dos meus sonhos foi, desde há muito tempo, ministrar um Workshop especialmente dedicado a minha grande inspiracao, Om Kolthoum.




O conteúdo do workshop compoe-se de informacoes teóricas, técnica e trechos coreográficos que exemplificam como abordar Om Kolthoum, experiencia profissional e pessoal que tenho acumulado no Egipto e muitas das conclusoes a que cheguei dancando por cá, com egípcios e para egípcios.


Um workshop recheado de conhecimentos, sem dúvida, mas mais do que conhecimentos.


Um workshop recheado de arte, modéstia a parte, e de VIDA.



Mais informacoes sobre o evento neste blog, no Facebook e através do email: dancemagica@gmail.com















Conforto.


Para mim, reside nos detalhes que passam despercebidos a maioria das pessoas.

Um jarro de mel grego trazido por uma nova amiga que me visitou no Cairo, dois dias de mar numa qualquer costa egípcia rodeada de amigos e areia fina, o olhar terno de um dos anjos que tenho guardados em casa, girassóis oferecidos por quem me quer bem e bem me conhece...

Sao estes os detalhes que definem o meu conforto. Estes e outros assim, quase invisíveis mas essenciais para a fome do meu coracao humano.


















Saturday, June 25, 2011

Joana Saahirah of Cairo dancing Om Kolthoum



WORKSHOP OM KOLTHOUM
por JOANA SAAHIRAH DO CAIRO, DIA 27 DE AGOSTO EM LISBOA, PORTUGAL.


Vida, obra e forma de escutar e interpretar a mais desafiante e importante ARTISTA egípcia de todos os tempos: OM KOLTHOUM.




Mais informacoes sobre o conteúdo e forma de inscricao no WORKSHOP através do Facebook e do email: dancemagica@gmail.com







Oh, assunto antigo...









Sim, é um assunto tao antigo mas, infelizmente, tremendamente actual.




Como as bailarinas profissionais de Danca Oriental sao tratadas pelo mundo fora - pouco mais do que "streap-teasers" de ar exótico - e, em concreto, no país que viu nascer esta ARTE: Egipto.







Nao estivesse eu em retiro literário lutando com palavras, memórias e vivencias complexas num mergulho que é a escrita do meu próprio livro, primeira razao que me fez mudar-me de armas e bagagens para o Cairo!









O fogo foi reaceso por um colega bailarino, Mohamed Shahin, que tentou escrever um texto bastante diplomático e patriótico sobre o estado da Danca Oriental no Egipto. Escreveu-o em minha defesa, segundo o próprio, e eu agradeco-lhe por isso mas nao creio que a mentira diplomática me defenda a mim ou a DANCA que todos amamos.









A verdade a ser ALTERADA ainda é que as BAILARINAS de DANCA ORIENTAL sao vistas por todo o mundo como uma espécie de "streap teasers" exóticas e, em concreto no Egipto, como prostitutas desprovidas de sentimentos ou valores éticos.



Ainda sao tratadas como carne para canhao e o sucesso no Cairo, em 99% dos casos, é pago com a venda do corpo e da alma através da prostituícao e dos jogos que os homens de poder cá do sítio adoram criar com mulheres desesperadas, ambiciosas e desprovidas de sentido de dignidade própria.







Trouxe para o Cairo a imagem de uma BAILARINA que, para mim, continua a ser SAGRADA. Tao SAGRADA como a MULHER em si.




O meu sucesso por cá é um caso RARO que une milagres a talento, perseveranca, loucura, capacidade de contornar TODO o tipo de obstáculos e uma pele de cobra que se me despega do corpo sempre que me oferecem uma facada nas costas, mais uma traicao, ainda outra desilusao...






ACEITAR e DENUNCIAR a VERDADE sobre a forma como as bailarinas sao tratadas no Egipto e no mundo nao significa ausencia de amor por este país que se transformou na minha casa, para o bem e para o mal.




AMAR significa ver as falhas e, ainda assim, seguir amando. Por isso amo o Egipto, apesar e até por causa das falhas que reconheco nas suas gentes actuais.

Afirmar que tudo é perfeito neste país e que a cama nao é a moeda de troca habitual entre bailarinas e seus patroes é pura MENTIRA e perda de tempo.



A situacao da DANCA ORIENTAL só mudará para melhor quando as MULHERES se respeitarem a si mesmas e exercerem esta danca como a forma de ARTE que ela, REALMENTE, é.

Que a ambicao esteja presente mas nao de forma desmedida, ao ponto de transformar Mulheres em animais que se vendem a si mesmas em troca de migalhas.

Que a DANCA ORIENTAL possa impregnar quem a pratique com o SAGRADO e com a BELEZA que a caracteriza para que as bailarinas regressem ao seu local de origem: o palco sagrado, o solo ritual que ligou - em tempos esquecidos mas nao desaparecidos - HUMANOS a sua dimensao DIVINA.






Até que isso suceda, continuarei a LUTAR como sempre fiz pela dignificacao daquilo que eu sei, desde o mais fundo da minha Alma, que é SAGRADO.

Saturday, June 18, 2011

Joana Saahirah of Cairo at the "Nile Maxim"



Mais um "baladi" for the road...
Até breve a todos!

Joana Saahirah of Cairo dancing baladi improvization


Voando...com os pés bem assentes no chao.

Joana Saahirah of Cairo


Saiidi power!

Joana Saahirah of Cairo dancing baladi in Egypt


Eu e mais um dos "meus" baladis...

Joana Saahirah of Cairo classical entrance



A entrada em palco que foi composta para mim pelo músico/compositor egípcio Hossam Shaker no decorrer de noites a fio passadas a dois, junto do seu inseraparável "k anun" e nossos delírios musicais.
Quando lhe propus compor esta peca musical para mim, avisei que o essencial seria ser tipicamente egípcia mas também surpreendente e desafiante. Algo que nem todas as bailarinas pudessem gostar ou dancar, algo meio turbulento, jazzistico e louco como eu.
O resultado está aqui...

Joana Saahirah of Cairo dancing Om Kolthoum


Pedacinhos de mim...Om Kolthoum, eternamente.

Friday, June 17, 2011





Eventos e retiradas temporárias!



Mais uma retirada, desta vez por tempo indeterminado. Importante esclarecer que esta "retirada sem calendário definido" sucede pelas melhores razoes possíveis.

Estarei demasiado ocupada CRIANDO dentro e fora de mim e mais nao posso dizer porque, segundo os egípcios, os maus olhados e outros agoiros lancados mesmo a distancia acabam por se intrometer ou até destruír empresas potencialmente frutíferas.





Por isso, me calo e aqui deixo notícias breves sobre alguns dos meus eventos que se seguem um pouco pelo mundo fora:



1. Surpresas no que diz respeito aos meus espectáculos ao vivo no Egipto! Posso apenas adiantar que o meu estado de graca chegou e que a maturidade e conhecimento de causa pelos quais tenho, arduamente, trabalhado nestes últimos anos de espectáculos no Cairo atingem o seu ponto "pérola". Só o MELHOR me ocupa, ultimamente. E assim será no Cairo como por aí, mundo fora...


2. WORKSHOP OM KOLTHOUM no dia 27 de AGOSTO em LISBOA, PORTUGAL.

Consigam informacoes detalhadas no meu Facebook e também através do email: dancemagica@gmail.com



3. Festivais onde ensinarei e actuarei: Seguem-se os Estados Unidos, Itália e Espanha!


4. Tantas outras surpresas que chegarao, a seu tempo. Porque há o tempo de semear e de colher...

Billie Holiday - Crazy He Calls Me


Absolutamente maravilhosa Billie Holiday, a quem eu chamo a minha diária companheira do duche!
É que ela está sempre presente em minha casa. Ela, o Michael Jackson e a Om Kolthoum. E que estranha combinacao musical tenho eu lá em casa...
Esta cancao, em particular, bebe-se de mansinho como chocolate quente num entardecer de Inverno pleno de frio e tempestade.
Esta música embala tudo o que em nós respira candura, fé no amor e nessa capacidade já quase perdida de se amar como o AMOR se ama: sem curas holísticas, sem pocoes "new age" que tudo intelectualizam e amenizam, sem teorias e controle de qualquer espécie.

"Good old devil love"...

Suspiro.Suspiro.Suspiro.



Os fragmentos de CHAGAS.



E como eu sempre tive um "fraquinho" por gente talentosa, aqui vao dois fragmentos lancados ao vento...


Como também aprendi que, por vezes, o melhor é estar caladinha e deixar que o talento fale por si, nem vou comentar aquilo que aqui está escrito. Deixo que as palavras do Pedro falem por si e nada mais do que o meu silencio (cheio de respeito e admiracao pelo TAL talento alheio) poderá servir daqui em diante.




Maravilhem-se que é de MARAVILHAS que a VIDA se compoe e só através delas TUDO isto vale a pena ler, sentir, viver.


Outros textos e informacoes sobre o escritor Pedro Chagas Freitas em:





"...porque tu sabes, que é de poesia minha vida secreta!" Renata lobo: ...a esta...

Dedicado a todos os LOUCOS lúcidos deste mundo e aos destemidos que ARRISCAM tudo em prol de uma VIDA vivida em cheio, jamais se rendendo a mesquinha pequenez da maioria de mortos-vivos que andam por aí...

"...porque tu sabes, que é de poesia minha vida secreta!" Renata lobo: ...a esta...: "Tudo que existe — existe duas vezes: antes, na cabeça de alguém. Toda mudança tem que primeiro ser sonhada. A realidade só se transfor..."

"...porque tu sabes, que é de poesia minha vida secreta!" Renata lobo: Muito lindo!

Demasiado belo para descricoes. Leiam e respirem fundo: Existe GRANDEZA no mundo.


"...porque tu sabes, que é de poesia minha vida secreta!" Renata lobo: Muito lindo!: "'Você vai aprender, filho. Que a intensidade pode roubar você de si mesmo. Que é preciso leveza para se pertencer. Você vai aprender a se d..."

Thursday, June 16, 2011

Joana Saahirah of Cairo dancing Saiidi original theme



O tema de "Saiidi" que foi composto para mim, muito aquém das músicas das geracoes egípcias passadas mas, ainda assim, muito divertido de dancar.
Sentido de humor, imprescindível. Na danca como na VIDA!
Nesta imagem encontra-se o Deus hindu Shiva, banhado pelas águas sagradas que jorram dos Himalaias, passando por Rishikesh, na Índia. Foi neste local sagrado que eu passei alguns dos mais belos momentos da minha vida e neles reside tudo o que, para mim, interessa cada vez mais:


Viver em perigo, aceitar a MUDANCA e bem dizer os desafios e pedras do caminho.

As relacoes humanas baseadas no AMOR e na curiosidade eterna pelo OUTRO.

O mundo e sua fascinante riqueza, variedade de paisagens por dentro e por fora de nós.


A ARTE, seja ela traduzida em Danca ou noutra qualquer forma de expressao, como ELEVACAO do humano que existe em nós e como visao profunda do tanto que nos rodeia, sempre impossível de definir.


O encanto inexplicável de ESTAR VIVO!

Tuesday, June 14, 2011

Joana Saahirah of Cairo



"Moi memme", sendo feliz em palco.
Será bom sinal que os momentos mais felizes da minha vida sejam passados em palco com um público a aplaudir?!
Hmmmm...

Oum Kalthoum Improvisation



Preparando o workshop mais esperado - por mim, pelo menos! - da minha carreira de ensino da Danca Oriental: Om Kolthoum, seu mundo e como interpretar a sua VIDA/Música!

Falando de desafios...

Lancarei o tema em Portugal, já no dia 27 de Agosto!



WORKSHOP DEDICADO A OM KOLTHOUM, SEU MUNDO E INTERPRETACAO. O DIAMANTE DA MÚSICA EGÍPCIA!

O tema em si deixa-me rendida pela profundidade e abrangencia que representa. Faz parte do conhecimento comum egípcio a crenca de que uma bailarina que saiba interpretar Om Kolthoum TEM de SER ARTISTA. Ao contrário de muitas crencas egípcias que eu, vivamente, contesto, esta faz todo o sentido para mim.

Uma das melhores coisas que tirei, até agora, do trabalho no Cairo foi a interaccao com os meus músicos e o imenso repertório musical que eles me mostraram.
Dia após dia, ali tenho eu um grupo de artistas loucos, talentosos e experientes que tocam para mim como se a ordem se tivesse invertido e eles fossem as odaliscas dos fantasias ocidentais e eu, o sultao a ser entretido.

Dessas dádivas musicais, nasceu um amor profundo e um respeito incontestável pela maior cantora de todos os tempos: Om Kolthoum.

O workshop que estou a preparar - e que levarei a Portugal, Estados Unidos e Itália ainda este ano - é, para mim, um mergulho num mar que adoro, venero e que me estimula física, emocional, intelectual e espiritualmente.

"Me aguardem..."




Feliz Aniversário!


O meu dia 13 de Junho chegou e com ele novos desejos, sempre mutantes, sempre surpreendentes, sempre NOVOS.


A mim se juntam comemoracoes da minha cidade natal, Lisboa, e seu santo padroeiro (Santo António, casamenteiro e padrinhos dos bebés) e o meu amantíssimo Fernando Pessoa que cumpria anos neste dia.

Desculpa a todos os geminianos especiais que se juntam a mim, ao Pessoa e ao António neste dia especial mas nao posso descrimir todos os seres especiais que nasceram neste louco dia.

Aqui fica a minha silenciosa homenagem a todos nós.


Neste Aniversário, em particular, existe algo que eu desejo acima de tudo:

Permanecer CRIANCA, pura de coracao e de Alma intacta face a imensa e desalmada sujidade do mundo em que vivo.


Que alcance sempre o sucesso com que sonho sem vender o corpo e a alma ao diabo.

Que viaje sempre mais e mais sem perder a memória presente das minhas raízes simples.

Que junte mais e mais amigos ao meu já de si fértil mundo emocional mas sem esquecer os VELHOS amigos que sempre estiveram presentes na minha vida, criando um chao de estrelas protectoras sobre o qual caminho quase sem me dar conta.


Que os aplausos e o estatuto de estrela (curiosamente, atribuído por outros, jamais por mim mesma) nunca me arranquem os pés que tenho assentes no chao.


Que a ambicao nao seja maior do que o carinho.Que as batalhas travadas e por travar nao me tirem a paz de espírito e que a vida jamais me passe ao lado para que cada ano conte pelo que alcancei, pelas montanhas que escalei, pelas quedas das quais me levantei mais forte, pelo AMOR que vivi na minha carreira como na minha vida privada, ambos povoados de tamanhas RIQUEZAS e inesperados MILAGRES feitos de Luz e Escuridao.


Neste aniversário, peco a Deus que a escalada nao apague em mim a humildade de que sou feita, que as coisas sérias deste mundo nao matem a crianca que palpita e ri constantamente em mim e que eu nunca deixe de SER HUMANA num mundo, gradativamente, maquinal e desumano.


Que os risos sejam mais abundantes do que as lágrimas e que um olhar fresco de recém-nascida cresca no meu jardim a cada amanhecer.

Amen.




Quando a vontade de dancar desaparece...






Este post é dedicado a uma linda menina que me enviou um email inquirindo sobre o assunto. Como ela sabem de quem se trata e como respeito a privacidade de quem me escreve nesse ambito íntimo, nao precisarei de mencionar nomes.






A mensagem passará para quem dela precisar. A quem o barrete servir.



Comecando por mim.






Será que já vos aconteceu, a voces que dancam amadora ou profissionalmente, sentirem um súbito desinteresse pela danca?



Que fazer e pensar quando, de repente, nao nos apetece dancar mais, mexer um dedo, escutar música, seguir aprendendo?



Que se passa quando o encanto pela Danca Oriental se transforma em desinteresse e até repúdio?!






Como em tudo, as luzes que poderei atirar sobre o assunto sao baseadas na minha experiencia pessoal/profissional. O que se le nos livros interessa para nos alimentar a mente e a imaginacao mas a SABEDORIA que possamos ter chega apenas da VIDA vivida e assim poderei dizer o seguinte:






Existe uma diferenca FULCRAL (gostaram do "FULCRAL"?) entre a bailarina que danca profissionalmente e a que possui esta danca como um "hobby" que alegra a sua vida sem dela depender para pagar as contas de casa, luz, água, comida, transporte e todas essas coisas comesinhas que, infelizmente, fazem parte da vida adulta de quem se sustenta a si próprio, Claro que nada disto tem poesia nos poros. Nada disto tem a ver com arte, esta realidade quotidiana que une artistas e empregados das Financas e senhoras das limpezas. E, no entanto, tem tudo a ver. Está tudo mais que ligado pois a ARTE reflecte a vida, até mesmo na sua dimensao mais, aparentemente, desinteressante e pequenina.






Como bailarina profissional, eu nunca me pude dar ao luxo de permitir que um bloqueio interno me impeca de DANCAR. Trabalhando no Cairo nestes últimos anos e seguindo um sistema maquinal /brutal de trabalho que me obriga a dancar diariamente, faca chuva ou faca sol, já tive momentos de recusa TOTAL face a Danca. Momentos em que só me apetecia estar fechada na minha cave emocional de silencio e mandar os espectáculos para as urtigas.




Momentos de tristezas, stress de variadas origens, fragilidade física e de toda a ordem, dramas e tragi-comédias de todas as cores e uma assustadora variedade de situacoes extremas durante as quais a DANCA era a última coisa que eu tinha em mente e, no entanto, tenho responsabilidades a cumprir. Sempre que esse anseio de imobilidade e silencio me atacou, eu pensei na minha orquestra que depende de mim para sustentar a sua família, pensei no contrato que tenho a cumprir com a empresa que me contratou e no público que me vem ver actuar esperando o melhor de mim e completamente alheio as razoes pelas quais nao me apetece dancar e só quero estar quieta, no meu canto.




Nessas situacoes de desencanto e exaustao em que já nenhuma música e nenhum movimento me parecem apetecíveis, lembro que tenho de trabalhar para me sustentar. Simples quanto isso. Se nao danco, nao ganho dinheiro para me sustentar financeiramente e isso, por mais básico que seja, acaba por ser um motor incrível para que qualquer drama se ultrapasse e se esmague até ficar reduzido a pó. Dizem os nossos portugueses que a necessidade é filha do engenho ou algo que o valha! E como existe tanto de verdade nesse ditado...




Quantas vezes senti que a Danca havia morrido em mim e que todas as lutas e sacrifícios travados diariamente pela defesa da ARTE que outros veem como "STREAP TEASE" eram inúteis. Quantas vozes ecoaram na minha mente gritando, aflitas, que nada disto vale a pena e que sou apenas uma patética sonhadora que ACREDITA que uma pessoa apenas pode ajudar a MUDAR algo no mundo.




Quantas vezes tive de dancar contrariada e sem inspiracao nenhuma, rezando para que a noite terminasse rapidamente e eu pudesse dormir, dormir, dormir...


Quantas vezes fiz outras pessoas felizes através da minha Danca e, por dentro, me sentia morta. Anulada. Vazia.? Quantas vezes?




Mas..."the show must go on"... e sempre segui em frente.


O maravilhoso desta ausencia de escolha - dancar ou nao dancar?!- reside na alquimia emocional que se transporta do palco para a vida. Depois de uma noite em que me arrastara para o palco sem a mínima vontade de dancar, senti novamente o FOGO inicial que me fez apaixonar por esta danca e que me fez correr meio mundo para conhece-la em profunidade.




Quando aceitamos ir ao fundo da nossa dor e desamparo, descobrimos novamente o AMOR e o FOGO dentro de nós. E quando isso acontece em palco, multiplica-se por muita gente que nos ve e assim participa, sem sabe-lo, nesse processo alquímico que transforma pedras em diamantes.






Relativamente a quem danca de forma amadora a situacao é diferente. O amador é, como a palavra indica, aquele que AMA. Simplesmente, ama. E isso é também um privilégio.O amador nao precisa de dancar para pagar contas ao final do mes. Simplesmente, AMA o que faz.


E aqui o desencanto pode ser encarado de forma diferente e mais leve.




Todos crescemos e mudamos de opiniao, interesses, exigencias. Quem estuda Danca Oriental vai sempre encontrar momentos de estagnacao e desencanto porque esta é uma danca que cresce connosco, enquanto seres humanos, e nela se reflectirá tudo mas TUDO o que vai dentro de nós.


Quando um bloqueio amador acontece a quem danca, aquele que AMA pode respeitar esse bloqueio e desinteresse e dar-se tempo para entender o porque do VAZIO interior que leva a tal repúdio.




Existe também o lado prático da questao. A maioria dos "professores" existentes nesta área nao tem a menor ideia do que está a ensinar e, por isso, quem com eles estuda e possui alguma inteligencia, chega a um ponto em que pensa: "E depois??? Nao há mais nada senao isto?"




Na impossibilidade de expandir-se e crescer criativamente, quem danca acaba por se desinteressar e achar que nada daquilo vale a pena.


Nestes casos, os mais comuns, eu digo: PAREM. E busquem inspiracao noutros lugares, com outros professores, outros artistas, outras áreas da Danca. Vejam filmes, vao até a praia e observem as cegonhas, VIVAM!




A DANCA ORIENTAL é mais antiga que nós e reside dentro de nós, num sítio sagrado alheio a todos os bloqueios e "professores" incompetentes. No final da história, tanto amadores como professores ensinam-se a si mesmos, a partir de certa altura.




Na escalada desta montanha, chega um momento em que o único professor que nos estimulará é a VIDA. E, quando entendermos isso, já nao esperaremos que algo EXTERIOR nos reacenda a chama da Danca Oriental mas lancaremos o ultimato, o desafio MAIOR a nós próprios: Que posso eu trazer a esta DANCA de MEU?

E já nao:

"Que pode esta dancar trazer-me a mim?"


A batata quente passa para as nossas maos e o talento que, eventualmente, tenhamos desabrocha ou nao. Risco de VIVER! "You never know..."

Já nao esperaremos que outros nos estimulem mas descobrimos que tanto da Danca Oriental passa por sermos nós a estimularmo-nos a nós próprios e aos outros com aquilo que de único podemos OFERECER ao mundo.


E da ausencia nasce a ABUNDACIA. De dentro para fora. De nós para o mundo.

O movimento inverte-se e, quando menos esperamos, estamos incendiados uma vez mais e tudo BRILHA dentro e fora de nós. Uma vez mais.

Sempre.

Eternamente.

Como sempre brilhou ao longo dos tempos de que nao temos memória.

Tuesday, June 7, 2011

JoanaBlue

Joana Saahirah of Cairo tabla solo in Egypt

Joana Saahirah of Cairo dancing tabla solo in Egypt


Mais um recadinho essencial e mais uma sintonia partindo do meu blogue favorito:


www.renataloboventre.blogspot.com

Obrigada, Renata!







Criando.










Escolha minha. Como tudo.


Comendo a fruta e apanhando os carocinhos, claro esta!




Criar, em vez de destruir.


Tentar crescer, em vez de me paralizar pelo medo do desconhecido e pelos obstaculos que sempre nos visitam no caminho.


Entre os espectaculos ao vivo, o ensino da Danca Oriental e do Folclore Egipcio, o trabalho coreografico (algo que tem crescido na minha vida, apesar do meu aparente desinteresse e amuo) e a escrita (com outras coisinhas que vou aprendendo na viagem...), resta-me tao pouco e tanto de mim.


A variedade que compoe a Humanidade explica porque nem todos vemos o mundo da mesma forma, nem todos sentimos e vivemos da mesma forma. Existem infinitos olhares sobre o mesmo objecto.




Quanto ao olhar dos outros, nada tenho a acrescentar. Quanto ao meu olhar, esse sim...torna-se cada vez mais profundo, bem disposto e exigente mas de uma forma que nao pede do Outro que ele seja quem nunca foi.


Pedido apenas TOTALIDADE. De mim, das minhas criacoes. Dos Outros. Do Todo. De Nos.




Em retiro.


Escrevendo. Dancando por dentro e por fora. Fortalecendo as paredes interiores do meu castelo e construindo novos andares, salas de banquetes, lareiras, quartos de prazeres e sonos reparadores, cozinhas emparedadas de azulejos mexicanos e cores garridas, escadas de caracol e terracos de onde se avista a noite mais escura, os ceus de todos os tons e os horizontes sem inicio nem fim.




"Grandes pessoas falam sobre IDEIAS.

Pessoas medianas falam sobre COISAS.

Pessoas pequeninas falam sobre OUTRAS PESSOAS."



Tinha dito. Mais que dito. Mil vezes!



Casa dos horrores.



Procurar casa no Cairo pode ser uma aventura, como tudo o que se faz por ca. Algo que parece tao inocente, simples e directo pode transformar-se numa indizivel montanha russa que nos leva onde jamais esperamos ir.

Sera que existe um limite de absurdo por individuo? Quanto de louco e ilogico pode uma pessoa assimilar e encarar? Quanto poder de encaixe se pede de uma so pessoa?

Ja desisti de responder a estas questoes.


Em processo de mudanca geral, ali me encontro eu vendo apartamentos no centro do Cairo. Cada um apresenta suas personagens, os seus ques e porques, as suas surpresas e inospitas revelacoes.


O tarado muculmano que adora a ideia de que eu seja bailarina, o fundamentalista cristao atado ate a raiz dos cabelos que espalha imagens de santos e cruzes por todo o apartamento, a senhora que engana o marido e, por isso, teme que eu seja uma vamp sedutora que lhe vai roubar a preciosa criatura.


A espelunca que me tentam vender como se fosse um palacio. O palacio rodeado de baratas e ratos fedorentos. Encontra-se de tudo!


Nada, mas nada se pode fazer "normalmente" num sitio onde a propria palavra "normal" nao existe.

E eu nado com a corrente e rio-me, observo, exercito essa qualidade subtil da compaixao e do nao julgamento. Acho riso e contradicoes em todo o lado e tento viver o momento com todos os seus absurdos e coisas bonitas.


Jamais me perguntem porque adoro o Cairo!





Zumba catacumba!










Quem me manda a mim armar-me em curiosa? Quantas vezes ouvi dizer que foi a curiosidade que matou o gato?





E insisto. Insisto em querer experimentar coisas novas, saber o que se faz por ai, como rola e avanca (???) o mundo, como se danca noutras esferas e que novidades existem em todos os meios directa ou indirectamente relacionados com o meu.










Partindo dessa irritante e compulsiva curiosidade, aterrei numa aula de "Zumba". O proprio nome ja deveria ter sido aviso suficiente para mim. Zumba???





Zumba onde? Na caneca? No caneco? Eu diria para o caneco porque esta Zumba revelou-se rima direitinha com catacumba. Catacumba de morte. De aniquilicao. De homicidios culturais em catadupa...catacumba!










Oh, meus deuses e profetas acompanhantes!





Como fui eu parar a uma aula de Zumba no meu ginasio chic do Cairo?





Resumindo, eis o que descobri sobre a tal Zumba Catacumba:










1. Trata-se de mais uma tentativa desesperada de manter o pessoal nos ginasios e conseguir atrair novos clientes, mascarando exercicio fisico com macacadas e uma aproximacao pobre a varios estilos de danca que assim sao destruidos e desrespeitados sem o minimo sentido de culpa.















2. A professora certificada de Zumba traduziu varios termos em espanhol cheios de erros. Nada do que traduziu estava correcto. Eu calei-me porque nao tinha interesse em faze-la passar vergonha em frente de clientes mas engoli em seco e chorei. Ahhh...










3. Zumba consegue ser um autentico "serial killer" de ritmos latinos e respectivas culturas.





Um pobre cheirinho de cumbia, salsa, merengue, americano do "Far West" , etc...todos eles fora de tempo e misturando movimentos de boxe, aerobica e invencao mal sucedida de algum Xico esperto que sabe fazer dinheiro a partir da ignorancia alheia.





Ai, como doi!















4. Confirmei que sou uma autentica Mussolini do ritmo. Custa-me ver pessoal fora da musica, completamente alheios ao ritmo e melodia, assassinando danca, musica, cultura, beleza...tudo em prole de um "work out" criado por peritos de marketing.





Existe uma dor fisica que me ataca sempre que vejo alguem fora da musica, destruindo-a, ignorando-a, pisando-lhe em cima com os sapatos cheios de lama. Dor FISICA!!!










5. Nao consegui sorrir e descobri tambem em mim uma crescente propensao para me mandar ao pescoco alheio e, pouco gentilmente, espreme-lo. Sim, sou uma Jack Estripadora de pescocos em potencial. Admito-o.





A cereja em cima do bolo aconteceu quando a professora CERTIFICADA decidiu terminar a aula com musica oriental, contorcendo-se em movimentos primarios de donas de casa desesperadas aos quais ela chamou Danca Oriental. Fora da musica, claro esta! Fora de ritmo, fora de qualidade, fora de beleza, fora de tudo! Claro que sim...








Ter de seguir aquele arraial de fealdade e parvoice foi uma tortura para mim. Nem o meu "laissez faire", desportivismo, sentido de humor e o que me valha me VALEU.


As minhas maos dirigiam-se ao pescocinho da professora e foi apenas o meu auto-controle que nos poupou a todos. Por dentro, chorei. Deprimi-me ate ao limite. Chamei nomes a professora e a toda a estupidez do mundo e surpreendi-me ao saber que existem pessoas a fazer negocio destruindo musica, danca e culturas.










NOTA:





Quando sera que os ginasios e suas gerencias entendem que estas modas light de "fast food" para ignorantes se esgotam sempre e nao acrescentam nada a ninguem, a nao ser dividendos as contas bancarias dos espertalhoes que se lembram destas saladas russas?!

Monday, June 6, 2011

"...porque tu sabes, que é de poesia minha vida secreta!" Renata lobo: "Não foi à toa que Adélia Prado disse que "erótica...

Sem comentarios.
Belo demais!

"...porque tu sabes, que é de poesia minha vida secreta!" Renata lobo: "Não foi à toa que Adélia Prado disse que "erótica...: "'Não foi à toa que Adélia Prado disse que 'erótica é a alma'. Enganam-se aqueles que pensam que erótico é o corpo. O corpo só é erótico pelo..."

"...porque tu sabes, que é de poesia minha vida secreta!" Renata lobo: Eu quero que você morra!Esse é hoje o meu des...

Morte e sua imperiosa presenca nas nossas vidas. Eu acredito numa morte assim, digna e imediata, amorosa e inteligente daquelas inteligencias que so o coracao mais Alto pode produzir.
Morrer para o que ja esta gasto, para o que fere e nao presta, para o que nao acrescenta VIDA, inspiracao e sorrisos a nossa vida.
Ha que morrer para o ontem que fomos, para o que os outros dizem que somos, para o que pensamos que somos, para o que achamos que DEVIAMOS ser.

Morrer para tudo aquilo que nao nos faz sorrir e expandir.
E renascer no momento seguinte, lavados de aguas antigas e recem-nascidos para uma existencia onde as certezas entupidas de lagrimas se esvairam e tudo o que resta sao perguntas entusiasmadas e uma cara aberta a tudo o que sabe bem, faz bem, sente bem, nos faz VIVER bem.

Belissimo texto, belissimo...

"...porque tu sabes, que é de poesia minha vida secreta!" Renata lobo:
Eu quero que você morra!

Esse é hoje o meu des...
: "Eu quero que você morra! Esse é hoje o meu desejo mais sincero. Eu realmente quero que você morra. Mas que essa tua morte seja apenas ..."

"...porque tu sabes, que é de poesia minha vida secreta!" Renata lobo: "Embora seja insuportável para quem já perdeu a ...

Loucura.
Mais essencial e urgente que nunca.
Arma de sobrevivencia, amor, diversao, VIDA com todos os pontos de exclamacao a que temos direito!!!!!!!!!!!!!!

Mais um brilhante texto que me tira o folego:



"...porque tu sabes, que é de poesia minha vida secreta!" Renata lobo:
"Embora seja insuportável para quem já perdeu a ...
: "'Embora seja insuportável para quem já perdeu a lucidez, a Loucura é a única salvação. Por isso recomendo aos 'normais ainda saudáveis' ..."

Friday, June 3, 2011









Cairo, dia 3 de Junho, 2011






Segue-se um definitivo retiro (regressarei quando puder a esta esfera cibernética!) e eventos a seguir!



Anuncio uma partida definitiva a todos os seguidores dos meus blogues. Nao quero dizer com isto que desaparecerei do mapa cibernético para sempre mas o tempo da minha ausencia é indeterminado devido ao monumental salto no escuro que dou, AGORA.

Sem mais nem porques, avanco apenas algumas notícias breves de eventos que se seguem para todos os interessados na Danca Oriental "a minha maneira":


1. Caso passem pelo Cairo nos próximos meses, nao hesitem em contactar-me através do email: dancemagica@gmail.com para marcacao de aulas particulares (um aluno e pequenos grupos) ou para verem o meu futuro espectáculo fixo aqui na terra das - loucas e empoeiradas - Piramides!


2. Workshop especial "OM KOLTHOUM" em Portugal (Lisboa) no dia 27 de Agosto.

Mais detalhes disponíveis no Facebook e, brevemente, neste blogue.

Vida e obra de Om Kolthoum, técnica e interpretacao estilo mais desafiante e sensível do repertório de Danca Oriental.

Coreografia e técnica acompanhados da minha experiencia e amor acumulados no Egipto!

Para informacoes detalhadas, por favor, contactem-me através do email: dancemagica@gmail.com



3. Workshops e espectáculos em Itália, Estados Unidos e Espanha...e muito mais.


Acompanhem as novidades e DANCEM/VIVAM muito e TOTALMENTE!






Clarice Lispector.

Iluminando. Tudo!

Porque a VIDA é feita para os VITORIOSOS, jamais para os amantes da derrota e vítimas de si mesmos...
Para inspirar e empurrar-nos para a frente, para dentro e sempre para CIMA!




Cairo, dia 3 de Junho, 2011






As devassas.






Se há coisa que o Egipto me ensinou, através de muita tortura, assumir quem sou com total liberdade e nao me importar com o que os outros pensam de mim. Vivendo num mundo feito de hipocrisias, traicoes e diplomacias que disfarcam facadas nas costas de toda a gente, aprendi que MANTER e FORTALECER os meus valores e carácter era a única forma de nao me transformar num dos muitos monstros loucos que povoam este mundo desalmado no país de passado glorioso.



Para onde foi a ALMA do Antigo Egipto e seus incríveis feitos e inteligengia?!









"Down the toilet of time, my dear..." - Posso escutar o nosso Senhor Cronos, respondendo-me, paciente e exausto, do mais fundo dos tempos.






Em processo de mudanca de casa, mais uma!, vejo-me a maos com o usual dilema: como evitar falar sobre a minha profissao ao potencial senhorio que me alugará a casa.






Trata-se de uma fuga policial, um puzzle ao qual nao se encontra solucao.



O senhorio quer saber qual a minha profissao, mais por curiosidade e amor ao mexerico do que por razoes utilitárias, e eu sei que a proclamacao da minha profissao significará dois possíveis finais: ou o senhorio se nega, imediatamente, a me alugar a casa alegando que eu comerei homens ao pequeno-almoco e organizarei orgias báquicas todas as noites ou ganharei um admirador instantaneo que me vai perseguir ou visitar, sem se fazer anunciar, usando apenas um roupao de puro algodao egípcio e um olhinho confiante que pisca e me convida ao "regabofe"!






Como já nao tenho paciencia para estas experiencias inter-culturais (reminiscentes de todo o atraso mental deste mundo), criei uma identidade que serve a todos e me poupa algumas amargas aventuras.



"Sou professora de danca. Só para mulheres!"



E está feito. Fico entao pendente numa resposta que nao me define o suficiente mas que me coloca em terreno mais seguro. "Só para mulheres."






Nao posso, no entanto, deixar de sentir que me traio um pouco a mim e ao orgulho que sinto na minha profissao e carreira. O que também nao posso é deixar de admitir que existem momentos em que dizemos a nós próprios :"Que se lixe! Só nao quero que me chateiem os....PIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII...." a boa maneira portuguesa.




E a vida desenrola-se desta forma, entre o orgulho de quem se é e a necessidade de pintar a realidade um pouco, mesmo a revelia do nosso carácter e dignidade próprios, para evitar uma dor de cabeca desnecessária. Mais uma!




"...porque tu sabes, que é de poesia minha vida secreta!" Renata lobo: "Sou uma céptica que crê em tudo, uma desiludida ...

Florbela Espanca, citada por Renata Lobo no meu blog favorito!
Falando assim, de coisas, de si mesma, de mim. De todos nós...




"...porque tu sabes, que é de poesia minha vida secreta!" Renata lobo:
"Sou uma céptica que crê em tudo, uma desiludida ...
: "'Sou uma céptica que crê em tudo, uma desiludida cheia de ilusões, uma revoltada que aceita, sorridente, todo o mal da vida, uma indiferent..."



Cairo, dia



3 de Junho, 2011







Conversas trocadas.





Ai, meu Deus! Querido Alá, seu Profeta e todos os outros que vieram antes e depois dele...


Oh, dear Lord...



Este mundo egípcio ainda me vai deixar louca, mais do que já sou (difícil, mas possível!).



Eu tento, juro que sim, entrar nesse mundo feminino do mulherio árabe/egípcio e aí ficar um pouco, nem que seja apenas meia hora, mas continuo a encontrar impossibilidades intransponíveis, falhas de comunicacao e um aborrecimento de morte.



Uma vez mais, uma rapariga egípcia tentou meter conversa comigo enquanto esperava um amigo num café perto de minha casa.



Aproximou-se e sorriu, como sorriem os bebés, e perguntou-me se me podia conhecer.



"Já vi este filme..."- Pensei eu e, ainda assim, resistindo este meu lado cínico de quem já viveu muito e aprendeu com esse viver.



- O meu nome é Samia. E o teu?



-Joana.



-Importas-te se me sentar perto de ti. Es muito bonita, sabias?



- Obrigada. Sim, senta-te aqui. Estou a espera de um amigo mas podemos conversar enquanto ele nao chega.



- De onde és? Es casada? Tens filhos? Onde está o teu marido? Onde vives?



Eu fiquei perplexa e desanimada, sem saber ao que responder primeiro e sem paciencia para a "conversa da treta" que se seguiria, invariavelmente.



Se usasse relógio, esta seria a altura em que eu olharia para o pulso e suspiraria "Bem, acho que o meu amigo nao vem. Se calhar, vou embora e ligo-lhe mais tarde."



Mas eu nao uso relógio e tenho muito pouca vontade de ser desagradável com uma pobre rapariga egípcia cujas intencoes sao, tenho a certeza, as melhores.



Em vez disso, tirei o meu "gloss" da bolsa de maquilhagem que levo na minha mala e coloquei-o na boca, olhando em volta, buscando uma resposta sucinta e satisfatória que encerrasse o questionário pidesco que se desenvolveria "ad infinitum".





Nao me ocorreu nada e, por isso, ali fiquei colocando "gloss" nos lábios e fitando o infinito, rezando para que o meu amigo chegasse depressa e me salvasse da entrevista de emprego " a la egipciana".



A minha entrevistadora nao desistiu nem se deixou abater pelo meu óbvio desinteresse.



- De que marca é esse gloss? L Oreal? Nivea? Podes mostrar-me a tua bolsa de maquilhagem? Que cremes usas e onde compras as tuas roupas?



Este é o ponto onde, nos filmes, se ve a personagem principal rodeada de mosquitos de toda a ordem a sua volta e ela se retira para o seu mundo próprio num silencio que é mais uma bolha paradisíaca de ar fresco. Só se veem os mosquitos - personagens enervantes - ao seu redor e a personagem principal sorrindo com ar lunático, embuída no mais profundo silencio.


Foi neste parentesis criado pelo poder fascinante da imaginacao (e capacidade de abstraccao em relacao ao mundo exterior) que eu fugi, quase sem querer, para um mundo só meu onde raparigas egípcias invasivas existem apenas como flores pintadas num papel de parede da casa da avó.


Nao sei por quanto tempo fiquei suspensa na minha bolha de ar respirável. Sei que o meu amigo chegou - arrancando um suspiro de alívio que se deve ter escutado no interior das piramides de Gizé - e que a melguita dispersou, desistindo de indagar sobre as marcas cosméticas da minha preferencia e detalhes vindouros sobre a minha vida privada.


E assim se vive por cá. Entre a realidade que me ensina e fortalece e a ocasional fuga da realidade que me permite manter-me mentalmente sana. Até ver...