Friday, June 3, 2011





Cairo, dia 3 de Junho, 2011






As devassas.






Se há coisa que o Egipto me ensinou, através de muita tortura, assumir quem sou com total liberdade e nao me importar com o que os outros pensam de mim. Vivendo num mundo feito de hipocrisias, traicoes e diplomacias que disfarcam facadas nas costas de toda a gente, aprendi que MANTER e FORTALECER os meus valores e carácter era a única forma de nao me transformar num dos muitos monstros loucos que povoam este mundo desalmado no país de passado glorioso.



Para onde foi a ALMA do Antigo Egipto e seus incríveis feitos e inteligengia?!









"Down the toilet of time, my dear..." - Posso escutar o nosso Senhor Cronos, respondendo-me, paciente e exausto, do mais fundo dos tempos.






Em processo de mudanca de casa, mais uma!, vejo-me a maos com o usual dilema: como evitar falar sobre a minha profissao ao potencial senhorio que me alugará a casa.






Trata-se de uma fuga policial, um puzzle ao qual nao se encontra solucao.



O senhorio quer saber qual a minha profissao, mais por curiosidade e amor ao mexerico do que por razoes utilitárias, e eu sei que a proclamacao da minha profissao significará dois possíveis finais: ou o senhorio se nega, imediatamente, a me alugar a casa alegando que eu comerei homens ao pequeno-almoco e organizarei orgias báquicas todas as noites ou ganharei um admirador instantaneo que me vai perseguir ou visitar, sem se fazer anunciar, usando apenas um roupao de puro algodao egípcio e um olhinho confiante que pisca e me convida ao "regabofe"!






Como já nao tenho paciencia para estas experiencias inter-culturais (reminiscentes de todo o atraso mental deste mundo), criei uma identidade que serve a todos e me poupa algumas amargas aventuras.



"Sou professora de danca. Só para mulheres!"



E está feito. Fico entao pendente numa resposta que nao me define o suficiente mas que me coloca em terreno mais seguro. "Só para mulheres."






Nao posso, no entanto, deixar de sentir que me traio um pouco a mim e ao orgulho que sinto na minha profissao e carreira. O que também nao posso é deixar de admitir que existem momentos em que dizemos a nós próprios :"Que se lixe! Só nao quero que me chateiem os....PIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII...." a boa maneira portuguesa.




E a vida desenrola-se desta forma, entre o orgulho de quem se é e a necessidade de pintar a realidade um pouco, mesmo a revelia do nosso carácter e dignidade próprios, para evitar uma dor de cabeca desnecessária. Mais uma!




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