Friday, June 3, 2011




Cairo, dia



3 de Junho, 2011







Conversas trocadas.





Ai, meu Deus! Querido Alá, seu Profeta e todos os outros que vieram antes e depois dele...


Oh, dear Lord...



Este mundo egípcio ainda me vai deixar louca, mais do que já sou (difícil, mas possível!).



Eu tento, juro que sim, entrar nesse mundo feminino do mulherio árabe/egípcio e aí ficar um pouco, nem que seja apenas meia hora, mas continuo a encontrar impossibilidades intransponíveis, falhas de comunicacao e um aborrecimento de morte.



Uma vez mais, uma rapariga egípcia tentou meter conversa comigo enquanto esperava um amigo num café perto de minha casa.



Aproximou-se e sorriu, como sorriem os bebés, e perguntou-me se me podia conhecer.



"Já vi este filme..."- Pensei eu e, ainda assim, resistindo este meu lado cínico de quem já viveu muito e aprendeu com esse viver.



- O meu nome é Samia. E o teu?



-Joana.



-Importas-te se me sentar perto de ti. Es muito bonita, sabias?



- Obrigada. Sim, senta-te aqui. Estou a espera de um amigo mas podemos conversar enquanto ele nao chega.



- De onde és? Es casada? Tens filhos? Onde está o teu marido? Onde vives?



Eu fiquei perplexa e desanimada, sem saber ao que responder primeiro e sem paciencia para a "conversa da treta" que se seguiria, invariavelmente.



Se usasse relógio, esta seria a altura em que eu olharia para o pulso e suspiraria "Bem, acho que o meu amigo nao vem. Se calhar, vou embora e ligo-lhe mais tarde."



Mas eu nao uso relógio e tenho muito pouca vontade de ser desagradável com uma pobre rapariga egípcia cujas intencoes sao, tenho a certeza, as melhores.



Em vez disso, tirei o meu "gloss" da bolsa de maquilhagem que levo na minha mala e coloquei-o na boca, olhando em volta, buscando uma resposta sucinta e satisfatória que encerrasse o questionário pidesco que se desenvolveria "ad infinitum".





Nao me ocorreu nada e, por isso, ali fiquei colocando "gloss" nos lábios e fitando o infinito, rezando para que o meu amigo chegasse depressa e me salvasse da entrevista de emprego " a la egipciana".



A minha entrevistadora nao desistiu nem se deixou abater pelo meu óbvio desinteresse.



- De que marca é esse gloss? L Oreal? Nivea? Podes mostrar-me a tua bolsa de maquilhagem? Que cremes usas e onde compras as tuas roupas?



Este é o ponto onde, nos filmes, se ve a personagem principal rodeada de mosquitos de toda a ordem a sua volta e ela se retira para o seu mundo próprio num silencio que é mais uma bolha paradisíaca de ar fresco. Só se veem os mosquitos - personagens enervantes - ao seu redor e a personagem principal sorrindo com ar lunático, embuída no mais profundo silencio.


Foi neste parentesis criado pelo poder fascinante da imaginacao (e capacidade de abstraccao em relacao ao mundo exterior) que eu fugi, quase sem querer, para um mundo só meu onde raparigas egípcias invasivas existem apenas como flores pintadas num papel de parede da casa da avó.


Nao sei por quanto tempo fiquei suspensa na minha bolha de ar respirável. Sei que o meu amigo chegou - arrancando um suspiro de alívio que se deve ter escutado no interior das piramides de Gizé - e que a melguita dispersou, desistindo de indagar sobre as marcas cosméticas da minha preferencia e detalhes vindouros sobre a minha vida privada.


E assim se vive por cá. Entre a realidade que me ensina e fortalece e a ocasional fuga da realidade que me permite manter-me mentalmente sana. Até ver...







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