Saturday, August 27, 2011

Espelho(s) meu(s)...



Depois de ter recebido mais um pedido de entrevista para uma revista portuguesa para colaborar um perfil meu, não pude deixar de pensar duas vezes antes de aceitar o pedido de entrevista (que dou, geralmente, com imenso prazer e abertura) que poderia ter resultado noutro desastre jornalístico semelhante sucedido há pouco tempo para um jornal respeitado da praça portuguesa.


Há pouco tempo, um perfil meu - "supostamente" meu! -
foi publicado num jornal português depois de eu ter tido várias conversas/entrevistas com o jornalista que o escreveu.
Havíamos conversado em Portugal e no Cairo, mais dentro do meu contexto natural e a lição aprendida desta experiência deixar-me-ía extremamente reticente para o eventual consentimento a outras entrevistas ou perfis que queiram fazer de mim.

Não comento a qualidade de escrita do perfil escrito nem a opinião pessoal do jornalista que escreveu o artigo.

Acredito que a marca do jornalista deve estar presente no que ele escreve, apesar do jornalismo ser - teoricamente - objectivo e o mais próximo possível à verdade.
Acredito também que existe um olhar crítico e um filtro que o jornalista usa consoante a sua própria mentalidade, horizontes, educação, visão do mundo. Senti que o perfil era sobre o jornalista que o escreveu e nao sobre mim.

Sobre estes assuntos eu nao comento!


O que não posso deixar de comentar são declarações colocadas como citações minhas que não reflectem aquilo que eu disse, nem tão pouco posso ignorar as informações erradas que são dadas sobre mim nesse perfil e que assim dão uma imagem minha bem distante daquilo que eu sou ou transmiti nas agradáveis conversas que tive com o jornalista em questao.

Desde o pormenor de chamar "uma merda" aos meus músicos (coisa que eu jamais faria e termo que eu nao uso na minha vida quotidiana, muito menos numa entrevista...) até ao ponto de afirmar que eu "fugi" do Egipto aquando da Revolução recentemente ocorrida... quando me limitei a vir para Portugal num aviao do exército portugues dez dias antes de uma viagem que já tinha prevista por razoes profissionais.


Esta viagem antecipada para Portugal nao se tratou de fuga alguma - ideia absolutamente ridícula que só faria sentido se eu fosse assessora ou "private dancer" do ex-presidente Hosni Mubarak - porque era inútil ficar no Cairo sem poder sair de casa ou funcionar com a minha vida "normal" e para apaziguar a minha família e amigos que estavam em panico...li o artigo
Ao lero perfil fiquei perplexa, pensando para mim mesma:

Chamando uma "merda" à equipa que trabalha comigo todos os dias e aos homens que me dão a inspiração para a minha ARTE?!
"Eu? Fugi do Egipto e ninguém me disse nada?"



Entre outras coisas escritas que partiram, exclusivamente, da mente do jornalista e não da minha própria mente ou boca, fiquei atónita ao perceber como sou - ainda! - tão ingénua ao ponto de acreditar na fidelidade e honestidade de toda a gente.
Não pude rever-me naquele perfil que era, afinal, mais o perfil do jornalista e seus preconceitos
do que um perfil MEU.


Ao deparar-me com mais um pedido para que um jornalista escreva mais um perfil sobre mim, fico sem saber o que dizer ou que fazer...se agradeço à Imprensa (escrita e televisiva) o apoio e divulgação que sempre deram ao meu trabalho, também começo a entender que a perversidade e as intenções menos nobres acompanham aqueles que crescem nas suas carreiras e, mais tarde ou mais cedo, acabam por manifestar-se pela simples ilusória glória de escrever algo "apimentado" que venda mais jornais/revistas.

Definir-me nunca será fácil, até porque não encaixo em nenhum protótipo estipulado por outrém.
Quanto mais tentam meter-me numa caixa qualquer, mais eu me afasto dela e desestabilizo quem tenta, inutilmente, limitar-me.

Além disso, cresço e mudo constantemente, o que acaba por desactualizar um perfil que tenha sido escrito ontem. Uma pessoa nunca se define, vive re-definindo-se, sempre fluindo com mudancas e contradicoes estranhas a si mesma.

O que espero, no entanto, é uma mente aberta e limpa ao ponto de ESCUTAR e VER quem eu sou em vez de tentar colar à minha pele a imagem de uma pessoa que eu nunca fui.

Se sou bailarina, também é verdade que sou professora de Dança e Actriz. Tudo o que faco, faco com prazer mas com extrema dedicacao e profissionalismo.
Rio-me constantemente, dou gargalhadas sonoras aos sete ventos, vou fazendo piadas e gozando com tudo mas estou sempre a falar a sério, brincando...muito poucos o entendem ou "apanham".

Como nao tenho trejeitos de "vedette", acabo por ser subestimada por muita gente incauta mas nao tenho a mínima pretensao de mudar a minha maneira simples de SER.


Sou muito pacífica e amorosa mas é só até apertarem-me os calos. Aí "viro fera" de uma qualidade que ninguem espera...amo totalmente mas, quando paro de o fazer devido ao desamor de outrém, remeto essa pessoa para o mais absoluto esquecimento do qual nunca mais pode ser recuperada.
Sou FOGO ou...GELO. Raramente morna...nao gosto de coisas mornas, a meio termo, diplomáticas na sua indefinicao que é apenas uma forma de ser uma mentira agradável.


Não sou a devoradora de homens que se espera que eu seja, nem tão pouco a prostituta que a maioria imagina que uma "belly dancer" tem de ser. No entanto, adoro homens e com eles passo alguns dos momentos mais deliciosos e felizes da minha vida.
Monto a cavalo (à solta no deserto, de preferência), corro com os nossos cães quando estou em Portugal, ando de bicicleta e de avião um pouco para todo o mundo, mas também adoro ir à ópera, praticar yoga e ver um bom filme na quietude da minha casa.


Sou louca por música mas ainda mais louca por SILENCIO.


Sou fogo e sou água. Não sou cobarde mas tenho os momentos de fragilidade e exaustão de todos os guerreiros!
Escolho os homens com quem me deito, deixando-os pensar que foram eles quem me escolheram, jamais deixando de ser eu própria ou seguir os meus sonhos para agradar a um deles. Já sacrifiquei várias relações porque não desistia da minha carreira ou dos meus valores (principalmente, do valor que sei estar em mim própria) e nem por isso sou protegida da dor. O meu coração também se parte em mil pedaços, sem dúvida MAS é com eles que monto novos mapas de sítios onde ir, coisas bonitas a fazer...

Sou Bailarina de Danca Oriental, não sei o que é "belly dancer".
Sou ballet clássico, soul, tango, salsa, danca tribal africana, Beethoven, jazz americano e tudo o que há de excepcional e contraditório...
Sim, escrever o meu perfil será sempre complicado mas é apenas HONESTIDADE e MENTE ABERTA que eu vou pedindo, sem que os encontre com a frequência desejada.



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