Friday, August 26, 2011

Namorando canções que se fazem de "difíceis"!


Isto de me habituar a ter a minha orquestra às ordens, tocando de forma magistral todas as delícias egípcias que me cheguem ao paladar tem dos seus inconvenientes.

Quando chega a hora de escolher e coreografar temas musicais gravados em cd, sinto-me sempre perdida com uma surdez inusitada e um gelo no coração que transformam canções - outrora excitantes - em coisas mortas onde não tenho por onde pegar.

Dançar ao vivo com música gravada em cd é um suplício para mim e isso já afirmei por diversas vezes...
Mas coreografar - para ensinar - essas mesmas canções que, não só são congeladas em cds, mas se fazem de "difíceis" pode ser um pesadelo sem fim à vista.

Criar a coreografia para uma música sempre foi, para mim, mais do que simplesmente traduzi-la em passos e movimentos que possam ser fixados e ensinados a outras pessoas. Para mim, coreografar é acrescentar algo de único a uma canção, trazer ao de cima todas as suas cores e sentimentos e, se possível, torná-la ainda mais interessante na sua re-criação a tres dimensões...

O pior é quando a porta da canção não se abre logo, quando eu preciso que ela se abra!
Bato vezes sem conta à sua porta e ela age como um amante tímido ou teimoso que não se quer deixar penetrar ou conquistar... Tento uma carícia pelo seu início e não funciona. Ela permanece hermética, sem se deixar tocar por mim. Depois tento entrar pelo meio da canção e ela vira-me a cara e diz-me que me vá embora! Eu penso: "Meu Deus, nenhum homem me fez, alguma vez, trabalhar tanto para conseguir entrar no seu mundo...se as canções fossem fáceis como os homens!!! "

Mas chego à conclusão que são estas canções, aparentemente, impenetráveis que mais gozo me dão, quando consigo - finalmente! - ser aceite no seu ventre e por ele trabalhar e criar...
E são destes amantes difíceis que nunca tive que tiro o maior gozo. Se desisto de entrar num mundo musical da minha escolha?! Obviamente que não.

O desafio é saber bater à porta da forma certa, à hora certa, com a atitude amorosa mais verdadeira de mundo...aí a canção deixa-se amar e a coreografia nasce. Não sem dor e jamais sem inúmeros e indizíveis prazeres...




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