Cada vez acho mais graça à distância (abismal) que separa a opinião que tantos (estranhos) têm de mim e o que realmente sou. Uma das delícias de que sou tão frequentemente acusada - pelas costas, claro está! - é a minha suposta arrogância. Pergunto-me: "arrogante, eu?!" mas, sendo a curiosa compulsiva que sou, investigo e vou a fundo na questão numa tentativa de chegar à eventual razão pela qual escuto este piropo do avesso por entre portas semi-abertas.
O fundo deste mar - laguinho, vá...- diz-me que se trata, provavelmente, de uma imagem exterior de autoconfiança e convicção no que sou e faço e nessa confusão frequente entre amor próprio e arrogância. Concluo também que se deve ao facto de eu não ter grandes ídolos, não seguir as modas e direcções alheias ao meu coração e jamais ir atrás senão da minha própria - indomável - Vontade.
Uma mulher que assume todo o seu potencial e não se deixe abater por obstáculos (sempre presentes nas grandes escaladas) ainda carrega o estigma da "big bitch!" ("grande cabra"). Aos homens admite-se que sejam originais, eles mesmos e o que mais quiserem; que tenham sucesso sem pedir desculpa a ninguém; que lutem com garra pelos seus sonhos e assumam os seus talentos sem falta modéstia; que sejam os ícones e inspirações de si mesmos. Às mulheres - ainda - nada disso é admitido de bom grado.
Entre as acusações de "arrogante" e o facto de que os cães ladram e a minha caravana passa (adiante e para cima, graças a Deus) perguntam-me sobre os meus ídolos, os ícones que pretendo seguir, as pessoas cujas pisadas desejo repetir e a resposta que lanço aos curiosos não podia ser mais provocadora:
Não tenho ídolos cujas pisadas queira seguir nem gente cujo caminho deseje copiar. A maior ambição que posso ter é - MESMO - chegar a ser eu mesma em todo o POTENCIAL que trouxe à nascença. Se existem mil e uma pessoas que me inspiram - e existem - a verdade é que ninguém de que tenha conhecimento percorreu os caminhos que eu tenho vindo a percorrer e não existe exemplo de vida ou carreira que eu gostasse de seguir. Vejo-me ORIGINAL: com um caminho, sonhos e forma de vida que são só meus - daí não encontrar referências a seguir FORA de MIM.
Claro que me inspiro por vários artistas, escritores, anónimos. Constantemente, busco força, luzes e sabedoria em seres humanos que compõem muito do tecido da minha alma mas isso jamais quer dizer que sonho seguir os seus passos, viver uma vida semelhante à sua, fazer o que quer que seja como eles fazem ou fizeram. Nada mais triste do que alguém que não sonha SER SI MESMO - parece-me.
***Entre as minhas - múltiplas - inspirações encontram-se:
*A minha mãe - exemplo máximo de integridade, inteligência, humanidade, força e generosidade;
* O meu avô paterno - homem de fisionomia russa (bruscos olhos azuis e uma cara de duende que atirava magia e força para tudo em quanto pousasse a sua mirada); homem com uma capacidade de trabalho impressionante, inteligente e simples, pés na terra e mãos calejadas;
* Artistas e escritores cujas obras nunca pararam de reacender a chama que arde dentro de mim - a mesma chama que não permite que qualquer tempestade (por mais forte e violenta que seja) me afogue;
* Pessoas comuns - e tão especiais - que passam por mim na Vida deixando a sua marca tatuada na minha pele;
* Os chamados "inimigos" que não são mais do que valiosos espelhos daquilo que são as frustrações humanas e como tão frequentemente as projetamos nos outros (especialmente naqueles que realizam ou são o que também gostaríamos de fazer ou ser).
Não sei odiar quem quer que seja - creio que é um desperdício de energia e atenção (tesouros tão preciosos e urgentes para a minha Vida) - mas sei que existe muito boa (?!) gente que me odeia - mesmo e especialmente sem razão aparente para tal. A estes eu ofereço a minha gratidão porque conseguem inspirar-me e fortalecer-me para lá das palavras.
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