É: uma pessoa ganha calos, confiança, experiência e conhecimentos mas também manias. Esta aventura de viver e dançar profissionalmente - acompanhada pela minha orquestra - no Egipto durante oito anos tem as suas vantages e inconvenientes.
Como estou habituada a dançar - maioritariamente - para egípcios e com orquestra torna-se um drama quando tenho de actuar para estrangeiros e com o som crú e morto que uma aparelhagem de som emite.
As diferenças entre os públicos - estrangeiro e egípcio - também não ajudam à festa fazendo com que me sinta uma iniciante que ainda anda às apalpadelas para perceber como COMUNICAR com os meus públicos.
Uma coisa é certa: TODA a GENTE responde à honestidade. Quero dizer: dança que vem do CORAÇÃO, dança que brota da ALMA - cada movimento como palavras viscerais que nos unem ao nosso público através da nossa comum HUMANIDADE.
Mas os egípcios entendem o idioma no qual as canções do meu repertório são cantadas; eles Re-Conhecem uma Artista e sabem diferenciá-la de uma amadora que se limita a contorcer-se num exercício de vaidade; eles sabem quem são os compositores que criaram cada tema e que dificuldades esses temas encerram; eles carregam a LINGUAGEM da Dança Oriental nos genes e, por isso, torna-se impossível "enganá-los" ou dar menos do que o nosso melhor.
Os egípcios são, além do mais, um público activo que não conhece fronteiras entre palco e audiência. Eles gritam, elogiam ou ofendem, tecem comentários espontâneos que acompanham a prestação da bailarina e são quentes - emocionalmente falando - na sua reação à dança (quando esta é emocionante).
Por seu lado, os estrangeiros são públicos - por norma - mais educados, experientes, exigentes e com um nível de concentração e disfrute muito menor do que os egípcios. Isto quer dizer que tem de haver uma dosagem inteligente que combine sentimento-pausas-relaxamento-ESTAR no MOMENTO com um DINAMISMO e um factor SURPRESA que faça com que não se desinteressem de nós.
O público estrangeiro não entende as letras das músicas que interpreto, tornando também mais difícil o contar de cada história. As suas reacções são mais "civilizadas" (notem as aspas), frias, distantes e não invasivas. Posso dançar num teatro com mil pessoas e não escutar uma única mosca (oh, o terror!)...
Sei que as orquestras ao vivo são um sonho- temor de muitas bailarinas mas, para mim, têm sido o maior prazer que a minha carreira no Egipto me tem dado. Dançar com a minha orquestra é fácil, fluido, inspirador, EMOCIONANTE, excitante e uma lista de adjectivos sem fim.
Dançar ao som de um cd é...desolador.
Seja como for, os desafios não páram de me vir parar às mãos. Nesta tournée europeia de Novembro-Dezembro terei a oportunidade de dançar para estrangeiros, com cd e com orquestra. Só fica a faltar o meu querido público egípcio mas por alguma razão ele está em falta.
Confiando em Deus e seguindo adiante. Desafios: aqui vou eu!
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