Thursday, October 6, 2011






Os prazeres inesperados de um Egipto (ainda) existente.






Nunca escondi os aspectos difíceis de se viver num país como o Egipto.


As críticas negativas poderiam ser primorosamente escondidas por baixo do tapete sujo da diplomacia mas esse género de manobras nao faz o meu estilo. Sou desbocada demais para mentirolas agradáveis.



Depois de uma noite de insónia (durante a qual pude ocupar-me com a mais variada agenda de tarefas, tais como adiantar a escrita do meu livro quase num estado de sonambulismo...), decidi que nao valia a pena tentar dormir ao romper do dia.

Duche rápido para abrir a pestana, cappuccino comprado no local habitual onde conhecem de cor e salteado os sabores que eu gosto de ter na minha caneca fumegante destes derivados do café e rumo a baixa da cidade do Cairo, esperando escapar ao transito diabólico dessa zona da cidade.




Tendo chegado cedo demais (11h da manha é cedo demais para os comerciantes egípcios!), fui presenteada com um daqueles momentos que me recorda a primeira razao pela qual eu me apaixonei, irremediavelmente, pelo Egipto.



A loja que eu buscava ainda estava fechada e nao havia indícios de abrir brevemente...
Comecei tentar encontrar outras lojas da mesma especialidade (música egípcia antiga) nas redondezas mas só encontrei camisas e calcas de homem, gravatas, chapéus de outros tempos e várias caras curiosas, observando-me.


Claro que vários comerciantes cujas lojas estao adjacentes a loja que eu precisava aperceberam-se da minha presenca e vieram oferecer ajuda com a prontidao e a generosidade que ainda se encontra nesta selva onde todos parecem querer comer toda a gente.



Ofereceram-me cadeira para sentar-me, sorrisos sinceros sem o peso feio do assédio sexual, chá e pequeno-almoco que insistiram que eu partilhasse com eles.

Ao ouvirem-me falar árabe fluentemente e procurando material de Om Kolthoum, o elo de ligacao ficou feito. De pedra e cal. Nao diria para sempre mas, com certeza, para o momento PRESENTE.

Eles próprios se encarregaram de buscar os empregados da loja de que eu precisava, fazendo-me companhia e entretendo-me/se comigo e com as nossas conversas sobre Om Kolthoum.

A proteccao, carinho, generosidade pura e simpatia absolutamente ABERTA destes homens enterneceu-me e deixou-me o dia com mais sol.


E sei que sao destes momentos simples - mas essenciais a saúde da minha alma - que se constrói um amor destes. Meu. Pelo Egipto. De sempre. Talvez, pressinto eu, para sempre.






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