Cairo, dia 21 de Outubro, 2009
“Fazer a DIFERENÇA”
Fazer a diferença ou aquilo que ainda não foi feito tem sido a minha mais recente e audaciosa obsessão.
Definimos o sucesso de várias formas e confesso que, para mim, este começou por ser “apenas” a aceitação e entusiasmo entre o público árabe/egípcio mas acabou por se ampliar abrindo portas para um propósito maior, algo que me transcende.
Quero fazer a “Diferença”, não me serve apenas o SUCESSO que é maravilhoso em si mesmo mas que não justifica tudo o que tenho enfrentado em prole da minha ARTE.
Conseguir emocionar quem me vê actuar (nem sempre o consigo e, quando assim é, sinto-me frustrada mas sei que não sou perfeita e então sigo adiante sem demasiados remorsos). Conseguir tocar a ALMA de quem vem aos meus espectáculos na expectativa de ver mais do que uma regular “belly dancer”.
Conseguir, através do meu trabalho, mudar um pouco de uma mentalidade bruta e reprimida que vê na minha profissão apenas uma fantasia para agradar à líbido masculina.
Sonho sempre em grande. Será defeito ou feitio?!
Em todos os grandes sonhadores existe uma parcela de loucura. Eu não sou excepção. Tenho de admiti-lo.
A minha mudança de malas e bagagens para o mundo árabe foi de tal ordem inusitada e arriscada que, no fundo, só podia dever-se a algo GRANDE. Ninguém – penso eu – dá os passos que eu tenho dado apenas por querer ser bem sucedido enquanto artista.
Existe uma missão em mim e, neste momento, sinto-me prenha de LUZ, ideias, sabedoria e material para poder dar passos mais reais na direcção daquilo que me trouxe ao Egipto.
Os espectáculos das últimas noites foram, simplesmente, mágicos. Começam mesmo a faltar-me palavras nos idiomas que conheço para definir o que tenho vivido ultimamente. Terei de inventar uma nova linguagem para expressar-me?! Sinais, sons apenas compreensíveis por mim e pelos anjos, talvez um simples silêncio que nada diz mas que resume TUDO o que importa dizer...
Existem momentos de dúvidas e insegurança. Frequentemente, penso para comigo: “Saberei eu o que estou aqui a fazer?! Eu sei DANÇAR?!”
Isto soa esquizofrénico mas é a embaraçosa verdade.
Estreei um novo programa no “NILE MAXIM” e lancei-me, a todo o vapor, cantando em árabe, representando um pouco e dançando cada vez mais do coração e da alma. Menos da mente.
Menos mente, menos mente, digo para mim mesma.
Esta dança revela-se, a cada dia, a arte mais difícil de dominar.
Um desafio constante. Um enigma.
Os meus músicos admiram-se de conseguir gerir a dança, o canto e a representação de forma, aparentemente, tão fluida e fácil.
Representar e cantar sempre me pareceram divertidos e fáceis.
Dançar NÂO. Aqui está o DESAFIO e parte da minha paixão quase cega pela dança vem do facto de eu ver nela a minha mais alta montanha a escalar.
Quero superar-me.
Em tudo.
Quando chegamos a um patamar onde o público nos considera uma “expert” na matéria, olhamos para a frente e vemos o quão pouco sabemos e o caminho que ainda há a percorrer.
Aterrador e excitante.
Cresce em mim, novamente, uma inquietação.
Fazer o que ainda não foi feito. Digo para mim mesma mil vezes e não me canso.
Existe um martelo e sinos ressoando no interior da minha mente pedindo para abrir portas que ainda não fazem parte da minha casa.
Só Fernando Pessoa me poderia compreender. J
Defino-me, cada vez mais, como pura INQUIETAÇÂO.
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