Cairo, dia 18 de Novembro, 2009
“Dados curiosos sobre a Peregrinação a Meca e suas contradições”
Viver no Egipto é uma aprendizagem contínua em muitos aspectos.
Diz-se que devemos manter os nossos amigos perto de nós e os nossos inimigos ainda mais perto. Por essa razão, tento conhecer as contradições com que os muçulmanos actuais vivem a sua religião ( a religião muçulmana, como é praticada actualmente pela maioria dos egípcios e árabes opoem-se à música e à dança como actos considerados “haram” ).
Sempre que apanho uma “vítima” (egípcio, árabe, alguém que tenha conhecimentos válidos sobre estas culturas), transformo-me num potencial inspector da “PIDE”. É ver-me de braços cruzados e olhos atentos afilados contra o meu “oponente” que se submete a uma entrevista intensiva sobre a realidade e ilusões de tudo o que aqui nos rodeia.
Hoje apanhei na minha rede uma aluna egípcia (frequentadora das minhas aulas no Instituto CSA) que acabou por revelar dados interessantes sobre a peregrinação a Meca (“il Hagg”, em árabe).
Ela encontra-se em jejum, advento comum para muitos muçulmanos que assim se preparam – espiritual ou materialmente – para a peregrinação que se seguirá em breve.
Contou-me, entre outras pepitas deliciosas, que o negócio da Peregrinação a Meca é controlado por meia dúzia de agências de viagens também elas controladas, por sua vez, pelo reinado da Arábia Saudita.
Só se pode fazer a Peregrinação sendo muçulmano e APENAS através destas agências que ditam preços de hotéis, comida e transporte de cidade a cidade até chegar a Meca. O monopólio comercial de toda a experiência encontra-se nas mãos dos sauditas que fazem biliões de dólares de lucro por ano através da fé ou simples tradição das pessoas.
Recordo-vos que a Peregrinação a Meca é um dos cinco pilares da religião muçulmana. Recebo imensas críticas de muçulmanos que lêem o meu BLOG - versão inglesa - e que alegam que desrespeito a sua religião. O que eu digo é "haram" (já para não mencionar o que eu faço, visto que a DANÇA ORIENTAL é o cúmulo do "haram"), segundo estes iluminados.
Friso sempre que eu questiono a forma como as pessoas vivem a religião e o que elas fazem em nome dessa mesma religião e NÃO o Sagrado Corão ou o Profeta Mohamed (nunca critico o que não conheço e assumo-me como uma ignorante no Livro Sagrado do qual apenas li algumas passagens e em inglês).
Aquilo que a Religião Muçulmana dita e aquilo que os seus seguidores fazem, na prática, são coisas diametralmente diferentes e frequentemente opostas.
Li algures uma frase genial que dita : "Temos religiões suficientes para nos ensinar a fazer guerras mas não temos religiões suficientes para nos ensinar a viver em Paz e Amor uns com os outros."
Aquilo que se tem feito em nome de todas as religiões NADA tem a ver com o cerne dessas mesmas religiões ou com o seu sentido e objectivos. A RELIGIÃO não se deveria tratar de PODER ou interesses económicos mas sim de qualidade de VIDA e HUMANIDADE.
Esta viagem - supostamente, PEREGRINAÇÂO com um significado e efeito espirituais – deve ser feita uma vez na vida por todos aqueles que tenham saúde e meios (bling, bling, bling....dinheirinho no bolso!) para tal.
A minha aluna referiu também que nenhuma mulher muçulmana pode fazer a Peregrinação sozinha antes de perfazer 50 anos (idade em que possa ser considerada carta “fora do baralho” em termos de potencial sedutor). Ela terá de ser acompanhada por um homem da família (irmão, marido ou pai) o que significa uma despesa mínima de 40.000 libras egípcias (uma fortuna para o nível de vida no país).
Isto leva-nos a pensar em duas coisas deliciosas e perversas:
1. O facto de uma mulher só poder viajar acompanhada significa duplo lucro para as agências de viagens e para o país que monopoliza o negócio.INTELIGENTE (matreiro e feio mas inteligente).
Significa também que nem toda a gente faz a Peregrinação em busca de Purificação e Paz de espírito. Haverá minaretes em busca de rabos de senhora, prontos a saltar-lhes para cima à mínima oportunidade.
2. Agora pergunto eu: quem é que paga 20.000 libras egípcias para ir assediar senhoras vestidas de branco para a Arábia Saudita quando o podem fazer de graça nas ruas do Cairo?! MUITO POUCO INTELIGENTE (igualmente matreiro e feio, sim senhores...mas muito pouco inteligente).
Tal como acontece em Fátima (Portugal), em Santiago de Compostela (Galiza) ou em Lourdes (França) – só para mencionar alguns famosos santuários e destinos de peregrinação – aquilo que deveria ser uma viagem interior para reconectar-nos com Deus (ou o nosso lado espiritual, como lhe queiramos chamar), transforma-se num negócio milionário explorado por espertalhões à custa da ignorância e desespero de tantas pobres almas confusas, perdidas ou em busca de Paz.
A separação entre ESPIRITUALIDADE e RELIGIÃO torna-se cada vez maior face ao que observo entre os meus companheiros seres humanos, sejam eles muçulmanos, cristãos, judeus ou “whatever”...
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