Cairo, dia 26 de Novembro, 2009
“Oh, meuje amigoje...não habia nexexidade...ezzz...ezzz...”
“O artista é um bom artista, não havia nexexidade...”
(homenagem a uma das minhas personagens preferidas criadas pelo genial e tão português – no sentido mais amplo e cosmopolita do termo - Herman José)
“Ezz...ezzz....e...zzzzz...”
Foi assim que me apanhei a falar para as paredes depois de mais uma reunião de trabalho “fictícia”. Explico melhor...
No meio da Dança Oriental do Cairo, os grandes trabalhos conseguem-se – por norma ainda que com algumas raríssimas excepções – através de “conhecimentos”, “amizades”, “camas” e tantas outras coisas entre aspas gorduchinhas e apimentadas.
Além deste sistema caótico em que estou inserida, existe também a possibilidade de se ter uma reunião de trabalho às 2.00h da manhã, sentados num clube qualquer entre shishas e chás adocicados. Normal!
Tudo é normal ou...quase tudo...
Se juntarmos uma total intolerância ao assédio sexual (da minha parte) a este caos, temos uma mistura explosiva com resultados imprevisíveis até para o mais pessimista dos Adamastores.
O trabalho parece estar a acumular-se para o fim de ano e um desses potenciais trabalhos passava pela condição de eu me encontrar com o empresário de um grande hotel que requisitou o meu nome.
Até aqui tudo bem.
Dei instruções para se fazer um convite formal ao tal empresário para que venha ao “Nile Maxim” assistir a um dos meus espectáculos.
Que melhor forma de me ver senão no palco?!
Se o assunto que o traz até mim é profissional, a forma mais “PROFISSIONAL” de conhecer-me é vir directamente onde actuo e constatar por si próprio se correspondo ao que escutou sobre mim.
Pois bem...profissional.
Aqui está uma palavra que possui conotações diferentes quando sou eu a pronunciá-la ou quando é um empresário egípcio a fazê-lo.
Para mim, significa estritamente : TRABALHO (neste caso, um espectáculo de fim-de-ano).
Para o empresário pode significar: Trabalho (no qual vai ganhar uma rechonchuda comissão) e/ou encontro romântico durante o qual combinaremos uma ida lá a casa (“Na minha ou na tua?!”) ou simples passar de tempo livre olhando para mim e tirando-me as medidas (já tentei sugerir a bricolage como hobby para os tempos livres destes personagens mas eles não parecem querer ocupar o seu tempo livre com isso...também já sugeri coleccionismo mas foi apenas mais uma sugestão frustrada).
Ora eu não tenho tempo a perder nem paciência para fazer mais uma cena de peixeirada à portuguesa quando me apercebo de que não existe nenhum trabalho de verdade em cima da mesa mas sim a pretensão de que me pode levar para a caminha...tão pouco tenho energia para explicar ao empresário para um trabalho real que não permitirei que se pavoneie comigo em locais públicos em troca de um contrato.
O empresário insiste, até hoje, que o conheça pessoalmente num restaurante chique da baixa da cidade do Cairo.
Eu continuo a insistir que não existe razão para um jantar à luz das velas com um desconhecido num restaurante “retro” da baixa da cidade. O local certo para me conhecer e verificar se lhe interessa o meu espectáculo será única e exclusivamente no “Nile Maxim”, onde eu trabalho.
Segundo a premissa do “bicho”, se me vir a cara e o rabo saberá, automaticamente, se o meu espectáculo tem qualidade (esta é uma qualidade que os empresários experientes e sensíveis adquirem com o tempo. Chama-se INTUÍÇÃO através da vistoria do coiro. Uma qualidade muito apreciada nesta parte do mundo).
Ele puxou a corda para um lado e eu puxei a corda para o outro até entender que não havia nenhum trabalho em questão e que esta era apenas mais uma tentativa de engate barato com a qual os egípcios se vão entretendo no seu vasto tempo de ocio.
“O artista é um bom artista, ezzz...ezzzz....não habia nexexidade.”
Realmente, não havia...mas é este o mundo em que vivo. Que fazer?!
Sigam o link ("piqueno" presente ezz ezz de Natal...Diacono dos Remedios dissertando sobre esta epoca festiva...ahhh...um mimo e simplesmente genial!):
http://www.youtube.com/watch?v=xjqXXGnsfqg
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