Saturday, July 24, 2010


Cairo, dia 24 de Julho, 2010

Mulher SELVAGEM

Este tema persegue-me desde que nasci.
Conta a minha progenitora - que sofreu incontaveis noites sem dormir por minha causa - que eu era aquilo a que os medicos chamavam um diabinho com mau genio (imaginem um diabo com bom genio e outro com mau genio!).

Eu era o bebe Poltergeist. Possuida por uma energia, aparentemente, malevola que ninguem conseguia controlar ou compreender.
Sem razao aparente, chorava e berrava incessantemente com todo o poder dos meus pulmoes e arranhava-me a mim mesma, puxava os poucos cabelos que tinha e levava em mim um olhar insatisfeito que ninguem conseguia aplacar (nem a minha propria mae que recorreu varios medicos para saber que raio se passava com este bebe!).

Tal era a minha natureza que corria na familia a piada/conto de que eu tinha sido adoptada aos ciganos que viviam perto da nossa casa, isto considerando o preconceito/ideia feita/mentira ou verdade de que os ciganos caminham com um fogo acrescido e, por isso, possuem uma natureza incontrolavel.

Esta fama e este estigma persegue-me ate hoje. Uns e outros veem-me da forma que imaginam, temem, desejam mas, para quem me conhece bem, fica claro que a MULHER SELVAGEM sera sempre a minha essencia mais presente, aquilo que melhor me define.
Por essa MULHER SELVAGEM e por rejeitar perde-la, ja paguei precos altissimos (quase o paguei com a minha vida) mas nunca me arrependi de nao dar o braco a torcer porque, isso sim, seria a morte!

Da minha querida Rosa, aqui vai mais um belissimo poema.
Espero que vos toque e desperte tanto quanto a mim.


MULHER SELVAGEM


Ó minha Mãe Selvagem, põe um feitiço.
Na minha boca, uma praga
E no meu coração palavras mágicas.


Abre-me a cortina da tua Sabedoria Eterna
E deixa que numa dança envolvente, no meu ventre,
Eu diga bem alto aquilo que a minha alma sente!


Se for preciso rasga o meu peito com as tuas mãos,
As tuas garras!
E como a grande parteira dos tempos
Faz com que dele nasça a palavra ardilosa
Que cure e traga as mulheres que de ti se perderam
E voltem à tua casa, ó Feiticeira poderosa.


Deixa que busque e encontre mulheres feridas de morte,
Como cadelas abandonadas e as jovens violadas,
As velhas solitárias e desprezadas, as mães maltratadas,
Por bestas e ogres...


Ó minha Mãe Selvagem, antes que prossiga a viagem,
Eu preciso da marca do teu poder na minha fronte...


Grava bem a ferro e a fogo forjado o sinal da tua força e vontade!
Dá-me Asas ou uma vassoura para correr os ares... E garras!

Rosa Leonor Pedro

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