Cairo, dia 16 de Setembro, 2010
"Por baixo do véu"
Oh....se contasse todas as histórias de vidas reais que por aqui andam, os meus queridos leitores teriam de me ler por 200 anos (sem pausas para xixis e refeições).
A realidade deste país ( e de outros que conheci no Médio Oriente) é demasiado louca para ser entendida, pelo menos segundo a minha mentalidade e valores.
ACEITAR a diferença sem tentar encontrar-lhe lógica ou julgar é um exercício de sobrevivência mental que faço todos os dias.
Já disse e repito: se vir um porco a andar de bicicleta, aceno-lhe com a mão, digo-lhe "se conduzir não beba" e desejo-lhe boa viagem sem uma ameaça de sobrolho levantado ou qualquer espanto.
Onde se encontra essa fronteira ténue entre uma mente totalmente aberta e flexível a qualquer i-a-lógica e o estado de loucura?! É que, se tudo mas TUDO começa a parecer-nos normal e aceitável, tornamo-nos numa espécie de loucos sem raíz nem rumo. Ou não???
Enquanto aguardo pelo início do meu maravilhoso filme - "Despicable me" - observo mulheres árabes de todas as idades consumindo faustosas refeições pagas pelos seus pais e maridos endinheirados e seduzindo, sem dó nem piedade, todo e qualquer ser que se assemelhe com um homem.
Detalhe curioso:
Estas mulheres estão cobertas com o famoso "hijab" (véu) e muitas delas estão totalmente revestidas com tecidos pesados que lhes deixam expostos apenas os olhos. Ui, ui...e quanto se pode fazer APENAS com os olhos?! Tenho aprendido umas belas coisas com estas mulheres...se tenho!
Mais uma vez, dou por mim a julgar, a condenar, a pensar de forma arrogante (talvez!) na falta de sentido em tudo isto que me rodeia.
Porque será que uma mulher se cobre dos pés à cabeça, sai à rua com ar recatado apontando o dedo a outras mulheres que não se cobrem como ela e depois se manda a homens como uma leoa esfomeada?! Porquê?
Cá para mim que nada sei, isto não faz sentido. Mas talvez faça, num outro mundo, noutras cabeças que não a minha, na consciência de mulheres que nasceram em circunstâncias distantes das minhas com uma imagem delas próprias que eu não chego a compreender.
Aos olhos destas mulheres, eu sou a devassa embora não seduza homem nenhum e me irrite profundamente com o assédio sexual de que sou alvo diariamente. Se soubessem que sou bailarina, esse estatuto de devassa passaria, directamente, ao estatuto de prostituta e advogada do Diabo mas são elas que se rebaixam à condição de mulheres-objecto, sedentas de atenção, de amor (cujo significado desconhecem) e de alguém que lhes devolva a imagem de quem são ou pensam que são.
Cada cultura com os seus enganos, tristezas e jogos de sombras...
E a minha mente expande-se e com ela o meu coração, aceitando aquilo que - outrora - julgaria inaceitável.
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