Thursday, September 16, 2010

Cairo, dia 16 de Setembro, 2010

Maratona!!!

Testei e comprovei que o nosso corpo e a nossa mente se acostumam a tudo, por mais extenuante que seja a rotina a que os expomos.

Ontem à noite terminei, em grande (devo acrescentar), uma maratona de quase dois meses consecutivos de espectáculos diários sem um único dia de folga.
Aquilo de que me orgulho é de ter conseguido dar o meu melhor (e exigi-lo da minha orquestra) em cada espectáculo assumindo o valor irrepetível de um espectáculo e de todas as emoções partilhadas que o compõem.
Ser uma máquina aeróbica que repete movimentos sem significado ("hello actual Reda Troupe"!!!) é, relativamente, fácil mas manter a CHAMA ACESA em cerca de 80 espectáculos consecutivos num espaço de quase dois meses não é para todos.
Sinto-me orgulhosa no final desta maratona.De mim e dos meus "homens" (orquestra, pessoal, ORQUESTRA...não me imaginem já em altos bacanais românicos!).

No meio da maratona da qual me orgulho ainda tenho de frisar um mês de Agosto em pleno RAMADÃO e as afamadas audiências estrangeiras-turísticas que com ele chegam.
"Not my thing, really..."

No menu destas audiências que apanhei durante um mês inteiro, encontram-se tesourinhos deprimentes da seguinte estirpe:

1. Mil máquinas fotográficas e de filmar apontadas à minha cara e às zonas mais íntimas e improváveis do meu corpo. As máquinas substituem o olhar atento do público?! NÃO.
Frustrante.

2. Comida e até baratas espalhadas pelo palco. Siiimmmmmm....isto é possível. Não me perguntem como e que tipo de gente traz baratas nos bolsos mas..."yo no creo en brujas pero que las hay, hay..."

O perigo de eu pisar um destes presentinhos e me estatelar em cheio no meio do chão é enorme mas talvez isso faça parte do charme de uma bailarina, pelo menos no conceito do turista apressado que vem para encher a pança e olhar o rio Nilo.

3. Comentários ordinarecos de membros do público masculino.
Depois de conviver tanto com o divulgadíssimo chauvinismo do homem egípcio/árabe, surpreende-me que o estrangeiro (supostamente, mais educado e mentalmente aberto) bata aos pontos o seu predecessor das cavernas.
Que desculpa têm os italianos ou os espanhóis para serem tão mal-educados e assediarem a bailarina que ali se esfola para lhes dar um pouco da sua alma?!
Os homens egípcios, em oposição aos estrangeiros, conseguem apreciar a diferença entre uma ARTISTA e uma MENINA COM A BARRIGA À MOSTRA QUE ATÉ DÁ UNS TOQUES COM AS ANCAS...


4. Com o regime de jejum do Ramadão, os músicos e os técnicos com quem trabalho tiveram sempre desculpa ("ma non troppo" que eu devo ter uma costela militar!) para fazer o menos possível alegando cansaço extremo e tempos extra de reza.
Muita paciência e flexibilidade mental, muita, muita, muuuuuiiiiitttttaaaa............

5. O medo da polícia. Estamos no Ramadão, a dança é "HARAM" e basta.
Nem comento este tesourinho deprimente...dispensa comentários!

6.Outros contra-tempos de menor impacto que tornaram o Ramadão uma época festiva com sabor agri-doce.

Uffffff................
Hoje estou a recuperar o fôlego e é por isso que, depois desta maratona, me levantei às 9.00h da manhã (cedíssimo para quem regressou do trabalho às 2.00h da matina e só dormiu lá para as 5.00h!) e fui desanuviar para o ginásio.
Porque, afinal, o corpo também precisa de algum exercício (certo?).

Maratonas são para meninos...:)

P.S. Sim, tenho "pancada(s)" (já o admiti profusamente).

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