Saturday, September 18, 2010

Cairo, dia 18 de Setembro, 2010

"Quanto mais me rezas, mais eu gosto de ti "

Ah, pois é, bebé... o carnaval que para aqui anda é quase, quase indescritível...
Está testado e comprovado - por minha experiência própria e por qualquer outro estrageiro alucinado com um quê de masoquista que tenha vivido entre egípcios - que os religiosos mais sedentes de rituais e mais obcecados são os maiores depravados do mundo.

Ao lado das mesquitas mais populadas, devia haver uma cabine (tipo "Loja do Cidadão" em Lisboa) dedicada às variadas actividades lúdicas dos depravados e tarados sexuais.
Assim era sair da mesquita, directamente para onde pertencem e cultivar os dois mundos que se tocam, tão indelevelmente...
Estes egípcios têm sentido de humor, mas sentido prático que é bom, nem vê-lo!

Quando pensava que já tinha visto tudo o que há para ver no âmbito do complexo "Diácono dos Remédios" (à falta de Freud e Jung, estou cá eu para identificar novos complexos humanos e dar-lhes nomes adequados), reparo que um dos meus músicos não faz mais nada senão rezar, rezar, rezar.

Excepto quando estamos em palco (onde ele toca com ar de ausente e com o sentimento de um tijolo), vejo-o sempre de traseiro virado para o céu e rezando, rezando, rezando.

-Quero fazer ensaio, onde está o fulano???
- Rezando.
-Quero dar uma indicação à orquestra, onde está o fulano???
- Rezando.
-O mundo vai acabar dentro de 30 segundos, onde está o fulano???
-Rezando.


Estranhei.
E muito. Só uma consciência muito pesada se vê obrigada a colar-se ao chão com tanta frequência.
Enquanto os outros músicos fumam haxixe (e outras delícias do género), ensaiam comigo, trocam histórias e piadas entre si ou se preparam para actar, o "fulano" está a rezar.

Hhhmmmmmmmm.........(expressão "Hercule Poirot" na minha cara...)
Aqui há gato!

Gata, melhor dizendo.
Então é assim (a história foi-me contada pelo chefe da minha orquestra):

O fulano é casado com uma egípcia (Saiidi como ele) que leva porrada de três em pipa, lhe faz o comer, cuida dos filhos, meias e cuecas.
Ao mesmo tempo (e no segredo dos deuses), o "fulano" casou-se (há cerca de tres anos atrás) com uma mulher do Kwait mais velha que ela e - tchan, tchan, tchan, tchan - RICA!

Pois claro que sim. E eu já desconfiava porque este simples músico que toca adufe com a arte com que eu toco gaita de foles exibe correntes de ouro, uma vivenda que está a remodelar, carro de luxo de 2009 e outros luxos de que nem eu posso usufruír.

Eu que até acredito no Pai Natal e nas fadinhas do bosque, cheguei a questionar-me como é que o "fulano" vivia tão faustosamente e a resposta não tardou em chegar.

A senhora rica envia-lhe dinheiro todos os meses e presentes que o mantêm contentinho ( a ele e à primeira esposa que não sonha - ou sonha?! Já não sei de nada! - do arranjinho maluco).
O preço a pagar é duas semanas de sexo num hotel luxuoso do Luxor onde mentiras e elogios falsos a manterão a ela na ilusão de que o amor vale tudo (vale tanto como o dinheiro que ela lhe dá).

A tal senhora está para chegar e, como ser proxeneta ou prostituto não está incluído nas virtudes do bom muçulmano, o "fulano" sente a consciência pesada em antecipação.

- Mas então o "fulano" é prostituto, certo? - Pergunto eu, ainda com alguma ingenuidade, ao senhor que me conta a história macabra como se me estivesse a dizer "bom dia".

-Não. "Haram", Joana! Prostituto, porquê???
- Então, casou-se em segredo com esta mulher mais velha porque ela lhe dá dinheiro e carros de luxo, não a quer para nada senão para o sustentar e vai com ela para a cama umas quantas vezes por ano para manter a fonte dos dólares a jorrar lá para o lado dele.....hhhhmmmmm...isto soa-me a prostituto, ou proxeneta. Qual deles o melhor?
Se fosse uma mulher, estava logo com o selo de PROSTITUTA estampado na testa.

- Não, ele não é nada disso.Coitado...ele é pobre e ela cuida dele. É só isso...

-Ah, sim...já me tinhas dito.
E os bebés chegam de França no bico de uma cegonha, a Mónica Lewinski apenas limpou uma nódoa de ketchup das calças do ex-presidente americano Clinton e o Egipto é uma democracia....por aí fora...


E, enquanto eu tomava o meu tempo de recuperação do choque inicial (um dos meus músicos é um "egyptian gigolo"!!!, ena...que estilo!) e fechava a boca de espanto, lá estava ele de rabiosque alçado, rezando a Alá (ou ao diabo) e tentando compensar pela maratona de sexo pago que está por vir.

E, uma vez mais, me surpreendo.
Com a história em si. Com a reacção do músico que ma contou e desculpou, como sendo uma atitude natural e compreensível, um prostituto e proxeneta.

P.S. (Ai, os meus querido P.S.s):
O próprio músico que me contou a novela é casado com uma mulher endinheirada e serve de tapete e criado dos sogros porque são estes que lhe sustentam os vícios e luxos.
Grandes homens por aqui se vêem!

P.S. 2. Estou impressionada...

P.S. 3 E ainda acredito no Pai Natal (há gente que só batendo com a cabeça na parede muitas vezes é que lá chega....uffff
.....).

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