Tuesday, January 22, 2013

Festival Eilat: o Caminho do Coração*


Ultimamente tenho andado amigada com um sem número de belíssimos clichés. Agora lanço-me a mais um: seguir o coração SEMPRE vale a pena - ainda que o preço que este mundo des-almado nos obrigue a pagar seja alto. 

A decisão de dizer SIM a um Mega Festival em Israel não foi fácil. Quem entender - minimamente - sobre as relações entre este país e o Egipto (país no qual tenho vivido e construído a minha carreira e a plataforma do meu percurso internacional) saberá o porquê dessa dificuldade.

Orit Maftsir - uma das brilhantes organizadoras do evento e uma artista de merecidíssimo renome internacional  - tivera um primeiro contacto comigo em Inglaterra (num festival onde actuei e ensinei a solo e assistindo o meu querido Mahmoud Reda). Embora nos tenhamos cruzado no meio da azáfama própria destes eventos recordo que Orit não me deixou indiferente. A sua energia, perseverança, alegria, talento, paixão pela dança e coração aberto eram demasido óbvias para mim - e demasiado preciosas para que os deixasse passar em branco.

Cerca de 4 anos se passaram desde esse primeiro encontro e ambas seguimos os percursos uma da outra com o respeito, admiração e inspiração devidas. 
Nunca falámos pessoalmente sobre esse primeiro encontro em Inglaterra nem nos voltámos a cruzar fisicamente uma com a outra mas parece-me óbvio que mantivemos (eu em relação a ela e ela em relação a mim) uma carinhosa atenção ao crescimento artístico e profissional uma da outra.

Foi com enorme alegria e algum pânico que recebi o convite para actuar e ensinar no Festival que Orit e Yael Moav organizam há quase 10 anos em Eilat, Israel. Alegria porque se trata de uma honra ser convidada pelo meu mérito (e não por conveniências e trocas de favores, como é comum acontecer) para um dos festivais mais grandiosos e conceituados do mundo; pânico porque senti receio de ir contra a fidelidade que a minha Alma sempre terá em relação ao Egipto.

Claro que os amigos e músicos me desaconselharam - vivamente - a rejeitar o convite de forma a evitar potenciais represálias, ataques, críticas e até problemas legais no meu regresso ao Egipto. Claro que dei voltas à minha consciência tentando apurar se levar a Cultura, Música e Dança egípcias a um país que a maioria dos egípcios (e do mundo inteiro) considera "inimigo" seria um passo sensato, honesto e justo. 
Consultei a minha mãe - a única pessoa a quem peço conselhos, embora nem sempre os siga - e ela remeteu-me para o lugar de sempre: a MINHA PRÓPRIA CONSCIÊNCIA.

Depois de algumas noites sem sono e voltas ao miolo do Ser SENTI que ir a Israel e ter um contacto HUMANO (longe da imagem sempre negativa que a Imprensa e a Política dão os israelitas) com os seus habitantes era a coisa certa a fazer; SENTI que levar o Egipto com Amor a Israel era uma forma subtil mas eficiente de entregar uma bandeira branca de paz, cooperação, amor e fraternidade entre dois países cuja inimizade tem sido por demais alimentada; SENTI que dizer não seria alimentar o veneno entre dois países que podem e devem ser irmãos; SENTI que rejeitar o convite seria uma lástima para mim - pessoal e profissionalmente - e seria mais lenha para a fogueira do ódio e da ignorância; SENTI que TINHA de LEVAR o EGIPTO comigo a ISRAEL e entregar o seu corpo e a sua alma na forma de Dança, Música, Amor, Paixão, Cultura e ESSÊNCIA do Egipto eterno.
SENTI. Ponto.

E fui...



 O resultado não poderia ter sido melhor, mais feliz, abençoado ou iluminado. Em vez do "inimigo" de que sempre ouvira falar no Egipto deparei-me com um povo AMIGO, CALOROSO, AMOROSO, DE BRAÇOS ABERTOS E TOTALMENTE APAIXONADO PELO EGIPTO, SUA LÍNGUA, HISTÓRIA, CULTURA, MÚSICA E DANÇA.

Constatei como a Política, os Governos e a Imprensa não representam o POVO de um país e que a melhor forma de anular inimizades, conflitos e guerras é através da UNIÃO entre as pessoas e não da separação que a maioria dos políticos e das ditas "religiões" insistem em promover.

Re-lembrei que a função mais alta da DANÇA e da MÚSICA - essas formas de comunicação sagradas e universais - é a de UNIR-RELIGAR os seres humanos e que é nessa função que elas alcançam o justo título de RELIGIÃO. 

Se as ditas "religiões" separam, geram conflitos, guerras, mortes e ignorância e se a Música e a Dança promovem a PAZ, o AMOR e a UNIÃO eu declaro-me uma fiel seguidora destas verdadeiras religiões que têm - ironicamente - sido perseguidas e proíbidas como "desviantes do caminho de Deus". 

O amor que recebi das organizadoras do evento, dos participantes, músicos, público e de todos os israelitas com quem tive a felicidade de cruzar-me contradizem as piores imagens, conselhos e medos com que fui rodeada aquando da minha decisão de dar o meu SIM a este magnífico festival.

Agradeço - do fundo do coração - o respeito, apreço e calor com que o meu trabalho foi recebido por todos (com especial gratidão face à Orit - minha querida apoiante incontestável); os artistas belíssimos com quem privei e aprendi (Nourhan Sherif, Serkan Tutar, Azaad Kan, Layla da Sérvia, entre outros); os músicos e público que me banharam de inspiração e carinho; os alunos que estiveram presentes - em massa - nos meus workshops e até os seguranças dos aeroportos de Eilat e Tel-Aviv que não puderam esconder a sua curiosidade e excitação quando souberam que eu era bailarina e que tenho vivido e actuado no Cairo nestes últimos anos da minha vida.
Sabia que este Festival e o risco de dizer o meu SIM - de corpo e alma - valeriam a pena. Só não poderia ter previsto o quanto me surpreendi; o quanto me inspirei; o quanto recebi; o quanto aprendi; o quanto FUI FELIZ e o quanto me senti honrada por levar uma bandeira de PAZ a Israel sob a forma de passos da Dança Mágica: dança eterna: dança egípcia. Dança: eu*.
Agradecida: abençoada: inspirada: FELIZ.
P.S. Vale a pena agendarem a vossa participação no Festival de Eilat 2014 (celebração dos 10 anos do evento). Se esta edição foi grandiosa e fantástica, imaginem o que não será o ano vindouro! MARQUEM na AGENDA: Eilat Festival 2014.




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