Friday, January 11, 2013

Regresso a Málaga, Espanha (Festival Almárabe)

É mesmo assim: a nossa casa é onde está o nosso coração e o meu coração - aquariano e geminiano - está (em nome da verdade) em muitos lados.
Regressarei à terra Natal do meu pintor favorite - Pablo Picasso - neste mês de Março e nesse regresso levo muita vontade de comer a amorosas dentadas uma das minhas raízes: o sul de Espanha (local onde passei considerável parte da minha infância).

Workshops, espectáculo e conferência - e mais um par de dias extra para sentir, uma vez mais, o sabor cigano da Andaluzia e o aroma desse fogo antigo que continua a animar-me os passos que a Alma escolhe tomar.
Mais informações sobre o evento serão colocadas no meu website ( www.joanasaahirah.com )
muito brevemente.

Lá ando eu a bater com a cabeça nas paredes - para não variar. Sempre que coreografo uma nova peça é mais que sabido que tenho de descabelar-me e arrancar os próprios cabelos até encarrilar num caminho que me AGRADE. É relativamente fácil criar coreografias para ensinar a bailarinos e estudantes de dança que são amorosos, ávidos de aprendizagem e abertos à evolução. Mais complicado é criar - a cada nova coreografia e tema abordado - uma peça dançada que me entusiasme, me exceda as expectativas (sobre mim mesma) e me mate a sede por MAIS. MAIS. MAIS.

Nunca gostei de coreografia e continuo a achar que, em certa medida, ela contradiz o próprio espírito e natureza da dança egípcia mas não posso deixar de admitir:
Acabei por apaixonar-me pelo processo criativo (e, frequentemente, doloroso) de coreografar;
Admito que se aprende IMENSO enquanto se coreografa porque é como "ensinar"= aprende-se duas vezes;
Confesso que o trabalho coreográfico é uma das CHAVES* da evolução desta Dança e uma etapa valiosa para o seu reconhecimento como Arte.


Para Israel levo temas tão distintos quanto "tahtib" (saiidi a VALER ao som de uma música pop doida varrida); estilo egípcio moderno que introduz uma LINGUAGEM assumidamente Visionária e Futurista da Dança Oriental (a meu ver, é claro); dança núbia com laivos de uma infância bem regada a música africana e bailaricos de Kizomba seguidos de boas "catchupas" e a pedra de toque de todas as minhas dores de cabeça: BALADI SAAHIRAH (título sugerido pela magnífica bailarina e organizadora do Festival: Orit Maftzir). Coreografar aquela que é a dança da improvização por excelência deixa-me a boca com um travo agri-doce. Por um lado: o desafio de transformar água em vinho (venham de lá os "impossíveis": minha especialidade); por outro lado: ter de ir contra a natureza deste estilo e sentir que os movimentos são como enguias escorregadias que me fogem das mãos por mais que eu as tente segurar.
O "baladi" baseia-se naquilo que os egípcios denominam de "mazeg" ("mood" em inglês): disposição-humor-como nos sentimos de segundo a segundo. Por isso mesmo, o movimento que me sai naturalmente AGORA já não é o mesmo que farei quando voltar a dançar aquela música. Cada interpretação é única e produto da energia, sentimento, tempo, humidade e o mais que seja do MOMENTO. Congelar movimentos de baladi é como tentar congelar fogo ardente.
Como "desafio" é o meu sobrenome, não desisto. Hei-de domar esta fera e encontrar uma porta - ou janelita - de saída deste dilema. Até que encontre o sentido no que me parece não ter sentido, sofro e angustio-me. Era tão bom que tudo isto fosse mais simples e que me contentasse com a "normalidade" ou com a arrogância da mediocridade mas então deixaria de ser eu mesma e isso é bem pior do que lutar - "mano a mano" - com uma BOA peça de baladi.



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