Coreografias/Escritas.
Escrever o meu próprio livro tem sido um processo de prazeirosa agonia (se é que a agonia pode proporcionar prazer), intermitentes momentos de profunda excitacao e pavor.
Pavor de nao ser capaz de concluir esta monumental tarefa, pavor de nao saber escrever, pavor de falar demais ou de menos, pavor de sentar-se frente ao computador e nao gostar do que me sai da alma. Pavor.
Li ontem a noite, num período de insónia construtiva, que a persistencia se tornaria o maior trunfo de alguém que embarca nesta viagem de escrever um livro. Concordo.
Se o primeiro impulso de quem tem algo a contar, fermentado, bem grávido de vida, pronto a dar-se a luz é o passo inicial desta empresa, a persistencia comeca a vir ao de cima como a qualidade que mantém o barco na sua rota, sem perder o rumo e sem se afundar.
Já havia feito a comparacao entre a escrita de um livro, assustadoramente definitiva, e o processo da coreografia de danca. Mais que nunca, confirmo este paralelismo.
Também na criacao de uma coreografia se comeca por um impulso de entusiasmo pela música e pelo tanto que dela se pode extraír através do movimento ainda nao inventado. Mas depois vem a persistencia de continuar, insistir, machucar o nosso ego ao ponto de ele adormecer e deixar que o trabalho de Deus tenha lugar e espaco para acontecer.
A mesma persistencia da escrita, quando já embalada e depois do fogo inicial extinto, se come quando coreografamos uma peca de danca. Persistir quando nos falta a inspiracao e achamos que fazemos tudo mal e que temos talento para ir distribuir panfletos para o metropolitano, vá lá...
Persistencia para acreditarmos em nós e nas nossas capacidades quando nos faltam os movimentos/palavras mais interessantes para dizermos o que queremos.
Persistencia para acreditar no AMOR, em vez de desistir face aos medos e fantasmas que nos visitam no caminho, em pleno mar aberto...
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