Wednesday, September 21, 2011





Pormenores de beleza



"made in" Cairo.









Nao se entende como o transito do Cairo parece aumentar de dia para dia, como podemos passar uma hora num percurso que levaria 5 minutos a percorrer (caso nao existissem estas enchentes de carros, motos, "tok toks", burros, camelos, pessoas e afins) e como todos estes taxistas colam os seus ouvidos ao som da recitacao do "Corao" ou de um cheique que lhes diz o que é certo e errado.



Tudo isto ultrapassa o meu entendimento, como tanta outra coisa estranha que me passa ao de leve pela pele, tendo deixado de me incomodar, evoluído da irritacao que me causava ao assombro do fascínio com que agora me beija.









Olho os traseuntes que passam por mim, protegida "do mundo" pelo táxi onde viajo de casa até a um hotel de 5 estrelas em Heliópolis. A viagem será mais longa do que previa e chegar atrasada (coisa que detesto) parece-me mais certo do que dois mais dois serem quatro.



Enconsto a cabeca e preparo-me para dormir porque, apesar de toda a sacanice que por aqui anda, o Cairo ainda é a única cidade em que posso adormecer sem medo num táxi desconhecido. Nao só serei entregue, sa e salva, ao meu destino como sei que o taxista terá o cuidado de me vigiar o sono e nao levantar o volume do rádio para nao me perturbar o sono.






Quando me sinto no limbo enevoado entre o desperto e o adormecido, escuto uma imensa gritaria do lado de fora do táxi e reparo que estamos parados, atrás de uma fila infinda de carros.



O taxista explica que está um carro, vindo em sentido contrário e proíbido ao transito, insistindo em passar por aquela estrada, apesar de saber que o que está a fazer é errado e está a bloquear a passagem de muitos outros carros.






- Sabe, menina...as pessoas estao muito cansadas e acabam por nao ter paciencia uns com os outros. Mas, as vezes, basta uma palavra simpática e calma para resolver o maior conflito.



Quer ver?! - Disse-me o taxista, fitando-me através do espelho retrovisor.









Saiu do carro e dirigiu-se ao condutor teimoso que insistia em gritar com toda a gente e nao sair do mesmo sítio, nao obstante o facto de ele ir em sentido proíbido.



O "meu" taxista falou com ele por breves instantes e sorriu.






Quando regressou ao "nosso" táxi, o condutor conflituoso já havia feito marcha atrás, permitindo que os carros comecassem a circular livremente.



Ao passar por ele, o "meu" taxista acenou-lhe e sorriu, uma vez mais ao que o outro senhor respondeu com outro aceno e sorriso.






- Ah, ele só precisava de ouvir uma palavra carinhosa. Disse-lhe que sabia como ele estava cansado e enervado mas que também podia ser simpático e atencioso com as outras pessoas. Tao simples, já viu, menina?!- Disse-me o taxista.









Sim, é simples. (e adormeci coberta pelas asas do meu anjo taxista).






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