Saturday, August 7, 2010


Cairo, dia 7 de Agosto, 2010


Real Arabia Saudita (?!)


Ontem foi noite de atribulacoes variadas, como sempre...

Comecei o meu ensaio diario (nenhuma musica pode ser levada ao palco sem que eu me certifique que ela sera bem interpretada) antes de comecarmos os tres espectaculos da noite e verifico que me faltam tres musicos importantes na orquestra.


Dar a volta a situacoes como esta deveriam ser funcao do chefe da respectiva orquestra mas ele nao tem a cabeca fria necessaria para lidar com imprevistos desta ordem. Tenho de ser eu a decidir, calmamente, como vou apresentar tres espectaculos sem determinados elementos essenciais.


Que musicas poderao ser interpretadas sem que se sinta demasiado a falta destes instrumentos?

Que poderao fazer os musicos presentes para compensar a falta dos ausentes?

Que programa sera possivel apresentar esta noite, tendo em conta as faltas de musicos?

Etc,etc...o publico ja esta a chegar, o tempo passa e as decisoes tem de ser tomadas rapida e eficazmente. Ali estou eu para isso...


O chefe da minha orquestra - que devia estar encarregue de resolver estas questiunculas - esta estacionado (como uma carrocinha velha e gasta rangendo de dores ) a uma esquina do camarim, vermelho que nem um tomate e com um pano dramaticamente enrolado a volta da cabeca como se tivesse sido acossado com as enxaquecas de toda a Humanidade. Enquanto lhe da o ataque histerico de impotencia, o caos instala-se na orquestra.


Entro eu em accao para salvar o quadro tragico-comico...

Aiii....que paciencia...minha mae (ela bem me avisa para ter juizo mas eu nao a escuto, desculpa Dedinhas de minh'alma)!


Tomo as redeas da situacao em maos e resolvo o que fazer, quem faz o que e como orquestrar cada um dos elementos que tudo avance e o publico nao note as faltas vitais.


Primeiro espectaculo:

Tudo bem! Sinto falta de determinados sons, nuances que nao sao executadas porque faltam os musicos que as interpretam mas tudo corre sobre rodas...compenso a falta de musicos com mais danca, carisma e energia que vou buscar nao sei bem onde.


Segundo espectaculo:

O NILE MAXIM esta reservado para um principe saudita que veio com a sua entourage de amantes, amigos de origens duvidosas e prostitutas. Como o dinheiro tudo compra, ninguem - excepto eu! - parece incomodar-se com o ambiente de cortar a faca que estes personagens criam no recinto.

Danco contrariada, lado a lado com prostitutas vestidas(despidas) com baby dolls baratos, tremendo e gesticulando em palco como se fossem animais no cio em pleno ataque epilectico.


Comento ao ouvido de uma das prostitutas:

-Se quer estar no palco, dance. Nao trema por todos os lados. Escute a musica, pelo menos!

- Ana taabana, ya orrti! (Estou cansada, minha irma!) - Responde a prostituta enquanto abre as pernas de forma a que toda a minha orquestra lhe veja as partes intimas.


Consigo abstrair-me da presenca indesejada destas pobres criaturas e danco para mim mesma e para uma mesa de prostitutas egipcias que vieram anexadas ao principe mas que, desde o principio do espectaculo, se ligam a mim e apreciam o que estou a fazer. Enviam-me piropos simpaticos e dizem-me que sou maravilhosa, unindo-se a mim de mulher para mulher com um carinho e respeito inusitados.


Este espectaculo deprime-me. Tenho a certeza de que a minha cara assim o provou, nao da para esconder a tristeza e frustracao.


Terceiro espectaculo:

O principe saudita havia pedido um espectaculo extra e, para minha surpresa, insiste que seja mais longo do que o anterior (mais de uma hora de espectaculo).

Nao so me faltam os musicos, como me chegam de sobra as prostitutas e a falta de disposicao (minha!) mas nao ha nada a fazer. O principe pede mais um espectaculo, pois o principe tera mais um espectaculo.

Arrasto-me para o palco com uma renovada energia que so o meu incrivel sentido de sobrevivencia me poderia oferecer (Deus seja bem-dito!).


Desta vez, as prostitutas nao me interrompem com os seus ataques epileticos. O mais triste nestes ataques nem sera o facto de alguem me interromper o espectaculo e o estragar mas o facto de eu ver como estas mulheres (???) se veem a si proprias e como veem a danca. Para elas, Danca Oriental resume-se a abanar o rabo e as mamitas para excitar homens.
Isto deixa-me de rastos............


Termino a noite conversando com os meus musicos que comentam como o Egipto esta perdido e vendido ao poder e ao dinheiro.
A propria Fifi Abdou (talvez a bailarina de Danca Oriental mais popular de sempre), dizem eles, vai todas as noites para night-clubs de quinta categoria para fazer negocio extra fazendo companhia a sauditas endinheirados.


Penso para mim mesma: amanha sera outro dia. Inshah Allah!







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