Saturday, April 3, 2010
Cairo, dia 3 de Abril, 2010
Honey, I am (not quite yet) home!
A vida no Cairo tem destas coisas...quando pensamos que esta tudo em cima, um desastre instantaneo acontece e o mundo fica virado do avesso.
Quando pensamos que nao podemos descer mais baixo, algo miraculoso acontece e somos transportados ate ao topo da montanha.
Nestas fotos, podem ver a minha assistente e salva-vidas Nagle, sorrindo no meio das circunstancias mais adversas...que Deus a proteja.
As mudancas de casa mantiveram-se dentro da tradicao cairota da loucura total.
Quarenta e oito horas de puro devaneio egipcio que me deixaram para la de exausta mas, uma vez mais, sentindo que tudo se ultrapassa de tivermos a cabeca fria para pensar e o coracao quente para acreditar que Deus ajuda e que tudo sera POSSIVEL.
Eis, resumidamente, o que aconteceu:
Dia 31 de Marco, a noitinha:
Saio do meu trabalho a 1.30h da manha, ja partida de muitas, muitas noites de espectaculos consecutivos com a nova orquestra e dirijo-me a minha antiga (agora antiga!) casa para fazer as mudancas para a minha (agora) nova casa.
3.30h da matina:
Os homens que chegaram para desmontar moveis e carregar as minhas singelas coisinhas vieram uma hora atrasados. Alem disso, apresentaram-se a minha porta visivelmente BEBEDOS e DROGADOS.
Sim, leram bem!
Estes homens vieram de um casamento e estavam, como costumo dizer, para la de Bagdade.
A questao era: eu tinha o apartamento para entregar ao seu respectivo dono na manha seguinte e nao tinha forma - aparentemente - de conseguir arranjar uma nova camioneta e pessoal para trabalhar as tres e meia da manha...
Entre a histeria de aceitar que estes bebedos me fizessem o trabalho e a impossibilidade de fazer as mudancas nessa mesma noite, eu entreguei o assunto nas maos divinas e pensei, ja um pouco a moda egipcia:
Seja o que Deus quiser! Inshah Allah estes bebedos vao conseguir fazer este trabalho monumental e chegaremos todos vivos a Zamalek, a minha nova casa.
4.30h da matina:
Mais de metade das minhas coisas esta na rua, em frente ao edificio onde eu morava e os bebedos estao visivelmente acabados. Ninguem tem energia para carregar uma agulha e eles decidem ir embora (caminha, para que te quero!) e deixar todas as minhas coisas no meio da rua, a meio da noite.
Detalhe delicioso:
O meu vizinho freak ( ou maluco, ou doente mental, como lhe queiram chamar), o mesmo que se colava a porta da minha casa para me ouvir cantar e me olhava com olhos de cachucho extasiado sempre que me via passar decidiu ajudar a festa e meter-se no meio das mudancas.
Entre caixas, armarios e electrodomesticos, ali estava o meu vizinho freak fitando-me com ar alucinado e testando os meus niveis de paciencia.
O.k., sera aqui que entra o meu lado guerreiro ja vindo de muitas experiencias chocantes que tive de ultrapassar sozinha.
Em vez de me queixar e desesperar eu procuro solucoes, sempre.
Falei com a minha assistente (que Deus a abencoe por toda a ajuda incondicional que me deu) e la fomos, rua a baixo, a procura de um camiao e de pessoal que fizesse a mudanca.
6.00h da matina:
Pessoal encontrado.
Camioneta cheia de coisas mas ainda ficou metade das mudancas por fazer e a lei proibe que estes veiculos circulem a partir das 7.30h da manha.
Signifado: O resto das mudancas teria de ser feito a noite e tudo o que eu possuo estava, portanto, no meio da rua e ali estaria durante todo o dia ate que se pudesse retomar o processo de mudancas.
8.00h da matina:
Deixei a minha assistente junto as minhas coisas que ficaram para tras em plena rua.
Eu vim com os homens - agora ja exaustos - e trabalho mais que eles.
Simples questao: ONDE ESTAO OS HOMENS DE VERDADE???
Trabalho bracal nocturno a este nivel depois de 20 dias de espectaculos diarios e de tanto trabalho as minhas costas nao sera, propriamente, o sonho de nenhuma bailarina profissional que vive da saude do seu corpo mas nao houve outra solucao senao entrar em grande no jogo e provar aos homens que sou mais homem que eles.
10.30h da matina:
Regresso a minha velha casa para devolver as chaves ao seu dono e receber o meu dinheiro (deposito).
A minha assistente, a esta altura do campeonato, ja ganhou admiradores e mensageiros da compaixao que pensam que se trata de uma pedinte sem casa. Trazem-lhe comida e bebida. Tambem vejo um cobertor estranho. Afinal, existe coracao no meio de tanta fealdade que por aqui vejo.
O Egipto tem destas coisas bonitas!
12.30h:
Trato de burocracias, tomo pequeno-almoco no meio da rua juntamente com os meus moveis e com a minha assitente e rimo-nos da situacao.
As filhas do porteiro vem fazer-nos companhia e uma delas danca para mim. Eu rio-me.
Ali, no meio da rua e totalmente exaustas, sentimo-nos felizes.
As pessoas passam e perguntam se precisamos de alguma coisa. Algumas reconhecem-me e ficam perplexas por me verem entre caixotes e cadeiras assitindo a um espectaculo privado de baladi belly dance feito pela filha do porteiro que tem quatro aninhos.
O BEIJO:
A filha mais pequenina do porteiro vem ate mim e senta-se no meu colo.Eu dou-lhe um beijo e vejo a sua face rosada a iluminar-se como se ela tivesse assistido a um milagre.
Dou-lhe outro beijo e ela pede mais, a medo...
Pergunto a sua mana se a mae e o pai nao lhes dao beijinhos e ela diz que nao.
Batem-nos, diz ela.
As lagrimas chegam-me aos olhos.
Todas as criancas deveriam ter amor, todas.
Dou mais beijos, assisto a mais danca, partilho mais um pouco de comida com as miudas e com a minha assistente. Rimo-nos mais um pouco, apesar de tudo, e eu ja seique a vida se compoe de momentos assim e que a felicidade se pode encontrar em qualquer circunstancia, por mais adversa que ela seja.
18.00h:
Depois de termos passado o dia como homeless vemos chegar, com um tremendo alivio, os homens que transportarao a metade que ainda falta de todas as minhas coisas.
Mais uma vez, trabalho tanto ou mais do que os homens a quem estou a pagar para me fazerem o servico.
A minha assistente tambem prova que, de facto, o sexo feminino nao podera - JAMAIS - ser considerado o sexo fraco!
A camioneta esta cheia e ainda existem coisas por levar.
Eu apanho um taxi que encho de caixas e mais caixas e a minha assistente faz o mesmo com outro taxi.
Um dos taxis perde-se no caminho. Operacao de resgate ( e eu ja alucinada do cansaco e do stress).
Tudo bem!
21.30h:
Chegamos a minha nova casa a Zamalek.
Os homens estao exaustos, mais uma vez. Ao ritmo a que transportam as coisas para o meu quarto andar (o elevador ainda nao esta a funcionar!), eu estarei instalada na minha nova casa la para a semana que vem.
Mais uma vez e para acabar com toda esta tortura, eu mesma carrego com coisas pesadissimas e tomo a iniciativa de seguir trabalhando quando todos ja estao encostados a box.
Meia noite e tal e tal e tal...
Ja so resto eu e a minha assistente no novo apartamento.
Os abutres comecam a rondar a minha porta ( porteiros e outro pessoal afins que nao sei de onde aparecem) pedindo dinheiro. Enxoto-os sem paciencia como se faz aos mosquitos.
1.30h:
Encontro-me sozinha no meu novo apartamento. Tudo me soa familiar.
Ja nao me apego a nenhum sitio, ando constantemente preparada para as mudancas, as flutuacoes, as surpresas. Estou bem em qualquer lugar, desde que o meu mundo ca dentro de mim esteja em paz.
Sinto uma imensa alegria. Estou em casa, uma vez mais.
Nunca deixo de estar em casa, por mais estranho que seja o sitio em que me encontro.
MELHOR PARTE DA TORTURA:
Amanha, irei para o trabalho a pe. Nada de taxis, transito, stress e perda de tempo (e dinheiro!).
Estou a cinco minutos ( a pe) do NILE MAXIM!
YES!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
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