Saturday, May 21, 2011
Cairo, dia 21 de Maio, 2011
"Apenas um telefonema."
Ser bailarina profissional equivale a muita coisa, em grande parte agradável e, noutra proporcial parte, difícil e desafiante.
Enquanto "performer", nao podem existir dias tristes ou de má disposicao. Sabendo eu que mudo de humor cem vezes ao dia, torna-se complicado gerir os meus voláteis estados emocionais e aceitar o facto de que, faca chuva ou faca sol, tenho de entrar em palco e dar a MINHA ALMA!
Outra das "obrigacoes" de uma bailarina passa por estar sempre em forma, física, mental, emocional e espiritualmente. Nada se poupa na danca. Tudo é requerido. A energia do mais fundo que somos está ali, prostrada, aos pés do nosso público e a ninguém vai interessar se estamos rejubilando de felicidade ou deprimidos de tanta tristeza.
O público paga para ver BRILHO e ARTE e é isso que o público tem, independentemente do estado em que o/a bailarino/a se encontre.
E assim me divido, por obrigacao profissional (e,ocasionalmente, por prazer) entre treinos no ginásio, Ashtanga Yoga (o yoga dos Rambos!) e trabalho de danca, seja actuando ou coreografando para ensinar.
Esta manha, um telefonema roubou-me o tempo de treino que ainda me faltava cumprir (desculpas antecipadas a senhora bicicleta que nao viu o meu exclesso rabiosque como de costume!) e fez-me correr do ginásio para a baixa do Cairo como se tivesse sido chamada a apagar um fogo.
Ali estava eu e a minha garrafa de água (ambas suadas e rabujentas) , a toalha e a biografia do Rudolf Nureyev (bailarina que se preze possui destas obsessoes sagradas pelos monstros também ele sagradas da minha Arte) quando o toque do meu telemóvel me fez despertar para o mundo "lá fora".
- Bom dia, acordei-te? - Disse, do outro lado da linha, o meu querido Mahmoud Reda.
- Bom dia, Mahmoud. Nao me acordaste, estou no ginásio. Passa-se alguma coisa?- Respondi eu, estranhando o telefonema a hora tao pouco usual.
- Sim, passa-se algo especial que eu sei que te vai deixar feliz.
Encontrei lá em casa uns vídeos do Rudolf Nureyev, da Margot Fonteyn e dos inícios do ballet clássico...ah, e também algo de "tap dancing" americano. Tens de vir e VER ISTO!!!- Respondeu-me o Mahmoud com "aquele" entusiasmo" que só os fanáticos por DANCA podem compreender.
E nao é que agarrei em mim, suada e pestilenta, e tive MESMO de correr para o estúdio do Mahmoud para deliciar-me com aquelas maravilhas?!
E vejo que sao momentos destes que dao cor a vida de uma BAILARINA e que sao também momentos destes que constroem as melhores e mais saborosas amizades.
Grata.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment